Este é que é o verdadeiro número 41 do Mesinha de Cabeceira passados 23 anos!
(saiu o ano passado, em 2023)
Nada mais afastado do que o outro: de um pseudónimo de um homem do Sul ao facto de ser uma selecção de desenhos de diário gráfico entre 2020 e 2023.
São 40 páginas A5 preto e branco numa edição limitada a 100 exemplares.
Giancarlo Apollini ("Nova Luanda", 1972) vive atualmente no Alentejo.
Iniciou em 2015 a sua atividade
como escultor depois de muitos anos a trabalhar para o teatro como diretor
técnico, cenógrafo e designer de iluminação cénica.
Tem uma obra que, para além da
escultura e desenho, se desdobra em várias expressões como a performance, o
teatro de animação, a fotografia e o vídeo.
Os desenhos e palavras aqui
reunidos fazem parte dos seus inúmeros cadernos diários e são apenas uma pequena
amostra de um sem fim de grafismos vários que o autor regista no seu dia a dia
e que estão na base de todo o seu pensamento e pesquisa.
O universo do autor balança entre
o trágico e o cómico, entre o belo e o grotesco, numa expressão provocatória
marcada intensamente por uma forte pulsão erótica.
FEEDBACK
Em época de comemoração de três décadas de actividade, o Mesinha de Cabeceira tem estado imparável: - mais de dez novas publicações no espaço de um ano!!! (...) Diários dum Cão Danado abre com um coelho branco e uma chave dourada, estimulando a curiosidade para o seguir, introduzindo-nos na toca para desvendar que estranhos segredos se ocultam no seu interior. Logo nas primeiras salas, confrontamo-nos com os bichos, carcaças devassas, as meat paintings de Francis Bacon assombradas por Rembrandt.
(...) Figuras, torsos amputados, representados contra um fundo plano - Bacon novamente.
Uma breve incursão no espaço do museu, vetusta catedral erigida em louvor do voyeur.
A ilusão, as imagens fotográficas exibidas através dos filtros que operam novas magias nas redes sociais - a girl magic box. A vaidade vã. | Vanitas |. A caveira, como marco miliário, a recordar a insignificância da vida e a efemeridade da vaidade.
O que é que Fellini, Hitchcock e Buñuel têm a ver com tudo isto? Têm tudo, pois criaram estranhos objectos de desejo, decompostos em perturbadoras fantasias de transgressão, moldando definitivamente o nosso olhar.
A recorrência, a fixação e reentra-se nos dispositivos do desejo, a contemplação sem toque, evitando uma aproximação excessiva. A potência erótica, o jogo da sedução. A mulher objectificada, o olhar devorador focado exclusivamente na parte do corpo fetichizada.
Segundo Barthes, a imagem pornográfica é uma imagem monótona, porque já não tem nada a esconder, sem mistério, cancela o prazer proibido. Aqui, pelo contrário, há mistérios por desvendar... Palavras e frases pairando, abertas ao fortuito acaso.
Diários dum Cão Danado constitui-se como um panóptico carregado de potência erótica, trajando luzidios fatos de latex, onde um fecho-éclair metalizado abre um interstício, rasgando uma fenda entre a realidade quotidiana e a fantasmagoria da solidão.
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