Yang Yu-chi
Slowork; 2014
Fui a Varsóvia em Maio de 2014 mas não comprei nada da Polónia - mentira, comprei um volume da BD infantil Tytus dos anos 70 (creio) que não percebendo nada do polaco não deixa de ser uma peça curiosa de BD psicadélica e a adivinhar a música Industrial! - mas comprei um livro de Hong Kong numa livraria!
É o lado espectacular da Aldeia Global mas que este livro dá-nos o "outro lado", aquele que faz as pessoas com cabeça serem Anti-Globalização. Yu-Chi conta a história laboral da sua mãe e que é a história laboral do "milagre" económico da Formosa, um dos "quatro tigres asiáticos". As pessoas são metamorfoseadas de pinguins (o texto final explica o porquê desta escolha antropomórfica) nesta BD e são mostrados os sacrifícios de uma geração de trabalhadores que deram toda a sua vida no trabalho das fábricas (neste caso para uma fábrica de brinquedos para o Ocidente) e que tudo perdem quando estas mudam-se para outros países com mão-de-obra mais barata ou quando mudam o seu modelo de produção - por exemplo, quando a Formosa optou em investir em produção de tecnologia de ponta, um fabrico que exige outro tipo de mão-de-obra mais especializada...
Edição cuidada com uma sobre-capa em serigrafia, este é o primeiro livro da Slowork, editora que pretende lançar mais "documentários gráficos" sobre daquela parte oriental do mundo. É uma BD estranha pela sua falta de "pureza" autobiográfica, "real", documental ou jornalística para quem espera algo na linha de Joe Sacco, Emmanuel Guilbert ou Aleksandar Zograf. Se calhar está mais próximo do Ivan Brun ou do QCDI #3000 por usar metáforas ou ficção para descrever os horrores do Capitalismo.
Ontem na loja El Pep entre uma cerimónia qualquer que envolve chá tradicional daquelas bandas, inaugurou a exposição desta editora da Formosa, com originais e serigrafias que vale a pena visitar! Creio que estará patente duas semanas, atenção não se esqueçam!!!!
Na loja estão todas as edições da Slowork, algumas delas em serigrafia, versões das edições em offset. O mais curioso destas edições são os tipos de papeis e tipos de tinta que imprimem. São realmente diferentes aquilo que estamos habituados, ou seja, a lógica atravessa o planeta para Oriente sem dúvida, é impossível ficar indiferente às edições, uma delas como 4/28 AM 4:00 de Chen Che é impressa em papel vegetal a duas cores e protegida por uma cartolina grossa que faz lembrar quase plástico. A BD está integrada na versão offset de Frontline Z.A. (2015), uma antologia com pinta de panfleto sobre movimentos sociais na Formosa. As BDs querem oferecer uma faceta humana para estes movimentos geralmente conotados como subversivos ou "do contra" (ei! estúpidos, esta gente está a lutar por vocês!) pelos meios de informação. Acaba por matar dois coelhos de uma cajadada só porque cumpre o seu objectivo e ainda denuncia mais podres do Capitalismo Global e os governos corruptos - como a RCA que matou milhares de pessoas através da poluição que as suas fábricas produziram.
Outro livro que achei interessante é Halo-Halo Manila (2016?) de Jimmeh Aitch, um autor filipino que ficou fascinado (quem não fica?) com Robert Crumb, Joe Sacco e Harvey Pekar - e sente-se as influências deles. Muito menos talentoso que estes três "Monstros da BD" (Monsters of Rock?) Aitch tenta mostrar um país, que assim à distância, parece ser um caos demográfico, político, ecológico e tudo mais. São várias BDs que vivem mais das boas intenções do autor do que o talento e técnica. Não deixa de ter bons momentos, claro, quando desmonta o que é o nacionalismo ou pelo facto dos bófias serem representados por porcos - é incrível como o polícia é um animal universal!
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