O Dinheiro ou a Vida?

Da Argentina já conheciamos a editora Ex Abrupto mas curiosamente o que trocámos com eles foram edições sul-americanas de autores europeus, nomeadamente do francês Ivan Brun e o espanhol Miguel Brieva que têem alguns pontos em comum: ambos livros compilam material dos autores e ambos tratam de questões do absurdo neo-liberal da globalização. Os resultados e métodos é que diferem bastante.

Brun com Lowlife mostra-se como um cultor do pessimismo e da escatologia em que a barbárie passa pelos estractos sociais mais baixos, descrevendo a miséria e sobretudo mostra como são iludidos e violentados pelo sistema. A qualidade, as narrativas, técnicas e estilos de desenho das bd's variam tal como variam as datas de produção das próprias num período alargado de 1996 a 2006. Os separadores do livro no entanto lembram o trabalho de Brieva, pelo estilo de desenho (mais realista) e pelo humor mais subtil e irónico. É curiosa a convergência...

E por falar nele, três comics, Dinero, de Brieva são compilados num só volume homónimo. Brieva não faz bd nestas páginas e noutras espalhadas pelo mundo - até faz algumas bd's mas irregularmente, e aproveito para anunciar que caso encontrem uma bd dele sobre "estamos a viver o futuro inventado nos anos 50" que suponho que tenha saída numa Mondo Brutto, por favor avisem-me!!! Li algures essa bd e não sei porquê não sei onde encontrá-la.

Brieva é um iconoclasta do Capitalismo Selvagem ao nível das colagens de um Winston Smith ou das pinturas da Gee Vaucher (Crass). Desenha imagens de nostalgia triunfante - a lembrar anúncios ou bd's populares - com figuras e situações que à primeira vista glorificam o consumismo com a mesma leviandade com que se vivia nos anos 50 nos EUA. Os textos e alguns pormenores gráficos "mancham a "fotografia" como se pode verificar só pela ilustração da capa deste volume. O trabalho de Brieva está numa tradição do "cartoon" político com uma visão situacionista de usar imagens populares para vincular uma mensagem de crítica social. É divertido, sim senhor!