segunda-feira, 13 de novembro de 2017

(...) o Marcos Farrajota, que me ajuda muito (e que é o punk mais generoso e mais carinhoso que eu já conheci) (...)

cartaz em Lisboa que apareceu na mesma altura do Corta-E-Cola / Punk Comix

Já perdi a conta dos documentários sobre o Punk português que foram feitos nos últimos anos. Agora foi mais um feito pela RTP e Antena 3 - Uma espécie de Punk - que é o melhor de todos apenas porque além de ser o mais curto (consegue dizer o mesmo que outros em menos tempo!) tem mais qualidade de produção e melhores imagens de arquivo. De resto, é o mesmo chorrilho de banalidades já escritas e conhecidas que vão de 1978 até 1990.

Passar dos 90 é que já têm todos medo!

Agradecem-me no final dos créditos e ao Afonso Cortez - talvez porque viram no(s) nosso(s) livro(s) A Verdade. Mas pouco adiantou, o Punk para esta malta, que anda a snifar o cuzinho do Punk para fazer guito, é só a "Música". Ora, a música é o que menos interessa, até porque 99% dela era e é uma valente merda.

Aqui vai um excerto do meu Punk Comix para ver se chegamos a algum lado: o punk tornou-se num movimento ligado à Anti-Globalização/Capitalismo, à defesa dos direitos animais, ao veganismo, femininismo e anti-racismo como relata Craig O’Hara em The Philosophy of PunkAté, um académico da BD conseguiu perceber que: Acima de tudo, fica a ideia de que a maior herança do punk é a cultura do do-it-yourself, aliando-se então uma das tendências mais marcantes da banda desenhada moderna portuguesa, a da emergência e formidável produção de fanzines, a essa prática particular que ocorreu de forma tão dramática e especial no punk.

Mais do que isto ou é esquecido ou parece que se quer apagar de forma intencional.

Falar sobre os Punks que levaram porrada nas manifestações contra a McDonald ou contra as Touradas, isso já não serve para as narrativas bacocas destes documentários ou nas discussões que se possam ter sobre este movimento. Ignora-se que são os Punks que "okupam" as casas que o Estado ou os especuladores imobiliários que deixam ao abandono ou que lutam na rua contra a escumalha Nazi!

Pensar ou divulgar isto, parece proibitivo! Agora, passado estes anos todos, em que essa luta foi esquecida, ser Punk já é fixe desde que se esqueça as dores de quem combateu por algo que acreditava, algo correcto e para o bem da sociedade que ela própria ignora e despreza. Qual é que foi o intelectual ou artista dos últimos anos que levou na boca da polícia? Qual deles reclamou à séria da sua editora que o explora ou que explora outros? Não me lembro de ninguém, só de banalidades populistas como os feminismos à Capicua e aquela perua que queria transportes públicos só para mulheres - uma tia que nunca andou de autocarro, obviamente. Será por isso que não leio Peixotos, Tavares e quejandos? Hum...

Até dizer em público que se é Punk é porreiro. O título deste "post" é sacado de uma entrevista da autora de BD Cecília Silveira na Blimunda. A Cecília é amiga e sei que ela disse isto de uma forma coloquial e simpática numa conversa relaxada mas de repente é isto que sinto sobre "ser ou não ser punk". Tudo a gente é ou foi ou pode ser... Nada contra, a Liberdade do Punk permite-o, ao contrário que dizem os guardiões do "verdadeiro punk" - sabe-se lá se ainda existem ou que estejam preocupados com tal em 2017, no máximo acho que são coleccionadores de artefactos...

Sim, queria ser punk quando era "teenager", ter ar de galo de combate e meter nojo a toda sociedade que é mesmo nojenta. Redundante talvez, a crista veio tarde e durou pouco tempo. Ficaram outros valores que não foi na Universidade ou noutro lado "normal" que me ensinaram. Foram as "distros",  fanzines, as editoras e as pessoas dos meios underground que me mostraram como se pode fazer coisas com ética e sem cedências. Ser "punk" neste milénio é aderir às causas que O'Hara refere ou então se preferirem nem é preciso ser "nada" para se aderir a estas ideias porque elas são boas, simples, desejadas e virtuosas mas... mas... mas... Quando os cronistas-punheta do Público escreveram sobre os ataques a autocarros de turistas em Barcelona pelos moradores afirmando que estas praticaram actos de terrorismo (como se um morador fosse um bombista!), como contra-argumentou e muito bem o blogue L'Obéissance est morteDurante décadas, os ecologistas defenderam um modelo agrícola livre de pesticidas. Claro que foram acusados de “radicalismo” já que os pesticidas, desde que “adequados às normas impostas pelas entidades reguladoras”, eram considerados indispensáveis às boas práticas de uma “agricultura moderna” que se impunha nos países desenvolvidos e que promovera a substituição progressiva da figura retrógrada do agricultor por aquela hodierna do empresário agrícola (...). No entanto, em 2013, um estudo demonstrava que 92% dos cursos de água franceses estavam contaminados por pesticidas, devido às práticas da agricultura intensiva, apenas escapando à contaminação generalizada algumas zonas montanhosas e outras onde ainda predomina uma agricultura pouco intensiva, pouco consumidora de herbicidas, os maiores culpados da contaminação. (...) Também acusados de “extremistas” têm sido aqueles que, principalmente em França, se têm rebelado nas ruas contra a invasão publicitária do espaço público. Estes “radicais” têm limpado paredes inteiras do metro do marketing que enche o campo visual das nossas cidades, questionando assim a hegemonia (ideológica) que os industriais detêm hoje sobre o nosso quotidiano. Basicamente, defendem que a penetração da publicidade em todas as esferas da existência condiciona os nossos comportamentos e reduz a nossa liberdade, pelo que há que atacar esse monopólio da imagem que goza de toda a legalidade democrática. Será o seu ponto de vista insensato e perigoso para a comunidade? Ou, inversamente, não estará uma vez mais o extremismo precisamente do lado que os “radicais” combatem?

Quando se escreve, desenha, edita e publica-se o que se quer, tal não é divulgado nos "meios sociais" - quem inventou esta expressão caricata? Pior é quando estes "meios sociais" mais tarde ou mais cedo limpam as Culturas de milhares de pessoas - olhem o livro do Queercore na Time Out. Assim sendo, só se pode ser mesmo é "punk", quer se queira quer não. como tal só se pode mandá-los para o caralho!

Poderia-se "dar alvíssaras pelo agradecimento no documentário" mas eu prefiro é dar-lhes masé pissas pelo agradecimento porque não contribui em nada directamente para estar nos créditos. Não estive em contacto com ninguém da Antena 3 / RTP, não forneci nenhuma informação ou material para merecer lá o agradecimento. Serão remorsos de terem seguido o guião da parte do livro do Afonso Cortez? Porque são "punks" e agradecem por tudo e por nada!? Se não me tivessem dito que estava nos créditos não teria visto se quer o programa porque não vejo TV nem nenhum media tradicional. Mudem ou morram!

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