Faleceu Nuno Rebocho, radialista, poeta, escritor, cronista, insurrecto,
cabo verdiano emprestado e boémio. Fomos amigos no princípio do
milénio. Ele morava em Cascais velho. Conhecemo nos porque ele comprou
um fanzine meu e escreveu me uma carta.
Quando o encontrei chamei lhe
"senhor" ao que ele respondeu "não é por ser mais velho que sou um filho
da puta". Tipico Nuno. Participei numa revistinha dele "Os Cadernos de
Ibn Mucana" e noutras coisas. E em compensação publicámos lhe o "vida de
djon de nha bia" na Chili com Carne. Que eu apresentei. A última x que o
vi foi há uns anos num lançamento de um livro dele ali ao Calhariz.
O Nuno Rebocho teve vários acidentes graves de saúde nos
últimos anos. Depois de um deles encontrei me na Baixa, ele chegado de
Cabo Verde. Dois ou três cafés, cigarros, um uísque. Ele gostava dos
prazeres. Típico Nuno.
Ele ultimamente, creio, estava a viver
em casa da irmã, Ericeira. Nunca o fui visitar. (O meu pai teve acamado
mais de dez anos, o meu avô morreu aqui em casa, a minha irmã também....
o que faz com que me custe mesmo muito ir ver pessoas mal. )
De qualquer modo devo lhe um enorme agradecimento em termos sido amigos.
Abriu me a cabeça. e ele interessou se pelo que eu escrevia, mas era
sempre frontal. Já não me lembro de qual era o livro que ele disse "é o
teu pior livro"; acho que era o Fausto. Mas ele gostava de muitas
escritas e das pessoas que escreviam, era generoso nas suas apreciações e
nos seus intercâmbios, numa cultura viva de trocas e amizades.
Ainda apanhamos umas boas bebedeiras aqui em Cascais e em Lisboa. Uma
vez à frente de casa dele tivemos uma conversa longa, negra e
pesadissima; o desespero perante a sua existência estava extremado.
Estávamos também com os copos, claro. Mas felizmente aquilo passou, não
parou ali. Estava mal de amores.
Mas, regra geral ele era
muito animado, bem disposto, risonho, divertido, imaginativo, embora
critico de tudo "sou um radical do centro". Era desiludido das esquerdas
mas enojavam lhe as direitas. Tinha estado preso durante o Fascismo e
orgulhava se de ser o jornalista da terceira república com mais
processos por parte das entidades patronais. Tipico Nuno
E
era também um amante profundo da literatura, das artes e especialmente
da poesia. Ele o que escreveu mais foi poesia, e deve estar muita coisa
por publicar.
Em Cabo Verde casou. Acho que teve um ou dois casamentos cá, antes. Dizia que a mulher é que lhe dava saúde. Tipico.
Olha... Tchau, meu! Espero que agora estejas num arquipélago semi
imaginado onde anda o Djon, o Ómi Cabra, a Apòstola e os outros
personagens. Um mundo quente de poesia e alegria, onde se bebe umas
coisas e se come uma cachupa
Rafael Dionísio