O que aconteceu em 2006? Alguns dos melhores álbuns foram feitos nesse ano, ou melhor, foram editados os álbuns de maior ruptura Pop/Rock em Portugal... Dúvidas? O Ex-Peão (mega-bomba!), Buraka Som Sistema (finalmente o reencontro africano), Nigga Poison (grandes malhetes!), FlorCaveira (na fase Panque Roque do Senhor, antes das banhadas cantautorais posteriores) e ainda no outro lado do cérebro ainda houve a excelente estreia de Most People Are Trained to be Bored e o visceral Limb Shop dos Mèchanosphère. Neste saco de 2006 (e para o lado esquerdo) ponham ainda os Jazz Iguanas, sff.
Banda de "falso Jazz", que de alguma forma vai fazer contacto com os Lounge Lizards, formado por membros de Mão Morta e que editaram um álbum homónimo pela Cobra nesse mesmo Ano do Senhor de Dois Mil e Seis. Apoia-se em Electrónica que não passa por batidas xunguitas mas antes por pequenas abstrações com cheiro a Jazz, Prog e qualquer coisa que tenha sintetizadores avariados. São 14 erros informáticos a serem suportados por um Jazz tradicionalmente parvinho mas que resulta em mais de meia-hora de falso wallpaper e de falso chill out, tipo prenda-envenenada. Uma verdadeira surpresa vinda da máquina do tempo!
E por falar de Most People Are Trained to be Bored (projecto de Gustavo Costa) eis que ele volta aos álbuns com Radialstereometric (Sonoscopia; 2012). É um disco mais radical que a estreia, e radical não significa ser mais barulhento, muito pelo contrário, a exploração sonora (que já se pode falar como género per se) atravessa por mais espaço/tempo, mais minúcia e menos ritmo, ambientes mais detalhados e claro uma dor de cabeça a meio, ou melhor, uma dor de ouvidos, pelos 8 minutos de feedback / som branco ou lá o que é do último tema, que dá título ao álbum. Por causa dos oito minutos desse tema nunca mais deverei ouvir o disco... Hum... afinal sempre é mais barulhento ou extremo que outro? Não sabe / não responde.
Entretanto Gustavo com mais "dois monstros brancos" (e agora todos fazem parte de Sektor 304 mas já lá iremos) são os Radial Chao Opera que lançaram o segundo disco Dve Két (Sonoscopia; 2012), que engana à primeira audição, pensa-se em Most People (...) nem que seja pelas embalagens partilharem um formato comum. Mas pouco a pouco as diferenças emergem, RCO pretende ser uma recolha de música do mundo falsa, provavelmente situada numa praia cheia de lixo entre o Bali e o Mali. Talvez soa melhor do que a esta reles descrição... Sim é música do mundo mas para o Xamã fazer o Upload Sagrado e não para o ritual de acasalamento entre os jovens da tribo, claro!
Eis a surpresa deste ano: os portugueses Sektor 304 e o projecto francês Le Syndicat juntaram-se para fazer o LP Geometry Of Chromonium Skin (Rotorelief; 2013). Antes demais não é um "split-album" na tentativa da banda nova (os Sektor) ganhar público com o velhinho (Syndicat), ou vice-versa, como acontece com muitos discos chatos que andam por aí. É antes um disco de fusão de ideias entre dois projectos de música Industrial em que perdem as suas identidades para criarem uma obra. Se Sektor 304 tem vindo a criar uma discografia de qualidade em que mostra que a recuperação do estilo Industrial não passa por meros revivalismos, este é mais um exemplo do que se pode fazer algo excitante sem se cristalizar. É um disco que o corpo não vai ser moído pelas batidas tribais da chapa metálica e berbequim na caveira. A cabeça é que vai andar à roda pela viagem nos labiríntos sonoros que nos oferecem dentro de cada das cinco faixas. Exemplar!!! Resta dizer que a encarnação dos Sektor neste disco inclui os actuais quatro elementos e duas vozes, uma masculina e uma feminina. Para heresia maior, como é um LP podemos meter em rotações mais rápidas e o disco ganha um groove porreiro! E por favor, oiçam isto em vinil, o som ganha espaço e profundidade que não se consegue em digital!
O mesmo acontece com o disco de estreia de Surya Exp Duo, Trigunam (Lovers & Lollipops; 2012) para que o psicadelismo nos invada. Pela capa já perceberam que a viagem é para os anos 70 e para a Alemanha do Rock, e apesar de estéticamente tudo nos transportar para algo que já foi feito - que geralmente é o meu ponto de raiva contra os discos que são réplicas de outros passados - há algo de vivo e estranho neste ao ponto de não ficar irritado com ele. Muito pelo contrário gosto de o ouvir. Talvez seja porque nunca ouvi Tangerine Dream ou Amon Düül assim tanto como isso. Ou Ravi Shankar e outras freaquices que a costeleta de Punk besta proibia. Nada como ficar velhote para ganhar o terceiro ouvido - mas não o de Sterlac! Meu, até pela capa retro-horrível tenho simpatia!
Por fim, Joana Sá tem um novo disco, outra vez pela Shhpuma, um álbum a solo intitulado de Elogio da Desordem / In praise of disorder. Um trabalho magnífico de piano semi-preparado e outros instrumentos todos tocados por Sá, em que peca pela inclusão de textos de Gonçalo M. Tavares (ei! M ponto de quê?) recitados por Rosinda Costa que não adiantam em nada e soam a teatro da sarjeta e da depressão, e ainda pela performance das sirenes (Satie já foi, please!) que são estridentes, irritantes e kitsch. Estas duas manchas transformam a intensidade do trabalho numa paródia à Spike Jones que se fosse a intenção tudo bem, o humor nunca fez mal a ninguém, mas não sendo o caso, é apenas rídiculo e anacrónico. Por falar nisso, se este ano existe uma embalagem para CD que seja triste, então é esta! De quatro anos para cá apareceu em Portugal uma moda saloia pelos "livros de artistas", das "edições limitadas" e do uso de métodos antigos e manuais de impressão (serigrafia, tipografia, gravura, etc...) e quem os produz julga que só pelo facto de se usar estas técnicas isso já justifica a qualidade da obra, o valor do trabalho ou do objecto. Infelizmente a maior parte da produção destes produtos gráficos são nulos (a grande excepção são os livros do André Lemos!) e a embalagem deste disco é mais uma monumental enrabanço dos "objectos únicos e manuais". Sinceramente era preferivel ter uma capa "clean" e industrial das produções Clean Feed / Shhpuma que esta bagunça produzida pel'O Homem do Saco... mas... e daí? Qual é mesmo o título deste CD?
Bom acho que vou ouvir umas batidas xunguitas que já chega de tanto toing toing toing toing toing toing!
E por falar de Most People Are Trained to be Bored (projecto de Gustavo Costa) eis que ele volta aos álbuns com Radialstereometric (Sonoscopia; 2012). É um disco mais radical que a estreia, e radical não significa ser mais barulhento, muito pelo contrário, a exploração sonora (que já se pode falar como género per se) atravessa por mais espaço/tempo, mais minúcia e menos ritmo, ambientes mais detalhados e claro uma dor de cabeça a meio, ou melhor, uma dor de ouvidos, pelos 8 minutos de feedback / som branco ou lá o que é do último tema, que dá título ao álbum. Por causa dos oito minutos desse tema nunca mais deverei ouvir o disco... Hum... afinal sempre é mais barulhento ou extremo que outro? Não sabe / não responde.
Entretanto Gustavo com mais "dois monstros brancos" (e agora todos fazem parte de Sektor 304 mas já lá iremos) são os Radial Chao Opera que lançaram o segundo disco Dve Két (Sonoscopia; 2012), que engana à primeira audição, pensa-se em Most People (...) nem que seja pelas embalagens partilharem um formato comum. Mas pouco a pouco as diferenças emergem, RCO pretende ser uma recolha de música do mundo falsa, provavelmente situada numa praia cheia de lixo entre o Bali e o Mali. Talvez soa melhor do que a esta reles descrição... Sim é música do mundo mas para o Xamã fazer o Upload Sagrado e não para o ritual de acasalamento entre os jovens da tribo, claro!
Eis a surpresa deste ano: os portugueses Sektor 304 e o projecto francês Le Syndicat juntaram-se para fazer o LP Geometry Of Chromonium Skin (Rotorelief; 2013). Antes demais não é um "split-album" na tentativa da banda nova (os Sektor) ganhar público com o velhinho (Syndicat), ou vice-versa, como acontece com muitos discos chatos que andam por aí. É antes um disco de fusão de ideias entre dois projectos de música Industrial em que perdem as suas identidades para criarem uma obra. Se Sektor 304 tem vindo a criar uma discografia de qualidade em que mostra que a recuperação do estilo Industrial não passa por meros revivalismos, este é mais um exemplo do que se pode fazer algo excitante sem se cristalizar. É um disco que o corpo não vai ser moído pelas batidas tribais da chapa metálica e berbequim na caveira. A cabeça é que vai andar à roda pela viagem nos labiríntos sonoros que nos oferecem dentro de cada das cinco faixas. Exemplar!!! Resta dizer que a encarnação dos Sektor neste disco inclui os actuais quatro elementos e duas vozes, uma masculina e uma feminina. Para heresia maior, como é um LP podemos meter em rotações mais rápidas e o disco ganha um groove porreiro! E por favor, oiçam isto em vinil, o som ganha espaço e profundidade que não se consegue em digital!
O mesmo acontece com o disco de estreia de Surya Exp Duo, Trigunam (Lovers & Lollipops; 2012) para que o psicadelismo nos invada. Pela capa já perceberam que a viagem é para os anos 70 e para a Alemanha do Rock, e apesar de estéticamente tudo nos transportar para algo que já foi feito - que geralmente é o meu ponto de raiva contra os discos que são réplicas de outros passados - há algo de vivo e estranho neste ao ponto de não ficar irritado com ele. Muito pelo contrário gosto de o ouvir. Talvez seja porque nunca ouvi Tangerine Dream ou Amon Düül assim tanto como isso. Ou Ravi Shankar e outras freaquices que a costeleta de Punk besta proibia. Nada como ficar velhote para ganhar o terceiro ouvido - mas não o de Sterlac! Meu, até pela capa retro-horrível tenho simpatia!
Por fim, Joana Sá tem um novo disco, outra vez pela Shhpuma, um álbum a solo intitulado de Elogio da Desordem / In praise of disorder. Um trabalho magnífico de piano semi-preparado e outros instrumentos todos tocados por Sá, em que peca pela inclusão de textos de Gonçalo M. Tavares (ei! M ponto de quê?) recitados por Rosinda Costa que não adiantam em nada e soam a teatro da sarjeta e da depressão, e ainda pela performance das sirenes (Satie já foi, please!) que são estridentes, irritantes e kitsch. Estas duas manchas transformam a intensidade do trabalho numa paródia à Spike Jones que se fosse a intenção tudo bem, o humor nunca fez mal a ninguém, mas não sendo o caso, é apenas rídiculo e anacrónico. Por falar nisso, se este ano existe uma embalagem para CD que seja triste, então é esta! De quatro anos para cá apareceu em Portugal uma moda saloia pelos "livros de artistas", das "edições limitadas" e do uso de métodos antigos e manuais de impressão (serigrafia, tipografia, gravura, etc...) e quem os produz julga que só pelo facto de se usar estas técnicas isso já justifica a qualidade da obra, o valor do trabalho ou do objecto. Infelizmente a maior parte da produção destes produtos gráficos são nulos (a grande excepção são os livros do André Lemos!) e a embalagem deste disco é mais uma monumental enrabanço dos "objectos únicos e manuais". Sinceramente era preferivel ter uma capa "clean" e industrial das produções Clean Feed / Shhpuma que esta bagunça produzida pel'O Homem do Saco... mas... e daí? Qual é mesmo o título deste CD?
Bom acho que vou ouvir umas batidas xunguitas que já chega de tanto toing toing toing toing toing toing!
Çuta Kebab foi gravado em 2006!
ResponderEliminaro que aconteceu em 2006??? tava tudo doido e criativo?
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