depois dos batráquios
eu e o meu cansaço:
gosto de vir aqui água
ali barreira betão barragem
entre mim e os ribeiros são sonoros
para um vulto aquático:
um portanto batráquio
a água espelha as margens árvores
e eu recebo a dádiva do lugar:
um estilhaço de paz
longe das pessoas
(aqui não sinto medo
nem vontade de morrer)
estar muito em silêncio tempo
é dar autorização a que bichos
e árvores
se aproximem
atiro pedrinhas à água
e ela mostra-me circulos concêntricos
de geometria líquida
os batráquios correm grotescos
no fundo do lago extraterrestres
como homens de esponja orgânica
agora chegou uma pessoa
e quebrou a harmonia do lugar
odeio-a e gostava de a matar,
para reencontrar a paz
passado um tempo
o homem de ganga azul-rock afasta-se,
e eu fico outra vez com esta bacia hidrográfica
para poder pensar à vontade
estou ao pé
de uma mini queda de água
não é nenhum fenómeno notável
mas para mim está a ser estar importante,
aqui sentado com ela no tempo presente do indicativo
esta cascata é igual a um cão
na maneira como me faz companhia
tento refrescar a minha cabeça
tão lodamente de pensamentos eutróficos
cheia...
mas estou com pressa
e tenho que me ir embora
(nota: este texto foi escrito em sintra, um dia depois de ver os desenhos anfíbios do andré lemos)
2 comentários:
e que bom era, se sempre houvesse textos assim, quais derivados de visitações artísticas.
gostei, sim sim.
que paneleiroce,já andam a trocar poemitos!
Enviar um comentário