Começo com o horror sónico de Resonant objects (Sirr-ecords; 2005) de André Gonçalves & Kenneth Kirschner. A explicação do projecto está neste link - objectos suspensos ressoam e esse som é processado - o resultado é puro "white noise" irritante durante 50 e tal minutos, em que o único momento de interesse é quando ao minuto 36 um tipo do público tosse - e mais tarde outro - dando um sentimento monty-pythiano à coisa. Serve este CD para registro da performance de uma exploração sonora, de resto também serve para irritar os vizinhos brasileiros ao fim-de-semana, o que é bom...
Dissolution (Fario; 2005) de Troum e Christian Renou enquadra-se na veia ambiental electrónica criadora de ligeiras opressões anti-new-age, drones misturados com restos de industralismo poético e que se prolongam por uma hora fantasmagórica. O francês Christian Renou inicia o "caminho para o céu", o alemão Troum acompanha-o nesse caminho até concluir a obra com uma peça de 27 minutos, IN-GALEIKON. Nada de novo para quem já tiver Coil na sua colecção de discos. De salientar a agradável embalagem (simples cartão dobrado e impresso com imagens fotográficas, formato ao alto) que me fez comprar o produto via Thisco.
Uma das pessoas com quem gostei falar na Laica foi o Nuno Moita, da editora de "freelectronica" Grain of Sound, pessoa bastante simpática e que me ofereceu dois CD's da "série mutante". A ideia principal é pegar numa peça com pouco tempo de duração, como o 747 de Noto ou Creamy burst de Rafael Toral, e usá-la para criar uma maior - mas tendo exclusivamente os sons da peça original como matéria-prima. Assim Etch, PL, Draftank e João Castro Pinto originam One mutant minute: based on Noto's 747 (Grain of Sound; 2003) enquanto Richard Chartier, Ent, Ian Epps, John Kannenberg, Stapletape, @C, Kim Cascone, Sawako, Blake Stickland, Pita e Allto exploram "35 mutant seconds: based on Rafael Toral's Creamy Burst (Grain of Sound + Baskaru + Fonoteca de Lisboa; 2005). No primeiro caso a maior partes da (re)composições assumem em média 15 minutos de duração, o que não deixa de ser curioso se a peça original só tem 1 minuto. Em regra, os sons são "minimalistas" e "concretos", ruídos de quotidiano electrónico alinhados em repetição estática. João Castro Pinto revela-se o mais audaz sacando um ritmo (funcional) seguído de ambientes (de) líquidos e Noise. O segundo CD, tem maiores variações de tempo (dos 3m aos 8m) e começa com a peça original do Rafael Toral para podermos comparar - o que é uma boa ideia! Mais próximo do conceito de "landscape" electro-acústico (a marca de Toral é difícil de suprimir) mas ainda assim há mais "biodiversidade" neste disco do que no primeiro: da barulheira à melodia, do white noise aos blips soluçados, do silêncio à irritação auditiva...
A Grain, além de editora de discos e uma revista PDF, Sonic Scope Quarterly, ainda organiza um festival de Freelectronica e Improv. Sonic Scope 04: the portable edition (Grain of Sound + Fonoteca; 2004) é a "versão caseira e transportável" da edição de 2004 onde vamos encontrar ainda mais ecletismo em relação às antologias já referidas. Além das experimentações & improvisações electrónicas que entram em óbvias referências e situações já ouvidas noutros sítios - é estranho falar em Música Experimental quando se seguem cânones - entram também projectos menos ortodoxos como as "baladinhas com loops" de Audiopixel (o mais sofisiticado), Davide Balula e The Patriotic Sunday, verdadeiros nenúfares depois da asfixia no lago do transístores torturados, acabando com beats contidos dos The Producers. Dos 18 projectos que enchem este CD destaco ainda Soundtrap, por nenhum motivo especial...
PS - de referir o óptimo trabalho de fotografia de Nuno Moita (também responsável pelas fotos do CD de André Gonçalves & Kenneth Kirschner)
Por fim, ainda temos Calenda (Rudimentol; 2006) que é mais um CD de barulheira e outros poemas Improv com um conceito engraçado de ter sido dado a cada participante uma faixa que representa um mês do ano. Sendo assim temos então 12 faixas com 12 autores: F.Leote, nalalana, Guilherme Proença, Miguel Cabral (mentor deste projecto, bem como do Nevermet Ensemble, dono desta interessante editora e que em tempos editou um zine de bd!), Rodrigo Magalhães, Iff + Travassos, Paulo Razoável + João Matos, Frango, Miguel Leiria Pereira, Pedro Alçada, João Silva + Carlos Santos e Emídio Buchinho. Como o projecto é apresentado: «um calendário ilustrado com as visões de vários autores sobre cada mês do ano. Da electrónica, passando pelos instrumentos convencionais, eléctricos e acústicos, até à samplagem ou às gravações de ambientes, tudo cabe neste calendário. Uma viagem sonora ao longo de um ano. Do ano que quisermos.» A faixa que gostei mais foi do F.Leote - não só porque o gajo é fixe! O Leote é fixe! - mas porque consegue fazer Noise com humor!
Por fim, ainda temos Calenda (Rudimentol; 2006) que é mais um CD de barulheira e outros poemas Improv com um conceito engraçado de ter sido dado a cada participante uma faixa que representa um mês do ano. Sendo assim temos então 12 faixas com 12 autores: F.Leote, nalalana, Guilherme Proença, Miguel Cabral (mentor deste projecto, bem como do Nevermet Ensemble, dono desta interessante editora e que em tempos editou um zine de bd!), Rodrigo Magalhães, Iff + Travassos, Paulo Razoável + João Matos, Frango, Miguel Leiria Pereira, Pedro Alçada, João Silva + Carlos Santos e Emídio Buchinho. Como o projecto é apresentado: «um calendário ilustrado com as visões de vários autores sobre cada mês do ano. Da electrónica, passando pelos instrumentos convencionais, eléctricos e acústicos, até à samplagem ou às gravações de ambientes, tudo cabe neste calendário. Uma viagem sonora ao longo de um ano. Do ano que quisermos.» A faixa que gostei mais foi do F.Leote - não só porque o gajo é fixe! O Leote é fixe! - mas porque consegue fazer Noise com humor!
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