Outro texto que ficou perdido no tempo, viva as férias para recuperar e finalizar o artigo mas de resto como já sabem, as antigas resenhas que eram publicadas aqui foram prá
A Batalha...
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Vive-se uma estranha confusão por aí, sobre o facto de "girl power" significar "feminismo". Se estamos perante alarvidades como as Spice Girls ou a Capicua ou em mulheres políticas que dizem barbaridades como a Joana Amaral Dias (ela que vá para a Índia com as suas propostas de transportes públicos com espaços exclusivos para mulheres) então estamos em modo de Neo-liberalismo tosco, que produz grandes porcas como a Margaret Thatcher (Rest In Pain!), Theresa May ou Christine Lagarde! Já temos o badalhoco do Trump neste triste mundo, não precisamos de versões femininas da mesma bosta. Na sociedade portuguesa, que nunca foi de grandes lutas sociais desde que o "Cavaquistão" se instalou, vê-se agora muitas mulheres dondocas armadas em grandes
sistas e preocupadas com o
status quo do seu género. Isto cheira-me a preguiça e a ignorância. Gostaria de as ver
nas corajosas manifs dos queers, ou contra a tourada ou contra a empresa Monsanto, por exemplo, e não apenas em manifs de mulheres.
E há algumas que fazem isso! Elas vão a essas manifs para levar porrada cega e cobarde dos bófias-cães-de-guarda. As outras, as que ficam em casa no "Fezesbook" e só saem quando se fala de "direitos das mulheres" são um novo fascismo populista P.C. (nem os comunas terão nisto culpa, pobres diabos) que de imaginativo nada trás - só castra (ui!). Felizmente existem órgãos de comunicação com pés e cabeça, como a revista galega
Revirada, que esteve presente na
Zine'R'Us no Festival Feminista de Lisboa no ano passado. Mais bonita em linha do que fisicamente, mostra que em Espanha há sempre malta que junta esforços e mete-se em aventuras reais e impressas. Seja para discutir a violência ("e se as feministas usassem a força?" é o tema do #2) ou sobre identidades (#3) ou ainda sobre o desporto
Roller Derby, há aqui informação para as portuguesas se informarem, afinal de contas os textos são redigidos em galego, castelhano e português. Outra surpresa dessa feira foram
As Bruxas de Blergh, pela
Sapata Press, com aspecto
trashy e de fanzine "corta-e-cola", pretendem meter medo à antiga, quando uma mulher mais "prá frentex" era logo considerada ser uma bruxa. Já que têm a fama que tirem o proveito! Assim, estas Bruxas dão ferramentas para fazer "voodoo" sobre os políticos fachos do Brasil. Trump entra como extra, claro... Espero que resulte!
Falando da Sapata, eis um projecto que só uma estrangeira poderia fazer no país em que todos vivem como ratinhos bem-comportados - e ratinhas! A
Cecília Silveira começou um projecto para
inverter a sub-representação de mulheres e dissidentes de género nos espaços de produção de banda desenhada, e a secundarização destxs na história. Publicando projectos de cunho biográfico/ político e/ ou experimental através da perspectiva de autorxs de diferentes origens e backgrounds
. É isso aí! Em pouco tempo já editou uma meia-dúzia de zines muito bem produzidos - ou devemos chamar "chapbooks" ou "plaquettes"? - de autoras brasileiras e portuguesas, como o
Lado Bê de
Aline Lemos,
Coração Partido de
Ellie Irineu,
Sensui de
Dois Vês e
Fundo do Nada de
Ana Caspão (que participou na
Visita de Estudo ao Milhões).
A primeira coisa quando pego nestes zines é pensar se haverá uma forma feminina de desenhar, ou de escrever, enfim de fazer BD? Claro que Anke Feuchtenberger ou Julie Doucet ou Jucifer escrevem / desenham de forma diferente do resto dos idiotas da BD comercial-mercenária mas também o fazem, os masculinos Atak, Chester Brown ou André Lemos - ou o queer
Sam Wallman, já agora. São artistas e não macacos-de-imitação. Justamente por isso chateia-me ver que Irineu ao querer contar uma lamechice use desenhos e legendagens que poderiam ser de uma série comercialóide qualquer; que a Aline Lemos apesar do texto muito pertinente seja mais uma "Angeli", ou seja, a sua representação caricatural do íntimo vira para algo genérico como uma vulgar tira humorística - que continua a ser uma marca da BD brasileira - sendo queer ou straight!; e, que Ana Caspão desenhe como estivesse a fazer super-heróis ou séries de
Sword & Sorcery. Talvez neste último caso, se desculpe a figuração porque Caspão faz uma BD onírica dentro de um universo "fantástico". Aliás, ela parece ser a única pessoa em Portugal que sabe desenhar este género de coisas com estilo e pujança, está pronta para ir prós "comics-books" dos gringos, se ela bem quiser. A legendagem topa-se que está deslocada do desenho e cria frieza, como é que alguém que consegue levar o leitor para tão longe numa metáfora sobre a vida (da autora? de todos nós que crescemos?) e depois deita tudo a perder com letras mecânicas, cartuxos de textos de "marca branca", onomatopeias e balões de BD vulgares? Ana, caga nas convenções da BD, (re)inventa tu outras para o teu trabalho! É um belo livrinho seja como for mas o mais belo deles todos é o da Dois Vês, talvez inspirado no filme
Ama-San de Cláudia Varejão, sobre a rotina do trabalho e a respectiva anestesia alcoólica de uma mergulhadora. É um "loop" sobre o delírio que a vida pode ser, num estilo gráfico super-elegante cheio de texturas. Belo, merece uma imagem grande neste "post", tomem: