A viagem ao Festival de BD de Angoulême foi uma boa forma de angariar mais algumas edições que juntassem os meus media favoritos: zines + música.
"Uma velharia" já que os anos zeros do milénio andam a cavalgar (deve ser da idade...), falo de Rotkop #7 (Jelle Crama / Freaks end Future; 2003) de que já tinha escrito na antiga secção Entulho de Morte (ver aqui PDF) que mantêm a fórmula zine A5 de caos gráfico e CD-R antológico de música underground. Só é pena, e talvez por ser o tema (Desporto), que este número seja pouco inspirado: desenhos mais rafeiros (safa-se o Pakino Bolino do infame colectivo Le Dernier Cri), fotografias/ colagens vulgares e muita música experimental irritante tirando algumas excepções como Butsenseller (weird techno), RJRM (porn'n'bass), Dieter (dark freak folk?), Snofsan (bilhar house?), Sickboy (breakcore), Alfes Thulta (electrónica), Donna Summer (industrial-noise)... Ainda assim o CD com embalagem serigrafada ainda é a melhor do zine. De certa forma sente-se o cansaço do projecto, ainda bem que acabou, não?
Segue dois números do Puree Noire que é a) é um colectivo de DJ's e ilustradores, b) uma associação que edita e c) um zine de ilustração & bd & música & animação... tudo isto ao sabor do tempo a julgar a) pelos desenhos e bd's digitais e/ou esboçadas à pressa b) pelo Digital Hardcore / Breakcore que salta das rodelas de CD-R's onde a) tanto se ouve Hip hop, Noise, Drum'n'Bass que sampla um feedback de Sonic Youth b) como ainda inclui vídeos ou ficheiros para imprimir stickers.
Entre o número 10 (2003) e o 12 (2005), prefiro o último [imagem ao lado da capa] porque a coisa vai ficando mais forte: a impressão melhora, a capa é serigrafada, as músicas Grindigital da Princesse Rotative são cada vez mais maradas, participam mais autores gráficos como o Judex e Fly (dos fabulosos God is My Co-Pilot) com uma bd antiga escrita por K9, mais vídeos e extras no CD-R - destaque para o vídeo Schwarzy & Clyde. Para quem quiser saber o que o novo milénio fez em várias áreas criativas!
PS
Em Portugal, formas idênticas, resultados diferentes. Não me interpretem mal, o número 8 da revista Acto (Associação Cultural Tirsense; Dez'07) está bom: os textos são interessantes, a paginação é simpática e ainda oferece um CD, Dystopic Futures (co-editado com o colectivo Soopa) mas temos de admitir que é bastante português todo este esforço de editar uma publicação com aspecto profissional acompanhado por um CD para ter como resultado algo sério! É uma crítica estúpida bem sei, a Acto tem como programa editorial a divulgação cultural e a reflexão intelectual, ao passo que as outras publicações divulgadas neste "post" são obviamante artísticas e por isso, na teoria, a comunicação é feita ruído e caos. Se existir alguma "culpa" é minha de colocar neste mesmo "post" objectos completamente diferentes apenas porque são a fórmula "zine + CD-R".
O tema deste número é o "Futuro" (ou a sua ausência ou a distopia) sendo concretizado por ensaios bem escritos. Há também alguma ficção e poesia, que não achei tão interessante. Quanto à compilação sonora, apesar do rídiculo (divertido) recital de um manifesto comunista sobre a rádio - faixa Day of the Sputnik dos Mécanosphère - tudo o resto é cinzento, dronish e experimental, sem um pingo de hedonismo como as antologias dos títulos anteriores. O que é ainda é divertido e deixa-nos imaginar aventuras sonoras são os nomes dos projectos: Most People Have Been Trained to be Bored, Operador de Cabine Polivalente, Hhy Sumclash, Logro e Double Donuts.
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