Estive há duas semanas em Poitiers, bela terra francesa que tem um equipamento cultural MUITO especial - não diria único mas pelo menos o mais velho - uma fanzinoteca. Fizeram 20 anos e para comemorar houve concertos, debates e isso tudo, e claro que aproveitei para fazer as minhas aquisições feitas à última da hora com um incansável e simpático "mec", vocalista dos Raxinasky - o gajo suava feito parvo, afinal montou a sua banca depois de dar um concerto onde não parou de gritar - e dono da distro Amertume. Houve trocas com livros de bd que deram nisto:
- o single de estreia autoeditado dos belgas Möse (Mösambique; 2004) com dois temas: Counting On To Zero e More Than A Bullet que não sei qual é qual porque não estão marcados no disco. Não é diferente a mil bandas Sludge no planeta que executam o que os Eye8God ou os Iron Monkey fizeram no passado. Mas o que se pode esperar de uma banda que afirma com orgulho que a escolha do nome deve-se ao facto que "möse" significa "cona" em alemão, "pântano" em dinamarquês e "lama" em flamengo? Fixe mesmo é o desenho que está no vinil, um gajo a masturbar-se e a vir-se com a mão direita e a dar um tiro nos cornos com a mão esquerda. Quando o disco anda à roda mais estranho o desenho se torna. Viva le vinil!
- um Maxi dos Api Wizz: Api Uiz De Merdre (Les Potagers Natures; 2005) se realmente for Api Wizz o nome - li na reduzida ou quase nula informação disponível na 'net que também pode ser Hapi Wizz... "Bof!"... É uma cena de Bordeaux na linha do Rock Duo - energético e rápido tal como deve ser qualquer Duo. Lembra Lobster mas mais folião, considerando que é a região dos cognaques talvez não esteja muito errado o que afirmo...
- o CD The anti-apopathodiaphulatophobicoustical Days (Skyr + Amertume + Ocinatas + Nothing Positive + Sombre Obscure + Shifty + HCB + Amanita; 2008) dos tais Raxinasky, um trio Noise-Rock produto da sociedade da hiper-informação - repararam na qualtidade de "labels" que editaram o CD à escala global? O caldeirão musical vai do Death Metal ao Math Core, dos Naked City aos Melt Banana, do Free Jazz ao Hardcore, dos Boredoms aos Fantômas, tudo é feito em progressão (improvisada?) impossivel de absorver - tal como acontece com as nossas experiências virtuais do dia-a-dia??? Bateria, guitarra, gritos com electrónica problemática à mistura são os elementos desta barulheira que se esquece da mesma forma como aquele site que vi à dois dias atrás... Gosto? Não gosto? Respostas: "Oh la la" + "bof!"
- CD La Fiévre Noire (Les Potagers Natures; 2005) dos argentinos / franceses Radikal Satan que fazem um Nu-Tango (?) longe do esquema óbvio dos Gotan Project mas sim próximo do dramatismo negro dos Von Magnet em relação ao seu (Electro)Flamenco. O som experimental e progressivo quase parece Neurosis com um acordeão. Estamos perante um novo género? Ou uma fusão de géneros? Serve a etiqueta Post-Tango ou Math-Tango? Apesar do nome idiota remeter para o Black Metal esta é banda mais interessante de todo o lote de discos que trouxe. Deixa até curiosidade para saber mais deles...
- um mini-CD'R dos franceses Ezofaj cuja a embalagem é um penso higiénico não se fosse ele intitular La souffrance ultime (auto-edição; 2007?). Este foi o primeiro disco que escolhi antes de o gajo suado começar a sugerir outros discos. Adoro o formato mini-CD e esta ideia tonta do penso fez-me lembrar os melhores momentos do saudoso zine Succedâneo . Que importa que o Metal desta banda seja manhoso? São apenas 13 minutos de tortura mongo-metaleira e que não são assim tão lineares - por exemplo a faixa 6 (sem título) é uma surpresa industrial-metal (Godflesh primitivo) no meio de grosseria Grindcore. Podia ser pior, muito sinceramente...
- Por fim, um LP colectânea "indus" (digam isto com sotaque francês para se rirem um bocado): Night on Earth 04 (Night on Earth; 2004) com projectos electrónicos "underground" como TZII, LFO Demon, Gamaboy, The Radar Threat, Man-eater Orchestra, S.Lemonon e Cham. Lado A é "mais" calmo girando pelo Ambient (TZII) e Hip-Hop Industrial (LFO Demon, Gamaboy) enquanto o lado B é mais barulhento com os restantes projectos a entrarem em experimentações lúdicas e algum Noise moderado. Longe de ser uma colectânea seminal ou original ouve-se com interesse sobretudo porque num gira-discos podemos mudar as rotações, hehehe - pena a Thisco nunca se ter metido no vinil...
Por fim, é pena já não fazer as tiras de concertos porque das comemorações da Fanzinoteca podia ter feito a actuação do Mr Marcaille, um gnomo "one-man-band" mal-criado armado com um violoncelo cheio de distorção e pedais de bateria. Melhor que ele para explicar o que se passa com a sua música: «it's some weird original brain covers... I agree some sounds like songs or thing we know in the inconcious, but I don't know myself what are they... These are my songs. Like Motorhead sounds like the Beatles sometimes... or the Rolling Stones / Chocolate Watchband... Acid Mother Temple / Gong... Ruins / Magma». Ok! Suponho que as "one-man-bands" sejam tão carismáticos como os mini-CD's. Podem sacar a actuação no seu sitío oficial: zoubroff.free.fr
*o título deste "post" é uma "private joke" entre mim e o inglês Edd do Monkey Riot / Last Hours depois de termos visto um grafitti que tinha escrito "Fuck la police"... inventar "Clopkiller" ("clop" é cigarro em calão francês) foi só mais um pequeno passo.
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