sexta-feira, 31 de julho de 2015

Liturgia do Delírio

Esgar Acelerado
Mundo Fantasma; 2015

A Mundo Fantasma está a imprimir em risografia como já deveriam saber... Mais importante que imprimir com o profissionalismo que sempre foi característica do seu "boss" José Rui Fernandes* é saber que agora estão a editar livros em risografia, dando cartas para esse mercado em expansão que é o da edição independente e livro de artistas...
Já saíram três livros, um de Nuno Sousa, outro do Sama (o único de bd) e este do Acelerado que é o mais interessante do grupo. Apesar do livro do Sama, A Entrevista ser "super-babante" pela impressão da segunda cor fluorescente, não tenho paciência para o texto-cliché de policial + sacanagem. Vaga do Sousa tem um excelente princípio, a memória familiar de um espaço que já não existe, mas é incipiente.
O livro do Esgar é o mais consistente, equilibrado e bonito, curiosamente os desenhos que compõem a edição são retirados de sete ilustrações para uma exposição realizada no ano passado. A recuperação e alteração para duas cores a que foi impresso o livro têm um efeito gráfico muito mais bonito que o original cheio de cores e degradantes degradés (sorry, não resisti!). Reduzindo os "bonecos" a preto e vermelho parece que estamos perante a trabalho de colagem / recorte de papel de lustro, o que dá aquele toque de "natalixo" perfeito para qualquer satânico que se preze recortar as imagens e fazer um presépio do contra. Já sabem, comprem agora, antes que esgote, para depois oferecerem como prenda de Natal a alguém conservador. Há que pensar sempre à frente... como a Mundo Fantasma!


* Figura escondida da BD nacional mas a qual deve-lhe a melhor loja de BD do país, o saudoso Salão do Porto, a revista Quadrado, a edição de livros de autores tão importantes como Joe Sacco, Daniel Clowes, Peter Kuper ou Étienne Davodeau, para além da construção do extinto sítio em linha da Bedeteca de Lisboa...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Milhões de Índios Cocaleros





Mais um Milhões de Festa! Ou talvez o melhor ou o mais equilibrado que já assisti em que houve todos os dias e noites bandas com alta energia. Este festival distingue-se dos outros porque é feito por quem gosta de música e é por isso que os Drunk in Hell na noite de Sábado invés de andarem à porrada num pub como devem fazer sempre foram convidados a saírem de Inglaterra pela primeira vez para tocarem o seu Sludge autista com saxofone ruidoso num dos palcos principais e à noite. Não haverá outro festival que se arrisque a tal, ou seja, a trazer uma banda estrangeira desconhecida até na sua própria terra para um "horário nobre". Logo a seguir foi o velho Michael Rother que deu uma lição de Rock instrumental em que espero que as 60% das bandas que costumam ir tocar ao Milhões aprenderam de vez como se faz um espectáculo deste tipo de som para deixarem de ser redundantes...  E se o Islam Chipsy tivesse tocado teria sido um BILHÃO de Festas, mesmo! Mas os egípcios cancelaram por problemas no aeroporto de Cairo. Raios!

Com consciência que o Rock é uma expressão cosmopolita e que isso já não significa vir de Londres e Nova Iorque, o Milhões explora todas as contaminações globais mesmo que os projectos estejam mesmo ao lado de Barcelos como os portuenses HHY & The Macumbas que na noite anterior cumpriram o tripanço necessário num festival de Verão, cada vez mais densos e demolidores no seu Dub Voodoo. O Porto por ser uma cidade toda fodida criou esta escola de bandas de destruição maciça como os Plus Ultra onde está Gon - o vocalista dos extintos e saudosos Zen e um verdadeiro arruaceiro em palco. Foi para mim a melhor banda do festival, um power-trio super-oleado, pesadelo para o técnico que cuida do palco e com um som que soa a tudo mas consegue de alguma forma ser novo. Com breaks e composições sofisticadas, tudo isso sai ao vivo como se fosse tocado pela primeira vez, como se fosse improvisado mas o mais provável é que foi ensaiado mil vezes. O que quer dizer que em Portugal se confirma que só os Zen e agora estes Plus Ultra perceberam que o Rock e o Blues são músicas de libido e libertação, que é música para ser vivida como se não houvesse amanhã! Só posso chegar à conclusão que é esta a única banda de Rock portuguesa, e que tudo o resto que anda por aí são trapaças do Fado. Propunha pró ano, o Milhões anunciar os Death Grips como cabeça de cartaz, depois avisavam que eles cancelaram a vinda (o que não seria de admirar como bem se sabe, os Death Grips fartam-se de fazer isso) e colocavam os Plus Ultra como substitutos, ninguém iria ficar chateado... Existe uma k7 da banda lançada pela Tapes, She Said que é de aproveitar enquanto há! Objecto curioso pela embalagem (um livro com as laterais coladas e o interior cortado para caber a k7) e que sabe a pouco, mesmo muito pouco (4 temas, 14 minutos apenas!)...

Mas o que se deve dizer deste festival é que pouco interessa se conhecemos as bandas ou não que vamos lá ver / ouvir, muitas vezes mais vale a pena nem saber de nada! É verdade que podemos encontrar uns padeiros do Doom como os Hey Colossus (seca!!!) mas somos compensados pela festa "transgender" dos Golden Preacher ou o bafo sonoro de The Bug ou os outros exemplos acima destacados. Convém ir de coração aberto para um mundo de sons sem fim e livre de preconceitos. Esta é a razão porque que a Chili Com Carne - e agora acompanhado pelo Xavier Almeida e a Signal Rex - meteu-se mais um ano a vender livros, no palco Taina. O Milhões é um "melting-pot" de estéticas tal como a Chili também o é. Daí a parceria, para quem tinha dúvidas...

capa do CD-EP M'boi Mirim dos TEST
Por fim, no palco Taina, o destaque deste ano foi para as bandas brasileiras de Grind D.E.R. e TEST, que fizeram a proeza de no final de TEST tocarem as duas juntas ao mesmo tempo e no mesmo palco usando o mesmo baterista no meio delas. Uma banda tocava para as colunas esquerdas, outras para as da direita, o barulho de uma abafava a outra enquanto o publico ia de um lado para o outro ouvir uma banda ou a outra. Cara, o "metáu está ficando conceptáu! 

sábado, 25 de julho de 2015

NECROMANCIA EDITORIAL III ::: Mercado de Edição Independente no MILHÕES de FESTA

cartaz de Xavier Almeida

A Chili Com Carne juntou-se a mais editores portugueses que lançam o que lhes vai na alma!
para estarem presentes no Milhões de Festa
no sempre divertido Palco Taina
entre 25 e 26 de Julho
das 15h às 20h

com bancas de zines cheios de piças, discos do ultramar sexual, livros de gente bruta e BDs paneleiritas, 
ou seja, produções da Chili, MMMNNNRRRG, Signal Rex e Xavier Almeida
e de quem mais tiver coragem de se juntar!

De resto, só neste festival é que algo assim é possível, os restantes festivais de Rock promovem ignorância e monocultura, vão-se foder!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Francisco.Sousa.Lobo@Bedeteca.da.Amadora


Pedro Moura sempre a bombar!
Francisco Sousa Lobo sempre a bombar!
Chili Com Carne sempre a bombar!
Estado Islâmico sempre a bombar!
Alemanha sempre a bombar!
etc, etc, etc...

Cantautores latinos


Martin López Lam é o autor mais excitante na Ibéria, cada BD que edita vale a espera... É que o pessoal da BD pensa sempre a BD como "desenho", babam-se com pirotecnia visual e ficam de pança cheia. Mas um autor de BD é um escritor na realidade e é só por mero acaso é que ele desenha bem ou mal.
Lam além de ser um grande escritor é um grande artista gráfico! Um Pär Lagerkvist que escreve em serigrafia ou um José Muñoz que desenha num processador de texto. Balada o una historia cochina o te pasa cuando menos esperas é uma pequena BD (um conto) publicada pelo seu selo Ediciones Valientes que é mais um caso de espanto. Experimentação e tradição perseguem-se um ao outro sem que se tenha de abdicar de um, como quem pega numa guitarra e canta uma história vindo do "folk" mais profundo mas não tem medo de usar pedais com loops ou efeitos para criar novas roupagens. Aliás, a capa do livro nem dá a imagem correcta do grafismo usado na BD, o que mostra um que Lam tem várias camadas de criação. Existe um Lam da BD, um da ilustração e outro editor que aposto que até se devem chatear entre eles. O resultado das discussões é que todos ganham...

Na mesma colecção desta Balada, Martin editou também o "nosso" Francisco Sousa Lobo e a sua BD que saiu no jornal do Próximo Futuro - numa edição em que as cores ganham mais vida do que na impressão em papel jornal - e em que ele mais uma vez se descarna a contar as suas maleitas intimas. Na outra ponta está Optimización del processo do galego Andrés Magán que cai na BD de deleite mais estético do que narrativo, tão chato como o caminho é positivo... Ninguém gosta de cenas positivas! E talvez esteja aí a piada!?

Como saber quién soy si se me olvida? (Usted ve lo que quiere ver; 2014) do colombiano Luis Echavarría Uribe é impossível de não o comparar a Lam pois mostra-se outro bom escritor e excelente desenhador - o estilo é realmente muito idêntico, sendo Uribe mais naturalista que Lam - com a capacidade de surpreender com uma história que poderia ser uma "cha-cha-cha-da", mais uma vez a explorar a intimidade "teeny" e feminina se o autor não desse uma reviravolta inteligente e... indigesta!
A (auto)edição é muito cuidada com uma capa em serigrafia. É daqueles livros que vale a pena ter! E sobretudo significa juntamente com Balada que é neste tipo de publicações que se encontram as grandes obras da BD contemporânea.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O Volvo é o carro mais seguro...

Livro de Vulvas para Colorir
v/a
(Your Mouth Is A Guillotine; 2014)

É bom brincar com a Dona Vulva, porque raios é que só o Sr. Marsápio é que tem o direito de se divertir?
Há quem diga que o falhanço do feminismo passa pela falta de expressões para masturbação feminina, e sendo a linguagem um vírus que controla o meio social, até é bem capaz desta estranha teoria (avançada por autores alternativos de BD dos anos 90!) seja mesmo verdade.
Este fanzine (ou livro? who cares?) é um assumido ripanço ao Cunt Coloring Book (1975) de Tee Corine com o "upgrade" de colmatar a tal falha de "expressões para masturbação feminina", oferecendo a hipótese das artistas assumirem controlo sobre a criação de imagens dos seus próprios orgãos genitais - em oposição à exploração tradicional, estereotipada e comercial da representação feminina. Há vários tipos de grafismo para quem acha que já viu tudo.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

DIY DIY My Darling 2015


Tal como no ano passado mas desta vez num espaço central do Porto, com a preciosa co-produção da Chaputa Records e no âmbito das segundas conferências da KISMIFlá estaremos de 13 a 17 de Julho no Edifício Montepio (queda do Capitalismo? pfff) com o melhor de que se produz neste canto europeu no que diz respeito a edição independente! E ainda haverá exposições de BD, ilustração e pintura de Esgar Acelerado, Rudolfo, Ondina Pires e outros mais!

Freak scene


Le Loyer 9 from Jean Guichon on Vimeo.

É inevitável para quem produza fanzines ou auto-edição mais tarde ou mais cedo não tente juntar música e imagem. O último número do fanzine belga Le Loyer (Jean Guichon; 2015) é mais uma tentativa de fazer algo do tipo mas que resulta bem apenas em vídeo (é vê-lo). Neste caso a ideia é que a BD seja acompanhada por uma banda sonora e as BDs também foram passadas para um espectrograma (ou antes para o imaginário ou estética de um espectrograma) que muitas vezes é passado ao vivo pelo colectivo em eventos. Tem momentos interessantes e alguns divertidos embora haja sempre problemas de tempo ou de sincronia entre imagem e som.
Já o objecto em si uma fricalhada mal enjorcada que não se percebe bem porque realmente o fizeram - não parece que tenham pensado lá muito bem o que estavam a fazer ou como deveriam ter feito. É um A6 que junta vários livrinhos em acordeão para cada BD-animada-sonorizada e é incluído um CD-ROM (no carismático formato de mini-CD) em que se pode ouvir a música. Fita-cola industrial e agrafos prendem isto tudo milagrosamente! A música é electrónica e ouve-se bem, é melhor do que estar a mexer nos acordeões!

Gracias ao nosso agente no Crack por ter trazido este objecto.

domingo, 12 de julho de 2015

O Panda Gordo + CCC + MMMNNNRRRG + ... in LONDON – Sunday 12th July

O Panda Gordo (João Sobral) is moving to Glasgow very soon so this will be your last chance to grab some sweet Portuguese publications at the Hackney Flea Market's DIY ART MARKET

You may find João tabling in other fairs in London if something comes up in July or August but there's nothing on his calendar yet! So don't miss this one!




Artists and publishers represented: 1359, Amanda Baeza, Oficina Arara, Cafetra Records, Caspablabla, Chili Com Carne, MMMNNNRRRG, Clube do Inferno, Favela Discos, Gentle Records, Joana Estrela, O Panda Gordo, Pandora Complexa, Plana Press, Ponto, Ruru Comix, Vaiapraia.

sábado, 11 de julho de 2015

Anita vai ao concelto


A personagem Anita já não se chama assim mas continua a ser um ícone Pop para ser usado e abusado. Agora serve como título para um fanzine de Joana Matias, que se encontra(va?) em Pequim a estudar, para promover música (underground) chinesa. E escrevo fanzine porque é mesmo isso, esta é mesmo uma publicação fã de algo regendo-se pelas regras clássicas do formato: entrevistas, artigos e fotos a músicos e bandas da China. Formato A5, preço modesto, Anita (2 números até agora) é um pequeno serviço público para promover um tema obscuro para qualquer português médio - e para um chinês médio - permitindo encontrar pequenas pérolas Pop/Rock que de outra forma não seriam (nada) fáceis de encontrar... E mesmo assim há sempre dificuldades, por exemplo num link sugerido por Matias para ouvir o disco Garbage Dump de He Yong, o servidor xiami.com não funciona em Portugal. Ainda assim, e sem sentido crítico apenas digo: "Muito fixe! Quelemos mais!!!"

domingo, 5 de julho de 2015

Baron Dimanche



HHY & The Macumbas : Throat Permission Cut (Silo Rumor; 2014)

Uma banda destas não é para meninos. Mesmo que sejam adultos mutantes, levar a bom porto música primitivo-ritualista num país que em "música alternativa" significa mais uma banda Stoner ou um marmelo a dedilhar uma guitarra muito a solo e muito melancólico. Juntar graúdos para tocarem voodoo falsificado com dubs e aguentarem-se este tempo todo (5 anos pelo menos de existência) para fazerem um single 7" e dezenas de concertos é uma improbabilidade neste negócio da música em que tudo tem de ser rentável ($$$) ou acabas logo com a piadinha (da banda).
Sobreviventes neste território inóspito chegam finalmente ao LP de estreia com tudo aprumado para um ritual vinilico. Um bocado limpos demais mas eis um disco para colocar realmente no máximo do volume da aparelhagem, despir as calças (podem deixar as peúgas) e dançar pela casa a beber os restos da festa de Sábado à noite. Isto se quiserem continuar em transe ao Domingo, dia em que não há aulinhas de Yoga... Cuidado com os cacos!

PS - Yo! Eles vão tocar outra vez ao Milhões de Festas, espero que desta vez seja a fechar a noite pró pessoal bater mal!

sábado, 4 de julho de 2015

ccc@terra.abaixo



Inserido no Festival Silêncio 

ATENÇÃO: só estaremos presentes no Sábado!