sábado, 9 de maio de 2020
Regresso à anormalidade
Anda tudo entesado com a "normalidade" quando as narrativas são iguaizinhas, quer à Esquerda (trabalho, trabalho!) quer à Direita (a economia, temos de salvar a economia!), só merda, todos desejam voltar a vender patinhos de plástico e ir no fim-de-semana para a quinta muito-ecológica limpar a consciência com a prole (ops, herdeiros, prole é prós miseráveis). Felizmente há coisas que sairam nestas semanas para mantermos a cabeça sã e contra a velha ordem, como este livro Defects do norte-americano Thomas Grant Stetson pela Black Blood Press - editora de graphzines que há 10 anos que nos oferece as imagens mais chocantes aqui da periferia.
Na linha de arte grotesca, que se pode localizar nos punks anos 70 com o movimento graphzine dos franceses Bazooka vindo até aos dias de hoje com os Le Dernier Cri, eis uma galeria de corpos em formol, dissecados e esfolados, colocados em poses estatuárias a posarem arrogantes. Para quem? Talvez para quem as vendeu comida envenenada, para quem poluiu os ares que respiram, para quem lhes vendeu remédios que geraram abortos, quem sabe? Estes corpos corrompidos ter ar de desafio, isso é certo, fazem-nos mijar nas calças.
Edição menor que o formato A4 (o A4 é para parolos!) com 40 e tal desenhos feitos em caneta esferográfica cuja impressão offset capturou bem, eis a publicação mais "pro" da Black Blood, parabéns! Do autor nada se sabe, fez algum "artwork" para fonogramas pós-industrialitas mas também, queriam saber o quê mais depois disto?
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