sábado, 3 de novembro de 2007

O projecto de fecundar a lua #1

Auto-edição; Jul'07

É difícil encontrar bd mais secreta e sem defesas do que estas de Janus e Marco Mendes. Não apenas por se tratar de uma obra fora dos circuitos, sistemas, rotinas, escolas, etc, mas principalmente porque ela não parece existir na aproximação a nenhum pensamento conhecido nem dá mostras de se render a qualquer dos habituais discursos com efes e erres e pontos nos is para sobreviver ou sentir-se sustentada. O que a segura é, dá ideia, outra coisa completamente diferente. A sua pura vontade, desejo ou loucura - esse seu imperfeito, inconveniente e tão esquisito porque-sim.
Bd's no reverso de caixas de cartão, embalagens, pedaços rasgados, o avesso do lixo. Porquê? Porque "a vida está cara", porque era o que estava "mais à mão", porque sim. Esta é uma bd negra, negra, negra, em que a ingenuidade de bonecos com bocas grandes (bidimensionais e vagamente totémicos) se mistura com a violência dos mais poderosos fantasmas do sexo e da morte. Uma bd de dualidades e oposições - positivo e negativo, frente e verso, fíguração e não -que não é nada óbvia ou "binária" no tempo do seu olhar. Pelo contrário, atravessa-a uma duração fluida e espessa que lembra o tempo dos pesadelos. Nas bd's de Janus e Marco Mendes há só o corpo do erotismo e o corpo do terror - nela a vida reduz-se, amplifícada, a isso, recusando tudo o resto. Os outros, as palavras. A ilusão, a tralha sentimental.
Mas isto, se é possível (e é: é esse o espanto!), no modo leve e cheio de graça desta arte-porque-sim.

[ehm, como não me apetecia escrever, saquei um texto de um catálogo de pintura com um texto de um escritor qualquer famoso, substitui pintura por bd e o nome do pintor pelos do Janus e Marco Mendes... não que faça muito sentido mas que se lixe! O zine é fixe porque-sim ao contrário do texto e a pintura dos outros que eram uma bela merda. Pedidos devem ser feitos aos gajos d'A Mula enquanto o Mendes não enviar uns exemplares para vender na CCC]

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