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O Atlas do Nada (Mosca; Dez'10) de João Ortega
Cleópatra #5 (Façam Fanzines Cuspam Martelos; Dez'10) de Tiago Baptista
Intro Espectro (Jun'10) de Tiago Araújo
Parece que os zines de bd voltaram - claro, já não existe outra vez nada! Logo os autores tem de pôr cá para fora a produção, até porque já perceberam que mostrar desenhos na 'net é uma grande treta! E assim, sem mais nem menos, têm aparecido produções, algumas com uma visão de work-in-progress, outras como uma experiência única. Claro que todas estas conclusões poderão estar erradas, as "work-in-progress" poderão deixadas cair (espero que não!) como as "auto-conclusivas" poderão ter alguma continuação.
O Atlas é um "one-shot" impresso em A4 mas dobrado na vertical sobre um tipo que vive isolado numa estação espacial. É miserável a sua condição pois é um excelente cartógrafo do Universo. Lembra uma bd de Filippo Scozzari, de um tipo da metereologia que vivia isolado num satélite para relatar as observações do tempo mas ao menos chagava a cabeça aos tipos que ouviam as suas observações metereológicas ao ponto de os levar ao suícidio. É muito dramático este Atlas...
O número cinco do Cleópatra é pela primeira vez um número especial: "Oh meu Deus! É o fim do cinema!". Truffaut, Manoel de Oliveira, Tarkovsky e Bergman acompanham Zé Cabeludo a verem as últimas bostas que Holywood produziu. Os diálogos desses filmes são reproduzidos enquanto os realizadores e Cabeludo se questionam porque raios estão a ver aqueles filmes. Há um ambiente Daniel Clowes nisto tudo - não é de admirar esta comparação porque parece assumida quando, na secção de resenhas, o Tiago Baptista escreve sobre um livro de Clowes. Indignado com o monopólio da distribuição cultural no país - o Tiago vive em Leiria, creio, ou pelo menos vai-se movimentando pelas Caldas da Rainha, Leiria e Lisboa - fez este zine onde não esconde a fúria no editorial e nas bd's. Também há racionalidade quando escreve: «devemos envolver-nos uns nos outros». A verdade é que a ilusão da Democracia deu a sensação que agora podemos ver / ouvir o que quisermos mas a máquina capitalista têm assimilado qualquer hipótese da produção de autor chegar às pessoas. Os Cineclubes nos tempos do fascismo ofereciam mais e melhor do que a Lusomundo nos dias da democracia. A questão é como revivar os Cineclubes ou qualquer iniciativa cultural independente que ofereça às populações locais um programa sem ser a cultura-pipoca. A luta continua, claro está! E é eterna, percebeu agora o Tiago?
O último título é um estranho híbrido de Emocore de segunda geração e personagens antropomorfizadas (tipo Sokal ou a série Blacksad) feito de páginas de vinhetas únicas e poesia da sarjeta teenager. Negro, solipsista e escatológico soft, passa-me tudo ao lado mas o texto parece-me que seja importante para o seu autor. Defeito máximo é a legendagem a computador! Esta bd é um tipo de trabalho que ao ser tão pessoal e introspectiva que ao ser legendada de forma mecánica perde o sentido. À la pata é que é!
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