sexta-feira, 24 de julho de 2015
Cantautores latinos
Martin López Lam é o autor mais excitante na Ibéria, cada BD que edita vale a espera... É que o pessoal da BD pensa sempre a BD como "desenho", babam-se com pirotecnia visual e ficam de pança cheia. Mas um autor de BD é um escritor na realidade e é só por mero acaso é que ele desenha bem ou mal.
Lam além de ser um grande escritor é um grande artista gráfico! Um Pär Lagerkvist que escreve em serigrafia ou um José Muñoz que desenha num processador de texto. Balada o una historia cochina o te pasa cuando menos esperas é uma pequena BD (um conto) publicada pelo seu selo Ediciones Valientes que é mais um caso de espanto. Experimentação e tradição perseguem-se um ao outro sem que se tenha de abdicar de um, como quem pega numa guitarra e canta uma história vindo do "folk" mais profundo mas não tem medo de usar pedais com loops ou efeitos para criar novas roupagens. Aliás, a capa do livro nem dá a imagem correcta do grafismo usado na BD, o que mostra um que Lam tem várias camadas de criação. Existe um Lam da BD, um da ilustração e outro editor que aposto que até se devem chatear entre eles. O resultado das discussões é que todos ganham...
Na mesma colecção desta Balada, Martin editou também o "nosso" Francisco Sousa Lobo e a sua BD que saiu no jornal do Próximo Futuro - numa edição em que as cores ganham mais vida do que na impressão em papel jornal - e em que ele mais uma vez se descarna a contar as suas maleitas intimas. Na outra ponta está Optimización del processo do galego Andrés Magán que cai na BD de deleite mais estético do que narrativo, tão chato como o caminho é positivo... Ninguém gosta de cenas positivas! E talvez esteja aí a piada!?
Como saber quién soy si se me olvida? (Usted ve lo que quiere ver; 2014) do colombiano Luis Echavarría Uribe é impossível de não o comparar a Lam pois mostra-se outro bom escritor e excelente desenhador - o estilo é realmente muito idêntico, sendo Uribe mais naturalista que Lam - com a capacidade de surpreender com uma história que poderia ser uma "cha-cha-cha-da", mais uma vez a explorar a intimidade "teeny" e feminina se o autor não desse uma reviravolta inteligente e... indigesta!
A (auto)edição é muito cuidada com uma capa em serigrafia. É daqueles livros que vale a pena ter! E sobretudo significa juntamente com Balada que é neste tipo de publicações que se encontram as grandes obras da BD contemporânea.
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