sábado, 31 de maio de 2014
ccc@X.Beja
O Festival Internacional de BD de Beja este ano oferece como sempre um programa eclético em que entre convidados e exposições há mil e umas ligações à Chili Com Carne e MMMNNNRRRG!
A começar pela "star" do festival, David Lloyd, o desenhador de V for Vendetta e que ensinou o Christopher Webster a fazer BD! Ou Paul Gravett, dinamizador da BD britânica mas que tanto tem ajudado a promover O Desenhador Defunto de Francisco Sousa Lobo.
Com exposições estão os nossos associados André Coelho que fez o livro Terminal Tower com Manuel João Neto, livro esse a ser lançado por lá; José Smith Vargas, autor que tem participado em várias antologias nossas; Ana Biscaia (participou na antologia Destruição) e ainda se encontramos Amanda Baeza numa exposição vinda da Letónia, a Comix4= (temos catálogos desta exposição para oferta - perguntem-nos como adquirir através do e-mail).
E por fim mas não menos importante, antes pelo contrário, Beja recebe o finlandês Tommi Musturi, autor de Caminhando Com Samuel e Beating e que prepara uma psicadélica serigrafia com o Atelier Mike Goes West. Convencidos a irem ao Alentejo?
The Smiths [texto para o Splaft! - Caderno da Bedeteca de Beja]
- Se fizesse uma boa ópera, quem ma representava?
- E se o Ega fizesse um belo livro, quem é que lho lia?
(…)
- Isto é um país impossível… parece-me que também vou tomar café.
in Os Maias
Se José Smith Vargas (1981, Lisboa) concluísse a BD O Fígado da República? Alguém iria ligar-lhe cartão? Ou se acabasse as BDs sobre a Mouraria que denuncia à “gentrificação” deste bairro lisboeta? O António Costa iria ignorar certamente.
É um país impossível dizem os fidalgos nos Maias. Talvez até seja verdade esta conclusão tão peremptória mas ela serve como desculpa para as personagens de Eça de Queirós nada fazerem das suas vidas pueris porque afinal não passam de nobres de pança cheia. O caso de Smith (prefiro usar Smith a Vargas porque foi assim que o conheci, antes de assinar com os dois apelidos) é bem diferente embora ainda hoje não consiga responder à pergunta “Porque raios é que ele quer fazer BDs para um país que não têm forma de sustentar os artistas que a produzem? Ou um país que não lê BD? Ou que não lê pura e simplesmente?”.
Claro que Smith não está sozinho nesta questão, o que não faltam são autores de BD que teimam em criar páginas que não sabem onde publicar e que ninguém dá um chavo por elas. Tal como esses autores todos, também Smith não se dedica apenas à BD e de alguma forma é um homem dos sete ofícios – o último é ser actor na curta Ponto Morto, de André Godinho.
Formou-se em pintura na ESAD das Caldas da Rainha mas desde o final dos anos 90 que se dedica à BD e à ilustração, publicando aqui e acolá, ou auto-editando fanzines como o Soka (2000) que é um verdadeiro maelstrom de iconografia punk de desenhos de crianças e “híper-colagens”. É aliás, o trabalho de colagem que primeiro será conhecido ao mundo de forma oficial ao participar nas antologias Mutate & Survive (2001) e CapitãoCriCa Ilustrada (2005) editadas ambas pela Chili Com Carne.
Avelino Cidade - um exemplo do interior já que a capa é branca! |
E por falar em adega, pelo meio das actividades criativas está a musical também sempre ligada ao Punk mesmo quando se mete brilhantemente a fingir de músico Pimba como o fazia em Mal d’Vinhos, que em 2004 gravaram um dos mais divertidos discos de sempre. Mais recentemente participou noutras bandas como Casal do Leste e Fotolitus (o encontro improvável entre Brigada Victor Jara e Crass) cujo último álbum, Despreshion das Märr Kathara (2011), incluía uma BD no livrinho do CD. Mas já lá vamos à BD porque primeiro vem a ilustração que Smith tem vindo a espalhar os seus belos cartazes pela cidade de Lisboa e pela internet, produzidos sobretudo para os espectáculos organizados pela Associação Terapêutica do Ruído. Há ainda as capas de discos de outros músicos como o CD de Joana Guerra, por exemplo, belíssimas também!
Bute lá prá BD que é o que nos interessa!
Esta já estava programada no interior do autor até porque ele tinha feito um curso de BD na Gulbenkian, ainda antes de ter ido prás Caldas da Rainha. Pelos vistos, era um programa secreto, que depois de estar liberto do ensino oficial, Smith, de forma tímida começa a produzir BD em 2007. Surge Passeio ao Norte de Portugal – publicada no Destruição (Chili Com Carne; 2010) – em que relata quer um espectáculo dos Mão Morta em volta de Maldoror quer um encontro “pesado” com os Surrealistas de Barcelos. O trabalho tem os seus desequilíbrios no que diz respeito entre o texto e a imagem mas é uma estreia gloriosa para a BD portuguesa que no século XXI passou maus tempos. É raro encontrar autores que se dediquem à “realidade”, seja pela vertente autobiográfica quer pela reportagem ou crónica. Como bem sabemos a maioria da produção portuguesa dedica-se à fantasia, quase sempre de qualidade duvidosa, e que nada diz sobre Portugal e as suas gentes, mostrando que a BD portuguesa quase sempre é uma inutilidade e merece o desprezo generalizado que sofre.
E se muita da BD portuguesa é só escapismo infanto-juvenil – como aliás, a maior parte da produção mundial – ela própria escarra na sua gloriosa génese de Rafael Bordalo Pinheiro. É realmente raro ver obras de autores de BD que usem esta forma de arte para fazer dela arma política, especialmente preocupante quando estamos no milénio que abriu a temporada de caça aos pobres. Daí que não é à toa que o trabalho de Smith raramente se encontre no meio normalizado do mercado da BD mas em formatos “underground” como o disco Apupópapa (2010) que contestava a visita do “Papa Ratazana” a Portugal - Smith faz uma BD no fanzine que acompanha o CD e participa também com música através dos Focolitus - ou em jornais libertários como o Mapa : Jornal de Informação Crítica onde se encontra uma secção sua, o Mapa Borrado. Esta secção é na realidade uma crónica em formato de tiras humorísticas que relatam as alarvidades deste país, de forma elegante e poética – de tal forma que lembram a verve de Smith em Casal do Leste. É curioso que o “texto” de Smith consiga ser adaptado a estes dois formatos tão diferentes entre si. Temos artista!
Apesar da “marginalidade” onde se encontra o seu trabalho isto não significa que ele, de vez em quando, não dê uma perninha no mundo da BD e faça algumas “curtas”, como aconteceu com uma adaptação de um texto de José Gomes Ferreira para a edição comemorativa dos 20 anos do Mesinha de Cabeceira (Chili Com Carne; 2012) ou a biografia de Niko Pirosmanashivili para o blogue de Geraldes Lino. São duas distracções interessantes que aconteceram porque o autor foi assediado pelos editores dos projectos, no caso de “Niko” grande parte do trabalho já estava feito e foi o Sr. Lino que instigou Smith à sua conclusão. Nas gavetas do autor estão lá mil projectos!? Nada se sabe! E ainda menos se sairão dali, como o caso do “Fígado”, por exemplo.
Começado em 2010, a BD intitulada O Fígado da República mostra uma vertente clássica, sólida e eficiente da narração, adaptando excertos de Os Operários (1922) de Raul Brandão intercalados com episódios de ficção. A acção passa-se em 1918, no meio do turbilhão republicano e os seus paradoxos frente à classe operária, e relata a história de uma comuna que se instala no Alentejo. Smith chegou a auto-editar o primeiro capítulo em formato fanzine mas os novos capítulos, "Dia de Entrudo" e "Trapeiros", encontram-se nessas misteriosas gavetas. No Festival de Beja poderão lê-los nas paredes da exposição! Que sorte! Que felicidade! Embora Felicidade a sério, como toda a gente sabe, só há quando vemos um bófia a cair pelas escadas abaixo… Não sabemos quando e como estes capítulos serão impressos, isto implica que os mais atentos à “série” terão de sofrer A GRANDE ESPERA – quem segue o Berlin de Jason Lutes sabe o que isto significa! Como obra, desde já aviso que estamos longe das dolorosas adaptações literárias à “antigo regime” (da geração O Mosquito e Cavaleiro Andante) ou do espírito social "light" de Obrigado, patrão! A miséria proletária é mostrada sem pudor, bem como a situação de uma nação que vive um Capitalismo Cego e protegido pelo poder sem ter qualquer cuidado pela sua população e raramente relatado em BD, de memória só me lembro de Relvas (sobre os tempos dos Descobrimentos), Miguel Rocha (no Salazarismo), Marco Mendes (no tempo dos Recibos Verdes) e Amanda Baeza no metafórico e atemporal Our Library. Apesar de se situar em 1918, este “Fígado” foi pensado para comemorar o Centenário da República embora bem que lhe poderíamos dar um salto quântico para os dias de hoje, em que temos assistido a fenómenos similares cerca de 90 anos depois como a nossa emigração de jovens, os cortes de pensões e de outras conquistas sociais, a privatização de tudo que o Universo criou neste cantinho europeu e a nojenta equação da Fortaleza Europa e do esclavagismo de imigrantes.
E por falar em mais “contos da população”, em 2011, o autor começa a fazer "bd-reportagens" no seu blogue sobre os acontecimentos que agitaram esse ano a cidade do Porto, mais especificamente, a expulsão e emparedamento do edifício onde decorria o projecto social auto-suficiente e autogerido Es.Col.A no Alto da Fontinha. É um relato feito à distância, através das comunicações que o autor vai recebendo pelos meios oficiais e pelas redes sociais, desta verdadeira luta entre o Estado Capitalista Gágá versus a vontade de um Bairro em controlar o seu destino sem prejudicar ninguém – muito antes pelo contrário! Logo a primeira página sobre o despejo, Smith consegue expor para quem ainda não percebeu do ridículo e do paradoxo total a que a nossa sociedade atingiu. Ele só teve de dar enfase ao que um cão do PSD ladrou na rádio: Este comportamento [de ocupação de espaços devolutos e ajuda à população desfavorecida] é altruísta mas não está correcto. Olha se a moda pega… Em 2012 o jornal gráfico-político Buraco dedica todo o seu número quatro à história da Es.Col.A., e compila essas BDs de Smith que serão as únicas páginas a registar em “arte narrativa” o infeliz final deste processo com requinte fascista.
Em 2012, a Casa da Achada / Centro Mário Dionísio edita um livrinho intitulado Escrever Devagar com ilustrações e de textos de vários artistas e escritores, por lá encontra-se a BD No recolhimento de S. Cristóvão, parceria do escritor e dramaturgo Miguel Castro Caldas (1972) com Smith. Trata-se de um excelente uso da BD para registrar memórias de senhoras da terceira idade em casas de recolhimento da Mouraria, cujas intervenções nem sempre são tão cândidas como se poderia esperar, elas estão bem cheias de histórias para nos oferecer que vão desde gatinhos à selva africana. No entanto, é o princípio e o fim desta BD que mais interessa (a D. Aldina e D. Alice Gaveta que me perdoem) porque são uma crítica à cidade de Lisboa e ao “estado da nação”. Portugal tornou-se no INATEL da Europa, o que não seria mau per se caso os seus habitantes não vivessem uma degradação das suas condições de vida e de mudança (para pior) dos seus hábitos quotidianos. Uma das zonas mais afectadas é a Mouraria, e como Caldas e Smith a frequentam planeiam um livro sobre as mudanças que estão a ocorrer neste bairro popular. Ou deveria escrever “ex-bairro popular”? A Mouraria em breve será mais uma estação de turismo, com os locais a servirem de figurantes para os “bifes” tirarem-nos fotografias, afinal de contas até os ciganos da Baixa que vendem haxixe falso também já começam a ter um ar “gourmet”.
O Eça escreveu um calhamaço para este país com graves problemas de analfabetismo mas ficou prá história. Tem piada Os Maias embora sirva mais para melgar os estudantes do secundário e a incentivá-los a deixar de ler - se não fossemos um país católico, os alunos deviam adorar ler A Relíquia! Li em qualquer lado que Eça no final de carreira esperava viver dos seus livros, o que lhe foi uma decepção. Espero que não venha a ser este o destino de Smith, não só o de melgar estudantes no ano de 2094 mas também o de ficar decepcionado por “passar ao lado” enquanto estiver vivo e activo, com ou sem Factura de Consumidor Final.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Super Interessante
Special Interests #9
Fanzine finlandês dedicado ao Noise, Industrial, Power Electronics e afins. Neste número (do ano passado) é entrevistado André Coelho por causa da sua banda Sektor 304 e desenha a capa e assina mais uns desenhos no interior - curiosamnete já num estilo próximo do recente Terminal Tower - se me perdoarem a publicidade descarada! Também é entrevistado o grande mestre-não-te-merecemos-nem-daqui-a-mil-anos Foetus! Só por estes dois já valeria a pena ter um exemplar deste zine tão "nicho de mercado" (como os tecnocratas gostam de chamar a estas coisas) até porque as entrevistas permitem perceber os processos de composição dos músicos - ou não-músicos, como alguns preferem ser reconhecidos.
Mas ainda mais interessante, nesta publicação tão tão tão específica de um género musical, é a própria preocupação do editor e dos colaboradores em discutirem o que se pode fazer ainda com música Noise? Numa secção abrem um "fórum" para discutirem quais os limites, o que é excesso, o que ainda é provocador, excitante, relevante ou nada disso... Verdadeiro food for brain para quem não tem paciência para ler as resenhas críticas a centenas de discos e k7s que saem todos os dias pelo mundo inteiro.
Kiitos Coelho! E não, o fanzine está redigido em inglês!
Fanzine finlandês dedicado ao Noise, Industrial, Power Electronics e afins. Neste número (do ano passado) é entrevistado André Coelho por causa da sua banda Sektor 304 e desenha a capa e assina mais uns desenhos no interior - curiosamnete já num estilo próximo do recente Terminal Tower - se me perdoarem a publicidade descarada! Também é entrevistado o grande mestre-não-te-merecemos-nem-daqui-a-mil-anos Foetus! Só por estes dois já valeria a pena ter um exemplar deste zine tão "nicho de mercado" (como os tecnocratas gostam de chamar a estas coisas) até porque as entrevistas permitem perceber os processos de composição dos músicos - ou não-músicos, como alguns preferem ser reconhecidos.
Mas ainda mais interessante, nesta publicação tão tão tão específica de um género musical, é a própria preocupação do editor e dos colaboradores em discutirem o que se pode fazer ainda com música Noise? Numa secção abrem um "fórum" para discutirem quais os limites, o que é excesso, o que ainda é provocador, excitante, relevante ou nada disso... Verdadeiro food for brain para quem não tem paciência para ler as resenhas críticas a centenas de discos e k7s que saem todos os dias pelo mundo inteiro.
Kiitos Coelho! E não, o fanzine está redigido em inglês!
terça-feira, 27 de maio de 2014
Bomba do lixo
Perpetratör : Thermonuclear Epiphany (Caverna Abismal; 2014)
O Rick Thor (que fez uma BD na CriCa Ilustrada 3/3) toca aqui baixo e canta (sim canta, em inglês). O André Coelho fez o artwork deste álbum editado em formato k7. Estamos em 1984! Não! Estamos em 2014 e em Portugal como no resto do mundo, sente-se vontade de ouvir barulho retro-thrash-metal . É bom para conduzir se tiverem um auto-rádio, claro! Por acaso vinha a ouvir Slayer antes de entrar esta k7, coincidência cósmica?
sábado, 24 de maio de 2014
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Caramelos'zines
Como prometido trouxemos caramelitos de Badajoz, este feitos de papel impresso com montes de grafismos selvagens. Estão em alta os nossos vizinhos.
Lucha a Muerte #3 (Cero Eficacia; 2014) de Roberto Massó vêm de Cáceres, que é mais uma casita da Aldeia Global. Nessa casita como noutras - C.F., Johnny Ryan, Benjamin Bergman, Yuichi Yokoyama, etc... - todos viram, mastigaram e brincaram com os Masters of The Universe, Power Rangers e um trash televisivo que ainda hoje brota na cabeça de várias pessoas.
Este zine é o Codex Seraphinianus de Massó em que cria geneanologias para as suas criaturas de capacete alien-robot-insectóide-químico-colorido e não-acções entre eles. Cada imagem deveria levar-nos a um festim de alucinação drogadita como se alguém de 2014 acordasse num Sábado de manhã em 1994 mas de outra realidade paralela. Malo rollo!
A revista Bosta é de Barcelona e Bosta quer dizer mesmo Bosta. As capas em serigrafia são logo para babar ranho, as BDs são uma espécie de humor pós-queercore, seja lá o que isso quer dizer. Quer dizer é que renova todo o humor escatológico a que estamos habituados com 40 anos de Liberdade - alguém ficará sempre chocado ainda no século XXI. Mas o melhor foram os zines Solos Perros e Solo Perras que não encontro imagens na 'net mas com BDs de cães (feitos por gajos) e cadelas (por gajas). Olha que se joda! Peçam à Bosta os zines dos cães e cadelas que não se vão arrepender. Especialmente pelas BDs da alemã residente em Barcelona Marlene Krause.
De Valência o camarada Lam continua a lançar valentes zines... Valentes? Sobretudo pertinentes! Isso sim! Um deles é Caballos Muertos permanencen a un lado de la carretera do brasileiro Pedro Franz cada vez arriscando em narrativas e grafismos mais livres a fazer transmissão com Ilan Manouach ou Berliac. Lam também tem Asul (2013) que compila BDs suas feitas em 2012, incluindo a que fez para o Mesinha de Cabeceira #23 agora em formato mais arrejado do A5 e um "comix remix" com uma Manga parvita. Excelente produção editorial é de sacá-los!!!
Lucha a Muerte #3 (Cero Eficacia; 2014) de Roberto Massó vêm de Cáceres, que é mais uma casita da Aldeia Global. Nessa casita como noutras - C.F., Johnny Ryan, Benjamin Bergman, Yuichi Yokoyama, etc... - todos viram, mastigaram e brincaram com os Masters of The Universe, Power Rangers e um trash televisivo que ainda hoje brota na cabeça de várias pessoas.
Este zine é o Codex Seraphinianus de Massó em que cria geneanologias para as suas criaturas de capacete alien-robot-insectóide-químico-colorido e não-acções entre eles. Cada imagem deveria levar-nos a um festim de alucinação drogadita como se alguém de 2014 acordasse num Sábado de manhã em 1994 mas de outra realidade paralela. Malo rollo!
A revista Bosta é de Barcelona e Bosta quer dizer mesmo Bosta. As capas em serigrafia são logo para babar ranho, as BDs são uma espécie de humor pós-queercore, seja lá o que isso quer dizer. Quer dizer é que renova todo o humor escatológico a que estamos habituados com 40 anos de Liberdade - alguém ficará sempre chocado ainda no século XXI. Mas o melhor foram os zines Solos Perros e Solo Perras que não encontro imagens na 'net mas com BDs de cães (feitos por gajos) e cadelas (por gajas). Olha que se joda! Peçam à Bosta os zines dos cães e cadelas que não se vão arrepender. Especialmente pelas BDs da alemã residente em Barcelona Marlene Krause.
De Valência o camarada Lam continua a lançar valentes zines... Valentes? Sobretudo pertinentes! Isso sim! Um deles é Caballos Muertos permanencen a un lado de la carretera do brasileiro Pedro Franz cada vez arriscando em narrativas e grafismos mais livres a fazer transmissão com Ilan Manouach ou Berliac. Lam também tem Asul (2013) que compila BDs suas feitas em 2012, incluindo a que fez para o Mesinha de Cabeceira #23 agora em formato mais arrejado do A5 e um "comix remix" com uma Manga parvita. Excelente produção editorial é de sacá-los!!!
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Badajoz à vista!!!
Fomos convidados pela Aristas Martínez para ir a esta iniciativa, a Casa de Los Fanzines! Na programação está lá o camarada Lam, por isso quem quiser caramelos'zines ou edições valentes que nos envie um e-mail! Gracias!
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Francisco Sousa Lobo na Art Review
Francisco Sousa Lobo foi convidado para participar com uma banda desenhada de duas páginas para a importante revista inglesa Art Review. A apresentação do autor ficou a cargo do instigador Paul Gravett (o texto está acessível neste último link) que confirma a admiração deste inglês pelo livro O Desenhador Defunto.
...
Francisco Sousa Lobo was invited to make a two page comix for the important Art Review magazine (May 2014 issue). The profile of this artists was written by British instigator Paul Gravett (check his text in the latest link) which confirms his admiration for the The Dying Draughtsman book published by Chili Com Carne last year.
sábado, 10 de maio de 2014
Cruzes Credo!
O gif todo strobe é a capa/contracapa do CD dos espanhóis Santisima Virgen Maria que na lógica de DJ e "mix-tape" apresenta mash-ups / misturas de riffs de guitarra Rammstein, disco dos Village People, vintage basura, Sex Pistols, gangsta rap do piorio, Drunk Punk espanhol, Cindy Lauper desafinada, Ramones lentos (santa heresia!), M.I.A., tourada extasi extano, Black Flag ou Misfits com o techno mais xunga do planeta tipo Eurodance alimentado com "paella house", Rave Hardcore e Brujeria, Bananarama dubstep, o Saúl dos nossos vizinhos ou algo do tipo, pedaços de mass-media (reportagens rádio / TV, diálogos de filmes), etc... ou seja os 2 Many DJs levados ao extremo ou Breakcore na vertante trash latino fazendo desta "mix" um Bésame mucho enciclopédico tipo Mondo Brutto em áudio. Una tonteria, tío! Linda!
Mas não é nenhuma tonteria, na verdade a música e o zine de BD de Guille Raposeiras (a) e Josemi TE LO PINTA (d) que acompanha a edição relata o que é nossa vida depois do web.2 + ipad + Facebook + tudo o que faz-nos aproximar de uma sociedade Big Brother: auto-vigiada e triste - tema este Chris Ware ou Astromanta têm roçado, mais pela tristeza sentimental do que pela abordagem política. Os desenhos são feitos em digital, tipo em photoshop pirateado, que justamente pela crueza digital funcionam bem para realçar a mensagem da BD e deste projecto intitulado Ama La Musica Odia las Tribos Urbanas.
Entretanto, apanhando boleia neste "post" de música electrónica entra o italiano Black Fanfare que a Marvelllous Tone editou recentemente uma k7, 12 Heads.
IDM e breakbeat para machos porque assume-se que o cérebro é um músculo que é um cérebro que é um músculo e vice-versa. Ritmado q.b. para uma pista de dança com "people" com "smart drinks" na mão, a música de Black Fanfare é um pequeno bálsamo fora das modas da música electrónica, embora aqui e acolá pisque o olho às novas tendências (dubstep) e as novas "retro-tendências" como o Techno perto de linhas industriais...
quinta-feira, 8 de maio de 2014
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Mais cartas italo-suomis
Isä significa "pai" em finlandês e é o novo álbum de BD de Hanneriina Moisseinen - frases estas que banalizam completamente um livro sentido de quem o seu pai desapareceu numa noite. Diz a lei (na Finlândia) que só se considera alguém desaparecido como defunto após 10 anos do seu desaparecimento. Desparecimento significa que não existe corpo, significa que foi uma morte tão violenta que a natureza "comeu" o corpo ou pode significar que a pessoa não quer ser encontrada. É neste mórbido binómio que Moisseinen (e a mãe e a irmã) vivem durante 10 anos até que são "libertas" com a morte tornada oficial pelas competências legais. Usando grafite para um desenho realista e bordados para imagens simbólicas, este é uma BD de catarse, justamente o negativo de um livro como Visitez tous les pays recentemente aqui resenhado.
Editado o ano passado, este livro é pesado e austero que mostra que a Huuda Huuda ou as produções finlandesas não são apenas fogo-de-artíficio colorido e de experiências psicadélicas, como muitos pensam.
Com este Keitto Kirja / The Sauce Book (Huuda Huuda; 2013) de Lauri Mäkimurto fica provado que a importância e a influência de Kalervo Palsa (1947-1987) ainda está para ser calculada na BD finlandesa.
Eis um "comic-book" cheio de misantropia e depressão tão típica do norte da Europa. Procurando fotografias de Palsa e de Mäkimurto fico com a impressão que ambos têm ares psicóticos em que só espero que o destino do último não seja tão dramático como o do primeiro.
Lauri parece um eco de Kalervo que percorreu 30 anos até chegar até nós. Nesta BD não estamos em 2013 mas em 1983, tudo é bastante horrível e atrofiante, não há pontos de referência, só deserto humano e natural, morte e violência, sexo e bebedeiras sem sentido... O grafismo, estilo e tiques de Palsa (a corda para enforcamento, por exemplo) estão tão presentes que um leigo poderia ser enganado - e porque não? Que se saiba o Kiasma ainda não mostrou os tesouros em BD deste artista, quem garante que Lauri exista e não são BDs dos arquivos instituições a escorerrem cá pra fora com nome de outro tipo para não haver problemas com esta instituição de arte contemporânea? Como são poucos os finlandeses, é díficil de acreditar nesta tese, alguém saberia da verdade e iria-se bufar. É pena...
Seguimos para Itália - mais uma vez prá Canicola, claro, onde esta casa editorial faz alguns dos livros de BD mais bonitos da actualidade. Seja pelo design simples mas muito quente (dando juz ao nome da editora) seja pelo conteúdo. Dormire nel fango (2012) de Edo Chieregato (a) e Michelangelo Setola (d) reúne várias BDs publicadas anteriormente na revista Canicola... O aspecto anacrónico do desenho e das próprias narrativas tanto nos colocam num mundo que envoca uma nostalgia dos anos 70 ou 80 (a infância mágica e a juventude heróica submersa em referências Pop) como num mundo pós-apocalíptico, causando sempre uma sensação que estamos tão perdidos como as personagens destas BDs. Graficamente, estamos perante um desenho a grafite a lembrar a finlandesa Amanda Vähämäki - e isto nem sequer é uma especulação de quem quer sempre unir nomes de autores a outros porque ambos tem realmente semelhanças de estilo que até partilharam publicamante, lado a lado no livro-catálogo Souvlaki Circus (Buenaventura Press; 2008). Há livros urgentes de serem descobertos, este é daqueles...
Por fim, mais um A3 da Canicola: Lontano (2013) de Gabriella Giandalli, autora com um trabalho reconhecido há umas boas duas décadas e que assina este magnífico e derradeiro manifesto da depressão. Lembra-me o álbum, não sei bem porquê, o disco Rembrandt Pussyhorse dos Butthole Surfers sem a histeria dos texanos, muito pelo contrário, tal é reconhecida a elegância desta artista.
Ainda assim há aqui uma melancolia de proporções cósmicas a beijar a Teoria do Caos que lembra-me esse disco. Cada pedacinho das coisas mais desinteressantes ou aparentemente importantes são coladas no transe desta má viagem chamada vida.
Algures no quarto do teenager deprimido vê-se um cartaz dos Pink Floyd - relativo ao Dark Side of The Moon - e por isso que associo esta BD a um psicadelismo existencial que o rigor gráfico, de tons cinzentos, não se deixa levar com os esquemas freaks habituais neste tipo de texto. Um colosso!
terça-feira, 6 de maio de 2014
Zines com Alma (monokini rmx)
Perdoem-me o título mais xunga de sempre neste blogue mas é que estes zines foram adquiridos na Feira das Almas, onde na realidade onde se reúne mais pedaços de corpos femininos na cidade à procura do "monokini" mais anacrónico para ser o mais "hipster" possível... Alma? Pouca e a Façam Fanzines e Cuspam Martelos tentou colocar cultura no meio destes mil seios, tatuagens parvas do Bart Simpson, pernocas, rabiosques e afins, tudo em frenesi por roupa e acessórios. Chamava-se "Solideriedade Fanzinista" e reuniu algumas produções alternativas como os da malta do Clube do Inferno que aproveitaram para lançar novos títulos Mori de Hetamoe e Freak Scene #1 de André Pereira. O primeiro é uma BD a cores desta autora que duvido justamente à cor chamou-me à atenção. Ela já tinha feito alguns outros dois zines mas que admito que tinham um ar demasiado "nerd" mangaka que não me entrava. Mori mostra ninfetas e símbolos perdidos num texto "teeny boopy" que não me afectando acho sinceramente bonito num sentido formal e estético - a lembrar o aspecto degradado de Mutant Hanako de Makoto Aida. Pereira também tenta fazer um trabalho degradante e espontâneo, como se fosse uma espécie "do seu Musclechoo" mas não consegue ser trashy o suficiente. Se este é o seu "caixote do lixo" então irá mesmo longe a fazer BD algures neste planeta. Ainda assim sabe a pouco e fica-se à espera do número dois!
Não sei porque não atinei com o primeiro número do Preto no Branco (do Cuspam Martelos) mas estes dois novos números estão como qualquer zine colectivo urbano deveria ser: um bocado de tudo mas com interesse! BD, desenho, poesia, artigos sobre música (excelentes os textos sobre Crass e Swans, ainda é possível escrever sobre eles com novas perspectivas), tudo bem compactado em páginas A5 (muitas e cosidas à mão). Encontramos muitos conhecidos e habitués neste tipo de publicações como Ana Biscaia, Bruno Borges, André Pereira, Hetamoe mas também um regresso confirmado de Felipe Felizardo - afinal isto não era tanga - que promete estranhas cosmogonias de futuro. E ele passa por este zine? Espero que sim embora o texto de Tiago Baptista (no número dois) revele a fragilidade que um fanzine costuma ser e isso lembra que nunca mais saia um número deste ou qualquer outro título. Mas um fanzine, anti-corpo da edição, é um acto poético, ele aparece vindo do nada, só precisamos de esperar...
Não sei porque não atinei com o primeiro número do Preto no Branco (do Cuspam Martelos) mas estes dois novos números estão como qualquer zine colectivo urbano deveria ser: um bocado de tudo mas com interesse! BD, desenho, poesia, artigos sobre música (excelentes os textos sobre Crass e Swans, ainda é possível escrever sobre eles com novas perspectivas), tudo bem compactado em páginas A5 (muitas e cosidas à mão). Encontramos muitos conhecidos e habitués neste tipo de publicações como Ana Biscaia, Bruno Borges, André Pereira, Hetamoe mas também um regresso confirmado de Felipe Felizardo - afinal isto não era tanga - que promete estranhas cosmogonias de futuro. E ele passa por este zine? Espero que sim embora o texto de Tiago Baptista (no número dois) revele a fragilidade que um fanzine costuma ser e isso lembra que nunca mais saia um número deste ou qualquer outro título. Mas um fanzine, anti-corpo da edição, é um acto poético, ele aparece vindo do nada, só precisamos de esperar...
segunda-feira, 5 de maio de 2014
sábado, 3 de maio de 2014
Na Feira das almas
Sábado dia 3 de Maio vamos ter uma banca na Feira das Almas. Levamos as nossas publicações, inclusivamente o novo número do "Preto no Branco", levamos também os livros da Catarina Domingues (que está a preparar um livro novo), vamos ter connosco as publicações do Clube do Inferno que também tem um novo zine do André Pereira, levamos alguns livros da Chili Com Carne, as publicações do Sal NunkachovProvisório, os zines da Your Mouth Is A Guillotine e também levamos os postais do Eduardo Ferreira.
E mais alguma coisa que apareça entretanto.
O DJ da casa, (DJ Watteau) vai pôr umas músicas até às 14h.
A isto tudo chamamos "Solidariedade Fanzinista".
Apareçam para ver e comprar!
A Feira das Almas acontece na rua Regueirão dos Anjos no nº 70, em Lisboa na zona dos Anjos.
E mais alguma coisa que apareça entretanto.
O DJ da casa, (DJ Watteau) vai pôr umas músicas até às 14h.
A isto tudo chamamos "Solidariedade Fanzinista".
Apareçam para ver e comprar!
A Feira das Almas acontece na rua Regueirão dos Anjos no nº 70, em Lisboa na zona dos Anjos.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Nas Editas!
Como tem acontecido noutros anos, a Associação Chili Com Carne vai estar na XXIX Edita, em Punta Umbria (Espanha) com a presença de Rafael Dionísio, e desta vez também acompanhado por Marta Navarro com Tua Mãe - salvo seja, que é nome da "sua" editora. Mais tarde há Edita em Lisboa, nos dias 8, 9 e 10 de Maio na Guilherme Cossoul... também lá estaremos, claro!