segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Luta continua... prolongada até 24 de Fevereiro


Inaugurou em Setembro do ano passado na Casa da Cerca uma exposição de Ilustração, organizada por Jorge Silva, intitulada A luta continua! 140 anos de Ilustração Portuguesa com trabalhos de Alice Geirinhas, André Ruivo, Dorindo Carvalho, Ferreira da Silva, Henrique Manuel, Henrique Ruivo, João Abel Manta, João da Câmara Leme, João Fazenda, João Fonte Santa, João Pedroso, José Vilhena, Manuel Macedo, Manuel Paula, Manuel Ribeiro de Pavia, Oficina Arara, Pedro Cabral, Pedro Zamith, Rogério Ribeiro, Sílvia Rodrigues, Stuart de Carvalhais, Tiago Manuel, Tom e Tóssan.

A Ilustração parece ser arte amável, mais dada à metáfora e à erudição, e montra recatada do talento gráfico do artista, sem gritar ou conspirar na rua. O trabalho duro parece sobrar para os parentes de mau feitio congénito, como o cartune e a caricatura. E no entanto, ao longo dos tempos, muita revolução, muita luta, mesmo surda ou cínica, contra ismos e tiranos, se forjou também na ilustração de livros, cartazes e jornais, militante de causas e sonhos. (…) Esta mostra sintética passeia-se por 140 anos deste pedaço das artes visuais portuguesas (…) - Jorge Silva

Edições nossas estarão lá à venda, aproveitem, algumas são raridades...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

"a" maiúsculo com círculo à volta de Rui Eduardo Paes --- ESGOTADO --- PDF grátis em linha


Muitas vezes, e não em poucos casos abusivamente, o punk foi/ é identificado com o anarquismo. Em outra área, são habituais as analogias da chamada "livre-improvisação" com os princípios libertários, mesmo quando quem toca são músicos com perspectivas políticas e sociais influenciadas por correntes marxistas como o trotzkismo e o maoísmo. Seja como for, há mais conexões entre Música e Anarquia do que aquelas que se supõe. Um contributo para o seu desvelamento, tanto quanto para a desmitificação de algumas ideias feitas, está neste novo livro de Rui Eduardo Paes, o segundo do autor na colecção THISCOvery CCChannel, depois de Bestiário Ilustríssimo.

O livro de Rui Eduardo Paes relaciona as músicas de hoje (jazz, improvisação, pop-rock, noise, electrónica experimental, música contemporânea) com as novas tendências do pensamento libertário, descobrindo analogias mas também desmistificando ideias feitas. Daniel Carter, Lê Quan Ninh, John Cage, Fela Kuti, Frank Zappa, Thom York (Radiohead) e Nicolas Collins são algumas das figuras retratadas pela escrita analítica e de dimensão filosófica, mas não raro com humor e alcance provocatório, do ensaísta e editor da revista “online” jazz.pt. Entre os temas percorridos ao longo dos 10 capítulos amplamente ilustrados estão o ocultismo, a espiritualidade, a ciência, a ficção científica, a tecnologia, o amor e o sexo, com referência a autores como Robert Anton Wilson, Hakim Bey, Murray Bookchin, Starhawk e Ursula K. Le Guin.

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O livro é ilustrado por vários artistas da Associação Chili Com Carne: Joana Pires, Marcos Farrajota, André Coelho, Jucifer, Bráulio Amado (acumulando o cargo de Designer do livro), José Feitor, David Campos, Daniel Lopes, André Lemos, João Chambel e Ana Menezes.

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Edição da Chili Com Carne e Thisco
80p p/b; 16,5x22cm
ISBN: 978-989-8363-21-3


ESGOTADO - com PDF em linha talvez ainda esteja à venda na Flur, Letra LivreMatéria PrimaUtopia, Fábrica Features, Louie Louie do PortoApop Shop, Tortuga (Disgraça) e Sirigaita.

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Historial : lançado em 29 de Maio de 2013, na Trem Azul, Lisboa, com a participação do escritor Rafael Dionísio e do músico Paulo Chagas, seguido de concerto de Shameful Iguana [Luís Lopes: guitarra eléctrica; Hernâni Faustino: baixo eléctrico; Marco Franco: bateria] ...

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Sobre o autor: Com quase 30 anos de actividade repartida entre o jornalismo cultural, a crítica de música e o ensaísmo teórico, Rui Eduardo Paes é autor de vários livros sobre as músicas criativas. É o editor do site jazz.pt, membro da direcção da associação Granular e autor dos press releases da editora discográfica Clean Feed. Foi um dos fundadores da Bolsa Ernesto de Sousa. Assessorou a direcção do Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian e integrou o júri do concurso de apoios sustentados do Instituto das Artes / Ministério da Cultura para o quadriénio 2005-2008.

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os textos estão soberbos e o trabalho gráfico ficou excelente! parabéns a quem concebeu e materializou este objecto literário-gráfico-musical absolutamente único! António Branco 
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novo livro traz é que o ponto de vista essencial é o ponto de vista político associado às manifestações estéticas contemporâneas. O título é, de resto, todo um programa de intenções: "A" Maiúsculo Com Círculo à Volta". O anarquismo histórico e as suas formas libertárias de expressão são intercaladas, pelo autor, com múltiplas abordagens a músicos, escritores, cientistas ou artistas multimédia. Um livro que, uma vez mais, prova que o autor rejeita o conformismo de pensamento e ousa analisar novas abordagens, novas relações, novos pontos de vista sobres os fenómenos artístico-culturais-sociais-filosóficos do mundo contemporâneo (...) relaciona as músicas de hoje (jazz, improvisação, pop-rock, noise, electrónica experimental, música contemporânea) com as novas tendências do pensamento libertário, descobrindo analogias mas também desmistificando ideias feitas. Entre os temas percorridos ao longo dos 10 capítulos amplamente ilustrados estão o ocultismo, a espiritualidade, a ciência, a ficção científica, a tecnologia, o amor e o sexo, com referência a autores como Robert Anton Wilson, Hakim Bey ou Murray Bookchin Kubik in O homem que sabia demasiado
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Dando sequência a uma consistente abordagem político-musicológica, por vezes fraturante e polémica, REP continua a revelar neste novo conjunto de reflexões a lucidez intelectual, a densidade de análise e o rigor enciclopédico que sempre caracterizaram a sua escrita. António Branco in Jazz.pt 
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4 estrelas (em 5) in Público 
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Atenção, isto não é apenas um livro: é um perigoso "cocktail molotov" para o cérebro. E, já agora, também para os ouvidos. Nuno Catarino in Ípsilon / Público 
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ambicioso, extraordinariamente documentado, e uma porta perfeita para teses de maior valor intelectual. Bons Encontros 
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 No abandonando su sentido del humor, desde la espiritualidad, el sexo, el amor, el ocultismo a temas más de actualidad, la ficción científica, la nueva tecnología (...) Oro Molido





quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Memória colectiva de Geraldes Lino, falecido a 19 de Fevereiro 2019


GL no lançamento d'AcontorcionistA em 2012

Figura querida de muitos nós, autores de BD e editores de fanzines, eis um "corta-e-cola" de testemunhos de pessoas que o conheceram.

Ainda me lembro das tertúlias no estádio, houve uma que cheguei cedo 'tava lá ele, sentei e passado um bocado aparece aquele punk, que não me lembro o nome, de calças justas de leopardo, casaco de cabedal bafo a vinho e ar de quem não dorme muito a muito tempo, sentou ao pé de nós e os Geraldes a olhar para mim com um ar meio sem saber o que dizer, senti-o se um desconforto no ar para longitude dos dois personagens, mas logo se começou a desbloquear quando uns livros começa a mostrar e a partilhar conversa sobre bd. Uma pessoa muito fixe, sabia fazer críticas positivas e ajudar a motivar, a mim ajudou me na altura. - Lucas Almeida

Primeiras noites a viver em Lisboa, em 2002, e sai com uma turminha fora do vulgar, eu, o Geraldes, Pepedelrey, Ana Ribeiro e mais alguém que não me recordo. Final da noite decidimos descer até ao Incognito, pensei, vai ser impossível - muitos gajos e só uma mulher, vamos ser barrados. O porteiro "Dartagan" reconheceu o Lino, nem quis saber quantos éramos e quem éramos, entrem, entrem... "Ó Lino, queres o quê?" (acho que ele pediu um vodka limão). O "Dartagnan" tinha feito BD no passado e claro que conhecia o Lino. Noites mais tarde, situação similar mas desta vez no Lux. O porteiro reconheceu-o não sei porquê... Talvez porque o Lino conhecia o dono do Lux, o Manuel Reis. Quando o Lino deixou de sair à noite, voltei a ser barrado às portas das discos... - Marcos Farrajota

É quase insólito pensar que o desaparecimento de um homem que não conhecia profundamente, me emociona. Mas ler o que escrevem sobre o Geraldes Lino neste momento, a forma como o recordam, reforça a imagem que sempre tive dele. De uma figura (de perfil singular - aquele nariz!!) que circulava elegantemente por entre todas as bancas, as feiras ou festivais, sempre com a mesma curiosidade, com a mesma gentileza, com a mesma humildade. Reconhecia os autores e os seus trabalhos, divulgava-os, independentemente do que fossem, se comerciais ou alternativos, e essa atenção, esse cuidado sempre me comoveu. Esse olhar "fraterno" e transversal era o que para mim distinguia o Geraldes Lino da amálgama de editores e curiosos. Recordo-me das suas palavras de incentivo quando leu o STABAT MATER ou o MANUELINÚTIL, que ele meticulosamente chamava de "fanzines" porque "livro de banda desenhada é outra coisa!", de me perguntar quando sairia o próximo, de me incentivar a não para! De uma conversa à mesa da Tertúlia, sobre o seu trabalho no aeroporto, e da sua paixão pela Banda Desenhada! E daquele nariz... - Patrícia Guimarães

O entusiasmo e generosidade do Geraldes Lino por pessoas e por BD extravasavam os limites do que era esperado. Lembrava-se sempre - O Francisco, eu publiquei uma BD do Francisco no Jornal Universitário - como se eu me fosse esquecer de coisas dessas, ainda para mais pagas. 
Não era só a tertúlia, mas o apoio que dava a pessoas que davam os primeiros passos na BD, que se destacava no Geraldes Lino. Fazem mesmo muita falta pessoas assim - generosas, abertas, que fazem pontes. Um activista e um pacifista da BD. - Francisco Sousa Lobo

Lembrar o Lino é simples: o gajo faz parte do meu crescimento desde os meus 11 anos. Lembro-me de tudo (a cena do Incógnito de que o Marcos fala, também) das cenas que vivemos em festivais, exposições, debates, salões, por cá e lá por fora, das festas no 25 de Arroios e no 4° andar do Areeiro, jantaradas, tertúlias e... Uma vida do caraças! Das tareias que me dava para corrigir o meu horrível português, as cenas que desenhava nas toalhas e guardanapos e que lhe oferecia. Aquele memorável momento de estar em Angoulême e um gajo qualquer, daqueles autores franceses famosos, entre duas cervejas me perguntar: és português? Conheces o Geraldes Lino? Daqueles dias em que ia ao aeroporto encontrar-me com o Lino e perceber o carinho que o pessoal que ali trabalhava dizia: o Geraldes dos bonecos. Eh pá são milhões de memórias. Mas as melhores levo-as comigo. - Pepedelrey


Pitchu, Lino e Manel, na ZDB, a jogarem o Jogo da Glória da Cru no Zalão de Danda Besenhada (2000). Foto: Pepedelrey

Eu gostava muito do Lino, como toda a gente. ele chamava-me por graça "o poeta" e ria-se muito com os meus disparates. não sendo eu propriamente uma pessoa intima dele, nem pouco mais ou menos, apanhava-o nas cenas de BD e tínhamos conversas divertidas. O Lino era uma pessoa de uma generosidade enorme além de ser um enorme coleccionador e conhecedor de fanzines e banda desenhada. - Rafael Dionísio

Geraldes Lino. Duas décadas de amizade. Longas conversas telefónicas. Efusivos encontros em eventos de banda desenhada. Sempre, sempre, sempre generoso. E transversal às mais diferentes gerações, incansável em colocar em contacto os mais diferentes elementos. E, curiosamente, sempre surpreso, quando a vida lhe retribuía a mesma generosidade. Na verdade, o Geraldes não tocou somente a vida dos autores (tivessem ou não participado em zines) mas também muitos outros elementos, ligados direta ou indiretamente à BD. Num dos últimos encontros que tivemos, expliquei-lhe como tinha surgido o meu atual site. A crítica e a divulgação que eu fazia no blogue bedê e no portal BDesenhada.com (com o qual o Geraldes chegou a colaborar) tinham findado em 2007. Em junho de 2013, por problemas de saúde, o Geraldes deixou de organizar a Tertúlia BD de Lisboa. E dois meses depois, surgia o Bandas Desenhadas. Expliquei ao Geraldes que, após a sua decisão, eu tinha optado por dar por terminada a minha "licença sabática", para "cumprir com a minha parte", como lhe disse. Fui brindado com aquele sorriso do qual já tenho saudades e um sentido abraço. E haverá centenas (senão milhares) de outras pessoas que terão histórias semelhantes, em que uma palavra ou um gesto do Geraldes os motivou a fazer algo. É um caso único. E devemos-lhe todos muito. - Nuno Pereira de Sousa (também chamado de enanenes pelo Geraldes).

Algumas coisas fixes sobre o Lino, que não devemos esquecer: 
- ele coleccionava desenhos das toalhas de mesa, que nós nem dávamos valor; 
- ele quer que digamos O fanzine, não A fanzine (e ele também me deu uma lição de francês à custa disso!) 
- o Lino adorava viajar! Cheguei a encontrá-lo em Beja, no Porto e até no EriceiraBD! 
- O Lino foi o melhor professor: no sentido em que a paixão que ele tinha pela BD, pelo meio, pelas personagens e pelo Desenho, foi notavelmente parte do que o tornou uma grande influência para tanta gente que hoje, em redes sociais, relatou o impacto que a figura dele teve no seu trabalho e na vida. 
 Até sempre, Geraldes Lino! - Mosi


Jogo de bola em 1994, na Amadora, com o Lino como árbitro da partida...

Em 1999 fiz o workshop do Marcos Farrajota na Bedeteca de Lisboa. Tinha 13 anos e só sabia que gostava de banda desenhada - não sabia que não percebia nada, especialmente de que podia auto-publicar banda desenhada ou o que quer que fosse. Este Julho da minha vida fez com que imprimisse uns 5 exemplares do Uaite on Bléque na impressora de algum familiar, pronto para mostrar aos colegas na reentrée do 8º ano - foi devidamente desprezado pela turma toda, claro. Poesia imberbe, umas fotos manhosas, sei lá mais o quê. Mas mais rápido que um relâmpago, há um senhor que telefona para minha casa a perguntar por mim, e quantas páginas tinha o zine, como tinha sido impresso, o meu nome, a tiragem, e um sem fim de detalhes que eu desconhecia ter que saber, no fundo da minha puberdade editorial. 
Acrescia-se ao inquérito um convite para participar numas tertúlias ('numas quê?') de banda desenhada às quintas feiras, nas quais eu não podia participar porque enfim, não tinha autonomia para tal. A voz dele era peculiar. ~(Justiça poética, talvez, para o homem que passou a vida a coleccionar o peculiar em Portugal.) Conheci o Geraldes uns tempos depois, pois acho que lhe fui vender o meu zine em mão num festival da Amadora. Sei que fiquei impressionado com a voracidade com que se tornou dono do meu A4 borbulhento (e sem banda desenhada, se bem me lembro). Caramba - fez-me sentir importante! Pergunto-me se não terá sido fulcral para o resto da minha vida ter tido contacto e receber uns cordiais mas incitantes 'parabéns' pelo meu primeiro zine (uma bosta, se ainda não se percebeu que era), da parte de um simpático desconhecido, ao que parecia, bastante entendido na matéria. Claro que foi fulcral... Obrigado, Geraldes Lino. À sua. À tua! A esta dívida-dúvida que vai ficar para sempre de não saber se estávamos em termos de 2ª ou 3ª pessoa, eu e o Geraldes, sem dúvida singular! - Filipe Felizardo

Conheci o Geraldes Lino em 1994, quando eu preparava uma dissertação de licenciatura sobre fanzines ('os' fanzines, como ele gostava de lembrar...). Mantivemos algum contacto esporádico por esses tempos e, de forma mais regular, a partir de meados da década seguinte. Como tantos outros ilustradores e autores de BD, tive o prazer de colaborar nalgumas publicações organizadas por ele e de receber uma homenagem na célebre tertúlia do Parque Meyer. Naturalmente curioso, e com uma amplitude de gosto notável, o Lino era aceite em muitos círculos e por gente de todas as idades, que se esquecia facilmente de que ele já ia mais adiantado na vida... Estivemos juntos em diversas ocasiões. Recordo a mais recente, quando pude conhecer, por seu intermédio e do Marcos Farrajota, um dos meus desenhadores preferidos da revista
Visão. E, ainda há poucos meses, trocámos e-mails sobre um outro autor, obscuro e retirado... Não cheguei a saber se os contactos que lhe passei deram fruto, mas parecia evidente que a sua curiosidade se mantinha aguçada... É com surpresa que recebemos a notícia da sua morte, tal a jovialidade que irradiava. Salvé, Grande Lino, e que a memória perdure! - Daniel Lopes 

O Geraldes Lino foi a primeira pessoa que conheci que ligava aos fanzines e não era da minha geração! Conheci-o numa feira no Goethe Institut, nos idos dos anos 90 e fiquei logo impressionada com a militância na cena. Convidou-me logo para a tertúlia, como convidava toda a gente, porque para além de coleccionador e divulgador ele tinha uma enorme vontade de reunir as pessoas à volta daquilo que mais gostava. Em todas as feiras em que o encontrei ao longo dos anos, vi como acompanhava o trabalho de toda a gente, sempre com o mesmo entusiasmo. E muito para além do entusiasmo, o mais importante para mim é o respeito que ele tinha pelo trabalho de cada artista, mesmo dos mais novos, ao ponto de achar que aquilo valia a pena ser guardado. Uma vez contei-lhe que tinha feito uns fanzines de BD com uma turma do 8ºano e ele não descansou enquanto não me comprou esses zines. Devem haver coisas na sua colecção que já nem o próprio autor tem e que são documentos importantes de uma prática artística que consiste basicamente em tirar fotocópias aos trabalhos e agrafá-las. E sim, é por causa do Lino que nunca mais disse "uma fanzine"! Até sempre... - Ana Menezes

Conheci o Lino pouquíssimo tempo depois de publicar a minha primeira BD, uma coisa manhosa, num fanzine de amigos mais manhoso ainda, com uma estética em que nada combinava com nada. Ouvia já falar dele, e imaginava assim, uma figura pública, com aquela arrogância das pessoas importantes. Uma noite fui ao lançamento de uma Bíblia do Tiago Gomes, e passava-se numa discoteca qualquer. A certa altura vejo o meu ex, que tinha saído por um bocado, entrar com o Lino, os dois de braços dados, como se conhecessem há anos. O Lino vira-se para mim, e grita entusiasmado "Tu és a Rechena, eu li a tua BD!" Depois disso fomos para Beja juntos, fomos para encontros obscuros de zines em Almada. As Tertúlias do Estádio. As Tertúlias dos bons Garfos. Dos Cinéfilos Bedéfilos. Uma vez tirou dinheiro do bolso e disse, toma lá 20 paus vai lá fazer o teu fanzine. Eu que passei a vida toda à margem, com ele encontrei uma família que permanece até hoje. - Andreia Rechena

É quase sempre fácil falar dos que partem com a voz do consenso. No caso de Geraldes Lino, não há nada de forçado nisso, porque o consenso existia mesmo e tinha a sua origem num gesto constante que, para mim, e suponho que para muita gente, caracterizava a pessoa que o praticava: o gesto da curiosidade, absoluta, generosa e genuína. Lino gostava de banda desenhada, sim, e muito, mas esse gostar não se mostrava daquele modo elegíaco e cristalizado que tantas vezes atravessa o meio. Gostar de banda desenhada não lhe encerrava as referências ou as preferências naquilo que já conhecia há muito, e que era muito, também, levando-o, antes, à procura constante do que de novo se ia fazendo. Feiras de fanzines, encontros de pequenos ou minúsculos editores, exposições nos sítios mais improváveis, em todos esses sítios se encontrava Geraldes Lino. E não era apenas a vontade de ampliar uma colecção cada vez maior, não, era vontade genuína de acompanhar o que se fazia de novo. Não consigo lembrar-me onde conheci Geraldes Lino, porque a minha memória me diz que o fui vendo sempre nestes espaços. Se calhar, foi na Fábrica da Cultura, no tempo do FIBDA, mas também pode ter sido numa daquelas feiras de fanzines que se faziam em Cacilhas, nem vou contar há quantos anos... Pouco importa, na verdade. Com ele aprendi muito, soube de edições antigas e de autores que desconhecia, e discuti umas quantas vezes. E era bom discutir com Geraldes Lino, porque ele o fazia com vontade de debater, sem aquela amargura que às vezes serve para não ouvir o outro lado. Não terá havido um autor de banda desenhada a surgir em Portugal, publicando numa editora consagrada, num jornal ou numa publicação fanzinesca de tiragem minúscula e imperceptível que tenha escapado ao interesse de Lino e será impossível transformar em qualquer valor quantificável o quanto lhe deve a banda desenhada portuguesa, sob tantos aspectos. Pela minha parte, sem acreditar que se passe alguma coisa depois do inevitável momento final que a todos nos toca e tocará, não deixo de imaginar Geraldes Lino num qualquer além a descobrir fanzines onde ninguém suspeitaria da sua existência. E a corrigir-lhes as gralhas e os erros gramaticais com o seu rigor de sempre. - Sara Figueiredo Costa

Conheci o Geraldes Lino em 2008 na minha primeira visita ao Festival de Beja. Estávamos na sua quarta edição e penso que descobri a sua existência porque um dos convidados era o Dave Mackean. A maior surpresa do festival acabaria por se tornar o Geraldes Lino. O Lino estava sempre pronto a falar connosco e a dar a conhecer não só a BD como esta pequena comunidade de leitores. A partir dele conheci a famosa tertúlia de BD de Lisboa e nela muitas outras pessoas com quem ainda hoje mantenho contacto. Vi projectos nascerem naquelas mesas e, também graças a ele, descobri esse mundo fantástico dos fanzines. O Lino era um daquelas pessoas inesquecíveis, duvido que alguém que tenha travado conhecimento com ele, por mais breve que tenha sido, o tenha esquecido. Foi um dia triste, vou ter saudades dele e das suas conversas não só sobre BD, mas sobre a língua portuguesa também. Porque se é para escrever é para escrever bem. Um grande abraço Lino e, sinceramente, obrigado - Gabriel Martins


GL com Tiago da Bernarda, Maio 2018

Quando alguém morre o que fazemos com o contacto que temos guardado no telefone? Já não serve. Podemos terá estúpida tentação de ligar mas sabemos que não está lá ninguém. 
«GLino» «Eliminar contacto – Este contacto será eliminado». Para sempre. 
Já não vai tocar como acontecia às vezes, era o Lino a ligar, uma pergunta, uma combinação, a energia de sempre a organizar mil coisas. Cruzávamo-nos muito aqui no bairro, conhecia-lhe os hábitos. Se via o velho Micra estacionado na minha praceta já sabia que o encontrava na casa de cópias do Carlos, onde facilmente improvisava umas micro-tertúlias fanzinescas. Acarinhado pelos meus filhos, que conheceu desde que nasceram, era figura do nosso quotidiano familiar: «Pai, encontrei o teu amigo Geraldes Lino». 
 Adeus, amigo Lino! - João Chambel

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Deserto / Nuvem a viajar pelo país

foto: Nuno Neves

Os 20 livros seleccionados na edição do prémio Design de Livro 2018, a partir de amanhã e até 20 de Março, estarão na Escola Superior de Design de Matosinhos. Seguem depois para a Faculdade de Belas Artes do Porto, entre 25 e 29 de Março, para depois regressarem a Lisboa e serem apresentados na Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, a partir de 22 de Abril. 
O livro-duplo Deserto / Nuvem faz parte desses vinte...

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Info-excluídos

Como sabem novidades editoriais do "underground" agora só lendo o jornal A Batalha (faz 100 anos este mês!!!) mas como há sempre objectos que chegam tarde demais ou não fazem sentido por outras razões, de vez em quando, como um agarradito que volta ao vício eis-me a escrever de uma coisita ou outra. Nem sei o que me deu mas ando a curtir a CD colectânea Som das Ruas, vol. II (Sindicato; 2016). Farto do 4 por 4 do Punk / Hardcore / Oi  / Crust e afins ando eu, farto do Rock linguagem morta ainda mais. Mas lá 'tá, é o factor guilty-pleasure ou de junkie com recaídas ou o ADN Dead Ramones Clash. Como não achar graça à letra  Ela gostava de sado-maso dos Clockwork Boys? Ou curtir à energia de Gazua? Ou o basqueiro Taberna? E barulho do bom de Disthrorne (granda Carina!) ou Dokuga? Sei que já não estamos em 1982 ou 1992 mas deu-me para isto...
Som das ruas vai no terceiro volume e cartografa as bandas portuguesas desta subcultura nos últimos anos, num esforço colectivo delas realizarem um objecto fácil de produzir (dividir custos) e de divulgar (quanto mais bandas mais se espalha a palavra). Claro que há uma coisa chamada "internet" mas vá, a malta curte é discos físicos e não ficheiros mortos do capitalismo. Claro que um "artwork" mais interessante seria desejável para ser mais um factor diferenciado contra a 'net, essa puta da babilónia onde se pode comprar este CD por 3 paus apenas. 
Dica da semana, invés de gamarem imagens de rufias ingleses podiam pilhar as imagens deste livro: Excluídos : Memórias de (Sobre)vivências 1836-1933 (CM de Lisboa; 1999) sempre teria mais haver com o espírito de rua (português?) que proclamam nesta série de discos. E claro, seria fixe que os Mandrake não pusessem o seu único tema em três registos físicos diferentes. Zeus!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Vencedor 500 paus 2019



Os cinco membros do Juri desta edição do concurso interno da CCC, Toma lá 500 paus e faz uma BD decidiram unanimemente o projecto vencedor!

All Watched Over by Machines of Loving Grace é uma antologia de BD com as participações de Amorim Abiassi Ferreira (texto), Ana Maçã, André Pereira, André Vaillant (design/ web), Cátia Serrão (ilustração), Cláudia Salgueiro, Dois Vês, Félix Rodrigues, João Carola e Vasco Ruivo. Será um livro de cerca de 104 páginas a sair no final do ano na Colecção CCC.

Segundo a sinopse do projecto: A Revolução Digital, também chamada de terceira revolução industrial, é o nome dado ao processo de substituição da tecnologia mecânica/ analógica pela tecnologia electrónica/ digital. Começando entre os anos 50 e 70 do século passado com a adopção e proliferação dos computadores e da conservação digital de informação, continua até hoje. 

Central para esta Revolução é a produção em massa de circuitos transístores e as suas tecnologias derivadas, das quais as principais são o computador, o smartphone e a Internet. Estas inovações tecnológicas marcaram o inicio da chamada Idade da Informação. A criação da world wide web e por consequência de um Cyberespaço a escala global, intensificou a velocidade, o alcance e o ritmo da informação gerada em todo o mundo. Todas as facetas das nossas vidas têm um “correspondente” na internet: amigos, compras, notícias, comunidade, aprendizagem, livros, conversas, jogos, música, relações, filmes… 

O futuro parece caminhar no sentido de se tornar cada vez mais imaterial e a imagem de uma conversa entre dois seres conscientes, um feito de carne e osso e o outro de circuitos e placas de alumínio, está cada vez menos distante. 

All Watched Over By Machines Of Loving Grace é o nome emprestado ao poema do poeta americano Richard Brautigan.

Foram entregues seis propostas, das quais cinco foram aceites. Curiosamente depois de termos forçado a criação de com antologias na edição do ano passado, foi neste ano que dois projectos de antologias eram superiores às propostas a solo!

Esta antologia foi seleccionada pela temática pertinente para os tempos que correm e com a abertura suficiente para se realizarem trabalhos de cariz especulativo e de reflexão sobre a Internet, o mundo digital, a interpenetração entre real e virtual, isolamento, excesso e manipulação de informação, apatia, controlo, redes sociais, alienação, entretenimento, etc... De facto, existem algumas participações como a do André Pereira, que é notoriamente a que mais se destaca pela positiva devido aos diversos aspectos que foca como o controlo de conteúdos, automatização dos mecanismos de regulação, vigilância e pressão social por parte das redes sociais e como consequentemente tudo isso acaba por estar intimamente relacionado com o capitalismo e as suas múltiplas configurações; ou a do Vasco Ruivo que consegue de alguma forma explorar uma estética surrealista quase vaporwave invocando uma "interzona" entre o real e o digital.

A antologia vai ter presença digital na forma de uma plataforma que pretende desafiar os visitantes com uma experiência diferente. Aqui, o mundo digital e o mundo real surgem numa experiência colaborativa. Um paralelismo entre duas realidades que ilustra o quanto a diferença entre real e virtual é cada vez menor. Este paralelismo torna-se evidente pela interacção do visitante no site, que é visível a todos os que se encontrem online nesse momento. O visitante também pode mexer e alterar a posição dos elementos na página, de forma a que o próximo visitante veja o site sempre diferente, como se de um livro deixado em cima da mesa por um leitor anterior se tratasse.

Por fim, este AWObMoLG também revela novos talentos, tão essenciais a uma renovação da Banda Desenhada portuguesa. Tal como um novo gadget electrónico acabadinho de chegar pela transportadora privada, estamos excitadíssimos com esta antologia! Gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto, gosto


Ficam aqui algumas páginas:







A Associação Chili Com Carne agradece a todos os sócios que participaram nesta iniciativa, em especial aos que pagaram a sua quota anual e permitiram o prémio monetário - há mais de três anos que as quotas anuais dos sócios tem como objectivo financiar o concurso "Toma lá 500 paus!" invés de serem apenas um mero "investimento" para o consumo das nossas publicações.

Esta iniciativa tem ainda o apoio do IPDJ e relembramos que graças a este concurso foram já publicados cinco livros, a saber: O Cuidado dos Pássaros / The Care of Birds (vencedor de 2013) de Francisco Sousa Lobo, Askar, O General de Dileydi FlorezO Subtraído à Vista de Filipe Felizardo, Acedia (vencedor de 2015) de André Coelho e Nódoa Negra (Vencedor de 2018) de várias autoras.


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Sobre os autores: são muitos e mandaram biografias muito divertidas mas tudo junto é um testamento para vocês, nobres leitores. Elas irão aparecer na secção de Autores quando o livro sair. Até lá podemos resumir apenas as participações dos autores em projectos nossos do passado: André Pereira participou com BDs curtas nas antologias QCDA #1000 (2013) e QCDI #3000 (2015) e no livro d'O Gato Mariano (2019) de Tiago da BernardaJoão Carola e Vasco Ruivo no primeiro número da revista Pentângulo, da escola Ar.Co., cujo segundo número Carola e Pereira também entrarão com a Dois Vês; e, Cátia Serrão participou na antologia letã š! #20 / Desassossego, de que fomos parceiros nesse número especial.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

6º concurso interno de Banda Desenhada da Chili Com Carne : Toma lá 500 paus e faz uma BD!

A sexta edição do concurso 500 paus irá revelar o projecto vencedor na Quinta-Feira, dia dos namorados, caramba!

Recebemos seis propostas mas só CINCO é que foram consideradas válidas, mais do que o ano passado - que tinha a "antologia" como formato, o que pode ter desmotivado as participações - mas menos do que os anos anteriores.


cartaz de Hetamoé (uma das participantes de Nódoa Negra)

A Associação Chili Com Carne lançou a ideia de um concurso para fazer um livro em Banda Desenhada para matar a modorra na cena portuguesa, tendo sido publicados já vários livros como Askar o General de Dileydi Florez e O Subtraído à vista de Filipe Felizardo, trabalhos que participaram no concurso. Em Outubro de 2015 saiu a primeira obra vencedora (do primeiro concurso, de 2013) ou seja, The Care of Birds / O Cuidado dos Pássaros de Francisco Sousa Lobo, seguido em Outubro de 2016 do romance gráfico Acedia de André Coelho e em Outubro de 2018 a antologia Nódoa Negra.

Cá estamos de novo à espera de novas aventuras editoriais!






Instruções (não muito complicadas):
Para quem? 
Para Sócios da CCC com as quotas em dia - não é sócio? então é clicar neste LINK.

O prémio é monetário? 
É sim! 500 paus! 500 Euros!
Para além de que o trabalho será publicado!
E, para a próxima edição, o vencedor é convidado a fazer o cartaz e a integrar o júri!

Quem decide o vencedor?
Os cinco vencedores dos outros anos! A saber: André Coelho (Acedia), Sara Figueiredo Costa (Nódoa Negra), Francisco Sousa Lobo (O Cuidado dos Pássaros), José Smith Vargas e Tiago Baptista.

O Júri reserva-se o direito de não atribuir o prémio caso não encontre qualidade nos trabalhos propostos.
Datas?
4 de Fevereiro 2019 é a entrega dos projectos!
14 de Fevereiro 2019 é anunciado o vencedor!
O livro é publicado em 2019!?

 Regras de apresentação dos trabalhos
- O livro não tem limite de páginas e de formato mas porque desejamos inseri-lo nas nossas colecções já existentes - Colecção CCC, QCDA, LowCCCost, THISCOvery CCChannel - o projecto terá mais hipóteses de ganhar se for apresentado num formato das colecções.
- Preferimos o preto e branco mas a cor não está totalmente afastada!
- Envio do seguinte material:
a) texto de apresentação do(s) autor(es),
b) sinopse do projecto
c) planeamento por fases (com datas)
d) envio, no mínimo de 4 páginas seguidas e acabadas, e 20% das páginas BD planeada.
- Todos estes elementos devem ser entregues em PDF, em serviço de descarga em linha (sendspace ou wetransfer) cujo endereço deve ser enviado para o e-mail ccc@chilicomcarne.com

Que projecto pode ser apresentado? 
- Uma BD longa de um autor ou com parceiros
- Um livro com várias BDs do mesmo autor (desde que tenham uma ligação estética ou de conteúdo)
- Uma antologia de vários autores com um tema comum (ver Nódoa Negra, por exemplo)

Boa sorte!
CCC
Este projecto têm o apoio do IPDJ