domingo, 31 de dezembro de 2023

"Fumar já não sabe a verdade"

 


Este ano não me atraso com a resenha do novo disco dos Conferência Inferno - espera, não é o álbum de 2023 para estar aqui no último dia do ano, aliás, acho que nem ouvi nada deste ano que pudesse dizer alguma coisa desse tipo! Dica da semana, estejam atentos à Rasga pelo sim pelo não... 

Mas vá, apareceu o "segundo difícil álbum", Pós-esmeralda, pela incansável Lovers & Lollypops, que pouco coisa adianta em relação ao LP de estreia, pois continua a sua verve 80s nas letras e instrumentos, aquela voz de quem tem os polegares enfiados no cu, entre o Ian Curtis e Rui Reininho, em que por uns momentos podíamos estar a ouvir faixas raras dos Joy Division ou GNR, conforme o baixo ou linhas de sintetizadores. A insolência juvenil das letras é sempre fixe de ouvir e este é um disco bastante agradável - um elogio acho, dado a existência de tantos discos que são insuportáveis. 

Realço um momento alto no disco, o tema Pigmento que depois do seu momento típico "ConInf" passa para um inesperado e belo Dub. Esperto este "badwave" trio mas despachem lá o "one-trick pony"! Irão longe se tiverem audácia! 

E um Bom Ano Novo com este "álbum do ano", cóf cóf cóf

Gatunos comix... ESGOTADO mas com simpática resenha espanhola!


A Frrrrrança tem o Samplerman, os gringos o Christopher Sperandio... em Portugal temos o 40 Ladrões também ele a vasculhar o inDUSTriaLIXO da BêDê e a colocar desCOOLonização mental. 

Parte dos trabalhos já tinham aparecido no zine Ce ci n'est pas une bite de canard (2014) e o "40" também participou no Pentângulo

Já sabem são 30 anos de existência do Mesinha de Cabeceira em 2022, este zine fez parte das comemorações!!

Saiu na Feira do Livro de Lisboa 2022 mesmo para meter nojo às bestas editoriais.

ESGOTADO mas ainda pode ser que haja na Kingpin Books, Tinta nos Nervos, Tigre de Papel, Senhora Presidenta, Matéria Prima, Socorro, Legendary Books, Tasca Mastai, Alquimia e Utopia.


Limitado a 100 exemplares, capa a cores, 36p. 18x24,5cm, a preto e branco excepto 4 páginas a cores.


FEEDBACK


Este Smash é uma pérola!

Luís Barreto


Este livro é muito fixe!

André Ruivo


Great Stuff!

Silent Army


Esta publicación alucinante cuya portada hace pensar en Samplerman contiene piezas que, en realidad, se alejan bastante de los collages abstractos del francés: quien o quienes se encuentran tras el pseudónimo de 40 Ladrões recurren al collage y al apropiacionismo, pero, más bien, para provocar efectos distorsionadores y resituacionistas en iconos del cómic, especialmente los de Disney. La cita de William S. Borroughs en el título del comic hace pensar en su técnica del cut-up: se trata de crear algo nuevo de pedazos de lo viejo, bucear en el cómic industrial infantil y juvenil para recortar y recombinar sus imágenes en otras nuevas, perturbadoras, escatológicas o, simplemente, de una provocadoramente gamberras. Pero también, en ocasiones, críticas. Como reza una de las viñetas de la historieta titulada «Smash the Control»: «All copyrights infringed».

Geraldo Vilches

sábado, 16 de dezembro de 2023

Apresentação e Festa do Vale dos Vencidos HOJE


Apresentação com Andreia Farrinha, José Smith Vargas e Marcos Farrajota, às 16h + Festa do Vale com PhantomFocolitus e Kafundo NoSoundsystem, às 21h na Casa do Comum (Lisboa) no âmbito da Parangona 2.




sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Tigre da Piscina (agora em podcast)


Marcos Farrajota foi falar do seu trabalho editorial da Associação Chili Com Carne na Tigre de Papel. Foi do tipo concerto Happy Grind mas sem as bóias. Podem comprovar agora com o podcast.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A Fábrica de Erisicton // ESGOTADO em 2021 mas ainda com bom feedback!

 


O fanzine Mesinha de Cabeceira voltou numa onda de "back to the basics" após cinco anos de ausência. Este retorno às origens humildes de uma tiragem baixa de 100 exemplares, como fanzine / zine / perzine (riscar o que não interessa), tal como em 1992 (ano do primeiro número) tem a razão de ser para dar voz a autores desconhecidos / novos / fora de qualquer radar (riscar o que não interessa).

Começamos com A Fábrica de Erisicton de André Ferreira que é uma BD eco-psicadélica inesperada sobre a destruição do Alentejo pelas culturas super-intensivas que se praticam. O grafismo é tão naíf como visionário, com poucos sítios para segurarmo-nos se não fosse o facto da mensagem ser tão desesperante. O aviso já pouco serve, o Destino está traçado, como se vê nestes anos estranhos que vivemos, em que nada mudou em termos de atitude ecológica, a borregada quer é viajar e poluir. 

Resta-nos estes pedaços de arte colorida e imaginativa em singelas 24 páginas. 
Obrigado André!



Mesinha de Cabeceira #29, edição da Chili Com Carne, Abril 2021, 24p a cores 18x25 cm, capa a cores, 100exemplares.



ESGOTADO, ainda devem encontrar exemplares na Linha de Sombra, Neat Records, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, Utopia, Alquimia e na ZDB.



sobre o autor: faz música sob o nome de Goran Titol - que poderá participar este ano numa colectânea da nossa série Música Portuguesa a Melhora-se Dela Própria -  animação em técnica de "stop-motion" com ajuda da Mãe Natureza e é autor da BD tendo participado na antologia Venham +5 e com o livro a solo Ouro Formigas (2013), ambos publicados pela Bedeteca de Beja.


 FEEDBACK: 

Panfleto libelo anti-destruição da natureza em nosso torno, disfarçado de reconto mitográfico psicadélico (...), breve passeio alucinado que deveria antes servir de guia para redescoberta da nossa paisagem e manual de instruções para a sua recuperação... 

segundo a Tinta Nos Nervos 


 Fico espantado com a quantidade gigantesca de livros que são publicados actualmente. Florestas inteiras de papel impressas com todo o tipo de inanidades e de vacuidade. A esmagadora maioria vai, certamente, acabar nas debulhadoras de reciclagem, resultado da mais completa indiferença e esquecimento. 

No entanto, as paredes e sombras erguidas por estes livros inanes ocultam e obliteram os outros livros que valem a pena a ler, soterrando-os para os confins da vista. A Fábrica de Erisicton é um manifesto eco-activista inspirado no livro VIII das "Metamorfoses" de Ovídio, baseando-se na história da mitologia grega do rei Erisicton que depois de cortar com um machado uma árvore sagrada, é castigado com uma fome insaciável, que o vai obrigar a devorar-se a si próprio. 

A sobre-exploração dos recursos e da terra pelas culturas intensivas que se multiplicaram na paisagem alentejana, são o pano de fundo desta metáfora desencantada. 

O desenho colorido psicadélico e naif de André Ferreira, profundamente poético sem ser panfletário, devolve-nos uma imagem irreal e delirante, mas simultaneamente tão próxima e implacável, resultante de um capitalismo tardio, cujo último estertor prolonga-se agonizante, mas sem permitir vislumbrar o que se seguirá. 

Como assinalou Mark Fisher "o capitalismo está de facto talhado para destruir todo o meio humano. A relação entre capitalismo e desastre ecológico não é uma coincidência nem um acidente: a «necessidade de um mercado em constante expansão» do capital, o seu «fetiche do crescimento», significa que o capitalismo se opõe pela sua própria natureza a qualquer conceito de sustentabilidade." 

Com toneladas de livros inúteis espalhados por todo o lado, a edição de singelos 100 exemplares de A Fábrica de Erisicton está esgotada, o que se lamenta, pois este volume devia estar permanentemente disponível e com o autor em digressão ininterrupta pelas escolas, integrando um plano de leituras e de discussão transversal a diversas disciplinas curriculares.

My Nation Underground



Entrevista no P3 / Público

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ccc@festa.do.livro


Uma selecção de livros nossos vai estar na Fundação Oriente na sua Festa do Livro, a partir de amanhã até 17 de Dezembro. A selecção implica artistas orientais - como o tipo do gato ou o Yokoyama -, artistas que usam a estética Manga (André Pereira, Marko Turunen ou Ilan Manouach) ou trabalhos que abordam cultura oriental (REP, Tiago Manuel). 

De resto, dia 2 de Dezembro, às 16h, lançamos lá o Tóquio Zombie de Yusaku Hanakuma com presença dos editores Marcos Farrajota (Chili Com Carne) e Cassiano Soares (Sendai) e a artista Hetemoé.

sábado, 11 de novembro de 2023

ccc@FEIA#3


 

Vai haver terceira FEIA na Casa do Comum, lá estaremos com a nossa selecção de livros do nosso catálogo que tratem de música (REP, Balli, Gato Mariano, Nunsky), tenha música (Travassos, Zimbres + Mechanics, Krypto) ou os artistas sejam músicos (Coelho, Pita, Smith, Mariano, Rudolfo, Manouach) ou ainda edições fonográficas nossas. Faremos bons preços!! 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Humanos : A Roya é um rio

Baudoin & Troubs

figurandorecuerdo(s); 2019


Edmond Baudoin é uma figura ímpar na BD francesa com uma longa carreira que foge às modinhas da indústria, especialmente quando começou nos anos 80, em que não era fácil partir o molde do álbum franco-belga com maminhas à mostra. A relação com Portugal não é normal, como aliás, como acontece com outros autores – olhem o espanhol Max que foi publicada uma BD n'A Batalha #288/289 -, quero dizer, ambos fartaram-se de nos visitar mas publicá-los ‘tá quieto! 

Baudoin visitou o Salão Lisboa 2000, depois passou tantas vezes pelos festivais de BD da Amadora e de Beja que perdi a conta e ainda voltou em 2020 à galeria Tinta nos Nervos em Lisboa, sempre com exposições de originais estupendos. Ainda por cima, ele é um amor de pessoa, cheia de boa disposição, simpatia e humildade, quem não teria a vontade de o editar? No entanto, até hoje, só saiu uma BD curta na revista Quadrado #2 (3ª série; Bedeteca de Lisboa; 2000) e o livro A Viagem (Levoir; 2015) - que faz parte daqueles 10% dos títulos que merecem ser lidos na horrorosa colecção Novela Gráfica que saí com o Público todos os anos. Querem mais? Procurem este álbum em galego-português porque não há mais nada para quem não atina com o francês, daí justificar-se divulgar aqui um livro com data de 2019.

Feito em parceria com Troubs, outro autor de BD francês que gosta de viajar e que em conjunto contam com pelo menos cinco livros editados, ambos vão retratar as caras de refugiados e de pessoas que os apoiam na sua marcha – sendo que essa solidariedade pode ser punida por lei. Roya, é um rio entre França e Itália, onde acontece um diário jogo do “gato e do rato” entre refugiados (ilegais) a tentarem passar as fronteiras e a bófia mas também das associações de apoio ou de apenas indivíduos insubmissos que decidem ajudar os refugiados. Mais que uma BD com um sentido narrativo clássico é uma galeria de retratos e de pequenas histórias, com algumas derrotas e algumas vitórias, como só Baudoin poderia “caligrafar” com a sua tinta. São belas as caras de todos estes humanos que os governos tentam desumanizar ou diabolizar. E se o exercício parece fútil ou exploratório, isto é de desenhar os retratos de pessoas em stress ou trauma, na realidade, é na realidade apenas um subterfúgio para quebrar o gelo, para que essas pessoas comecem a falar das suas histórias pessoais, de longe está a estetização da tragédia alheia.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Será a caneta mais poderosa do que a espada?




A edição portuguesa do Monde Diplomatique tem publicado, sob a nossa coordenação, as respostas a este desafio em Banda Desenhada por uma série de artistas. 

Este mês é a vez da Matilde Basto (2001, Lisboa), licenciada em Ilustração na London College of Communication. Tem um trabalho de ilustração diverso e experimental com foco em exploração de técnicas de impressão. Publicou o seu primeiro trabalho de banda desenhada em 2022, Casal de Santa Luzia, integrado no zine Mesinha de Cabeceira.

domingo, 5 de novembro de 2023

Somos os melhores ou lá o que é...

 


Segundo o Flynn Kinney, um bom gringo que vive em Lisboa, e que colabora no fanzine Bubbles. Este Top 10 é de 2022 e saiu no número 16. Fixe, mámêne!

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing


Conheci a Ravenna este ano e demorei a digerir esta sua k7 intitulada Selected Works 2017-2019 (AMDNP; 2022) sobretudo porque é uma caixa de surpresas. Apesar de ser mais conhecida como saxofonista - o que me pouco interessa como instrumento, devo admitir - começa logo com uma tortura electrónica Noise inesperada, e essa sensação de espanto irá continuar ao longo da fita o tempo inteiro. Depois dos doze minutos de tortura, vai para o saxofone, depois para música(s) ambiente(s), toca piano, guitarra, capta gravações caseiras embriagadas, "field-recordings" e dronaria, iá, é a mulher dos sete instrumentos! O que torna difícil avaliar o conjunto da obra, pelo menos desta forma amadora como faço aqui, neste blogue. O engraçado é que todos estes temas dispersos em géneros e anos (apesar de não creditados) estão unidos de uma forma que parece uma peça única (no bandcamp da Ravenna isso até é assumido como tal), o que cria uma sensação de viagem ou de sonho. Graças a isso nós, meros mortais, podemos absorver esta jornada sonora sem problemas de erudição musical, ufa! O problema é sempre passar os primeiros doze minutos!

sábado, 21 de outubro de 2023

Crianças que alucinam, masmorras, entregas ao domicílio, dates antes e depois da da pandemia, cartas tarot, insónias, casas que morrem, entrevista a Carlos "Zíngaro" e muito mais como sempre...


QUARTO número da revista 

PENTÂNGULO
uma co-edição Ar.Co. e Chili Com Carne


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128p. (32 a cores) 16,5x23cm, capa a cores, design de Rudolfo

Pentângulo é uma publicação que confere visibilidade ao trabalho de novos autores cuja formação tenha sido feita no curso de Ilustração e Banda Desenhada do Ar.Co. Sem hierarquias, nomes consagrados e estreantes, alunos, ex-alunos e professores misturam as suas imagens e palavras numa saudável promiscuidade.

Neste quarto colaboram Pedro Moura, Ana Dias, Catarina César e Simão Simões (obra colectiva), Ana Blockveld, Simona Slovova, Tiago Baptista, Marta Baptista, Joana Matos, Carlos "Zíngaro" (entrevistado por Pedro Moura e Marco Mendes), Bruno Alves, David Pulido, Rodolfo Mariano, Diogo Candeias, João Lencart, Joaquim Afonso, Mar Cunha, Masha Motyleva, Pedro Saúde, Sara Baptista, Sara Boiça (também autora da capa), Ema Acosta, Matilde Ingham e Maria Giovanna Mura.

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Projecto apoiado pelo IPDJ e pelas livrarias BdManiaKingpin BooksLinha de SombraPaperviewSnobTasca Mastai Tinta nos Nervos.

além de estar à venda nas referidas lojas ainda se encontra na nossa em linha e na Alquimia, Sirigaita, Senhora Presidenta, Tigre de Papel, ZDB, Matéria Prima e Utopia.






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Historial: 

Lançamento a 2 de Março 2022 no Damas / Festival Rescaldo com um concerto de Carlos "Zíngaro" e Clothilde.

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vídeo no Bandas Desenhadas

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ilustração da capa por Sara Boiça selecionada para o BIG 2023

sábado, 14 de outubro de 2023

chichili cocom cacarne amada na Alquimia


Prostitutas decadentes, cirurgias plásticas bizarras, mascotes perversas de cadeias de Fast-Food, parafilias estranhas, experiências científicas malucas, ténias gigantes, crimes de faca e alguidar, portugueses no espaço e muito mais, num compilado de histórias curtas contaminadas com generosas doses de coliformes fecais e muitas outras bactérias nocivas.

Eis o que promete
  Holocausto de Merda 
de 
neste 18º volume da Mercantologia,
colecção dedicada à recolha de material perdido em fanzines e afins,
co-editado com o fanzine Olho Do Cu Comics Group.

São 52 páginas (16 a cores!) 16,5x23cm, capa a cores como bem podem ver, edição brochada e 333 exemplares apenas, ó filhote da Besta!

Disponível na nossa loja em linha, na ODC Comics Group, Tinta nos Nervos, Kingpin, Linha de Sombra, Snob, ZDB, Universal Tongue, Tigre de Papel, Socorro, Utopia, Alquimia, BdMania e Matéria Prima.


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FEEDBACK:

Na atual conjuntura pessoal, profissional e existencial da maioria das pessoas, só a saudável demência quase psicopática da BD Holocausto de Merda, (...) nos pode redimir. É a tábua de salvação SOS à prova de caruncho, béri-béri, depressões e outras maleitas aziagas que tanto importunam no dia-a-dia, isto para não falar em halitosis pungentis que pulula de boca em boca... O alto teor polinsaturado de sentido de humor escatológico e hardcore não é indicado para estômagos fracos e consciências de caca... hmmm... Mas se você for uma mulher ou homem de barba rija - VÁ!! Atreva-se e devore-a tresloucadamente como eu devorei! (...)
Ondina Pires via email 

É curioso que um livro em que os personagens passam a vida a peidar-se seja uma lufada de ar fresco. Eis uma obra (no sentido escatológico de obrar) que cumpre meticulosamente o que promete no título. Significante, significado, signo: tudo merda, em proporções bíblicas e directamente nas nossas bocas. A tira em que dois filhos menores entram pelo cu do pai para assassinarem à catanada um exército de lombrigas é uma das mais comoventes e literalmente profundas representações da ligação filial desde A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, para além de ter espantosas ressonâncias psicanalíticas: neste livro, estamos sempre na fase anal. O maior elogio que se pode fazer a estas tiras é a de que elas são completamente desnecessárias sob todo e qualquer ponto de vista. Por isso mesmo é que o Holocausto de Merda é um dos livros do ano: porque existe.
Pólipo Canibal in A Batalha

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Hoje é...

 


SEXTA-FEIRA 13!!! Para todos os tarados supersticiosos é melhor hoje não sair de casa, não vá um merdas de tuk-tuk (ou é tik-tok!?) atropelar-te! Mais vale ficar a ouvir música no sofá mesmo que seja este Pacto com o Diabo, recentemente editado pela Sinais e Universal Tongue - esta última uma editora que bem curtimos

Trata-se de uma colectânea de bandas nacionais de Metal a homenagearem os Black Cross, a mítica (cóf cóf cóf) primeira banda Black Metal 'tuga, sobre os quais as duas editoras já tinham feito, em 2019, um livro sobre a sua divertida história (escrevi uma resenha n'A Batalha, babes, fuck 'net!) incluindo também um CD que reeditava a demo-tape Sexta-Feira 13, de 1986, e mais uns temas extras ao vivo. Podiam ter ficar por aqui, toda a gente ficaria feliz, tipo História e Património recuperados, caso raro em Portugal, mas nãooooooooo... Nem é pelo pessoal ser metaleiro, porque esta doença do completismo, "peter-panismo" e elaboração de realidades paralelas calha a todos, dos maluquinhos dos Beatles aos da Marvel. 

Eis que avançam com revisitações sonoras os Decayed (esta sim a primeira banda "oficial" de BM'tuga, ou então a primeira de BM memo'à séria!), Morte, Martelo Negro, Cães de Guerra e os novatos Red Eyes, que infelizmente nenhuma destas bandas conseguiu melhorar o que era impossível de melhorar, isto é, uma banda metaleira dos anos 80 com letras muito naifs, de miúdos do Barreiro, fruto do seu tempo, colados a Venom e que só editaram uma demo. É certo que o "mito" em volta de Black Cross extravasa a demo-tape, concertos e a música porque há um culto ao kitsch da virgindade portuguesa naqueles anos em que podiam acontecer crossovers culturais bizarros q.b., hoje impossíveis de repetir. Os Black Cross que nunca tiveram uma carreira profissional sólida, ganharam notoriedade com um anúncio televisivo contra as drogas, e à pala disso foram meter nojo à "VIParia" da altura numa almoçarada institucional com o Presidente da República e Pop stars, apenas hilariante! Menos divertido são estas versões, que parecem apenas melhoramentos profissionais (execução, gravação) do que uma homenagem à séria. O que as bandas deviam ter feito era uma verdadeira orgia satânico-destrutiva para termos algo mais do que um simples "update" ao original. Como sabemos sempre que há "updates" no sistema, as coisas começam a funcionar pior... especialmente numa Sexta-Feira 13!

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ccc@fexti

 

cartaz de Amanda Baeza


Sábado 14. 17-18h Mesa de diálogo sobre el panorama del cómic en Portugal con João Sequeira y Marcos Farrajota. Conduce Pablo García Martín. 

Sábado 14. 19-20h Encontro con autoras con Amanda Baeza y Mayte Alvarado. conduce: elena Masarah

Domingo 15. 11-12h Charla sobre fanzines con Amanza Baeza, Marcos Farrajota y Roberto Massó. Conduce Gerardo Vilches.

+ info aqui

terça-feira, 10 de outubro de 2023

O meu 1bigo é meu amigo, o seu cotão é meu irmão*


A revista Umbigo publicou, neste número de Setembro / Dezembro, um diálogo gráfico entre Tiago Baptista e a Bedeteca da Amadora e com os vários livros da Chili Com Carne a serem bombados na bibliografia da peça!! Não percebemos qual a raison d'etrê disto tudo, admitimos que estamos confusos com os meandros da Arte Contemporânea mas obrigado, sei lá...


*Repórter Estrábico sempre!

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

O que é isto?


É o Vale dos Vencidos de José Smith Vargas!!

O próximo grande livro da Chili!!!

Está na recta final e esperemos estar presente na próxima BD Amadora até porque vai ter lá exposição destes originais!

Cruzai os dedos!

E ainda estamos a discutir as cores da capa!!!



Quem diria?


Fui ao Festival de Fanzines e BD de Alpiarça, assim em modo de "onde é mesmo Alpiarça!?" e comprei muito mais fanzines do que na capital Raia. Marado, não é?

Logo à cabeça peguei no novo número do Olho do Cu, cujo número 25 foi feito para sair no festival. Energia punk desta já não há em lugar nenhum! Engraçado as "vinhetas-BDs" de Lard a lembrar o surrealismo do Miguel Carneiro há 20 anos, o "goldenshower" da equipa Karimo e Sanchez (já lá vou) e sobretudo a BD dos "três estarolas do Metal" que confundem Holocausto Canibal e Carcass com o Holocausto de Merda do Carlos Carcassa, muitaparvo este A5!!!

Na mesma mesa do Olho estava uma antologia brasileira, onde Carcassa participou, intitulada Pé-de-Cabra - acho que confundi com aquela banda de Hardcore de Linda-A-Velha que tocava o Punk Pudim! O número dois, de 2019, tem como tema a "Doença" (mais um profético para os anos covid), e quem esperar daqui BDs realistas e intimistas sobre este tema, evocando os grandes Harvey Pekar (Our Cancer Year) ou David B (L'ascension du haut mal), esqueçam. O objectivo é escatologia gráfica para meter, e conseguem!, aquele nojo "underground" sem terreno beatificado. Destaque para o Diego Gerlach, um dos poucos artistas brasileiros que vale mesmo seguir e que ninguém em 'tuga tem colhones para publicar! Mas há mais malta com interesse para quem gosta de gangrena: Victor Bello, Panhoca (que é o editor da revista), Marcio Bocchini, Bruno Guma, Fábio Vermelho e Fralvez. Diga-se que o "besteirol" brasileiro está a ficar mais sofisticado e graficamente exuberante (mesmo quando trata de borbulhas e pus) no seu bom A4. Só por isto valeu a pena ir a Alpiarça!!

Depois numa mesa de uns miúdos (Colectivo Tribeart) encontrei umas produções bem amadoras e verdes dignas de chamar de fanzine nos anos 90 - embora se tenha de contactar a Biblioteca de Alpiarça para arranjar esta pérola, olha o zinewashing! O Among Us #0 ganhou-me o coração até porque era um "benefit" para um canil. Os miúdos agora só pensam em Manga e Anime mas já começam a javardar também com isso. Um pouco, creio - até porque se calhar eu não conheço as referências... Mas pelo amadorismo e aura naive, parece-me bem melhor que a tonelada de "dojinshis" (fanzines em japonês) que uma amiga minha trouxe recentemente daquelas bandas. Destaco uma tal de Beatriz, acho, porque ou não se creditam os trabalhos ou não se percebem as assinaturas, que faz uns monstros bem "cool". E também para uma BD infográfica sobre a Polónia, o país que mais guerras perdeu. A5 a cores porque a Biblioteca deve ter pago as fotocópias, ao menos isso...

Mas a melhor peça foi Valkiria do português Samir Karimo e do espanhol Miguel Ángel Sánchez, um projecto ibérico em que Portugal fica logo a perder porque só há edição em castelhano. Felizmente ainda haverá o dia que não consumirei cultura em "espanhol"! Editado pela MASK Comic Projects, em 2021, trata-se de uma história 36 páginas A5 completamente alucinante - o escritor Karimo gosta de se afirmar como "splatterpunk" - com um desenho maravilhoso à la Art Brut

- Oh, já sei, haverá palhaços a dizer que "até o meu filho desenha melhor que isto!" mas eu responderia logo: "olha, então que o merdinhas tente fazer o mesmo!" 

Aqui, os corpos nas BDs são de plasticina, ainda mais moldáveis que os torturados pelos Cenobitas do Hellraiser, isto para entrarem noutros corpos e dimensões ou para  serem penetrados por demónios e outras criaturas fantásticas numa cosmogonia muito particular e que estou ansioso para descobrir mais. Há mais zines que continuam esta "saga" (?) e brevemente vou lê-los. Só tenho medo de saltar de excitação não vá o diabo tece-las e entrar-me pela pila! Mais sobre estes bons loucos para breve... Ou no blogue da MMMNNNRRRG ou nas páginas d'A Batalha, veremos!

domingo, 8 de outubro de 2023

Colectiva CCC#6: "Carne Para Canhão" in Alpiarça


 
 A Associação Chili Com Carne é uma organização de jovens artistas sem fins lucrativos cujo funcionamento assenta na cooperação livre e espontânea dos seus associados. Desde a sua fundação em 1995 que temos promovido e desenvolvido as mais diversas realizações no campo das artes, que se têm concretizado, entre outros aspectos, na organização de diversas exposições e publicações. 

A última aventura editorial é o jornal Carne Para Canhão, que pretende ser uma publicação gratuita de crítica e reflexão sobre a Banda Desenhada.

Para a exposição Colectiva CCC#6 tomamos por base os trabalhos do jornal e complementada por outros trabalhos dos seus colaboradores, a saber: 40 Ladrões, Amanda Baeza, André Lemos, Ângela Cardinhos, Francisco Sousa Lobo, João Carola, Luís Barreto, Nunsky, Rodolfo Mariano e Rui Moura.

A exposição estará patente na Casa dos Patudos até ao final do mês de Outubro. Sendo que a Associação Chili com Carne esteve presente no dia 7 de Outubro no mercado do evento. E sim, quer dizer que Alpiarça será segundo local em Portugal com mais exemplares do Carne Para Canhão per capita! Ai!



sítio oficial em linha AQUI

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Agendas

vinhetas de Holocausto de Merda, de Carlos Carcassa

Este fim-de-semana que passou, a Chili Com Carne foi enganada, tal como muitas outras editoras e livrarias pela FLIFA, uma pretensa "Feira de Livro Independente" organizada pela Junta de Freguesia de Arroios, poiso de gente muito feia de direita em Lisboa (nitidamente com problemas de consanguinidade), o que coloca em questão onde está a "Comuna de Arroios", se não passa de um marketing de vendas de T-shirts...

O ano passado estivemos lá e foi um flop (de vendas) e com uma programação bizarra - lembro-me de uma tia e as suas crias bem treinadas a debitarem clichés sobre a "leitura". Mais, os carolas que se lembraram de fazer este projecto, dois gajos simpáticos armados em fura-vidas, já se queixavam que tinham sido enganados ou que o projecto tinha-lhes fugido do controlo, que a Junta pegou nas suas ideias e modificou como quiseram. Lembrei-me logo da história do Cais do Rock, em Póvoa de Varzim, que foi roubada ao Arnaldo Pedro e a sua "cru" nos finais dos anos 90, quando a Câmara da Póvoa registou o nome do evento. Para além de não ter feito mais nada com isso - e era um evento importante - impossibilitaram também ao Arnaldo de mudar de poiso se quisesse. Para quem ainda acredita no Estado...

Mas os carolas decidiram tentar outra vez! E novamente foram engrupidos - mas aceitaram de certeza o pagamento pelos seus serviços - e arrastaram umas série de editores que não concordavam com a programação, divulgada em cima do joelho, planeada maquiavelicamente, de forma a colocar no último dia e na última hora, uma conversa do decadente Pacheco Pereira com o Jaime Nogueira Pinto, um bostinha da extrema direita.

As Insurgentes foram as primeiras a recusar a participar no evento. O restante das grande maioria - claro que os cãezinhos da Junta disseram para a imprensa que só três editores é que boicotaram o evento - fechou as mesas por volta das 17h como forma de repúdio a ter presente um nazi num evento que se diz "independente" - mas que fez tudo para meter pessoas televisivas a promoverem o seu cuzinho ou que, pior, armou estas provocações infantis. Por isso, FLIFA nunca mais! Vão-se foder, palhaços!!!

Já no passado, numa Laica nessa mesma Junta - com regime PSD na altura - a coisa tinha sido amarga. O sucesso do evento foi estrondoso (de público, vendas, programação, tudo) mas o merdinhas do Presidente da altura, depois do fim do evento, só foi capaz de dizer isto: "não havia editoras de Direita", seja lá o que isso quer dizer...

Também neste mesmo fim-de-semana, recebemos um email a dizer "Remover" da Agenda Cultural de Lisboa. Foi o que fizemos imediatamente, tiramos da nossa "mailing-list", afinal, nunca foram capazes de divulgar um evento nosso ou uma publicação nossa. O "email do "remover" até era sobre o nosso jornal Carne Para Canhão, que só tem sido distribuído em Lisboa. Belo serviço público, putedo!

E já agora, em Agosto, andámos por Braga e acedemos à agenda do Theatro Circo. Na capa estava os nossos amigos dos Unsafe Space Garden (merecido!) mas reparei que de repente havia um suplemento na agenda intitulado O Dramatista, subintitulado O fanzine do Theatro Circo (o "bold" é deles!). Fanzine? Que me lembra, um fanzine nunca poderá ser editado por uma instituição (pública ou privada). Que eu saiba um fanzine é feita por pessoas que fazem por amor a uma causa e com poucos recursos. Que tenha reparado, um fanzine é uma publicação que edita informação pouco conhecida pela população, que se esforça em criar conteúdos originais e não apenas apenas reproduzir fotografias promocionais dos músicos que vão tocar num teatro público... Tudo isto cheira a a esturro. 

Em primeiro porque já devem ter reparado, nos últimos anos, como os programas de Culturgest, Gulbenkian ou vários teatros lisboetas, não poupam os tostões em fazer destas publicações hiper-luxuosas, cheias de brilhantes efeitos gráficos como vernizes localizados, cortes, papeis luxuosos e diferentes entre si, com pesadas gramagens, cores por todo lado mas também douradinhos e fluorescentes... Quem sou eu, editor pobreta, para criticar como as instituições gastam o seu dinheiro? Quem sou eu para pensar que um designer deve receber tanta importância versus os artistas dos programas? Mas não deixo de achar estranho, tal como as publicações das Juntas já agora, que haja tanto dinheiro para estes objectos gratuitos, enquanto que nós pequenos editores nos custa tanto fazer os nossos livros. Será que é assim que as Juntas e instituições pagam favores às empresas de comunicação por terem trabalhado nas  suas campanhas eleitorais? No caso das Juntas de certeza que é isso, com as instituições culturais, não sei, pode ser só corrupção e senilidade dos gestores deste capitalismo tardio?

Em segundo, já não basta a direita roubar constantemente as ideias dos radicais de esquerda ou anarquistas, as suas formas de luta social ou as suas manifestações contraculturais - por exemplo, o Metal cristão -, como ainda por cima, temos agora instituições públicas a quererem ser "cool" usurpando a cultura alternativa com "fanzines-agendas" ou "feiras de edição independente". Se com a GALP ou EDP vive-se o "greenwashing", nos museus de arte contemporânea é o "artwashing", então é melhor cunhar já um "zinewashing" para estes tempos manhosos que vivemos...

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Dois ou três pensamentos soltos (2)

O mundo das coincidências cósmicas é tremendo! Passado alguns meses depois de escrever estas linhas sobre livros de referência, pimba! eis que aparece o simpático HQ: uma pequena história dos quadrinhos para uso das novas gerações de Rogério de Campos.

E quem é o Rogério de Campos, perguntam vocês? Olha, só para começar é mais uma das cabeças da mítica revista Animal, foi o responsável de introduzir o Mangá no Brasil de forma coerente e agora é o "boss" da Veneta, uma importante editora brasileira de BD. Curiosamente conheci-o em pessoa no Festival de BD de Angoulême, em 2020, tendo valido a pena fazer tantos quilómetros para descobrir (sem querer) mais um ídolo da juventude!

O seu livro é uma tentativa de escrever sobre BD de uma forma excitante como Greil Marcus o fez com As Marcas de Baton (Frenesi; 1999) sobre os Sex Pistols e o fenómeno Punk (and beyond that!) mas infelizmente, a BD não é tão excitante na sua mitologia como o Rock, e falha nesse sentido. Em compensação invés de ser mais uma história chata da BD, Rogério, como mestiço e periférico cultural que é (e grande profissional do mercado editorial), soube misturar tudo numa narrativa sólida sobre a História da BD evitando os discursos simplistas dos cromos das várias indústrias de BD (o triângulo dourado França-EUA-Japão). Troca tanto e tudo que mesmo quando os capítulos sugerem uma dessas indústrias, ele acabará por falar de noutra coisa que parece não estar ligada. Por exemplo, o capitulo dedicado ao "Mangá" irá parar ao underground norte-americano, quando anuncia o capítulo "France" acabará por falar do grande assalto dos "comics-books" e sobretudo do Mangá no mercado europeu. Parece disparatado, dito desta forma mas não é de todo, muito pelo contrário, como ele nunca se perde e conhece bem os segredos profissionais deste mundinho da BD, tudo vai escorreito como um bom vinho. 

E ao misturar "tudo", não deixa os leitores ficarem nos seus guetos predilectos ou os seus "safe places". Ou seja, o perigo de um tarado do franco-belga ou do mangá de só ler o capítulo que lhe é querido é aqui impossível, terá de ler tudo para receber toda a informação que lhe interessa, porque tudo está interligado a dada altura. Cheio de observações interessantes, com capacidade de síntese e uma vontade explorar a política para o mundo da BD (o que os cromos acham isso herético!), só não lhe posso perdoar a ausência de assinalar o Guido Buzzelli como o primeiro verdadeiro artista na BD, as ilustrações centrarem-se quase todos no catálogo da Veneta e a falta de pensamento sobre as "minorias culturais" (que são só muito mais de metade da população do planeta mas enfim!) como as mulheres e não-binários. O texto ficaria ficaria maior mas, meu!, era 2022 quando saiu o livro e a Julie Doucet já tinha sido elegida como Presidenta do Festival de Angoulême nesse ano! Grave! Apesar destes pecadilhos e espartilhos masculinos, eis um livro que faz justiça ao seu título. Não é punk mas é rápido, curto e incisivo!

O norte-americano Christopher Sperandio voltou este mês a Portugal com uma exposição na Tinta nos Nervos e trouxe uma série de novos livros seus, um "teórico" e outros de "comix-remix" - o mais recente que saiu pela nossa parceira Kuš! terá uma resenha minha na próxima A Batalha

Comics Making : teaching the technology of comics (Argle Bargle; 2021) é uma colecção de ensaios de Sperandio de como fazer Banda Desenhada à sua maneira, isto é, usando BDs antigas e dando-lhes um belo de um tratamento "detournement" situacionista para passar novas mensagens (políticas). A ideia não é nova, claro, e nada melhor do que reciclar o lixo da História para fazer Arte nova, como os franceses Samplerman ou o Fredox e o português 40 Ladrões. Para política, o lixo se não for contemporâneo, como faziam os Situacionistas ou fazem os activistas "underground", coloca alguns problemas... 

Há um limite temporal-legal que Sperandio utiliza para usar o material dos outros para rapinar. Este tem de estar perdido para os olhos dos advogados da propriedade intelectual, e é por isso que ele (ou o Fredox e o Samplerman, já agora) usa "comic-books" com uma boa idade para cima dos 75 anos de existência, ou seja, quando essas criações entram em domínio público. A questão é como usar essa lixeira popular para as novas lutas sociais e políticas deste século, sem parecer anacrónico? Ou não ser uma dor de cabeça para o autor actual procurar imagens que tenham ainda aura para os dias de hoje? A mim parece-me impossível, especialmente quando não há quase mulheres representadas (uma conclusão que o próprio Sperandio indica numa BD no tal livro da Kuš!) ou "bem representadas" porque elas aparecem como meras companheiras dos homens, submissas e a servirem de isca para serem salvas pelo super-macho com músculos. E africanos ou asiáticos? Estes são também pouco representados, ou pior, quando o são, são subalternos, sub-humanos ou vilões! Não há "detournement" que valha quando a matéria visual é logo limitado em riqueza (ou na mera realidade) humana. 

Também não me parece que a evocação à Nostalgia, como arma de arremesso político seja uma boa ideia, porque a Nostalgia é do mais perigoso que há, usada pela Direita para nos adormecer com a retórica do "antes é que era bom". Até a Direita (a alt-right) sabe que mais vale usar uma bonecada Anime para fazer um méme racista e sexista do que usar uma imagem colonialista dos "bons velhos tempos". Esteticamente até parece que Sperandio quer dizer que os jovens de hoje são iguais aos dos anos 50 quando saíram tantos belos mutantes a partir dos 60! Não sei porquê, apetece-me voltar ao Burroughs mas desta vez citando-o: (...) he didn't want any juvenile connections, bad news in any language.

De resto, Sperandio faz uma boa súmula para principiantes sobre a tecnologia de impressão dos materiais e técnicas de como os reutilizar. Um erro num texto sobre a proveniência da palavra "zine" (diz que é de "magazine" e não de "fanzine") põe tudo a perder... Ignorância ou gralha? Ei-de lhe perguntar quando o apanhar por aí!

Como no "post" do ano passado acabei com um indicação a uma obra de referência portuguesa e o tema geral era sobre a raridade deste tipo de trabalhos no mercado nacional, eis que no mesmo ano foi feita outro livro sobre BD portuguesa também pela SHeITa. E sim, só se pode esperar merda, claro, porque é feita com o pior gosto dos "melhores" editores portugueses de BD. Convenhamos, a começar pela capa, o grafismo e desnecessária impressão a cores (receberam uns belos dinheiros comunitários para gastar à grande e à francesa), Conversas de Banda Desenhada de Carina Correia e João Miguel Lameiras é um terror editorial! Mas como nunca temos testemunhos dos autores de BD portugueses - a não ser quando arrotam postas de pescada nos festivais de BD, seca total! -, torna-se num documento bastante interessante para o público em geral (bom, pelo menos metade do livro) e para o que é especialista. Apesar do plantel escolhido ser um 50/50 de autores desinteressantes e de artistas com voz própria, em linhas gerais, pode ser bom para todos os que leram perceberem como se movem estes criativos em Portugal, e quando possível, o que lhes faz correr sem cansar.

Justamente, raramente se fala de Arte ou BD como Arte, o foco das entrevistas é quase sempre sobre o dinheiro e a carreira. Parece que me repito nestes dois "posts" mas é verdade: mulheres, claro, há uma apenas, a Joana Afonso, que apesar de ser uma boa artista comercial de BD (para quem gosta), é só mesmo isso, uma artista comercial croma de BD; o Luís Louro é uma cagão como sempre foi and we don't give shit; Filipe Melo y su muchacho nem me lembro nada para comentar tal a quantidade de clichés ditos; Osvaldo Medina revela ser um mero mercenário (a atitude dele perante os livros sobre o presidente angolano Agostinho Neto que "biografou" é exasperante) e creio que ele só está neste livro porque tal como a Joana Afonso fizeram álbuns de BD prá SHeITa; Jorge Coelho apesar de se o gajo que desenha prá Marvel revela mais sobre o underground lisboeta que alguma vez os ignorantes dos seus entrevistadores saberão (boa Jorge!); e é quando entram o Nuno Saraiva, Paulo Monteiro e Marco Mendes (os que podemos considerar artistas mais à séria) é que o livro torna-se iluminado com boas doses de poesia, humor, vida e experiências que fogem à mera "Bêdêzinha". Se calhar os outros até teriam algo para dizer (duvido muito) mas com os entrevistadores a serem apenas cromos da BD e da cultura Pop, a fazer piadinhas constantes sobre pitéus e cuja única pergunta repetida até à exaustão (e em alguns casos inútil) sobre um tema contemporâneo é sobre o que é que os autores acham destes tempos "perigosos" do "Politicamente Correcto" (ai ai ai que medo!),... Com perguntinhas destas nunca poderiam ir muito mais longe, parece-me. É pena! Ainda assim como já escrevi, fica aqui um documento importante para a posterioridade, dado que a BD é uma área de que ninguém (generalistas ou especialistas) parece saber nada de nada - incluindo a parte menos interessante como o dinheiro.