sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O livro não morreu


Todos os nossos livreiros favoritos estão a editar livros!!! E bons livros! 

Depois da Snob, Leituria e Tigre de Papel (incluindo um livro de BD da Júlia Barata), agora a Linha de Sombra junta-se a este fenómeno editorial com O Cinema Não Morreu : Crítica e Cinefilia à Pala de Walsh, uma colectânea de textos de um sítio em linha de referência para quem ainda gosta de Cinema com o "C" maiúsculo, claro. Ou de Crítica com "C" maiúsculo, já agora, porque não é só nas salas de Cinema que se despeja baba e ranho com a oferta limitada das distribuidoras de filmes, entre a bosta de Hollywood e a borreguice dos Sundances. Também nos jornais já pouco se aprende com a actual crítica betinha dos suplementos culturais. Resta-nos estes gestos editoriais, cada vez mais importantes. 

Claro que não é um livro perfeito - temos de desconfiar dos livros perfeitos, eles só trazem desgraças, olha a Bíblia ou o Alcorão - e é natural que não o seja porque as antologias nunca são perfeitas. Aqui reúnem-se vários textos de vários colaboradores do À Pala... Logo, há sempre alguns melhores que outros, alguns poderão ser vistos como redundantes e outros como importantes ou originais. Senti esses desequilíbrios nos capítulos "Textos do eu" (demasiado mundano e saudosista) e "Grandes Autores", este último talvez importante para cinéfilos neófitos mas até para para espectador ligeiro como eu, achei-os demasiado "b, a, bá". 

Falta uma linha condutora na selecção dos textos, seja lá qual for que os "walshianos" pudessem ter escolhido - cronológica? temática? outra? Não é pedir ao À Pala... que crie um manifesto (estamos em 2018, caramba, quem sabe o que isso é?) ou um cânone mas há ocasiões em que parece que vale tudo do Cinema como nos filmes contemporâneos do capítulo "O Cinema Não Morreu". A dada altura perdi-me na informação, se calhar da mesma forma como quando "surfo" pela 'net, embora, a vantagem de um livro é que se pode localizar a informação passado algumas semanas, enquanto que na 'net só com muita disciplina, paranóia e sorte é que se recupera o que se viu/ leu/ ouviu anteriormente. O quero dizer é que não basta ter os temas & títulos dos capítulos para balizar a informação, mesmo que o melhor do livro seja os guias (inconscientes) que são os capítulos "Cinema a (re)descobrir" e "Visita ao cinema português". Há nestes capítulos um corpo bem definido de obras a descobrir, diria até, por uma militância bem assumida dos cronistas que acabam por criar uma espécie de filmografia séria para quem não sabe o que ver, por exemplo, no caso do ignorado Cinema nacional. 

A Linha de Sombra deu-nos uma bela prenda cultural e bem embrulhada! Obrigado!

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