sexta-feira, 6 de maio de 2011
Ode ao Ateísmo
Stealing Orchestra : Deliverance (Your Are Not Stealing Records; 2011)
Saiu o terceiro disco dos Stealing Orchestra, um dos projectos mais interessantes em Portugal no que conta à música urbana e à forma de estar frente ao mercado bairrista e toino português - talvez por isso que está a ser completamente ignorado pela imprensa e o meio musical.
Após dois geniais álbuns e meia-dúzia de EPs em linha em que a samplagem era a palavra de ordem e muitas vezes o "cartoon" era lugar comum, este é um álbum que afasta a banda das características "divertida, cómica, ridícula, hedonista, solar, nostálgica, circense" - o que também não era verdade, por debaixo de camadas de som havia muito mais matéria intelectual do que se ouvia desatentamente... Mas dizia que neste álbum novo, ou os Stealing amadureceram e ficaram homenzinhos sérios, ou amadureceram e estão com uma puta de uma depressão - se calhar ser maduro e deprimido significam exactamente a mesma coisa. Pouco importa! O resultado deste "opus" é uma joia mágica de aparente simplicidade que vai transbordando de mundos a cada nova audição. Para atrás ficaram o Esquivel & a enciclopédia "Bizarre music" & o kitsch do Pop, e mesmo havendo uma forte aposta em utilizar mais instrumentos reais do que "gamanço sonoro" isso não impede de Deliverance seja menos "estéreogámico" como nos registos passados - e "estéreogamia" já um elogio por si próprio.
Em The Incredible Shrinking Band (Zounds; 2003) já havia sub-repticiamente nas faixas afirmações sobre a identidade do Homem do Novo Milénio tal como eram levantadas questões existênciais. Neste novo disco há mesmo uma vontade política de impor esses pontos mesmo tendo consciência que é o mundo é cego, surdo e mudo.
É impossível não deixar de recomendar este disco mesmo que se trate de um simples CD de caixa normalíssima - à partida estava à espera, como amante de coisas belas e insólitas, que, tal como aconteceu no passado, as músicas tivessem ilustradas com colagens de Armando Brás – gráfico que sempre foi considerado como o 5º elemento da banda. Infelizmente só há uma capa (e contra-capa) com as "ilustrações-gamadas". Sabe a pouco visualmente... Mas este acaba por ser um disco bipolar na "Era da Cultura Desmaterializada", ajusta-se a estes tempos em que a Música deixou de ter essas cangalhadas das capas, embalagens e objectos graças ao comércio electrónico e ficheiro descarregado mas desajusta-se pela sua qualidade, isto é, quando todos os dias as pessoas descarregam quantidades impossíveis de música que possam prestar um segundo de atenção, este disco é no entanto um disco que obriga a parar e a ouvir! Quem irá fazer isso?
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