quarta-feira, 16 de março de 2016

Brasil XIX

A Ugra (loja + distro + anuário de zines) enviou mais algumas edições deles, desta vez são livrinhos A6 na mesma lógica de muitas outras colecções do passado espalhadas pelo planeta: Quadradinho, miniTonto, Patte de Mouche, O Filme da Minha Vida, etc... Nunca é tarde reactivar este formato editorial, boa iniciativa este Ugrito com os seus primeiros quatro números.
O único que me tocou foi Germes da Cynthia B porque separa-se dos autores-rapazes e as suas fantasias bobas. Não é que ela fuja assim tanto como isso, pois o seu registo continua a ser o caricatural e o humorístico mas sente-se uma energia diferente mesmo que se possa encontrar nesta mini-BD uma tradição que vem das autoras dos anos 90 - mais especificamente aquela BD do "período gigante" pela canadiana Julie Doucet, que a tantos rapazes impressionou. Talvez venha a tornar-se um chavão daqui uns anos mas até lá ainda é verdade que as narrativas sobre a diferente fisiológica feminina tem o "twist" para renovar a cultura, humor incluído. Por isso, em 2016 é melhor o humor feminino brasileiro que o humor masculino brasileiro, se ainda existissem dúvidas, por isso, meninas, mexam-se e passem por cima desses vossos compatriotas cona-moles!


Calma, nem tudo está perdido! Existe também no Brasil, um tal de Luis Aranguri que pode ainda dar esperança. Chegou-me às mãos dois zines seus em A5 impressos em risografia (? pela Meli Melo?) que devido ao teor experimental fogem completamente à produção de BD daquele país - sendo possível juntá-lo às produções de Pedro Ivo Verçosa.
Remake remonta o livro Akte : Studien, kompositionen und visionen numa BD com a estrutura de duas vinhetas em três tiras por página. Feita com as fotografias desse livro de arte, tem uma sentido narrativo fluído que parece os momentos descritivos de um "mangá" de samurais ao mesmo tempo que os ângulos das imagens (recortadas) têm um drama cinematográfico tal como as colagens de Una Biografia (1973) de Chumy Chumez (1927-2003). Re/Forma (imagem) também tem o seu je ne sais quoi dos anos 70 vindo à cabeça o "famoso" La Cage (1975) de Martin Vaugh-James (1949-2009). Também nesta uma BD sem personagens humanas observa-se uma perturbação metafísica do espaço (um apartamento) acabando numa degradação, ou melhor, no seu desaparecimento. São espelhos ou efeitos especiais ou vinhetas que invadem a representação do espaço? Uma coisa é certa, não se paga renda aqui...

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