v/a: "A Florcaveira apresenta: Cinco subsídios para o Panque-Roque do Senhor" (Florcaveira; 2006)
Quando se pensa que é nos Esteites que existe bizarria Pop... Pasmem-se! Nas colónias do império cultural norte-americano também se passam coisas peculiares e até com uma qualidade superior graças à nossa cultura europeia. Rock cristão poderia existir em Portugal? Cêus, será possível tal paradoxo? Sim! E as facetas mais agressivas em formato religioso também? Tipo Hardcore, Grindcore, Metal, Punk, ...? Pelos vistos sim também!
Lembrou-me que em 1997 tive acesso a um zine de Guimarães, Ancient Ceremonies, que não era só um espelho do Metal Cristão vindo da Austrália - a editora Rowe era a plataforma deste sub-sub-género, entre outros como o White Metal ou Unblack Metal - mas também divulgava dois projectos cristãos nacionais, os Hardcores Bibletoons e os Metales Spiritus. O zine era uma galhofa que várias vezes animou até ao choro e dor de barriga (Deus castiga!) em vários encontros de pagãos - vulgo, festas em casa de amigos regadas com álcool, drogas e conversa. E o que era um kitsch estranho nunca saiu da Igreja Baptista de Queluz de Baixo (havia ensaios abertos ao público aos Sábados de manhã) e entretanto apareceu uma nova vaga de bandas com a mensagem do Senhor entre guitarradas de Panque Roque. Uma família unida pelos vistos que lançam CD's e CD-R's pela editora Florcaveira.
Esta colectânea de que aqui falamos oferece-nos os Lacraus (Panque & Soule com muito humor - humor!?), Pontos Negros (indío-pope lamechas como é todo o Indie Pop), Samuel Úria & as Velhas Glórias (roque e role), Borboletas Borbulhas (Hardcore) e Jerusalém (Christian Grind - I shit you not!!!). O que se topa logo à primeira é o humor e inteligência das letras - um choque, claro, porque como sabemos os cristãos são estúpidos até à medula -, depois a gravação lo-fi (gravação caseira «em gloriosa baixa fidelidade, não foi masterizado, sound verité») que nada tem de desagradável dada à pica incrível destes guerreiros de Cristo! Ouvir este CD é quase voltar aos gloriosos anos 80 em que a energia e imaginação passavam por cima do "saber fazer" e quanto a isso, vale «Ouro, incenso e mirra» (desculpem a expressão).
Quase que me converto com as letras fabulosas como Querem-me mal as filhas de Belial / querem-me bem as filhas de Jerusalém ou Dentro de cada libertino há um rato de sacristia, ambas dos Lacraus; ou de Samuel Úria, a Malha do Afonso - um hooligan que vandaliza os comboios por onde anda, acaba por descobrir Deus e apesar de ainda sair «em cada estação, o Afonso já não saí da linha»; ainda, "Não há Happy Meals no Inferno" dos Borboletas Borbulhas... E claro, outro momento divinal são os grunhidos Death dos Jerusálem onde se ouve (percebe-se para quem tem ouvido para estes extremos sonoros) que estão a vomitar palavras de ordem como És o caminho para a salvação ou Quero-te dizer que te amo... Napalm Death eat your heart out!!!.
Como diziam os Bible Toons há 10 anos: «saí da crista da onda e entra na onda de Cristo!»