Empregado do mês: David Libens
Le Couloir ; Les Dunes
David Libens, Philippe Vanderheyden (arg. em "Les Dunes")
L'Employé du Moi, 2002, 2007
David Libens é um fundadores do colectivo L'Employé du Moi e um dos seus membros mais interessantes enquanto autor de bd. Talvez porque ainda é um "fanzinista" - que edita periodicamente um mini-zine intitulado Ça va?, que responde à pergunta do interessado, trata-se de um zine de carácter autobiográfico ou "perzine" (como lhes chamam os norte-americanos) - ou porque David tem um traço tão "ratty" e descaradamente "económico" que lhe permite contar histórias à flor da pele.
Um tema comum destes dois livros separados por 5 anos de edição é sobre a "dor dos vivos", dos que assistiram à morte de familiares e/ou amigos e que "aqui" ficaram, na vida pautada pela rotina da sociedade industrializada.
Em Le Couloir, bonito livrinho de 200 páginas A6, o tratamento do tema começa com uma bd de título homónimo numa versão redesenhada - a primeira versão tinha sido originalmente publicada no zine Spon, em 1999 - que tem algo de fantástico, em que um alter-ego de Libens, acorda nú numa sala e ao longo da história percorre outras salas e corredores, perdido. A dada altura percebe-se que se trata de uma alegoria da vida: Libens é alimentado, vestido, esbarra-se numa festa, vê TV,... Até que é obrigado a ficar dependente da Sorte, uma roleta decide se deve viver ou se é enforcado - ou será que lhe é dada a opção de se enforcar? A seguir temos …et des poussières, uma bd autobiográfica (pura & dura) que explica porque Libens redesenhou a primeira história.
Les Dunes não sabemos se Eric é alter-ego do argumentista Phillippe Vanderheyden ou não. Não sabemos se o tratamento ao personagem, ao qual ficamos a saber que vive apaticamente depois da morte da sua mãe, tem alguma ligação à "realidade". Mas considerando que toda a história é feita sem artíficios ou fantasias, é de considerar que a eventualmente a experiência relatada possa ser de Phillipe, e mais friamente, de qualquer europeu ocidental deste século que viva numa cidade e trabalhe no "sector dos serviços".
Seja como for ambos livros acabam por ser uma espécie de "a vida continua", pequenas catarses dos autores, em que os ritmos do quotidiano absurdo são brilhantemente apanhados por Libens.
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