sábado, 26 de março de 2016

Tubarões Marmelos



 Mais um grupo de livros da Les Requins Marteaux... Dois de Pierre Ferrero, o primeiro é Marlisou (2013) uma BD a preto e branco de uma odisseia espácio-temporal que podia ser uma homenagem às BDs psicadélicas dos anos 60 com as suas gajas libertárias (logo... semi-nuas) em ambientes erótico-surrealistas-pop. As diferenças são duas, Marlisou é uma agarrada o que tira logo a tesão e o grafismo "cubista" também não ajuda a líbido, logo não estamos nas fantasias das Barbarellas... A lógica é mais de narrativa videogame que circula em demasiado pela produção contemporânea, sendo fútil na sua totalidade porque ao percebermos a sua estrutura linear, tal como num jogo pouco importa o resultado - em último caso como diziam os Atari Teenage Riot, "a vida é como os vídeo-jogos, perde-se sempre". Mais problemático é no meio de tanto non-sense aparecer um episódio sobre os campos de concentração nazis que tira logo o sorriso estúpido da cara de quem estiver ainda a gostar disto. Híbrido estranho que não convence em nada tirando o facto de percebermos que existe habilidade "gráfica-narrativa" da parte do autor. Mais coerente embora também seja tonta será La Dance des mort (2015) que convence quem fuma charros e curta "cores finlandesas" em comix Mash-up de aventuras de cavaleiros medievais com Necronomicon. A edição é bastante bela para desprezar este livro. Com a lombada não colada à capa, era assim que deviamos ter feito o Inferno... Raios!



Pensava que a colecção BD Cul - não é preciso explicar muito, certo? - dos "Tubarões" fosse manhosa como muitas das coisas deles em catálogo (tipo Vermines, escola franco-belga com xixi-cocó) mas... é justamente o contrário! Até deve ser aqui que estão as melhores BDs desta editora francesa. A ideia é que isto pareça uma colecção de livros xungas / populares / pornochachada que existiram nos anos 70 e 80 por toda a Europa (incluindo Portugal) com títulos tão maravilhosos como O planeta das mulheres com o sexo na cara... Claro que a coisa descamba para aí como o Les Melons de la Colère (2011) de Bastien Vivès, obviamente a chupar As Vinhas da Ira de Steinbeck. Não se esperaria muito daqui se Vivès não fizesse disto uma comédia de costumes sobre uma jovem campónia com uns "pulmões externos" gigantes que é violada (absurdamente) por homens urbanos e corruptos - ela e a família pensam que está doente e que é normal a forma como ela é abusada quando vai ao médico. A família completamente ingénua faz lembrar a ideia que se tem dos Amish ou comunidades longe do fascínio do mundo digital. A fórmula "humor negro + erotismo" poderia dar em apenas um voyeaurismo sádico como nos bizarros fumettis mas Vivès deixa o leitor à rasca com a ignorância desta gente e desmancha qualquer erecção. Não sei se o autor teve essa percepção ou a inteligência de o fazer mas a ironia e o grafismo tem laivos de Rupert & Mullot e isso quer dizer alguma coisa... Teddy Beat (2 vol.; 2011-15) de Morgan Navarro é um urso azul fodilhão com argumentos do tipo "a canalizadora entrou em casa e 5 minutos depois já estão no truca-truca (mais a electricista e a entregadora de piças, pizzas-digo)", são aventuras porno-divertidas cheias de cor e Pop para a geração Nickelodeon, o que não é nada de novo se pensamos no Squeak the Mouse do Mattioli nos anos 90. A vantagem é que Navarro mostra que sexo poderia resolver todos os problemas do mundo, umas boas pinocadas e resolvia-se a má-onda israelita na Palestina. O que é verdade... Q (2013) de Mrzyk e Moriceau é um surrealismo soft de um exercício erótico entre um pénis e uma mão... só visto! Cool as fuck!

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