quarta-feira, 28 de maio de 2008

Anteism

Uma troca de livros entre a Chili Com Carne e o Anteism (Canadá) resultou na recepção de três antologias deste colectivo de artes gráficas, a saber: See.spot.die (2004), The Feast (2006) e Manuscribbles (2007). Três antologias de artes gráficas (desenho, bd, ilustração, fotografia, Design), na essência com trabalhos de criadores do Canadá - o The Feast tem colaborações estrangeiras - resultantes de projectos concebidos pelo colectivo.

O primeiro tem como tema "O Cão", isto porque alguns membros do grupo estiveram em Taiwan e viram como os cães são lá mal-tratados (os homens que se fodam, os cães são mamíferos muito mais giros e interessantes, como todos nós sabemos). Formato A4 ao baixo, todo a cores, é o primeiro livro/projecto de um grupo de criadores em formação mas já com estilos definidos que irão melhorar nas antologias seguintes.

The Feast são 170 e tal páginas num livro ligeiramente menor que o A4 e o único dos três que tem uma presença de texto: alguns textos de acompanhamento às imagens, outros são poesia e contos ilustrados, para não falar de uma ou outra bd. A dada altura podia ser um bom número da revista Bíblia quando esta não era a merda que é agora.


Não há aqui nada que se possa dizer que estas antologias sejam inovadoras, nem encontrei nenhum trabalho que possa ser indicado como um fenónemo de espectacularidade, o que estas antologias mostram é que no Canadá ou em qualquer país onde haja um mercado exigente para a ilustração ou artes gráficas. Das três preferi Manuscribbles por ser o mais "maneirinho" - um bocadinho maior que o A5.

Destaques para alguns dos autores que participam nas antologias: Keith Jones, Luke Ramsey, Peter Taylor (que fez a capa de Manuscribbles e talvez o autor mais carismático graças aos seus "Budas tatuados"), Bill Dunlap e Zane Kozak.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Milk+Wodka 9


Mais um número do zine suiço Milk+Wodka que fecha o ciclo de "Zex, Drugz und Rock'n'Roll"com tantas participações portuguesas como emigrantes na Suiça, entre eles os nossos associados André Lemos, Joana Figueiredo (que teve direito a uma fabulosa contracapa em serigrafia) e Marcos Farrajota.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Freakarte

Como toda a gente sabe, o mundo divide-se em dois: os Betos e os Freaks - com algumas diferenças ténues: Freaks que são Betos ou Betos que querem ser Freaks. E claro, ainda há Os Outros - onde por exemplo a Chili Com Carne se insere.
A palavra "freak" apareceu nos anos 60 nos EUA para definir quem passava por um processo de "desprogramação mental e física" aos valores morais e éticos da conservadora sociedade do glorioso "american way of life" dos anos 50. Primeiro foram os Beatniks a "freakar" a América, mais tarde, com a liberdade sexual (graças à criação da pílula) e a contestação estudantil e social dos anos 60, o "freakismo" atingiu uma geração inteira, a famosa "Hippie".
Nos dias de hoje, infelizmente o "Freak" não passa de uma caricatura anacrónica, tal como o "Punk" ou outras idiotices urbanas (e rurais, porque não?) restrito a putos com rastas, t-shirts do Che, uns piercings e curtir Reggae, étnica ou Techno-Trance. Também significa montes de malta que se farta de fumar charros, abraçar causas de Esquerda, e claro, cabeças no ar que são, não se apercebem do nojo que são ou que mal provocam aos Outros.
Os Betos existem desde que o Homem se organizou em tribos, aldeias e cidades. São um mal eterno, que actualmente usam rastas e piercings falsos depois de uma viagem de finalistas à República Dominicana (porque havia lá um surto promocional para fazer estes adornos), usam T-shirts ou relógios Swatch com a cara do Che para irritar os pais capitalistas ou porque o Che tornou-se um ícone inofensivo, também adoram festas de Reggae e de Trance, com Vodka ou pastilhas para os mais afoitos. São responsáveis porque são bem integrados no sistema, quase estúpidos ou ignorantes. Os poucos que são mais cultos são ressabiados porque sabem que são odiados desde sempre. Podem ser muito nojentos mas quando são eficientes podem ser quase agradáveis.
Esta extensa introdução serve para apresentar alguns zines e livros que têm em comum desenhos e narrativas tripantes, devedoras à arte psicadélica dos cartazes Rock dos anos 60 norte-americanos.

Le Cadavre de L'ange (Hélastre; 2004) de Saguenail (texto) e João Alves (ilustrações) é um álbum fotocopiado, um livro de autor bilingue (francês e português) com ar bem seguro que comprei na última Feira Laica, apesar do preço algo que puxado (10€). Constituído por 13 textos, que a maior parte das vezes cada texto até têm direito a duas ilustrações (pelo facto de ser bilingue) ou uma ilustração que aglutina as duas versões do texto.
Os textos têm um cariz onírico em que tanto há pequenas subversões de contos infantis, alguma escatologia & decadentismo "light" e apontamentos mundanos, originados por Saguenail, um realizador e actor de cinema residente no Porto - creio.
Claro que, o que me motivou a adquirir a obra foram os desenhos grotescos de João Alves, que conheço por uma série de belas capas (serigrafadas) dos discos da Marvellous Tone, que aqui assistimos a uma verdadeira parada de criatura grotescas, animais e humanos em clima de fantasia freak (claro) muitas vezes à beira do surrealismo cómico.
Piada nº1: é quase impossível de encontrar esta edição, ao que parece um dos autores não gosta de comercializá-la o que dá na escala de freakismo um sólido 4 em 5 pontos. Com sorte através da Marvellous Tone possam arranjar um exemplar, ou talvez não...

As Ediciones Pneumáticas enviaram-nos dois livros: El charco de plástico (2005) e Hombres de aire (2007), ambos de Ginés com a colaboração de Julio Lebrato como escritor no último título. Os livros são ilustrados e tem um ar "chic-freak" - outro conceito, uma variante línguistica que une o Freak ao Beto ou será o Beto ao freak? Um problema que vejo, ao receber estes exemplares com uma boa impressão e embalados em plástico (individualmente) é que não reconheci ponta de talento e irritou-me o "luxo" das edições - que ainda assim não é tão luxuoso como poderão imaginar, na verdade são edições A5 e A6 a preto e branco com um papel bem escolhido para as capas... talvez até seja só a capa (o toque? e as badanas?) que dão um bom aspecto para o pouco conteúdo.
Será que eles nunca ouviram falar no pecado da Vaidade? Mas quem nunca pecou que atire a primeira pedra... Podem criticar a economia cega e irresponsável do uso do petróleo (El charco de plástico) ou ainda globalização (Hombres de aire) mas também se deveriam auto-criticar e ter consciência do que fazem enquanto "artistas". Ora se é verdade que há muito lixo comercial e alternativo bem embrulhado pelo mundo editorial fora também não gosto da atitude dos comentários reaccionários de "quem é que merece ser editado e como" (no caso da MMMNNNRRRG estaria bem tramado se dependesse do aval dos imbecis que condenaram as edições de Mike Diana ou do Malus, por exemplo). Deixo apenas o aviso de alerta e a promessa que farei um Diário Gráfico nestes belos cadernos - ao menos sempre servirão para alguma coisa... Seja como for é impressionante, e de se tirar o chapéu, a organização e trabalho árduo deste projecto que pelos vistos se mexe em várias direcções: livros online, ilustrações, edição, animações... Freakismo 2 em 5.

Bébé 2000 (L'Association; 2006) de Caroline Sury (do colectivo Le Dernier Cri) é um livro autobiográfico com desenhos super-freaks! Bem, "freak" é capaz de não ser a melhor palavra, apenas porque "arte freak" costuma ter a) animais b) psicadelismo e c) cabeças sem rosto. Bom, a Caroline não tem o "c)" e por isso, fica provado que não é Freak. Como sabem, ou deveriam saber, parte do espírito do LDC é a Art Brut, e o desenho de Caroline insere-se perfeitamente nesta categoria embora ela não seja uma doente mental com uma necessidade enorme de vomitar desenhos. É verdade que no LDC todos eles vomitam desenhos e Caroline não é excepção. O que não se esperava era um livro de BD com mais de 80 páginas que tratam do nascimento de Oscar, o filho de Caroline e de Pakito Bolino.
É uma mini-viagem à intimidade no LDC: vemos o trabalho dos dois no atelier de serigrafia, a esfera de amigos, as reacções de Pakito à "chocante" notícia da gravidez de Caroline, os problemas de gravidez, as mudanças na vida do casal com o nascimento. Os desenhos fingem uma estética "Brut", algumas vezes com imagens mais exageradas e até com toques de "a)" e "b)" mas que retratam bem a fragilidade e confusão paterna, o vigor feminino, os traumas físicos do parto, o ambiente hospitalar e o estado da saúde na Europa - não é só em Portugal que a Saúde anda pela fossa! Agora, o mais giro disto tudo, é claro, o que irá pensar o Oscar quando ler isto lá quando chegar à dolorosa adolescência... Pseudo-Freakismo: 4/5

por fim, do Texas, terra conservadora mas de onde já apareceu muito Frito (ex.: Butthole Surfers), chegou-nos os dois primeiros números do zine Mass (200_/08) de Nevada Hill. O primeiro número é um A6 fotocopiado, o segundo tem uma capa em serigrafia e a impressão do interior é feito num porreiro papel amarelo. O zine publica uma bd de leitura pouco linear (?) de autoria de Hill onde encontramos um imaginário de mutantes e construções orgánicas bizarras com um toque de psicadélico. A estranha personagem que percorre estes mundos, por acaso tem rastas, muito feias e tipificadas e não acontece a "situação c)" - e ainda bem caso contrário isto poderia correr mal. Tudo ao acaso, em constante construção (e pouca destruição) na tradição-trip do Moebius/Crumb nos loucos anos 60. Freakismo médio de 3 em 5.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Associação Chili Com Carne - 10 anos

Comemoram-se, desde 21 de Abril de 2007, os 10 anos de existência legal da Associação Chili Com Carne (CCC). Um programa de oferta cultural têm sido elaborado pela CCC que se desenrola em 10 acções - revelado nas actualizações constantes neste blogue:

1 - zine old school (fotocópia A5 com oferta de maravilhosa K7 áudio) CHILI BEAN com trabalhos inéditos de André Lemos, Rafael Dionísio, Claudio Parentela (It), Jucifer, Tommi Musturi (Fin), João Cabaço, Mário Augusto (A Mosca) & Sílvia, Jakob Klemencic (Esl), Christopher Webster (Ing), Nunsky (uma ilustração de homenagem aos 10 anos da CCC - novo trabalho passado... 10 anos!!!), JCoelho, Pepedelrey, André Ruivo, João Louro (Ups!), Ana Ribeiro, José Feitor, Afonso Cortez e Rafael Gouveia... lançado no dia 21 de Abril durante a:

2 - Festa de comemoração dos 10 anos da CCC com concertos de Lacraus (Panque Roque do Senhor - Flor Caveira), Lobster (Noise Rock Dinamic Duo) e shhh... vs Sci-Fi Industries (Breakbeat - Thisco) no Clube Rio de Janeiro (Rua da Atalaia, 120; Bairro Alto), às 22h. Entrada: 4€

3 - THISCOvery CCChannel com um prazo de validade de um ano: de 22 de Abril de 2007 a 21 de Abril de 2008

4 - remodelação do sítio www.chilicomcarne.com

5 - Inauguração da Book'n'Shop, livraria em parceria com a Thisco e a galeria Work'n'Shop no dia 28 de Julho de 2007, às 18h.

6 - reedição do quase-esgotado Mesinha de Cabeceira #13 em PDF para descarga grátis no site.

7 - nova colecção, em parceria com a Thisco, dedicada a ensaios, Colecção THISCOvery CCChannel. Primeiro volume: Antibothis [livro+CD] com textos de Gx Jupitter-Larsen, Kenji Siratori, Corrupt.org, Pentti Linkola, Iona Miller, Socialfiction, Jorge Mantas, Edgar Franco, Wulf Zendik, Adel Souto, Sztuka Fabryka, Denny Sargent, Ordo Antichristianus Illuminati, Alex Birch; capa e ilustrações de André Lemos; design de João Cunha; e música por Jarboe, Fernando Ribeiro (Moonspell), Kenji Siratori, Phil Von (Von Magnet), Christophe Demarthe (Clair Obscur), Rasal.asad, Euthymia, Wildshores, Andrey Kiritchenko, Netherworld, Rapoon, Planetadol, Thermidor, Structura, Martin A. Smith e Alex Tiuniaev.

8 - Cadernos de Fausto de Rafael Dionísio, 7º volume da Colecção CCC com design de João Cunha / Eclectricks e capa de João Maio Pinto. É possível fazer pré-encomendas.

9 - Noitadas, Deprês & Bubas, terceiro volume da colecção Mercantologia, por Marcos Farrajota, com prefácio de Daniel Seabra Lopes. Lançamento previsto para a 10ª Feira Laica.

10 - T-Shirts CCC impressas por Lucas Almeida. Já se encontra à venda a primeira, Mouth Bug por André Lemos. Em preparação T-shirts de Bruno Borges, Jucifer, João Maio Pinto... e mais ilustradores durante o ano.

10 CCC - comemoração 10:

estudos das t-shirts

Já está à venda a primeira peça das T-Shirts CCC, impressas por Lucas Almeida com desenhos dos artistas da CCC.
A primeira, Mouth Bug por André Lemos. Em preparação T-shirts de Bruno Borges, Jucifer, João Maio Pinto... e mais ilustradores durante o ano.

domingo, 11 de maio de 2008

ccc@festival_de_beja_2008


edições da CCC e associados estão à venda na livraria do evento. o Pepedelrey têm uma exposição e sairá um novo livro da El Pep. Dia 14, Paulo Monteiro - director da Bedeteca de Beja e do festival - apresenta "Da pré-história à Chili Com Carne (uma viagem surpreendente pela Banda Desenhada)" na Universidade Sénior / Casa da Cultura. Depois daquela expo com o MdC cada vez estamos mais surpreendidos!

Refractária, Anarquista e Laica



R: as edições da CCC serão representadas pelas Edições Mortas
A: a CCC participará na feiradolivroanarquista.blogspot.com
L: a CCC faz parte da organização e participará com mesa

ccc@comunicar.design_2008


AMANHÃ, estarão presentes Marcos Farrajota e Jucifer... depois disso as nossas edições (e Imprensa Canalha, MMMNNNRRRG e Opuntia Books) ficarão por lá à venda.
+ info: web.esad.ipleiria.pt/comunicardesign

quinta-feira, 8 de maio de 2008

abrindo as malas da viagem...

É o regresso do SPX 2008 (Estocolmo) e serve este "post" para dar as novidades:

_Temos para oferta alguns exemplares do último número do jornal finlandês de bd, Kuti - já várias vezes divulgado neste blogue. É um número especial SPX, com trabalhos de autores finlandeses e suecos. Os textos estão em sueco mas com legendas em inglês.
Esta oferta é exclusiva aos sócios da CCC e que comprem qualquer artigo que seja da Finlândia ou da Suécia (Boing Being, Napa, Daada) ou que tenha participação de autores finlandeses ou suecos (Chili Bean, Mesinha de Cabeceira Popular #200, Mutate & Survive, Canicola).

_Já é uma revista que se tem escrito com alguma regularidade (o #5 e o #1) e que número para número vai crescendo em forma e conteúdo: C'est bon anthology do colectivo sueco C'est Bon, com quem a CCC partilhou mesas na SPX. Trouxemos para venda os quatro volumes da terceira série (#17/20; Ago'06/Dez'07) que marcam a distribuição mundial desta publicação através do catálogo Previews (que distribui todos os comics norte-americanos para as lojas especializadas). A revista continua a sua redacção em inglês e está com um aspecto luxuosa, gordinha e brilhante devido ao papel couché. Tem mais colaborações de autores internacionais (ou seja, "não-suecos") e mais trabalhos arrojados - uma lista de nomes explica por si só a qualidade que a revista atingiu: os alemães Martin tom Dieck (que estará este fim-de-semana no Festival de BD de Beja!) e Arne Bellstorf, o sérvio Danijel Savovic (vol.1), o português Pedro Nora, o sueco Knut Larsson, os finlandeses (que estiveram no Salão Lisboa 2005) Marko Turunen e Jyrki Heikkinen (vol.2), o francês Yvan Alagbé, os italianos Andrea Bruno e Stefano Ricci (vol.3), ou ainda a finlandesa Amanda Vähämäki ou a israelita Rutu Modan (vo.4).

_Um dos editores desta revista é Mattias Elftorp que também é autor de bd. A série Piracy is Liberation é o seu trabalho mais conhecido, que já se encontra num quarto volume editado pelo colectivo desde 2006.
Graficamente próximo de (ou demasiado influenciado por) Brian Wood e Ben Templesmith, Elftorp é menos elegante em questões de anatomia, domina as lutas do preto e branco e dá bom uso de tramas e texturas.
Cada volume apresenta entre 64 a 72 páginas, o que mostra o enorme trabalho com que o autor está lançado. A trama de um futuro não longe do nosso, passado numa megalopólis sem memória, onde piratas informáticos procuram destruir o sistema de dominio dos padres capitalistas, poderá lembrar Matrix ou a bd Invisibles de Grant Morrison (este último menos conhecido mas mais copiado - os criadores do Matrix que o digam) mas não deixa de ter ideias próprias que estão em gestação - gosto particularmente de uma cena em que duas personagens Hackers que fazem "copy'n'paste" deles próprios do mundo virtual para o real. De certa forma as cerca de 240 páginas ainda não pareceram suficientes para perceber o que se passa por aqui - lógica de Manga? À primeira vista, poderá haver uma excessiva exploração de lugares-comuns de "anarco-glamour" mas uma leitura mais atenta revelará mais inteligência do que a visão superficial. Esperando por mais volumes até 2012?

_Nesta edição do SPX assisti, de certa forma, a saída do armário da bd sueca alternativa... enquanto os finlandeses há anos que traduzem as suas bd's para terem feedback internacional, os idiotas dos suecos sempre tiveram fechados no casulo editando livros na língua que nem os ABBA usavam para ganhar o Eurovisão. Resultado, tirando o Max Andersson e o Lars Sjunnesson (este último participou no Mutate & Survive), que vivem em Berlim, e o Gunnar Lundkvist e Joakim Pirinen (editado em Portugal pela Azul BD3), todos eles da "velha guarda" nada mais se conhece da bd sueca. Aliás, as minhas duas visitas ao país - e à SPX - não se traduziram em regressos com malas cheias de novas bd's, livros e zines... justamente o oposto do que aconteceu quando vou ao festival de bd de Helsinquía.
Saiu a antologia From the shadow of the northern lights : an anthology of Swedish alternative comics : vol. 1 (Galago; 2008), uma antologia em inglês (yeah!) que terá distribuição pela norte-americana Top Shelf. Podemos chegar à conclusão do que se passa por lá: há a "velha guarda" (já referida) mais gráfica e experimental, depois há a autobiografia chata dos anos 90 - daquela que ninguém têm nada para contar ou que saiba contar de forma interessante, havendo montes de históras sobre homossexualidade (um sucesso no mercado da bd, creio) - e por fim, o regresso do grafismo e bizarria bruta com nomes novos como Marcus Ivarsson, Marcus Nyblom (autor da capa), Knut Larsson e Kolbeinn Karlsson. Apesar das lamechices de alguns autores, vale a pena ler estas 200 páginas a preto e branco.

_E é este último grupo de autores referidos que faço um destaque porque como já escrevi, raramente há razões para comprar edições suecas por causa dos grafismos pobres e pela barreira da linguagem. As excepções são as seguintes: o livro Skissbok (Kartago; 2007) do Marcus Nyblom e os zines de Kolbeinn Karlsson: Benny Bjorn will never return e Rules of animation (com Hanna Petersson; 2007) e Harvar Vilda Vastern (2007?).
No primeiro caso coloca-se a questão se "skissbok" poderá mesmo significar "livro de esboços"... apesar da estrutura do livro apontar para isso porque os trabalhos publicados não parecem ter ligação aparente. Ora são desenhos soltos, alguns sim com aspecto de "esboço", ora são bd's mudas e insólitas como "Alice no País das Maravilhas". São as bd's que têm um ar mais esboço porque o estilo gráfico que Nyblom usa é "realista" e "certinho" bem longe das suas ilustrações que têm aquele aspecto derretido e degradado de quem está em sintonia com a ilustração deste milénio - embora as raízes deste tipo de desenho e imaginário estejam na Raw e no Fort Thunder, dos anos 80 e 90 respectivamente. É um livro "fifty/fifty".

Quanto a Kolbeinn (várias vezes pensei que ele chamava-se Cobain como o vocalista dos Nirvana ou Kobaïan, a língua inventada pelos prog-rockers franceses Magma) também está em sintonia com o tempo: degradação material e moral, fascínio pelo Pop (o Benny Bjorn para quem ainda não está bem a ver, é um dos tipos dos ABBA), monstros peludos e outras criaturas de série B. Zines fotocopiados em formato A5 com capas a cores, os dois primeiros são de ilustração em parceria com uma tal Hanna Petersson em que as autorias não são identificadas (embora as suspeitas sobre a autoria dos desenhos de Kolbeinn recaiam para os que têm mais texturas); o último é o único de bd - que está também publicada na antologia From the Shadow (...) - com uma estória violenta homoerótica do oeste norte-americano - acho.

_Por fim, material dos inteligentes finlandeses - é a segunda vez que fico com a sensação que a Suécia, ou pelo menos Estocolmo é dominada por campónios e novos-ricos.
Novidade absoluta: Supernormal (Daada; 2008) de Marko Turunen, um dos muitos autores de bd peculiares da Finlândia e também dono da editora Daada. Não é novidade mas é importante na mesma para qualquer português ignorante da cena bedéfila da Fenoscândia: Mystic sessions Vol.I (auto-edição; 2006) de Pauliina Mäkelä.
No primeiro caso são reedições de bd's de zines antigos ou ainda algumas bd's fora do padrão do universo do autor - que nos visitou no Salão Lisboa 2005. Aqui vamos encontrar bd's parvas de super-heróis criadas pelo Turunen de 1984 (de 11 anos) e redesenhadas pelo Turunen de 1998 (de 25 anos) que dão um sentimento estranho para qualquer apreciador de "nerd culture", há fotonovelas nervosas das aventuras do Sr. Pinguim (um boneco azul feito por Turunen) a interagir com patos e com um cão (hilariante!), algumas bd's "minimalistas" de coelhos ninjas ou de contos tradicionais sobre ursos broncos,... enfim, mais de 400 páginas A6 de Arte e pura diversão.
O segundo caso é um livro agrafado A3 de 16 páginas a preto e branco que foi criado pelos - e serve para quem quiser ilustrar - distúrbios e desvaneios psico-acústicos de projectos musicais como sunn0))), Earth, Burzum, Wolf Eyes, Melvins entre outros "dronemeisters".
Existe uma narração feita de imagens de uma figura feminina (uma menina) a tocar um tambor intercaladas com outras imagens de dimensões bizarras e psicadélicas, daquelas que podiámos chamar de "zona negativa" ou algo assim - quem leu os desvaneios de um tal de Kirby sabe do que falo.
Cada batida, um novo universo?

aviso: irá demorar a colocação destes artigos na nossa loja virtual, por isso quem quiser entretanto comprar poderá fazê-lo pedindo pelo e-mail ccc@chilicomcarne.com. cada número da C'est bon custa 15€ e cada volume de Piracy is Liberation custa 10€ (c/ desconto de 20% aos sócios da CCC)