Pina Chang
NA; 2014
Voltar a Angoulême é sempre um turbilhão de sensações, de dejá vus, flashbacks voluntários e cruzamentos de mil pessoas que conhecemos, já vimos ou já falámos mas já nem se sabe bem aonde - foi em Roma que conheci aquele tipo ou foi mesmo em Lisboa? E aquela autora foi em Helsínquia ou em Madrid? Realmente concentra-se tudo naquela cidade de interior francês durante os quatro ou cinco dias do Festival de BD.
A Pina Chang conheci em Helsínquia e fui voltando a vê-la em Angoulême. Nunca tinha acompanhado o trabalho dela, nem sabia que fazia BD para dizer a verdade. Quando, este ano, em conversa de circunstância no stand da NA - uma associação francesa de BD - lhe perguntei por novidades, ela dirige-me para o seu livro e engoli a seco!
Caramba, que livrão! Gordinho e colorido, cheio de BDs quase mudas e até reproduções fotográficas de bonecos de pano feitos por Chang. Oi! Apesar desta primeira descrição saber à "neo-escolinha de redução feminina das tricotadeiras" (bonecos de pano e cores, topas?) o livro não é para ficar na secção dos clichés!
Antologia de várias histórias que sabem a falsas lendas etnográficas da América Central (Chang nasceu no Panamá), elas são maravilhosamente contadas encharcadas de suor tropical que quase ligam à Canicola, a autora mostra uma versatilidade de estilos gráficos e usos de materiais, que faz do livro um mimo enquanto objecto. Tudo junto, com as "BD-lendas" e as fotografias sem legendas que nos confudem - são da Islândia ou da Bolívia? sei que a autora passou por estes países lendo a sua biografia na 'net - somos levados a "visitar todos os países", uma tarefa impossível que bem nos alerta a autora, mas que aqui até podemos dizer que percorremos um continente deles.
De referir que a NA é a editora do jornal Modern Spleen, bem como dezenas de outros fanzines e publicações estranhas e bastante excitantes (quem perdeu a ressaca Fort Thunder que foi a revista L'Episode, nem sabe o que perdeu!!!), trabalham também com crianças ou populações desfavorecidas, como a comunidade cigana na zona de Angoulême. Agora lançam-se na publicação de livros, pró ano já vou prevenido e com algumas perguntas de algibeira prá Chang!
quarta-feira, 30 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
Super-Structure
Além de Mike Diana e Yuichi Yokoyama havia outra exposição no Fuck Off de Angoulême... Super-Structure é um zine editado pelos belgas (?) François de Jonge e Francesco Defourny, e o projecto veio de uma participação num festival de edição independente com uma instalação.
Essa instalação foi reproduzida numa das salas do Fuck Off e consistia num abrigo débil com desenhos expostos no seu interior. Mucho arte contemporânea uma vez que essa casota serve para questionar o que se pode fazer pós-apocalipse com poucos meios. Como sabemos uma das coisas que acontece com poucos meios é a colaboração entre as pessoas e daí que tenha surgido este zine - afinal de contas, no mundo dos fanzines uma das palavras-chave é justamente essa: "cooperação".
Com três números editados, entre 2012 e 2014, o primeiro número é o típico zine A5 enquanto que os outros números são impressos em papel jornal e formato A3. É principalmente um grafzine, ou seja, a publicação interessa-se mais em explorar o grafismo, pela via do desenho ou de infografias disfuncionais embora também tenha alguma BD. O aspecto geral da publicação é que estamos perante uma publicação sobre construção de abrigos para uma segunda geração de sobreviventes após o grande-peido civilizacional que sem formação, tal como a conhecemos hoje, ferramentas e técnicas olham para o zine a pensar: "mêne, como fazemozisto? nã percebo nada-de-nada destas instruções!".
A seguir!
sábado, 12 de abril de 2014
ccc@feira.morta.III
FEIRA MORTA
12 + 13 de Abril na Casa Bernardo
Caldas da Rainha
As alergias chegaram e com elas uma nova edição da Feira Morta, desta vez fora de Lisboa.
A Chili Com Carne vai lá estar.
sábado, 5 de abril de 2014
Lançamento de ZONA DE DESCONFORTO : 5 de Abril : Palavra de Viajante
A Palavra de Viajante é a livraria mais bonita de Lisboa, e isto de só ter livros de viagens faz todo o sentido lançarmos lá um livro da nossa colecção LowCCCost!
Dia 5 de Abril, às 18h, estamos lá para lançar o novo livro e estarão presentes a maioria dos autores que participaram e que não estão lá fora a lutar pela vida!
Zona de Desconforto é uma recolha de relatos de autores de Banda Desenhada que foram estudar ou trabalhar para fora de Portugal
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Brasil XVI
Mickey Speed #_01 (A Bolha; 2013) de O Divino é um belo livro pouco maior que o A4 com uma BD que não tem linearidade precisa. Gerlach, Franz e a malta do Samba não estão sozinhos lá no Brasil na exploração de uma "nova BD" brasileira em específico mas também das novas narrativas da BD que se passam à escala global.
A primeira lembrança que este Mickey Speed faz é do Diabolik de Yvan Alagbé por ambos serem fragmentados e usarem o estilo de BD "criminal" ou de policial negro como estética. Mas as diferenças deparam-se logo depois porque Alagbé usa esse material com textos políticos e pessoais, enquanto que Divino coloca vinhetas sem fim, sem palavras e sem sentido para criar um ambiente bizarro, negro e teoricamente mais próximo do "policial". Tal como na capa do livro em que repete o título "Mickey Speed" de forma derretida, é essa mesma sensação que temos ao ler esta BD, alguém deitou ácido na iconografia Spillane & cia.Mais uma surpresa do Brasil que deixa curiosidade sobre o que irá acontecer a seguir...
terça-feira, 1 de abril de 2014
Ó filhote, baixa lá isso...
Filii Nigrantium Infernalium : Pornokrates: Deo Gratias (Chaosphere + Hell Prod; 2013)
É infeliz que o porco do Papa Francisco seja o menino-querido dos media e do público em geral. É triste achar que um jesuítazinho vá mudar o quer que seja, seja nas entranhas podres desse penico de Deus chamado Vaticano, seja na relação com o mundo e a sua estrutura social, em que a Igreja, já tendo perdido a liderança e poder que tinha continua a servir para o status quo da alienação e exploração do Homem.
É por isso, que é essêncial ouvir um disco de Black Metal como se ainda tivessemos 19 anos e acreditássemos em Satananás como este segundo álbum (em 20 anos de existência) dos FNI que praticam um necroporno'n'roll. Na realidade soa a Heavy/Trash com Black/Crust, fórmula há muito usada no Metal contemporâneo. Pelo meio há intervenções do Hitler e de violinos porque fica sempre bem em qualquer disco deste tipo. A rodela do disco é uma maravilha de bom humor herege porque o buraco do vinil acerta num rabo laureado com uma coroa de espinhos. Só esse detalhe vale logo o disco todo! Ide comprá-lo invés de andarem a ler merda nas revistas e jornais de hoje, esses cabrões querem mesmo enganar-nos!