figurandorecuerdo(s); 2019
Edmond Baudoin é uma figura ímpar na BD francesa com uma longa carreira que foge às modinhas da indústria, especialmente quando começou nos anos 80, em que não era fácil partir o molde do álbum franco-belga com maminhas à mostra. A relação com Portugal não é normal, como aliás, como acontece com outros autores – olhem o espanhol Max que foi publicada uma BD n'A Batalha #288/289 -, quero dizer, ambos fartaram-se de nos visitar mas publicá-los ‘tá quieto!
Baudoin visitou o Salão Lisboa 2000, depois passou tantas vezes pelos festivais de BD da Amadora e de Beja que perdi a conta e ainda voltou em 2020 à galeria Tinta nos Nervos em Lisboa, sempre com exposições de originais estupendos. Ainda por cima, ele é um amor de pessoa, cheia de boa disposição, simpatia e humildade, quem não teria a vontade de o editar? No entanto, até hoje, só saiu uma BD curta na revista Quadrado #2 (3ª série; Bedeteca de Lisboa; 2000) e o livro A Viagem (Levoir; 2015) - que faz parte daqueles 10% dos títulos que merecem ser lidos na horrorosa colecção Novela Gráfica que saí com o Público todos os anos. Querem mais? Procurem este álbum em galego-português porque não há mais nada para quem não atina com o francês, daí justificar-se divulgar aqui um livro com data de 2019.
Feito em parceria com Troubs, outro autor de BD francês que gosta de viajar e que em conjunto contam com pelo menos cinco livros editados, ambos vão retratar as caras de refugiados e de pessoas que os apoiam na sua marcha – sendo que essa solidariedade pode ser punida por lei. Roya, é um rio entre França e Itália, onde acontece um diário jogo do “gato e do rato” entre refugiados (ilegais) a tentarem passar as fronteiras e a bófia mas também das associações de apoio ou de apenas indivíduos insubmissos que decidem ajudar os refugiados. Mais que uma BD com um sentido narrativo clássico é uma galeria de retratos e de pequenas histórias, com algumas derrotas e algumas vitórias, como só Baudoin poderia “caligrafar” com a sua tinta. São belas as caras de todos estes humanos que os governos tentam desumanizar ou diabolizar. E se o exercício parece fútil ou exploratório, isto é de desenhar os retratos de pessoas em stress ou trauma, na realidade, é na realidade apenas um subterfúgio para quebrar o gelo, para que essas pessoas comecem a falar das suas histórias pessoais, de longe está a estetização da tragédia alheia.
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