Mais atrasos em comentar material "undagroundxi" que obrigam à famosa expressão "rapidinha", originária do Brasil humorístico. É um país estranho o Brasil, ainda à poucas semanas estava ver uma série de tv -
Os Filhos do Carnaval - que mostrava vários extractos da sociedade brasileira. Por mais miserável que a vida das classes mais baixas pareça quando chega a hora do Carnaval e do Samba, pimba! O pessoal fica com aquela cara de "bobo", de felicidade infinita que nem os budistas conseguem. Algumas imagens da série mostravam isso muito bem. Haverá razão para a maior parte da produção bedéfila brasileira ser humorística? É mesmo uma característica genética?
Isto para dizer que é difícil encontrar bd brasileira sem ser humorística mas talvez duas recentes produções de Brasília venham discordar com esta afirmação... ou talvez não!
A
S&V (Kingdom Comics; 2008) é um zine em formato A5 impresso a preto e branco e vermelho, feito pelo autor
Gabriel Góes que deve ser um especialista em desenho Pop porque em várias bd's muda de estilos, um a lembrar o grafitti / street art, outros a lembrar o "indie" norte-americano dos anos 80 e 90 (em
upgrade como o estilo do galego David Rubin), outro próximo das degenerações de Gary Panther -
Soco! é um super-herói Manga todo lixado. A acompanhá-lo, outro Gabriel mas este é
Mesquita, também degenerado mas como se estivesse nos anos 50 no pior episódio de super-herói espacial e atómico aliás, a bd que faz é publicada num suplemento que é o Capitão Atómo nº32 (pois claro, o número 32!). Esteticamente tudo muito longe da tradição caricatural mas ainda assim completamente virados para o humor. Um humor já não da piada
Chiclete Com Banana mas mais sofisticado por ser iconoclasta e absurdo.
A CCC distribui este zine aqui.
E voltamos ao
Samba (Kingdom Comics; 2008), desta vez revista [sic]! Na redacção além dos "Gabrieís" junta-se Lucas Gehre, e nas páginas mais outros talentos e a malta do zine
Bongolê Bongoró. Ou seja, toda turminha de Brasília e arredores dançam por aqui em pleno ataque de energia criativa.
O índice de humor e
non-sense aumentou (com os "bongolês" seria impossível isso não acontecer) , bem como o número de páginas e as cores da impressão - é completamente a cores. O formato é o comic-book e de antologia com 12 criativos ligados à bd, ilustração e literatura.
Existe uma continuidade de intenções vindas do
S&V sendo o "número 18 do
Capitão Atómo" (sim, o número 18, claro está!) incluído, bem como o "número 2 do
Soco!" mas com vontade de ampliar a esfera de interesses e de influência.
Editorialmente talvez a revista seja um bocado confusa e a desperdiçar as páginas a cores em alguns casos, ao jeitinho brasileiro do "que se dane". Ainda assim, uma óptima publicação para quem procura do Brasil uma bd mais próxima dos valores da "geração
miniTonto".