quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sexo Sueco



A Suécia tem pouco mais habitantes que nós mas com uma educação exemplar, o povo sueco gosta de livros. Ainda não sabe bem o que é boa bd mas pelo menos um livro de bd de autor vende 5000 exemplares, um valor suficiente para sustentar minimamente o negócio das editoras e a vida profissional dos autores. Não sei qual a origem deste fenómeno, como ele se desenvolveu, talvez tenha sido como em Portugal ou noutros países ocidentais, os autores e editoras de bd de autor (antigamente chamadas de "alternativa") começaram a produzir trabalho e livros, só que em países onde a massa alfabetizada e com hábitos de leitura o movimento consolidou-se, ao contrário em que este desapareceu. Na Suécia, as bd's dos anos 90 têm se pautado pela autobiografia, quase sempre tosca graficamente e eventualmente lamechas em conteúdo. Até poucos anos era uma cena fechada em si mesma mas que começou a mudar gradualmente com a edição de autores suecos nos EUA e uma aproximação artística aos vizinhos finlandeses. Mas de uma forma geral sente-se que a produção sueca pós-80 sabe a algo "sem sal" em quase todos os autores que tenho visto provando as acusações (externas) de que os suecos são uns chatos e matemáticos.

Creio que a Globalização irá mudá-los (como a todos nós) e o evento Alt Com mostra esses primeiros passos de mudança. O evento em si é uma fórmula do festival europeu com pouco dinheiro que não opta pelas festival hiper-cenografado europeu nem pela convenção ultra-comercial norte-americano. Uma ou duas exposições, as mesas de venda com editores, convidados estrangeiros (do Canada, Brasil, Portugal, Dinamarca, Finlândia e França), conversas com o público e umas festas fazem o evento - como acontece com o SPX em Estocolmo ou a Feira Laica em Lisboa, embora esta última não seja exclusiva de bd.

A diferença é que desta vez a bd era focada em algo mais social do que genérico da bd independente. Assim, a programação passava pelos trabalhos chocantes de Ivan Brun, o glamour violento de Ho Che Anderson, apresentação de Mangás pornográficas para mulheres, colectivos feministas ou o livro sobre a relação da bd e a propaganda, escrito pelo professor / investigador Fredrik Strömberg - ah! esqueci-me, em Mälmo, a cidade do evento, existe um curso universitário de bd e ilustração.
De certo forma as parvoíces mangakas estavam afastadas deste evento - não impedindo de haver uma gótica loura desesperada numa banca (ver desenho) - e uma sensação que as pessoas que iam ao evento eram as mesmas que iam a Estocolmo... Não falo dos editores e autores mas do público!
Para completar o evento, foi feita uma antologia internacional, com capa de Ho Che Anderson (primeira imagem) que era oferecido aos visitantes, sim... falo de um livro de 100 páginas menores que A5 100% gratís!!! Os suecos podem ser matemáticos mas deverão chegar lá, ao contrário dos portugueses que apesar de terem sido convidados para a antologia nada fizeram...

Resta dizer que a programação deste vento foi feita por Mattias Elftorp, autor/ editor que através do seu selo Wormgod publica na Suécia e contra o normal do que se passa lá, bd's polítizadas e cyberpunks, como a colecção Dystopia e a sua série Piracy is liberation.


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