Três antologias de bd, duas vindas da ex-Jugoslávia e a outra da Roménia.
Balkan Twilight (Vladimir Palibrk; 2007) é da Sérvia e Komikaze #6 (Komikaze; 2007) da Croácia, mas as duas são almas-gémeas: capas negras, colaboradores nacionais e alguns internacionais, coincidência de usar colaboradores comuns - em alguns casos com as mesmas histórias -, o aproximado formato 17x23cm (tornou-se um standart das antologias após os livros do colectivo esloveno Strip Core ou do Mutate & Survive), ambos assumem nas suas páginas as línguas maternas e a inglesa em perfeita orgia línguista, e ambas tem um suplemento (escondido nas badanas) com traduções das bd's escritas naquelas línguas "jugoslavas".
A única diferença é que Balkan Twilight pretende explorar temas dos Balcãs mesmo que os colcaboradores sejam estrangeiros como o italiano Alberto Corradi ou o esloveno Jakob Klemencic (que participaram no Mutate & Survive). Depois disso é o bordel de propostas em que é dificil dizer qual das duas antologias será a melhor... a Komikaze ganha porque tem mais páginas e menos trabalhos amadores mas por exemplo. Mas o mais estranho é que alguns dos cromos mais interessantes de cada país está menos bem representado na antologia da sua nação... O Balkan tem uma bd do croata Igor Hofbauer, um autor a seguir com muito cuidado, mas só aparece em "cadáveres-esquisitos" no Komikaze. Ao contrário, o sérvio Aleksandar Opacic, um hiper-activo do desenho bizarro já publicado no Mesinha de Cabeceira, tem três bd's no Komikaze... Um processo de reunião jugoslava ou a razão de haver tantos conflitos por aqueles lados?
Do Balkan, para além do Igor Hofbauer, há os "clássicos" Wostok e Aleksandar Zograf, o Septic - que Opacic e Zograf já me tinham falado quando estiveram no Salão Lisboa 2003 - um desenhador que meterá inveja a ilustrador de capas de bandas de Metal, e a francesa residente na Croácia (creio? começo a estar baralhado) Johanna Marcade que apesar de ter alguns vícios da formação francesa (creio que ela estudou em Angoulême...) tem nas suas mãos um texto bastante alucinado de um tal Radovan Nastic.
Do Komikaze, que é também o nome de um colectivo bastante animado pela dinâmica Ivana Armanini, sinceramente há trabalhos mais apelativos no geral, desde o nosso André Lemos ao Pakito Bolino (do Le Dernier Cri), da canadiana Nina Bunjevac ao francês Craoman (com um estilo preverso "cuty-pie"), os tais "cadáveres-esquisitos", etc... tudo se cozinha num livro com aspecto negro e forte. Só a capa mete respeito.
Ao lado da Sérvia, no país do Drácula e de outros horrores há malta que se diverte a fazer e editar bd num país com poucas tradições na bd. O colectivo Hardcomics lançou o sétimo volume de bd, dedicado à "Primeira experiência sexual" e com o apoio da Playboy romena!
Parece (quase) um livro pra putos dada a capa dura e à entrada haver aquela coisa que muita gente já faz como brincadeira, que é "Este livro pertence a _________". Depois disso é muitos pénis, algumas mamas e poucas vaginas em registo de humor juvenil orgulhosamante disseminado em inglês ou em romeno sem tradução possível. Acredito que a "coisa" esteja a fazer furor na Roménia porque se trata de genuíno - a julgar pela apresentação no Komikazen, a apresentação mais divertida sobre bd que já assisti - e se a maior parte da produção é muita amadora não deixa já de haver trabalhos (daqueles que se compreende) com interesse, sobretudo pela sua força gráfica apesar de serem muito "street-art". São os casos de Saddo, Matei Branea (um dos editores) e Alexandru Ciubotaru. De referir, os "stills" do filme de animação de Pierre Delarue (ok! é um francês!), os cães digitais a copular de Omar e a bd de Roman Tolici, um Hino ao Amor em jeito de vexo & siolência vectorizado... Não há dúvida que das 120 páginas a p/b (e algumas a cores) irá surgir qualquer coisa nos próximos anos. E se me perdoarem o cliché cito o Dracula (Bram Stocker) «- Not so! Alas! Not so. It is only the beginning!»
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