Faz parte dos prazeres maiores de ser editor, além de lançar livros bonitos pró mundo, é receber uma vez ou outra uns mimos dos artistas editados ou associados. Foi o que me aconteceu no mês passado. O Nate Wooley esteve no Jazz em Agosto e foi lançado o Life is a simple mess de Travassos onde ele participa com um texto. No lançamento do livro ofereceu-me este Seven Storey Mountain V (Pleasure of the Text; 2016), um registo ao vivo de uma massa improvisada de Noise por um batalhão de músicos sobretudo de metais / sopro. Imaginem se Ligeti e Xenakis tivessem voltado do mundo dos mortos com uma fanfarra muito muito mas muito chateada. Os quase 50 minutos são de magia sonora que só quebra quando ouvimos aplausos da audiência no final do disco e que é nos diz que infelizmente voltámos à realidade. O que parece ao calhas nesta "random music" (como é gozada a cena Improv) acaba por fazer sentido na progressão da música incluindo até "o-quer-que-seja-o-instrumento-em-agonia" que aparece no minuto 30 para a frente. Disco sólido! Sólido ou sórdido!?
Com nome de banda Rock, nada mais oposto. Big Bold Back Bone e o seu In search of the emerging species (Shhpuma; 2017) é realmente banda sonora para o fundo do mar cheio de criaturas com ar assustador e fluorescente. É um disco mesmo muito má "trip", na linha de Pão e outros projectos de Travassos - tal como se pode ter uma ideia holística do seu trabalho no CD que acompanha o Life is a simple mess. Ah! sim, a capa também vem no livro em grande que bem merece!
Ao contrário do disco de Wooley, a música "random" é aqui assumida e é mais difícil de situarmos a narração - os guinchos de ratos a partir do minuto 12 já não vêm tarde? Já não saltámos do porão e não devíamos estar em apneia nesse minuto em concreto? Ah! O Luís Lopes entra nisto! Afastar este disco de crianças e animais...
Por fim, e provando que se há editora portuguesa atenta ao mundo essa é a Shhpuma, eis Bibrax de Raphael Vanoli, um CD de nove peças de guitarra hiper-amplificada, tanto que ao que parece Vanoli basta soprar nas cordas que obtém logo música. Esta atitude artística é inspiradora, mais que a música imaginamos logo novos horizontes musicais ou situações de acidente - olha alguém a subir ao palco dele num concerto, sacar da guitarra para tocar uma malha de Immortal e deixar a audiência surda para sempre? Mas esqueçam lá isso, a música aqui é frágil e "sunset", como se fosse um avatar de Durutti Column cagasse para ritmos, vozes e Pop. É música de sofá... e ao vivo, se o Travassos ("boss" da Shhpuma) deixar-me entrar depois de ler esta resenha. Vá lá, eu juro que não sei tocar Immortal!
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