Os metaleiros perderam - e não me refiro ao facto da Loud! ter ido à vida este ano. Nesta eterna luta entre o poder instituído e a contra-cultura, o Metal lixou-se. Nos últimos 25 anos não trouxe nada de novo e deixou levar os seus frutos para outras mãos menos ortodoxas. A culpa é dos metaleiros que não souberam ver na Electrónica o futuro - a cultura digital para eles serviu apenas para completar discografias no Discogs. Assim passamos a ter Metal de Galeria como os sunn 0))), de academia como os Liturgy ou queerizado como Fire-Toolz - nada contra, muito antes pelo contrário - e agora até já há "nerds" de jogos ao barulho!! 'Tão fodidos!
Da mesma equipa do excelente e divertido Death Jungle Robot eis Putrescence Regnant saído o ano passado. É um LP em vinil cuja embalagem aberta torna-se tabuleiro / mapa de um RPG. O livro do disco traz a narrativa e regras do jogo - não estamos perante um disco com as "líricas", informações de gravação ou os agradecimento a bandas obscuras amigas com quem tocaram numa toca ou festival qualquer. O ambiente e a estética do jogo é para ser escatológica-pagã-apocalíptica-fantástica. Como não sei jogar nada desta coisas, olho prós elementos gráficos e parece-me tudo uma caricatura da Fantasia, género que nem me diz nada, até acho insuportável no maior parte dos casos. Se deveria ficar cagadinho de medo com vikings zombies saídos de um "shonen" então é melhor ver as notícias da TV para abrir as veias ou lançar-me do terceiro andar.
Resta a música, portanto. No que diz a Metal, o género musical era o objectivo inicial para esta banda sonora dado o historial do género com o terror, grotesco ou fantástico. A toada é Drone à sunn 0))) (o que quer dizer a mesma coisa), aliás, Greg Anderson participa numa faixa. Entre as linhas ouve-se o som do pântano e uivos das almas perdidas mas não sinto nada de Dark aqui, falta espaço para se criar ambiente maldito mas sobretudo era preciso não ficar preso ao cliché da guitarra esticada e repetitiva dos sunn o))) (espero não ter de voltar a escrever o nome desta banda mais alguma vez na resenha).
Para quem se alimenta regularmente de Illbient, Japanoise ou Industrial não levará isto a sério mas convenhamos, esta música cumpre funcionalmente a missão que as imagens deste RPG transmitem - algo que não assusta mas que parece que assusta, uma diversão entre amigos que até curtem Black Sabbath ou Spliknot. Entre preconceito e snobismo, não consigo dissociar jogos de RPG ao síndroma de Peter Pan, transformando esta música tão pueril como o jogo. O momento alto é a faixa final com a participação de Wayne June que tem aquela voz de narrador tenso de "trailers" de filmes. Quando ele abre a boca, um gajo fica quietinho, à espera que o mundo acabe. Gulp!
Sem comentários:
Enviar um comentário