quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
MÁ ONDA E SUJIDADE #4
Reeditado durante o ano de 2009 pela Hanson Records (editora de Aaron Dilloway, ex-Wolf Eyes) o primeiro LP dos americanos The Haters é um dos albúns fundamentais na História do Noise.
Afastado de alguns tiques recentes quer de idolatria de determinados efeitos e de uma certa formatação facilitista, tanto a nível de tácticas quer de conteúdos, quer de uma necessidade de ironia, "In the Shade of Fire" é um manifesto de celebração da força e das possibilidades do ruído. Sem interferências ou obrigatoriedade de referências que o contextualizem, subsiste pela fruição pura e dura. Hedonista e niilista.
À semelhança do que faziam os The New Blockaders em Inglaterra, este disco, assim como a maioria da sua extensa discografia, aponta para a cristalização de um momento sonoro e um esforço incisivo de análise microscópica do som, circular e repetitivo enquanto escava cada vez mais fundo sem chegar a lado algum.
Textural e orgânico, primitivo e imaginativo, "In the Shade of Fire" é uma colecção de curtas faixas variadas na sua contemplação auto-destrutiva. Títulos como "Explosions 3" e "Fire 5" são algo enganadores já que não é tão fácil como se poderia pensar descortinar como algumas das faixas foram produzidas e gravadas. Todo o albúm encarna um certo deslumbramento (estávamos em 1986) mas soa particularmente refrescante e relevante numa época de alguma sobreabundância e falta de direcção do Noise mais abrasivo.
Aqui apresentado pela primeira vez na sua versão integral, com liner notes de Sam McKinley / The Rita, afinal de contas sem discos como este não existiria HNW.
Mais uma reedição fulcral no seio do metal mais obscuro, desta vez de uma das bandas mais injustamente remetidas ao esquecimento. Tão intensos e carregados de tanto negrume como os conterrâneos Witches Hammer ou Sacrifice, os Voor editaram apenas 2 demos em cassete durante a sua curta existência. Thrash Metal canadiano, do mais vil e sujo de que há memória, e uma das bandas que, tendo lançado tão pouco material, conseguiram uma influência tão marcante nas gerações futuras, a par dos Von ou dos Necrovore só para citar alguns exemplos.
Disponível pela primeira vez em vinil numa edição com a qualidade a que a Nuclear War Now! nos tem habituado, "Evil Metal" compila ambas as demos (há ainda uma versão die-hard com outtakes dessas mesmas sessões, assim com material dos Roswell, banda pós-Voor).
Mais uma peça chave no (inevitável) esforço de arqueologia do metal na última década.
Após mais de 3 anos de preparação é bom saber que as elevadas expectativas foram atingidas, senão mesmo superadas. As Loud As Possible é o culminar de um esforço enorme de reflexão sobre o estado actual do noise e derivados, e se o seu olhar é também arqueológico (temos um artigo extensíssimo sobre o legado de má onda e ultra-violência da Broken Flag, a comemoração dos 30 anos dos The Haters, ou da zine de culto dos anos 80 Interchange), há igualmente uma análise do que melhor que se vem fazendo recentemente, da subversão da sexualidade submissiva do power electronics de Climax Denial à documentação do fervilhante underground de Gotenburgo pela figura de Dan Johansson (Sewer Election / Attestupa / Utmarken), até uma entrevista com Carlos Giffoni acerca do festival No Fun.
Como publicação atingiu a meu ver os propósitos a que se propôs, reunindo artigos, críticas e entrevistas de grande qualidade sobre algumas das figuras e momentos mais relevantes da História do género, sem o estigma da esquisitice de uma crítica outsider que tem vindo a incluir o noise pelo exotismo ou por outras razões menos louváveis, mas que muitas vezes não possui o conhecimento nem as ferramentas para o analisar e contextualizar da forma que merece enquanto género musical tão válido como qualquer outro.
Com a distância que 30 anos de História proporcionam mas sem um discurso hermético ou da nostalgia pela nostalgia, a As Loud As Possible é um momento marcante não só do noise como do jornalismo musical.
Fundamental.
Uma muito improvável reedição de luxo (duplo DVD carregado de extras) de "Vase de Noces" (também conhecido como "Pig Fucking Movie") pela austríaca Camera Obscura, um inenarrável filme de culto que circulava há muitos anos no circuito das bootlegs numa cópia de péssima qualidade.
Trata-se de um filme passado num contexto indeterminado de pós-grande episódio de devastação, uma história de amor em decomposição que se desenvolve em torno de um dos derradeiros tabus, o bestialismo. Último homem na terra ou descida sem rede aos recantos mais depravados da mente humana, esta experiência radical do belga Thierry Zéno, co-realizador de um dos melhores mondo de sempre, "Des Morts" (1979), é um dos clássicos absolutos do underground. Transgressivo, visceral e ainda tão desconfortável como em 1974.
Cinema de fim da linha.
Um blog que fala de formas de musica e arte mais afastadas das correntes de pensamento dominantes, não que não haja muitos na internet mas em português é a primeira vez que vejo. altamente, parabéns.
ResponderEliminarÀ uns anos atrás isso era completamente inexistente e em portugal havia muito pouca gente que gostava deste género, então tive de me virar para fora de portugal e escrevia às pessoas dos discos que gostava e pedia-lhes para me enviarem os nomes das editoras e onde podia comprar os discos, duas das pessoas mais simpáticas que encontrei foram o Aaron Dilloway e o John Wise que me enviavam cassetes e cd's e em troca eu tinha de lhes enviar gravações e arte, e isto define muito o género.
"a loud as possible" vai estar à venda em portugal? obrigado
ResponderEliminarobrigado pelas palavras, é bom saber que o que escrevo desperta interesse. aproveito também para agradecer o espaço de divulgação que me foi cedido no blog
ResponderEliminarem relação à revista posso-te arranjar uma cópia, envia-me um mail para narcolepsia.distro@gmail.com
o mesmo se aplica a quem mais possa estar interessado