sexta-feira, 27 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
XYZ
Fácilmente pode-se enquadrar a BD nos grafismos degenerativos Pop da Hetamoé ou da Patrícia Almeida (curiosamente todas elas jovens autoras de BD portuguesa) e da genial "a-inocência-é-bela" de Lençóis Felizes do Van Ayres, com a vantagem de ter um dos melhores diálogos da mais recente BD portuguesa:
- Emprestas-me estes?
- Não me lembro de ti. És meu amigo ou meu fã?
- Não, eu não te conheço...
Quem resiste a monstros fofinhos e coloridos a dizerem estes belos disparates? Eu não resisto e acho que temos um bom zine fantástico contra marés e tecnocratas!
O único senão é que a Pita mete "z" nas palavras erradas mas como dizia alguém "são fanzines, senhor, são fanzines!" e esta BD vale por todos os erros do mundo. Aliás, a questão dos erros ortográficos tornou-se relativa! Se deixámos o Governo foder a nossa língua porque não podemos fazer o mesmo? No outro dia lia num livro sobre Rock a banda "X-Ato", mais deprimente do que isto não será uma pita de Braga a escrever "improvizo" com certeza.
E como é? Vaiaver #2?
domingo, 22 de junho de 2014
sábado, 21 de junho de 2014
Anti-Porno
Newds #02, 06; What Remains
Sal Nunkachov; 2014?
O português-quase-ucraniano Nunkachov é fotógrafo de moda o que significa que o seu trabalho aparece em revistas oficiais, comerciais, impressas a cor e tudo o mais. Pelos vistos isso não o impede de meter-se na auto-edição e fazer fanzines de fotografia erótica com uma deliciosa patine de "vintage" - falsificado, uma ilusão dada pelo uso de papel de cor-de-laranja (no #6). Serve para mostrar um trabalho mais pessoal, mais retorcido (o #6 é o mais sintomáico) e mais misturado - o What Remains usa colagens, serigrafia, montagem fotográfica, etc... ou seja técnicas gráficas que ultrapassam a mera fotografia. Talvez por isso para quem costuma consumir as donzelas dos sítios "MET" ou "Suicide Girls" não poderá contar apenas com as suas habituais duas mãos para pegar nestes zines. Há mais exigência estética por aqui!
Stealing Orchestra & Rafael Dionísio - Uma Desgraça Nunca Vem Só
tracklist:
01 Rio-me porque és da aldeia e vieste de burro ao baile
02 Amigo é aquele que te diz que tens um macaco no nariz
03 Ai Maria, é tanto o teu drama que já nem vou contigo à missa
04 Usa para mim aquela cueca com renda de bilro
05 A Cantiga Selvagem que te canto enquanto faço poses sensuais na minha motorizada
06 Nunca mais me rapo para ti
07 A tua choradeira é meio salário em lenços
08 Gente da minha terra (que mete um nojo do caralho)
Music: João Mascarenhas; Voice & Lyrics: Rafael Dionísio; Mastering: Pedro Costa
.!.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Anti-Sci-Fi
The Mighty Enlil do "desconhecido-a-não-ser-que-leias-BD-na-'net" Pedro Cruz é um conto que se quer "retro" dentro do género Super-Heróis. Esta abordagem que nada surpreende na cultura Pop e especialmente na BD de Super-herói que se auto-regurgita mais do que se bebesse todas as garrafas de Absolut. A comparação não é inocente, tal como esta marca de vodka convida artistas para fazer novas embalagens prás suas garrafas cujo líquido é o mesmo, as editoras de BD fartam-se de ter autores que recriam as suas personagens míticas e íconográficas ad nauseam contando sempre a mesma história. Passando por Alex Ross a Tim Sale ou Darwyn Cooke a 1963 (de Alan Moore & cia), nos últimos 20 anos a indústria norte-americana do "comic-book" tem feito revisitações de si mesma captando um olhar nostálogico sobre as suas criações. São poucas as que fazem destas revisitações com uma agenda política como é o caso de Moore, claro, até porque este tipo de BD é para putos e uma geração de público que envelheceu lendo este tipo de BD mas que intelectualmente e emocionalmente ficou bloqueada. Cruz executou uma obra "nerd", claro, não há aqui nada de subversivo mas fê-lo com personalidade e bem feita a nível técnico (uma combinação extramamente rara na BD nacional!), cheia de sabores do passado Pop, com um estilo gráfico minimalista fundido com um uso económico de cores planas, cujo poder de comunicação é mil vezes mais forte que as outras BDs de desenho "realista" que se publicam por aí, geralmente com resultados desastrosos.
De resto, a El Pep fez o livro mais bem tratado do seu catálogo - afirmação injusta, e o livro do Relvas? - acertando no papel, impressão, formato e tudo mais.
Safe Place é o primeiro livro a solo de André Pereira e o primeiro em que a Kingpin Books deixa o seu modelo "fordiano" de fazer BD, que poucos resultados trouxeram a nível de conteúdo - no máximo trouxeram funcionalidade às BDs e pouco mais. É um mimo de livro, também com papel bem escolhido, bem impresso e um grafismo simples mas eficaz.
Dois jovens passam a tarde à espera de outros seres para uma banhoca no lago. O cenário, criaturas e as personagens são um cruzamento de mitologia Pop de elfos, mutantes, ciborgues e todas essas criaturas fantáticas mas que nunca se direcciona para uma acção do género de aventura. Não é (por exemplo) Nausicaä do mestre Hayao Miyazaki nem os Guardiães de Maser de Frezzato mas usando outro exemplo japonês seria mais Saturn Apartments de Hisae Iwaoka. Ou então seria mais próximo de Shuck Unmasked de Rick Smith e Tania Menesse ou... muitas outras produções contemporâneas em que o aspecto visual fantástico é apenas ambiente para apresentar um boredom juvenil autobiográfico vulgar. É uma pena que isso aconteça por aqui porque o grafismo seguro e sexy atrae para algo mais - que nunca acontece! Talvez fosse essa a intenção do autor, fazer um exercício de manipulação do público, nesse caso até conseguiu o efeito desejado. De referir as intervenções bem poderosas de Paula Almeida - faz duas ilustrações e uma BD de epílogo - que merecem muita atenção de futuro.
Parabéns às editoras por meterem-se em aventuras estéticas menos conservadoras!
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Anti-propaganda
No outro dia fiz um exercício de compilar na BD portuguesa quantos trabalhos haveriam com o "tema da homossexualidade" - faço as aspas para indicar que o tema significa desde personagens assumidamente homossexuais até BD cuja a "acção" ou "texto" tenham algo haver com homosseexualidade. Acho que bastou uma mão para contar esses trabalhos estando nessa lista desde um "cameo" de António Variações no primeiro álbum do Pitanga (é uma grande estica!) às infantilidades dos Jogos Humanos. Safaram-se Pedro Brito e David Soares, escritores de BD espertos, que em alguns dos seus livros incluiram personagens sólidas nas suas histórias!
Propaganda (Plana Press; 2014) é a primeira obra que trata exclusivamente sobre "este tema", por acaso sobre uma pespectiva fora do normal porque a autora Joana Estrela ofereceu-se como voluntária na Lituánia para trabalhar numa organização Gay e Lésbica, trabalho bem complicado diga-se quando este país é reconhecido por ser o mais homofóbico da Europa. A BD não chega a ser muito profunda na relação entre personagens - a sexualidade é ausente no livro - limitando-se a ser um diário de situações sociais entre os voluntários, em que Estrela usa um desenho simples, suave e funcional para esse efeito. O que é mais interessante é a forma como esta BD denuncia como aparecem no quotidiano de forma irracional e stressante as questões da homossexualidade (mal-)tratadas nos mass-media - desde jornalistas feitos com o sistema a programas de festivais de Metal, I shit you not! - passando por manifestações públicas ou cartazes na rua. O título do livro não poderia estar mais bem escolhido!
Este é o primeiro livro completo de BD que sai pela Plana Press (o do Marco Mendes e da Christina Casnellie não contam realmente porque eram metade de ilustração ou de trabalhos fragmentados) e materializaram a iniciativa num impressionante grosso volume de cento e tal páginas agrafado de tal forma que até temos medo de mexer no livro - não por homofobia, claro, mas por receio que os agrafos não aguentem o folheamento do livro. Medos infundados porque a Plana sabe o que faz. Parabéns à autora e à editora.
Entretanto saiu o novo número d'O Fígado da República por José Smith Vargas - o primeiro número foi lançado em 2010 como é testemunhado aqui! Pelos vistos Smith aproveitou o Festival de Beja (onde recebeu o Prémio Geraldes Lino!?) para lançar algo novo e fez muito bem porque apesar da BD estar quase toda em linha nada melhor que pegar em papel - mesmo que no formato odiável do A4! - para ler uma BD destas como deve ser! Smith concentra-se na adaptação d'Os Operários de Raúl Brandão e escapa-se à parte ficcional que preparava sobre uma comunidade libertária algures no Alentejo. Dá pena perder essa parte ficcional mas o que sobra (cerca de 9 páginas) dá mais sumo que muito livro de BD de 150 páginas que anda por aí... Para quem está "fora" leia o link do "Festival de Beja" para perceber o que este Fígado e quem quiser ler o dito cujo procure no blogue do autor!