Correu «melhor do que estava à esperava» (como se costuma dizer) a primeira sessão de PEQUENO é bom! Não só de público e do interesse das pessoas, falo também das novas caras e novas edições que sairam de propósito para o evento. A excepção é Subir a montanha / Up the mountain (Café Royal Books; 2010) a propósito da exposição de Marta Monteiro na galeria Dama Aflita em Novembro do ano passado. Este título - como aliás, todos os outros - é um "graphzine", monográfico do trabalho de ilustração da autora, bem reproduzido com a impressão lazer. Um trabalho elegante que rapina um imaginário nostálgico do bem-estar burguês dos anos 50 juntamente com elementos surrealistas e fantasmagóricos apanágio de grande produção cultural e artística dos dias de hoje, como se todos procurassem um abrigo ou uma explicação porque essa promessa de bem-estar capitalista gerou a desorientação dos dias de hoje. Curiosamente até há vários estilos gráficos (como manifesto para uma exploração futura?) ao longo das 24 páginas A5, mostrando que Monteiro poderá fugir para outras temáticas no futuro.
Apesar de várias aproximações ao zine de Monteiro na questão técnica (zine impresso a lazer, formato A5, papel reciclado e desenhos a grafite), Jucifer trabalha num campeonato bem longe da nostalgia e de pretensas elegâncias do estilos. O novo título chama-se Techno Allah #0 (Blam Blam; Abr'10) e o título já diz que o século em que estamos é o século XXI. O zine reproduz uma série de desenhos feitos para o blogue da autora, todos eles à abrir, feitos em urgência de criação e na visão de um horror "non-sense" que pode ser visto como um "mash-up" do Shuehiro Maruo como da malta da Canicola. Num dos desenhos escreve: Vamos retro ou sempre em frente? Prefiro sempre em frente até ao embate mortal... Eu também prefiro isso! E mais, é o único zine que tem uma (mísera) página de bd!
Sou daquelas (Abr'10) de Sílvia Rodrigues também vive de Nostalgia mas esta da sua infância - e dos seus familiares. As ilustrações parecem exercícios de colagem de memórias - que são fotográficas como mostram as "guardas" deste zine impresso a lazer a cores em formato A6. Há sorrisos imortalizados pela e para a câmara fotográfica, figuras transformadas em enormes peluches e bonecada com um trago "vintage" - "vintage" esse português, e não o "vintage" norte-americano cliché que vários idiotas procuram. Sobretudo o registo documental do zine tem um efeito perturbante, lembra cores e ambientes de um passado em Portugal, que a mobília Ikea e lutadores de Wrestling irão apagar ao uniformisarem a paisagem e imaginação. Vale apena a Sílvia explorar esta vertente com mais coerência e afinco, até por Nostalgia por Nostalgia fede a mofo...
Por fim, Meteoro Imprevisivel (Paracetamol; Abr'10) junta desenhos de David Campos com textos de Nuno Marques em 40 clássicas páginas A5 preto e branco, experimentam as possibilidades de haver desenhos feitos para serem escritos textos à posteriori - invertendo o sentido da ilustração como Pedro Zamith fez num livro. Os desenhos variam entre os do livros de esboços mal-paridos e desenhos com ar "finalizado" mas os que se destacam mais são sempre os primeiros, a maior parte das vezes são pouco interessantes, próximos do cómico e do caricatural, e existem em maioria. Os textos aparecem tão confusos como as imagens, faltando um discurso próprio que se afaste mais das imagens, especialmente das mais manhosas... em compensação os desenhos "finalizados" são mesmo bons, longe de freakalhices e influências desnecessárias dos outros, e, (isto é curioso) a qualidade dos textos acompanham os dos desenhos. Vai melhorar no segundo volume?
à excepção do zine da Marta Monteiro, todos os outros zines podem ser pedidos à CCC - caso não queiram pedir directamente aos seus autores.
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