terça-feira, 8 de março de 2011

Anacrónico internacional para contemporâneo português


Lost Gorbachevs : Rolling Stones Live Tape (Murder+ Degradagem; 2010)
Tiago Sousa & João Correia : Insónia (Humming Conch; 2009)

Dois projectos equidistantes no ruído. Do Porto faz-se barulho do bom, e os Lost Gorbachevs é mais um caso em que o Grind e o Free Jazz juntam-se como se alguma vez tivessem sido coisas diferentes. É uma gravação ao vivo, a 19 de Janeiro 2009 no Porto Rio, em que os temas Cadáver Canibal, Cona Anal ou Morte por Napalm não deixam dúvidas a quem se dedicam. Só é pena que a gravação da k7 (sim foi editada em k7!) seja uma merda, e que o lado A esteja ainda mais mal gravado que o Lado B. Em suma não se percebe um caralho e fico a pensar porque raios um gajo quer isto!? Se era pela piada de cada lado ter 6'66" de tempo mais valia editar em single em vinil. Esta edição é uma ofensa para a k7, sem dúvida o meio de reprodução de áudio mais fixe e plástico até hoje inventado (Fuck CD-Rs! Fuck mp3s!)... E claro também é cuspir nesta boa música e nesta banda que inclui pessoal dos lendários Genocide - bem como o omnipresente e hiperactivo Gustavo Costa.
Em Lisboa, o pessoal é mesmo calmo... calmo demais que até custa ouvir o disco de Tiago Sousa (mentor da extinta netlabel Merzbau) que ao piano prega-nos uma seca tal... É injusto, a culpa não é dele, nós é que temos na vida rotineira e apressada da cidade uma aptidão cada vez mais reduzida para o "minimalismo" ou para o "acústico"... Só pedimos mais e mais barulho e mais e mais batidas para conseguir anular o vazio da vida urbana e para conseguirmos abafar os outros barulhos que nos agridem. Não admira que o Noise tenha sido tão "popular" nos últimos anos. Como anular o Techno nojento a bombar do vizinho de cima? Com mais barulho... com um Merzbow, por exemplo. Não conseguimos parar (em qualquer sentido) para ouvir isto com a atenção que merece e escrevemos estas barbaridades.
Graças ao fim-de-semana prolongado houve vida para ouvir as peças delicadas do disco - já agora editado num simples LP com uma capa ilustrada de Pedro Lourenço. Nada mais calmo e oposto aos Lost Gorbachevs portanto, em que se vai descobrindo partículas sonoras pelo espaço da (nossa) casa - a escolha do vinil não será inteiramente inocente, em CD / digital, de certeza que o piano de Sousa iria soar plano e sem alma. Eis um caso que o casamento do conteúdo com a forma (editorial) é feliz que se aconselha. Curiosamente as notas de gravação do disco falam que foi feita num pequeno quarto no Barreiro, estamos perante uma "capicua musical"? Em que o som do criador nessa intimidade caseira na impossibilidade de ser assitida publicamante regressa aos ouvintes também nesse abrigo chamado casa? Interessante...

Obrigado ao Rudolfo que me arranjou a k7, e ao Tiago pela troca de disco por livro...

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