quarta-feira, 28 de março de 2018
Australopitecno
Não sei como anda o Porto mas a música Electrónica voltou a Lisboa, depois anos de secura com o fade out dos camaradas Thisco. Além das damas Jejuno e BLEID que meteram a qualidade num patamar de alto nível, andam para aí mais uns rapazolas a fazer bleeps e tzzzz-tzzzz. No entanto o que achei mais interessante até agora foi o Oströl, que pelo menos cheira menos a anacrónico e parece ter mais vida do que o normal neste país onde a Cultura adora ser estática e preguiçosa. O CD-R Austral Sounds (Rotten \\ Fresh; 2018) mostra isso tudo, capaz de percorrer o Illbient de cortar-à-faca, arabismos gamados pós-"coolonialistas", techno IDM pós-industrial e qualquer coisa mais que me tenha esquecido. Sons para surfar no sofá, topam? Um dos discos do ano SE aquelas damas não derem mais cartas entretanto...
De resto, olhos postos na editora Rotten \\ Fresh que apesar das suas edições precárias e modestas, poderão construir um catálogo de referência para o futuro - como aconteceu com a Symbiose, Thisco, Marvellous Tone, etc.. Isto se houver... Futuro, digo, esse lugar que a Electrónica projecta sempre para sair de lá destroçada.
sábado, 24 de março de 2018
(Re-)vaginização do Jazz
24 SÁBADO 14h - 15h
JAZZ E GÉNERO UMA CONVERSA ABERTA
Conservatório Nacional - Salão Grande
Com Beatriz Nunes (cantora e investigadora) e Rui Eduardo Paes (crítico)
Falar de género é, necessariamente, falar da instituição do patriarcado e de como esta determina o funcionamento de uma sociedade moldada pela masculinidade. O movimento We Have Voice vem repor essa antiga condição do jazz, nas suas reivindicações de englobamento e não-discriminação. Será que estamos a viver o início de uma (re-)vaginização e (re-)queerização do jazz ou trata-se apenas de ruído de fundo?
Uma conversa que inclui um texto do REP que sairá no seu próximo livro a editar por nós este ano. Vai ser bom!
sexta-feira, 23 de março de 2018
analogue 8bit frankenstein meets poltergeist playstation WTF?
terça-feira, 20 de março de 2018
Putain!
Prometeram e não cumpriram, aliás, há muitas bandas assim, que dizem que não irão gravar nada e depois aparece um disco... Os Putan Club merecem a incongruência seja qual for o motivo do lançamento do LP Les Filles de Mai (Toten Schwan; 2017) porque esta banda nunca está em casa, perde tempo em visitar os "niggers" da Europa (Lydia Lunch dixit no Sábado passado) e metem-se pelos desertos africanos e asiáticos com o mesmo respeito (ou mais) que teriam por qualquer outro público e ser humano. Esta banda incorpora os ideiais anarquistas e libertários, feministas e solidários, ecológicos e autónomos como poucas ou nenhumas bandas o serão e farão.
Os temas são os mesmos de vários edições CD-R que a banda costumava levar nas suas tournês infinitas - um dos temas, aliás, apareceu no CD do Punk Comix - por isso, tenho pouco a declarar aqui sobre o seu Rock Industrial, cheio de velocidade punk e techno pós-aldeia global. O certo é que agora ouve-se tudo com mais clareza e o som está mais límpido do que um ficheiro mp3. É um grande disco, é uma grande festa.
sábado, 17 de março de 2018
terça-feira, 13 de março de 2018
LISBOA é VERY VERY TYPICAL ::::: ESGOTADA tal como a cidade!
Lisboa é Very Very Typical
experiências de quem estudou ou trabalhou em Lisboa
experiências de quem estudou ou trabalhou em Lisboa
1 Capital europeia / 12 autores estrangeiros / 9 países / 3 continentes
Nesta colecção para quem gosta de "viajar sem apanhar transportes e gastar dinheiro" já se deram muitas voltas, da Europa aborrecida à Guiné-Bissau. Pela primeira vez, vira-se para o umbigo e viaja por Portugal, ou melhor... por Lisboa!
Todas as nossas antologias nascem de ideias puras mas por serem tão ingénuas acabam sempre erráticas... Não nos estamos a queixar antes pelo contrário, glorificamos o erro! A culpa é da "espanhola do caralho" que nos foi impingida para entrar na Zona de Desconforto, colectânea de autores de BD portugueses que contavam as suas experiências no estrangeiro enquanto estudantes ou trabalhadores. Begoña Claveria seria um contra-ponto, uma estrangeira a comentar Portugal, uma ideia com piada mas que não coube nesse volume e a sua BD ficou em águas de bacalhau...
Passado um ano e dado ao sucesso que obtivemos com Zona de Desconforto, pensamos que seria um bom desafio juntar estrangeiros que vivem ou viveram em Portugal. Plano arriscado! Há assim tantos autores que tenham passado por cá? E que queiram arriscar a fazer uma BD?
Há! E muitos! Ao ponto de alguns não terem deixado de dar notícias - temos muita pena dos autores africanos que nos deixaram na mão... Outros apareceram e sem papas na língua. De três continentes diferentes e com experiências variadas, muitas em volta das questões laborais portuguesas, eis Lisboa é Very Very Typical.
Lisboa!? Não era para ser sobre Portugal? É coincidência mas a verdade é que todas as BDs tem a capital como centro geográfico dando razão ao que se diz que "o resto é paisagem"! Talvez de futuro tenhamos de fazer uma antologia sobre estrangeiros no Porto ou Alentejo, até lá fiquem com as visões de Anica Govedarica (Croácia), Taís Koshino (Brasil), Elias Taño (Espanha), Alejandro Levacov (Argentina), BNK TNK (Japão), Martina Manya (Espanha), Aude Barrio (Suiça), Nicolae Negura (Roménia), Dileydi Florez (Colômbia), Alain Corbel (França) e Téo Pitella (Brasil). A capa é da responsabilidade do alemão Lars Henkel - autor que já estudou também em Lisboa e chegou a participar na Feira Laica.
Historial: mostra de originais do livro na BD Amadora 2015 ... Festa de lançamento no dia 29 de Outubro na Zaratan organizada pela 1359 com unDJ MMMNNNRRRG ...
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136p a verde branco, 8p p/b 16,5x23cm, capa a cores com badanas
sem ISBN porque a APEL pretende humilhar os pequenos editores
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Últimos exemplares talvez ainda na Mundo Fantasma, Bertrand e Palavra de Viajante.
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136p a verde branco, 8p p/b 16,5x23cm, capa a cores com badanas
sem ISBN porque a APEL pretende humilhar os pequenos editores
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Últimos exemplares talvez ainda na Mundo Fantasma, Bertrand e Palavra de Viajante.
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Feedback:
Depois de Zona de Desconforto, livro que reunia bandas desenhadas de vários autores portugueses vivendo no estrangeiro, o novo volume colectivo editado pela Chili Com Carne junta autores estrangeiros que vivem em Lisboa. O propósito é o mesmo: dar espaço à reflexão sobre as experiências individuais, as pequenas histórias, as expectativas, potenciando uma leitura mais ampla sobre como é ser-se estrangeiro numa cidade (e logo numa que cada vez mais se promove como destino de sonho para turistas) nos dias que correm.
Blimunda
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Uma Lisboa posta à mesa pelos atípicos (...) é uma obra de arte e em simultâneo o relato na primeira voz o que é ser-se estranho num lugar tão típico.
Dif
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Com várias antologias originais de banda desenhada no currículo (...) a Chili Com Carne tem sabido rodear-se de alguns dos mais prometedores autores de banda desenhada, muitas vezes apostando em principiantes, sempre sem ceder no capítulo da qualidade e da vontade de experimentar caminhos a partir da linguagem da banda desenhada. (...) Com um título como este, o livro arrisca-se a aliciar turistas para uma suposta cidade que, afinal, não cabe nestas páginas. Apesar disso, Marcos Farrajota acredita que Lisboa É Very Very Typical não deixa de ser um cartão de visita da capital, sobretudo para quem não ande à procura de tuk-tuks, tascas gourmet e casas de fado com preços astronomicamente inflacionados: “Não é um diário de viagem ou um daqueles livros de esboços chatos. Quase nunca se vê a cidade, mas daí, qual o problema disso? São as pessoas que fazem as cidades e não os monumentos e museus. Se calhar até é um livro de despedida da Lisboa anacrónica e do século XX para uma nova, menos romântica, provavelmente...” Menos romântica, mas com espaço para gente que se descobre estrangeira apesar de falar a mesma língua, como na história de Téo Pitella, infiltrações inevitáveis nos prédios antigos, a despertarem a bronquite e a narrativa de Alejandro Levacov, casas que desaparecem e voltam a erguer-se à medida que alguém precisa de as habitar, na história de Taís Koshino.
Páragrafo
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cria um rosto real, tangível, endereçado que nos permite entrar em diálogo imediato com o que está a ser discutido. Não se procura nenhum tipo de concordância imediata, mas antes uma compreensão dessa mesma perspectiva. Assim, a Lisboa ou Portugal que emerge destes retratos pode revelar-se menos gloriosa do que muitas vezes “nós” pintamos. Em segundo lugar, essas mesmas discussões não têm uma tonalidade pedagógica e institucionalizada – lá está, supostamente objectiva. Reforçando o aspecto dialogal.
Pedro Moura / Ler BD
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(...) título brincalhão com que se apresenta um livro coligindo bandas desenhadas da autoria de artistas estrangeiros - homens e mulheres - que estiveram, ou ainda permanecem em Portugal, e que escolheram Lisboa para simples passagem ou mesmo fixação.
É exactamente o caso da pintora Nina Govedarica, que veio da Croácia visitar Portugal em 1998, escolheu Lisboa, cidade de que gostou de imediato, aqui conheceu Fernando Relvas, casaram, e ficou a morar com ele na Amadora.
Assim, quando o editor Marcos Farrajota da Chili Com Carne teve a ideia (bem interessante) de convidar artistas estrangeiros, de passagem ou a viver em Lisboa, a transformarem em banda desenhada as suas impressões sobre a Mui Nobre e Sempre Leal cidade, Nina aceitou o desafio, ela que nunca fizera BD (...) além de provar ter invulgar capacidade ilustrativa, demonstrou um fino sentido crítico em relação aos lisboetas (extensível aos portugueses em geral), gozando, por exemplo, com o significado que é dado à palavra amanhã, sempre muito variável, tanto pode querer dizer para a semana, no próximo mês, para o ano, ou mesmo nunca.
Geraldes Lino
Artigo na Gazeta das Caldas
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Apesar dos riscos inerentes a uma recolha, de todas as (boas) propostas coletivas da editora Chili Com Carne esta é talvez a mais conseguida de todas, e um excelente livro que vale a pena levar aos olhos enquanto espelho.
Artigo na Gazeta das Caldas
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Apesar dos riscos inerentes a uma recolha, de todas as (boas) propostas coletivas da editora Chili Com Carne esta é talvez a mais conseguida de todas, e um excelente livro que vale a pena levar aos olhos enquanto espelho.
sobre os autores:
Aude Barrio (1985, França)… a mãe é suiça e o pai português. Vive e trabalha entre Genebra e Lisboa. Faz parte da editora Hécatombe (que já esteve presente numa Feira Laica e exposição na Matéria Prima) e participou em várias antologias como Un Fanzine carré ou Turkey Comics (The Hoochie Coochie). Em 2014, realizou o seu primeiro livro a solo Petit Lapiin Chouin Chouiiin e inaugurou Zonas de Habitabilidade, colecção de BDs "à quatro mãos" com Barbara Meuli, em 2015.
Begoña Claveria (Lleida, 1982) Graduada em Design Gráfico pela Escola de Disseny i Art (Barcelona), fez também uma pós-graduação em ilustração pela mesma escola. Entre 2005 e 2009 trabalhou como designer e ilustradora colaborando com vários ateliers. Em 2009 mudou-se para Lisboa onde realizou um estágio com a PVK Editions e em 2010 começou a trabalhar na Ivity Brand Corp. Actualmente trabalha em regime de part-time nesta firma e colabora habitualmente em projectos no âmbito da edição e da ilustração. Publicou seu primeiro livro de desenhos em 2014 Vous avez de la biére? Non, juste le whiskey bérbère pela Senhora do Monte, editora que ajudou a fundar com Anafaia Supico e Nuno Barroso.
Alain Corbel (Bretanha, França, 1965) viveu em lugares tão diferente como Bruxelas, Marselha, na Gasconha, em Lisboa e Baltimore. É conhecido como ilustrador e colaborou com muitos autores portugueses. É também autor de BDs, escreve, faz fotografias e sestas com muito gosto. Desde 2000, e a seguir o projecto de livro Ilhas de fogo (ACEP; 2002), viajou regularmente nos países africanos de língua portuguesa, assim como em Timor-Leste, onde organiza oficinas de ilustração e escrita. É é professor no departamento de Ilustração do Maryland Institute College of Art (EUA) e é também o coordenador do programa Unspoiled Africa.
Dileydi Florez ( Bogotá, 1990) É ilustradora e Designer. Estudou Design no IADE e Ilustração Artística na Universidade de Évora. Em 2013/14 foi bolseira e finalista do curso de Ilustração e BD no Ar.Co. Actualmente vive e trabalha em Lisboa. A sua primeira obra de BD Askar, o General (Chili Com Carne; 2015) é inspirada em iluminuras persas e gravuras japonesas.
Anica Nina Govedarica (Zagreg; 1971) Estudou Belas-Artes em Zagreb durante quatro anos, desde 1997 que se dedica às artes plásticas e participou em numerosas exposições individuais e colectivas em Portugal, Croácia e Inglaterra. Esta é a sua primeira experiência em BD.
Taís Koshino (Brasília, 1992) é estudante de Comunicação Social com habilitação em audiovisual na Universidade de Brasília, tendo feito programa de intercâmbio na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. É co-fundadora do selo editorial Piqui, criado em 2011, com mais de dez publicações e participações em feiras nacionais e internacionais.
Alejandro Levacov (Buenos Aires; 1973) Três anos depois de nascer começou a Ditadura mais sangrenta do seu país. Desde então já passaram 14 Presidentes por este país (4 deles ditadores), mega-desvalorizações e uma bancarrota. A história recente argentina exemplifica a capacidade de improvisação e sobrevivência que caracteriza os seus habitantes. Emigrou para a Europa em 2002 (pós "corralito") morando em Barcelona, Lisboa, Maputo e Porto e trabalhando como Designer, ilustrador, cozinheiro, modelo, actor… Retornou ao seu país em 2013 com Júlia Tovar – ver Zona de Desconforto (Chili Com Carne; 2014) vivendo os dois (três!) em Buenos Aires.
Martina Manyà (Barcelona, 1983) estudou nas Belas Artes de Barcelona. No início de 2006 muda-se para Lisboa, para fazer um Erasmus, e desde então não conseguiu deixar Portugal. Tirou o curso de Ilustração e BD no Arco e actualmente vive e trabalha entre as duas cidades.
Nicolae Negura (Vaslui; 1987) é um ilustrador e artista romeno que desde há alguns anos tem feito de Lisboa a sua casa e fonte de inspiração. Gosta de utilizar cores fortes e garridas mesmo quando aborda temáticas mais depressivas . Outra fonte de inspiração é a BD vintage, que define completamente o seu traço.
Téo Pitella (1985) tirou o curso de Design Gráfico na Universidade Federal do Paraná, Gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e é Mestre em Arte Multimédia com especialização em Fotografia na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Actualmente dirige o projecto editorial 1359, onde trabalha com Risografia e edições de autor. Já realizou exposições no Brasil, Portugal, França, Moçambique e EUA. Tem experiência em fotografia editorial produzindo material para edições de diversas revistas e jornais.
BNK TNK (1976; Tóquio) chegou a Portugal em 2005 com um diploma em arte do vidro (TAMA - Universidade de Arte em Tóquio) e um amor por todas as coisas relacionadas à luz e reflexos. Rapidamente apaixonou-se pela luz de Lisboa e, consequentemente, decidiu ficar e completar a sua formação, tirando um curso avançado de Artes Plásticas no Ar.Co. Foi um passo natural combinar o conhecimento adquirido e sua grande paixão por culturas orientais - tanto o lado artístico e espiritual a fim de desenvolver diferentes formas de artes cénicas, sempre inspirados na natureza e no seu interior e os fluxos de energia exteriores. Desde esse momento tem realizado inúmeras intervenções, espectáculos e performances a solo e em colaboração com diversas instituições, passando por países como Itália, Japão e Portugal.
Elías Taño (1983) é desenhador e editor ocasional na cidade de "Violência" desde 2004. Dedica o seu tempo a andar para cima e para baixo com livros e outras coisas, viajando sobretudo pelas penínsulas europeias (a italiana e a ibérica) e por outros lugares do sul do mundo com a companhia de teatro-político Atirohecho. O seu grafismo tem fins políticos e de insurreição e trabalha em cartazes sobre os muros da cidade de forma totalmente anónima. Edita desde 2011, a revista Arròs Negre. Trabalha em serigrafia num edifício em ruínas que partilha com um escritor das ruas e um indigente napolitano.
sábado, 10 de março de 2018
ccc@Zines.R.Us@Festival.Feminista.de.Lisboa
Lá estaremos e iremos destacar na nossa mesa os livros em que publicamos autoras de BD: do QCDA #2000 aos Fofinhos... Dias 10 e 11 de Março no Anjos 70.
Até lá: Women Non-Stop!
terça-feira, 6 de março de 2018
É verdade é!
Em 2016 a Associação Chili Com Carne recebeu o "Prémio de Clássicos da BD" do Festival da Amadora com o livro Revisão : Bandas Desenhadas dos anos 70. Recebemos a placa recentemente e divulgamos aqui para saberem que é verdade - o metal não engana. Agradecemos ao festival porque era merecido pelo trabalho que foi recolher e recuperar obras de 40 anos atrás.
Já agora, o livro está quase esgotado.
segunda-feira, 5 de março de 2018
Mundo do quarto
Existe o Quarto Mundo? Quando existia a Teoria dos Mundos (1945-90) usava-se essa expressão para designar países não-reconhecidos, povos nómadas ou recolectores ou ainda povos muito pobres dentro dos países industrializados. Também o termo foi usado pelo Jack Kirby (1917-94) para uma série de BD em que criava uma cosmogonia judaica com o folclore super-heróico, cheia de cores e extravagâncias tecno-fantasiosas.
Nos anos 80, o trompetista Jon Hassel criou o conceito da "Música do Quarto Mundo", onde várias músicas do mundo (dos nobres selvagens do terceiro mundo, muito mais espirituais e puros que os ocidentais badalhocos) se fundiam com electrónica e tecnologia do primeiro mundo - o segundo mundo que se foda, eram os comunas. A dada altura esta música foi vista como uma exploração "coolonialista" e não admira que o clássico My life in the bush of ghost tenha tido queixas e críticas das comunidades árabes sobre o abuso da palavra do Corão no disco. E de repente... estamos em 2018... e uma coisa é certa, actualmente só há um mundo, por muitos esforços estejam a ser tentados para sair deste planeta poluído. Com o advento da WWW passamos a um único mundo.
Na música, vá lá existem dois... O das bandas que vão ao Coliseu ou aos grandes festivais de Verão com tradicionalismos anacrónicos do Rock e o da música de um Mundo do Quarto, esse cubículo íntimo em que se cruza todas as referências do arquivo infinito da 'net de música e sons gravados. Rap e Eurodance dá no Zef dos sul-africanos Die Antwoord, hoje armados em estrelas, mudaram-se para L.A. Techno e poliritmos africanos dá em Kuduro ou Gqom, enquanto que portugueses de origem africana (re)inventam a House sob a batuta da Príncipe. Uns anormais em Almada tocam Viking Metal azeiteiro mas um suiço esperto juntou Black Metal ao Gospel criando um novo mito fantasioso (e se os negros dos EUA fossem pagãos?).
Em breve, teremos um livro de Riccardo Balli (aka DJ Balli) que prova como a cultura "mashup" passou a ser regra na Música criando novas narrativas visto que todo o espaço físico e o tempo já foram condensados a uma nuvem de informação. Na Música e noutros campos! Senão aconteceu, o seu livro será a confirmação de tal porque será uma verdadeira literatura "mashup" 8-bit! Até lá, eis um apanhado de músicas improváveis que tenho apanhado por aí...
Da Colômbia tem surgido algumas propostas de nova música como os Pixvae ou os Chupame El Dedo (retratados no zine que fizemos o ano passado para o Milhões pelo Rui Moura) que misturam Metalada com Cumbias. Desta dupla está lá Eblis Alvarez que é a cabeça dos Meridian Brothers, banda que reformulam temas tradicionais com novas roupagens. Parece que estão a ter sucesso - a revista The Wire prova isso - mas se a ideia não surpreende, convenhamos que se faz disto há muito tempo, já este EP Los Suicidas (*matik-matik*; 2015) dão um passo em frente. Para já é preciso pensar num som muito especial, aquele do leitor de k7s que está com a cabeça suja e/ou com as "rodas" lentas, isso mesmo, um som arrastado e distorcido. Pensem nisso para um CD de meia hora quase sempre de temas instrumentais, de boleros & mambos pouco ritmados em que os sintetizadores são os réis da gravação. Uns sintetizadores ácidos e dissonantes de má-trip em que o desenho da capa, que lembra um mau Phillipe Druillet (desenhador de BD psicadélica nos anos 70), ilustra bem o som. Não é um disco propriamente agradável para quem está habituado a coisinhas limpinhas. Estes estes teclados psico-musicais estão presentes na discografia dos Meridian mas em Los Suicidas estão em primeiro plano, num jogo viciante que faz com que seja melhor não o ouvir perto de janelas do terceiro andar...
A juntar a loucura de referências cruzadas temos da Arte Tetra de Itália. que edita lindíssimas k7s (claro que vendem em digital também, dah!). está o segundo volume de Exotic Ésotérique (2017), colectâneas de todas as "estrelas" da editora. Começa curiosamente com um tema que até poderia ser dos Meridian mas rapidamente, como diziam os 3 Mustaphas 3, "correm em todas as direcções": ritmos africanos com pós-industrialismos, Vaporwave, Médio Oriente Pós-Moderno (pelo russo Holypalms), Free Jazz, Dub, Illbient, hauntology, electrónica experimental,... tudo isto que destrói fronteiras em quase duas horas de música que se ouve em "loop" sem uma única vez me arrepender de estar a ouvir há horas a mesma k7, neste caso. Numa sociedade narcisista em que todos tem os seus livros de artistas e vinis gravados de um lado só, eis um gesto certeiro de que vale a pena lançar boa música em formato físico. A embalagem é também um mimo. Uma k7 perfeita!
Se as edições normais da Arte Tetra sente-se um calor gráfico, já as edições de Shit & Shine e DJ Balli não se pode dizer o mesmo. Talvez porque haja aqui um conceito especial de música funcional que obrigue a uma estética mais "marca branca", como acontece com Musica Lavapiatti (2017) dos S&S. Como o título indica é música para lavar pratos, uma tarefa muito mais importante do que agitar a cabeça feito estúpido na alienada ZDB, por exemplo. Além de ser importante para a higiene pessoal e caseira, lavar pratos é uma actividade vital para o aumento do intelecto e resolução de conflitos quotidianos. Se por um lado há uma responsabilidade material sobre os pratos e canecas - o risco de se partirem num descuido qualquer - há toda uma energia física para retirar as gorduras mais resilientes dos garfos ou das panelas deixadas da noite anterior. Todos estes extensíveis movimentos de limpeza distraem a mente de forma sincopada para um infinito psíquico onde o irracional entesado dá-nos as respostas necessários e a inspiração para prosseguir na vida. Acham que um concerto ao vivo será tão generoso? Eu acho que não. A música desta k7 é praticada pelo texano Craig Clouse (há demasiado mamados vindos do Texas não há?) com uma faixa ao ritmo gay british porno funk com uma voz que lembra os Ghostigital a cantar Bitch better have my money da Rihanna (WTF!?) e outra a lembrar os Yellow Magic Orchestra depois de tomarem Viagra. Esta é outra k7 que se ouve em "loop" mesmo muito depois da conclusão dos afazeres.
Também serve para lavar a loiça o Svelto (2017) de Balli com Giacomo Balla (1871-1958) - uma colaboração possível por via telepática. É um mix de Gabba com discursos do Futurismo. Balli ao lavar os pratos depois de uma deliciosa pasta al dente fez esta ligação óbvia que nenhum raver pastilhão poderia ter reparado: em 1909 dá-se o primeiro Manifesto Futurista que reclama as máquinas e a velocidade como renovação essencial e radical da Arte e da Humanidade. Oitenta anos depois o projecto electrónico Mescalinum United irá criar We are arrived, tema Techno que abre as portas para o subgénero Hardcore e como consequência ao Gabba, que terão ligações à Extrema Direita, tal como tinha acontecido com o Futurismo. Paralelismo incrível este! Tal como outros irão aparecer nos temas desta k7 cheia de detalhes conceptuais, não fosse o DJ Balli o mestre da música Rave conceptual. É claro que o som continua a ser Rave / Gabba que só se curte com 18 anos, E, água e despreocupação existencial. Não há Arte que resista ao poder destruidor das máquinas, aliás, esta música pode ser para lavar a loiça mas não será à mão... A CCC tem à venda AQUI.
Da rosa nada digamos por agora... (BaphoRecords; 2017) é a estreia do quinteto Baphomet que reúne malta de vários reinos musicais bizarros inter-geracionais portugueses como Älforjs, conjuntos sob a batuta de Sei Miguel ou ainda os Signs of the Silhouette. É uma (super) banda cujos elementos assinam com nomes fabulosos como Monsieur Trinité ou Mestre André - pessoal do Black Metal roam-se de inveja!! São três faixas entre os 12 e os 30 minutos que compõe o CD em que ouve-se Jazz punheta, Ambient electrónico, batidas duras a lembrar Industrial, "zappices", inferno, minimalismos & reducionismos. Só peca por se repetir na forma: começa devagarinho e baixinho como não soubessem que vão fazer o inevitável, ou seja, um final cheio de cacofonia do Free / Improv. Uma lógica que se vê muitas vezes em concertos do género. Num disco gravado, as audições repetidas terão menos surpresas por esse cliché. Como evitá-lo!? Baphomet explica...
Por fim, e receio com o mesmo problema de "explosões só no fim", uma k7 inesperada da editora Pop/ Rock Lovers & Lollypops: Dream Dream Beam Beam (2018) do saxofonista alemão residente no Porto Julius Gabriel. Jazz? Parece que sim, pelo menos é indissociável quando se ouve um saxofone não lhe chamar de Jazz. Apesar de algumas linhas musicais apontem para algo de nórdico do jazz - Jan Garbarek em Fukushima? - logo a seguir vai para o ruído - Noise, pá! - e dronaria graças a efeitos electrónicos sujos e duros. É dor de cabeça garantida para quem nunca experimentou Metal Machine Music... Ao certo ao certo, o que é isto!?
Nos anos 80, o trompetista Jon Hassel criou o conceito da "Música do Quarto Mundo", onde várias músicas do mundo (dos nobres selvagens do terceiro mundo, muito mais espirituais e puros que os ocidentais badalhocos) se fundiam com electrónica e tecnologia do primeiro mundo - o segundo mundo que se foda, eram os comunas. A dada altura esta música foi vista como uma exploração "coolonialista" e não admira que o clássico My life in the bush of ghost tenha tido queixas e críticas das comunidades árabes sobre o abuso da palavra do Corão no disco. E de repente... estamos em 2018... e uma coisa é certa, actualmente só há um mundo, por muitos esforços estejam a ser tentados para sair deste planeta poluído. Com o advento da WWW passamos a um único mundo.
Na música, vá lá existem dois... O das bandas que vão ao Coliseu ou aos grandes festivais de Verão com tradicionalismos anacrónicos do Rock e o da música de um Mundo do Quarto, esse cubículo íntimo em que se cruza todas as referências do arquivo infinito da 'net de música e sons gravados. Rap e Eurodance dá no Zef dos sul-africanos Die Antwoord, hoje armados em estrelas, mudaram-se para L.A. Techno e poliritmos africanos dá em Kuduro ou Gqom, enquanto que portugueses de origem africana (re)inventam a House sob a batuta da Príncipe. Uns anormais em Almada tocam Viking Metal azeiteiro mas um suiço esperto juntou Black Metal ao Gospel criando um novo mito fantasioso (e se os negros dos EUA fossem pagãos?).
Em breve, teremos um livro de Riccardo Balli (aka DJ Balli) que prova como a cultura "mashup" passou a ser regra na Música criando novas narrativas visto que todo o espaço físico e o tempo já foram condensados a uma nuvem de informação. Na Música e noutros campos! Senão aconteceu, o seu livro será a confirmação de tal porque será uma verdadeira literatura "mashup" 8-bit! Até lá, eis um apanhado de músicas improváveis que tenho apanhado por aí...
Da Colômbia tem surgido algumas propostas de nova música como os Pixvae ou os Chupame El Dedo (retratados no zine que fizemos o ano passado para o Milhões pelo Rui Moura) que misturam Metalada com Cumbias. Desta dupla está lá Eblis Alvarez que é a cabeça dos Meridian Brothers, banda que reformulam temas tradicionais com novas roupagens. Parece que estão a ter sucesso - a revista The Wire prova isso - mas se a ideia não surpreende, convenhamos que se faz disto há muito tempo, já este EP Los Suicidas (*matik-matik*; 2015) dão um passo em frente. Para já é preciso pensar num som muito especial, aquele do leitor de k7s que está com a cabeça suja e/ou com as "rodas" lentas, isso mesmo, um som arrastado e distorcido. Pensem nisso para um CD de meia hora quase sempre de temas instrumentais, de boleros & mambos pouco ritmados em que os sintetizadores são os réis da gravação. Uns sintetizadores ácidos e dissonantes de má-trip em que o desenho da capa, que lembra um mau Phillipe Druillet (desenhador de BD psicadélica nos anos 70), ilustra bem o som. Não é um disco propriamente agradável para quem está habituado a coisinhas limpinhas. Estes estes teclados psico-musicais estão presentes na discografia dos Meridian mas em Los Suicidas estão em primeiro plano, num jogo viciante que faz com que seja melhor não o ouvir perto de janelas do terceiro andar...
A juntar a loucura de referências cruzadas temos da Arte Tetra de Itália. que edita lindíssimas k7s (claro que vendem em digital também, dah!). está o segundo volume de Exotic Ésotérique (2017), colectâneas de todas as "estrelas" da editora. Começa curiosamente com um tema que até poderia ser dos Meridian mas rapidamente, como diziam os 3 Mustaphas 3, "correm em todas as direcções": ritmos africanos com pós-industrialismos, Vaporwave, Médio Oriente Pós-Moderno (pelo russo Holypalms), Free Jazz, Dub, Illbient, hauntology, electrónica experimental,... tudo isto que destrói fronteiras em quase duas horas de música que se ouve em "loop" sem uma única vez me arrepender de estar a ouvir há horas a mesma k7, neste caso. Numa sociedade narcisista em que todos tem os seus livros de artistas e vinis gravados de um lado só, eis um gesto certeiro de que vale a pena lançar boa música em formato físico. A embalagem é também um mimo. Uma k7 perfeita!
Se as edições normais da Arte Tetra sente-se um calor gráfico, já as edições de Shit & Shine e DJ Balli não se pode dizer o mesmo. Talvez porque haja aqui um conceito especial de música funcional que obrigue a uma estética mais "marca branca", como acontece com Musica Lavapiatti (2017) dos S&S. Como o título indica é música para lavar pratos, uma tarefa muito mais importante do que agitar a cabeça feito estúpido na alienada ZDB, por exemplo. Além de ser importante para a higiene pessoal e caseira, lavar pratos é uma actividade vital para o aumento do intelecto e resolução de conflitos quotidianos. Se por um lado há uma responsabilidade material sobre os pratos e canecas - o risco de se partirem num descuido qualquer - há toda uma energia física para retirar as gorduras mais resilientes dos garfos ou das panelas deixadas da noite anterior. Todos estes extensíveis movimentos de limpeza distraem a mente de forma sincopada para um infinito psíquico onde o irracional entesado dá-nos as respostas necessários e a inspiração para prosseguir na vida. Acham que um concerto ao vivo será tão generoso? Eu acho que não. A música desta k7 é praticada pelo texano Craig Clouse (há demasiado mamados vindos do Texas não há?) com uma faixa ao ritmo gay british porno funk com uma voz que lembra os Ghostigital a cantar Bitch better have my money da Rihanna (WTF!?) e outra a lembrar os Yellow Magic Orchestra depois de tomarem Viagra. Esta é outra k7 que se ouve em "loop" mesmo muito depois da conclusão dos afazeres.
Também serve para lavar a loiça o Svelto (2017) de Balli com Giacomo Balla (1871-1958) - uma colaboração possível por via telepática. É um mix de Gabba com discursos do Futurismo. Balli ao lavar os pratos depois de uma deliciosa pasta al dente fez esta ligação óbvia que nenhum raver pastilhão poderia ter reparado: em 1909 dá-se o primeiro Manifesto Futurista que reclama as máquinas e a velocidade como renovação essencial e radical da Arte e da Humanidade. Oitenta anos depois o projecto electrónico Mescalinum United irá criar We are arrived, tema Techno que abre as portas para o subgénero Hardcore e como consequência ao Gabba, que terão ligações à Extrema Direita, tal como tinha acontecido com o Futurismo. Paralelismo incrível este! Tal como outros irão aparecer nos temas desta k7 cheia de detalhes conceptuais, não fosse o DJ Balli o mestre da música Rave conceptual. É claro que o som continua a ser Rave / Gabba que só se curte com 18 anos, E, água e despreocupação existencial. Não há Arte que resista ao poder destruidor das máquinas, aliás, esta música pode ser para lavar a loiça mas não será à mão... A CCC tem à venda AQUI.
Da rosa nada digamos por agora... (BaphoRecords; 2017) é a estreia do quinteto Baphomet que reúne malta de vários reinos musicais bizarros inter-geracionais portugueses como Älforjs, conjuntos sob a batuta de Sei Miguel ou ainda os Signs of the Silhouette. É uma (super) banda cujos elementos assinam com nomes fabulosos como Monsieur Trinité ou Mestre André - pessoal do Black Metal roam-se de inveja!! São três faixas entre os 12 e os 30 minutos que compõe o CD em que ouve-se Jazz punheta, Ambient electrónico, batidas duras a lembrar Industrial, "zappices", inferno, minimalismos & reducionismos. Só peca por se repetir na forma: começa devagarinho e baixinho como não soubessem que vão fazer o inevitável, ou seja, um final cheio de cacofonia do Free / Improv. Uma lógica que se vê muitas vezes em concertos do género. Num disco gravado, as audições repetidas terão menos surpresas por esse cliché. Como evitá-lo!? Baphomet explica...
Por fim, e receio com o mesmo problema de "explosões só no fim", uma k7 inesperada da editora Pop/ Rock Lovers & Lollypops: Dream Dream Beam Beam (2018) do saxofonista alemão residente no Porto Julius Gabriel. Jazz? Parece que sim, pelo menos é indissociável quando se ouve um saxofone não lhe chamar de Jazz. Apesar de algumas linhas musicais apontem para algo de nórdico do jazz - Jan Garbarek em Fukushima? - logo a seguir vai para o ruído - Noise, pá! - e dronaria graças a efeitos electrónicos sujos e duros. É dor de cabeça garantida para quem nunca experimentou Metal Machine Music... Ao certo ao certo, o que é isto!?