sábado, 10 de março de 2012

ccc@mab.invicta





Estaremos no primeiro fim-de-semana deste novo evento portuense de bd com uma mesa recheada das nossas edições (e dos associados) e teremos uma mostra colectiva intitulada de Restos Mortais na Casa Viva.

Marcos farrajota escreveu o seguinte texto para este festival:

Kai Pfeiffer (Berlim; 1975) é um autor que se pode colocar na injusta prateleira dos “autores residuais”, ou seja, aqueles autores cuja a obra é rica em sugestões, estéticas, conteúdos e abordagens mas que devida uma publicação menos ortodoxa, desaparece do olho público e até dos próprios especialistas.

No entanto, Pfeiffer foi um dos fundadores do colectivo Monogatari, que no final dos anos 90 iniciaram a bd reportagem na Alemanha. Pfeiffer tem sido também instigador de revistas como a Plaque e Flitter (ambas pela Avant-Verlag) e de exposições, tradutor e designer de livros e mais recentemente professor de bd na Universidade de Kassel. O seu trabalho como autor de bd e ilustrador dispersa-se em antologias (como as do Monogatari), revistas da especialidade (Strapazin), livros de autor (com o Le Dernier Cri) ou jornais (Tagesspiegel, Frankfurter Allgemeine Zeitung). Tudo isto, como podem compreender, são publicações bastante perecíveis, especialmente para quem não estiver alinhado às geografias germânicas. Isso não o impediu de ter participado na exposição itinerante åbroïderij! HA! – International Graphic Arts Exhibition, criada em 2008 pela organização da Feira Laica com o apoio da Bedeteca de Lisboa – aliás, com o seu colectivo Monogatari, Pfeiffer já tinha trabalho exposto na edição de 2003 do Salão Lisboa.



Sob uma perspectiva tradicional o seu trabalho “oficial” encontra-se em dois livrinhos, pertencentes a uma colecção comum, Revue Mondaine. O primeiro volume intitula-se Land e o segundo Stadtelphen / Urban elphesm, ambos de 2004 e editados pelo Monogatari. Se este colectivo existente desde 1999 sempre teve uma preocupação mais vivencial na bd, tendo investido em bd's biográficas e de reportagem, é curioso ver o trabalho de Pfeiffer que foge para deambulações gráficas que apelam a ideias fantásticas sem serem fantasia e escapismo pueris.
O primeiro é uma série de paisagens que poderiam contar histórias caso Pfeiffer "parasse a sua câmara" durante mais do que alguns "segundos" - ou será essa a tarefa do leitor? As terras que vemos são desérticas e sujeitas a fenómenos extraordinários embora nunca sabemos a sua raison d'être nem o que irá acontecer. Um paralelismo possível seria o Malus de Christopher Webster (MMMNNNRRRG; 2005) por justamente desse non-sense e falta de pontos de referência, mas também pelo virtuosismo gráfico de ambos autores - curiosamente ambos podiam ser comprados e admirados na "exposição impronunciável" da Laica / Bedeteca. O segundo título é mais contido mas não menos misterioso, tem o aspecto clássico de bd - ou seja vinhetas em sequências certinhas, tudo limpinho e bonitinho como manda o figurino - mas continuam a ser polaróides (um bocado mais movimentadas e sequenciadas) de fantasmas / espíritos que existem por aí. O ambiente ou a ideia podem parecer um bocado "freak" demais para os nossos espíritos tecnocratas e racionais mas Stadelphen não tem moral nem histórias, apenas se observam “bichos” no meio de carros, paredes, pessoas ou cinzeiros com uma inocência parva que nos escava da memória infantil o Fantasminha (Casper) porque se descobrem expressões faciais caricaturais nas criaturas desenhadas que transmitem uma alegria insuportável... Não é suposto todos nós sofrermos até depois de mortos?

E se isto serve de metáfora, o caminho do sofrimento para quem quiser o trabalho de Kai Pfeiffer em formatos mais sólidos – livros – irá acabar pois ele prepara um livro com Dominique Goblet – também presente no MAB – intitulado Plus si entente, a lançar pela Frémok, bem como outro a solo (também a sair pela Frémok) e outros dois projectos, uma biografia com a colaboração de um ilustrador e a adaptação de histórias de Alexander Kluge. Und plötzlich…

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