terça-feira, 8 de setembro de 2009

Intercâmbios

Na Aldeia Global é cada vez mais normal aparecer projectos de bd em que haja uma troca de experiências entre autores de países e/ou de culturas diferentes. Desde que o Joe Sacco colocou em voga a hipótese de se visitar um país e dali criar conteúdo dessa experiência em bd, a ideia estalou por vários lados, não faltando várias editoras comerciais a levar autores franceses ao Japão para fazerem reportagens e afins. Seja pela Internet ou pelos vôos "low-cost" o mundo diminui a olhos vistos e por isso quase que deixou de ser exótico fazer livros em que se juntam suecos com italianos ou algo parecido. Esta Aldeia só encontrará uma Vila ou uma Cidade ou um País se realmente houver vida inteligente fora da Terra.  Por enquanto a Aldeia ainda tem uma existência interessante porque apesar das barreiras nacionais terem ido à vida, ainda habitam indíviduos diferentes - com mais ou menos talento para esta ou aquela função - e isso ainda permite julgar os projectos para além da lógica nacional-exótica. Eis três projectos que recentemente tive acesso:

10x / Dix Fois /Kymmenen Kertaa (Premières Lignes; 2008) por Christian Quesnel e Terhi Ekebom (ed)

Apresentado na 23ª edição do Festival de BD de Helsínquia, este livro compila cinco autores do Canadá e cinco da Finlândia sendo que estes últimos - Terhi Ekebom, Pauliina Mäkelä, Amanda Vähämäki e Mikko Väyrynen (o único homem do grupo) - ganham versus os quebequenses Caroline Fréchette, Line Gamache, Christian Quesnel & Danièle Vallé, Siris e Stanley Wany. Juntaram-se para fazer uma antologia de 160 páginas (a maior parte a preto e branco) para celebrar o encontro duas culturas nórdicas com a publicação de autores conhecidos como alguns emergentes. Graficamente os finlandeses atingem pontos altos das suas carreiras individuais: os onirismos de Amanda, Jenni e Pauliina valem logo pelo livro todo, Terhi e Mikko metamorfeiam-se, ela para um desenho do tipo Edward Gorey, ele para um inesperado "origami-comix" (afinal ser Designer não é assim tão mau como isso!). Os canadianos ficam-se por esquemas tradicionais gráficos sendo a Line Gamache quem se destaca pela dimensão política da sua bd, o resto parece ingénuo.
Em inglês ou francês e em finlandês mas sempre com traduções inglesas no fundo da página, as bd's foram feitas no isolamento térmico do atelier de cada autor, sem qualquer interacção entre os autores.

City Stories, vol.3 (Projecto City Stories; 2008)

Associado ao Festival BD de Łódz (na Polónia) esta antologia junta autores polacos e franceses em workshops em que a cidade de Łódz é trabalhada pelos vários prismas desses autores. O tema deste volume é a "reconstrução" que faz todo o sentido para quando se quer tratar de cidades. Haveria todas as razões para termos um projecto com interesse, no entanto o resultado é desastroso em quase todos os aspectos, sendo o pior o próprio objecto que reproduz as bd's duas vezes, uma vez em francês de um lado do livro, e em polaco do outro (pondo o livro de pernas para o ar e começando na contra-capa... ou seja, como se fosse um split). Se a maior parte das bd's são mediocres, quem ficar com este livro fica com a mediocridade em duplicado, estranhando-se quando se quer ser crítico e ecologista e acaba-se por cometer os mesmos erros daqueles a quem se crítica - não conhecer o sistema de legendas no fundo das páginas bd's, criado pelos finlandeses, só mostra que no projecto muita gente deve ter os olhos fechados para o que se passa pelo mundo. Destaco o desenhador Krzysztof Gawronkiewicz cujo grafismo parece um misto de Yellow Submarine e Dave Cooper.

Kugelblitz : MGMB vs NNH, vol.2 (Moga Mobo + Nou Nou Hau; 2005) 

É um catálogo trilingue que junta dois colectivos DIY, um alemão (Moga Mobo) e um japonês (Nou Nou Hau - que é uma brincadeira fonética para "No Know How") sub-intitulado "A look into German and Japanese Illustration and Comic underground" que é para marcar charme, porque apesar da euforia criativa dos dois colectivos ser energética e multi-direccionada ("toys", bd, ilustração, animação, performance, fotografia) os resultados são acessíveis, fáceis e até populares (um dos japoneses é conhecido pela série de animação Afro-Samurai), longe portanto da obscuridade. Podem ser autores independentes mas "underground" é só para abusar de uma palavra "hypesca". Os resultados do encontro na Internet acabou por se transformar numa admiração mútua e materializou-se em exposições em Berlim e Tóquio. Este catálogo mostra os trabalhos dos dois grupos, incluíndo os trabalhos feitos de propósito para as exposições e uma bd-cadáver-esquisito... Too Bright Für Mi!

todos estes títulos podem ser pedidos à Chili Com Carne via e-mail

Sem comentários:

Enviar um comentário