domingo, 21 de janeiro de 2007

Havia

Joana Bértholo
Primeiro Exemplar; 2006

Havia uma altura, em Portugal, que as coisas tinham mau aspecto. Os habitantes pareciam trolhas a qualquer hora mas felizmente o regime Novo Rico (Cavaquistão, parte I) trouxe cadeias de lojas de roupa barata e agradável. Havia uma altura que os balcões das lojas ou dos bares assustavam qualquer um, talvez porque tinham aquele ar sebento, felizmente vieram os Designers com o seu K-Line e acrílicos e agora qualquer loja portuguesa parece uma asséptica clínica de beleza, imitação barata do "in" da Europa. Havia uma altura que os livros portugueses tinham capas feias e berrantes vindas da pior tradição visual do aérografo - Espera, ainda é assim!
(...)
Mas há excepções, a editora Primeiro Exemplar tem a política de editar a primeira obra de um (futuro?) escritor, e faz disso um bom trabalho. A estreia de Joana Bértholo (embora ela já tinha escrito e produzido um livro de autor que um certo poeta fez questão de mo perder) é agradável q.b. E não é melhor porque é light, não porque escreva romances light mas porque os contos são simples, pequenitos, simpáticos e fáceis de absorver. Lembram-me o estado actual dos nossos estabecimentos e os seus acrílicos - infelizmente - pois as histórias de "Havia" topam-se como exercícios de escrita criativa embrulhados num belo Design que disfarça a falta de um corpo de escritor(a) com as suas naturais obsessões e fantasmas próprios. Embora haja estórias engraçadas (o do sentimento que não tinha nome ou do homem que gostava de assaltar casas serem da minha preferência) não deixam marcas. Também acho que a linguagem repete-se. Gostei do embelezamento dos textos com desenhos e uma paginação dinâmica mas é pena não tenha sido feito uma parceria maior... Há inexperiência neste livro mas também se assim não fosse este não seria o "primeiro exemplar"... Parabéns à editora e autora, embora tenha preferido o primeiro livro não-oficial da Joana.

3,3

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