sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

R-aging Planet


[f.e.v.e.r.]: "4st"
v/a: "E se depois... Tributo a Mão Morta"
(Raging Planet; 2007)

O paradigma de produção de música urbana dos últimos anos tem sido o que foi criado pelos horrorosos Blind Zero: cópia de modelos existentes, profissionalismo, bom trabalho de imagem e boa produção sonora. Diferente da produção dos anos 80: originalidade, amadorismo, qualidade flutuante de imagem e de produção sonora. Tendo ultrapassando o ano 2000, onde estamos nós no que diz respeito à música urbana?
Com raras e cristãs excepções, o panorama tem se afundado no profissionalismo e imitação de modelos, o que se considerarmos que a democratização da tecnologia trouxe gravações e embalagens tão profissionais que nos dias de hoje ouvir uma banda de Death polaca amadora ou uma alemã editada por uma editora comercial ou uma banda da Guarda é a mesma coisa. Serve Death como para Emo ou Indie ou outra coisa. Apesar de tudo vão aparecendo as tais excepções ou ainda bandas que tem como modelos menos vulgares no mercado português. Os [f.e.v.e.r.] estão na fronteira disto tudo por fazerem um "melting-pot" de Rock pesado, Pop meio-gótico e acompanhamento electrónico, apesar de não ter muitas referências em Portugal já as ouvimos noutros lados, sobretudo lá prás "américas" com os KMFDM ou Linkin Park ou qualquer banda que cante por cima de Riffs pesados e loops... Talvez por isso que [f.e.v.e.r.] possa soar a "novo" neste retângulo ibérico e que se esta banda conseguisse apanhado um "zeitgeist" talvez fosse um sucesso a nível global - ou pelo menos para um mercado norte-americano.
Este primeiro álbum, que é na realidade o quarto registo graças a uma carreira pós-moderna que se fragmentou em dois EP's, um álbum de remisturas e ainda uns dois singles, é daqueles discos que não se deveria colocar um único defeito de tão bombom que ele é: grande produção, som "catchy", ou seja tudo perfeito. Então o que corre mal? Não sei, na essência creio que é a voz, uma lamechice melódica e falsa que se ouve bem em dois ou três temas mas que depois começa a enervar de tão bonitinha que é. Admito que cada vez tenho menos paciência para melodia convencional e beleza caucasiana, se nos EP's ou singles os [f.e.v.e.r.] convenceram-me porque os registos sabiam a pouco, num registo mais longo, tanto dramalhão Emo acaba por levar à saturação suícida. Um destaque para o tema sincopado e funky Clockwork embora seja Prong q.b.

Bem, depois da febre, a mão morta... A banda portuguesa de sempre! A banda que veio dos anos 80 e continua no activo, que sempre manteve um nível alto de originalidade e coerência intelectual. Não podiam ser só os Xutos e GNR a apanhar com tributos, os Mão Morta já mereciam e foi a Raging Planet, uma editora independente super-profissional de Rock que teve "los tomates" de avançar com a ideia. Uma tarefa difícil de realizar dada à banda homenageada ser um monstro da cultura urbana, e apesar da Raging Planet meter logo o pé na poça com a capa nojenta e design horrível do disco, conseguiu fazer um bom trabalho mesmo que não tenha conseguido agradar todos os gregos e todos troianos.
O facto de ter conseguido fazer uma colectânea de 16 projectos bastante diferentes, faz deste tributo um disco eclético como devem ser todos os álbuns de tributo - ao contrário da moda dos anos 90 em que havia álbuns de tributo inóquos como 20 bandas Punk a versionar uma banda Punk sem acrescentar nada de novo, e quem diz Punk, diz Gótico, Metal, etc... Outro facto interessante ao ouvir o disco é perceber que o universo de Mão Morta é elástico o suficiente para ser incluído nos de outras bandas sejam elas Surf, Electrónica, Metal, ao ponto de 99% dos temas escolhidos pelas bandas baterem certo com as ambições musicais. E claro que no meio deste "compacto-caos" haverá sempre o "bom, o mau e o vilão":
1. Desiluções & Surpresas: uma pena os Bunnyranch não terem pegado em algum tema do Vénus em chamas (BMG; 1994)... as As tetas da alienação apesarem de serem tetas não tem sexo para o Rock destes coimbrões. Também se esperava dos Dr. Frankenstein ao pegar em Marraquexe (Pç das Moscas Mortas) um som mais Exotica e não tão Surf. Os Dead Combo (para os quais não tenho a santa paciência) como sempre fazem um tema instrumental, e com inteligência tocam o emblemático Aum, o hino urbano-depressivo dos MM! Bem pensado e bem executado. Os Wraygunn transformaram o E se depois num Blues etnico-psicadélico "mucho cool".
2. Mau: cineMuerte (claro) e Volstad (ambas bandas com vozes melódica-pretensiosas femininas de puxar pelos cabelos... das vocalistas!), The Temple (creio que a crítica de Ricardo Amorim no último Underworld resume a questão com muita ironia, por isso nem vou bater no ceguinho!). O que representa 20% do disco, menos mal embora algumas participações como as dos Acromaníacos e Mécanosphère deixem a desejar por serem rídiculas ou "kitsch".
3. O resto é eficiente e interesante como pegam nas músicas dos MM mas bom, muito bom mesmo são os D'Evil Leech Project, extreme-cyber-metal que transforma Cão da Morte num verdadeiro festim Death-Gore para Headbanging - mesmo no escritório colado ao computador o meu cabelo liso e longo solta-se pelo ar para curtir esta música... O que só prova que esta é uma das melhores bandas portuguesas do momento, mesmo que não tenham novo álbum à 4 anos e ao que parece teremos de esperar por 09.09.09 para ouvirmos o segundo álbum, filhos-da-mãe!

Sem comentários:

Enviar um comentário