quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Inverter a cruz invertida! (Cristianismo 2 - Paganismo 0)



B Fachada : Há festa na Moradia (Mbari; 2010)
Tiago Lacrau : O Inverno Desinspirado do Rapaz do Sul do Céu (Um Disco Pronto e Sincero; 2011)

Não importa se és marxista ou de Marte, se és Punk ou Designer... é preciso ter pica e não ter medo de arriscar para fazer "coisas". Eis dois exemplos de pessoas que não conseguem estar quietas, dividindo um historial mais ou menos comum estão agora em pontos equidistantes.
Ambos fizeram parte da euforia FlorCaveira e na descoberta mediática e pública dos “cantautores” dos últimos anos. B Fachada começou pela estrutura FlorCaveira, não era cristão, era aliás o "primeiro pagão" nas fileiras da editora / colectivo. Fazia parte da estratégia da FlorCaveira em apostar na linha do "cantautorismo" abandonando lentamente os projectos Punk e Grindcore do passado. "B" fez/faz furor e há muito que edita por outros lados. As suas letras de puto blasé e a voz de sub-Zappa meio canino irritam pessoas sábias como eu. Tiago Lacrau (ou Guillul ou Cavaco) foi a peça principal da FlorCaveira e da incontornável popularidade destes "cantautorismos", tendo desenterrado criaturas como o Jorge Cruz, aproximado este tipo de artistas à estrutura para dar força a um movimento que conseguiu temporariamente expurgar-nos a lembrança de atentados nacionais como David Fonseca ou Old Jerusalem. Para além de militante e activista, mostrou ser um exímio produtor “lo-fi”, alguém com uma natural apetência para gravar Pop seja no quarto seja num estúdio luxuoso. Admite que não tem perfil para ser artista Pop, desistiu o ano passado de dar concertos e até da FlorCaveira que criou e desenvolveu.
O "Pagão B" quer viver da música e vive para ela, editando e dando concertos com regularidade. O "Protestante T" tem mais que fazer do que lidar com o mundo parvo da "indústria da música Pop" mas também vive de forma epidérmica para a música, tanto que dogmaticamente o seu “panque” e o seu cristianismo (que se intersectam ou se completam mesmo que sejam ideologicamente opostos) não o deixam ficar pelas regras do jogo instituído. “T” precisa de fazer coisas sempre com novas regras - as suas regras - e isso é que faz dele um artista, mesmo que nos arrepie o seu relacionamento espiritual com o cristianismo. Um artista concretiza a sua visão sobre o mundo, mesmo que tenha de pagar por essas escolhas, podendo ter como consequências o vedamento da difusão da obra, irritações no seio da comunidade, constrangimentos económicos, etc...
"B" e "T" tem usado as potencialidades de misturar música realmente tocada (por instrumentos e voz) com “loops” / “samplers” sacados aqui e acolá, e estes dois discos são novos frutos dessas explorações. No caso do "B" ainda não percebi o que se passa, são várias pessoas a acharem este disco um dos mais importantes da MMP dos últimos anos (?!). Se for então também pode levar o título da Pior Capa de Sempre bem como a pior "Font" Possível de Escolher. Eu que adoro vinis de 10" tenho vergonha de ter este disco na minha colecção - mantenho-o por respeito ao Camarada Fom-Fom que me o ofereceu no Natal. Porque raios gastaram tanto dinheiro num objecto tão feio? E depois o som está todo lixado, juro que pela primeira vez que acho que a versão digital de uma música é melhor que em vinil. Também não percebo porque nos vários sites se fala em "música de intervenção" de "B". Que eu saiba na minha terra, "crítica de costumes" não é "música de intervenção", e é isso que "B" sabe fazer (e bem): crítica de costumes tal como toda a Pop portuguesa está bem recheada disso (António Variações, G.N.R. ou Repórter Estrábico, para dar os melhores exemplos). O "Loop Pop" de "B" tem interesse, é um bocado repetitivo mas bem seleccionado o rapinanço sonoro. É também uma boa forma de sair do saco do "cantautorismo" que já ninguém aguenta.
"T" seja Guillul seja Lacrau já andava a fazer umas brincadeiras giras com "loops" de músicas evangélicas mas agora foi “samplar” o «satanismo soft-teen» dos Slayer!!! Isto poderá ser um choque para quem o vê como um Pastor Pop catita e esqueceu-se dos seus momentos agressivos de Borboletas Borbulhas, verdadeiro Hardcore de Jesus! Para fãs do “cultural jamming” (aqui invertido) há muito que esperava este regresso paradoxal de cristandade com xungaria metaleira, criando mais um exótico produto cultural. “T” decidiu deixar a promissora carreira de Estrela Pop para voltar com um CD-R em verdadeiro espírito DIY, com aquele prazer de fazer as coisas com as mãos e com o coração virado para o mundo: gravação caseira, sem masterização (acho bem, masterização é para pussies!), 333 exemplares de CD-R's gravados e numerados, capa em fotocópia a preto e branco,... como um verdadeiro punk ou metaleiro dos anos 90! Samplou um álbum inteiro dos seminais Slayer, South of Heaven (Def Jam; 1988), recriando-o faixa a faixa com novas adendas cristãs porque ele não percebe porque os Satânicos têm direito a melhor música que os Cristãos – a resposta é simples mas pelos visto “T” não sabe. O disco é um álbum conceptual em que emerge um enorme Sermão Pop-Metal desvairado. No futuro (ou agora no presente) ainda vão perguntar se estamos perante um génio ou um doido varrido! “T” até pode pregar o Nazismo que eu nem quero saber, qualquer gajo que consegue misturar Slayer com Raul Indipwo merece "respect bro!" - ainda o convido para pôr música numa sessão de unDJ MMMNNNRRRG!
"T" pode pregar as suas ofensas ao Grande Bode e os seus seguidores, que nós o perdoamos pela forma baralhada como o artista se encontra! Há uma percentagem de gajos assim, são poucos mesmo quando se chamam Horde, que pensam que estão a usar o Metal para converter os ímpios. Mas estes valiosos guerreiros de Cristo já estão perdidos nas garras manhosas e musicais de Lúcifer - Diabolus in musica. Tal como o disco de “B” este disco de “T” é um disco falhado mas por outras razões, tenta ser programático («este disco não é sobre música mas sobre o evangelho») mas o humor vai aparecendo e subvertendo o disco como um Eminem – e claro, Satananás ri-se lá nas adegas do Inferno! Humor é inteligência, inteligência é a luz de Lúcifer, será que o “T” agora percebe porque a música “satânica” é melhor? Baralhado com esse humor / inteligência / luz ainda goza na última faixa com a treta da cena Mod lisboeta – o que é uma cereja no topo deste bolo oferecido aos amigos do artista no passado Dia de S. Valetim. Assim sim, vale a pena ter amigos artistas!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Scorpio voting


A capa desenhada por João Maio Pinto para Scorpio Rising - livro escrito por Ondina Pires - esteve a votação popular nos Prémios de Edição LER / Booktailors 2010 na categoria de Prémio de Melhor Ilustração Original (capa) e... ganhou!
Esta votação tem influência em cerca de 20% sobre a decisão final do Júri. Teme-se o pior...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mini filme sobre o SPCC (okupa em lisboa entretanto demolida)

Acts change facts - Ten days at SPCC from Brussels_commons on Vimeo.



durante poucos meses o SPCC/A Casa Amarela foi ponto de encontro de pessoas de todo o mundo, escondido algures numa zona rica Lisboa. um dos visitantes fez um mini documentário sobre o que se passou por lá. é interessante especialmente para quem não conheceu o espaço enquanto esteve vivo e apenas o viu já decadente, quando fomos celebrar a demolição. ficam os testemunhos. o filme é (CC) e o autor fornece o vídeo em maior qualidade a quem quiser editar/adulterar/remisturar.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dada dada dada


A Daada Books é a "label" do finlandês Marko Turunen, inicialmente criada para publicar trabalhos seus, tendo pouco a pouco investido em outros autores como Katja Tukiainen ou os alemães Anke Feuchtenberger e Martin tom Dieck.
Em 2009, Turunen desistiu na sua editora, em parte desiludido com as vendas fracas destes autores fortes mas "difíceis". Tanto que o terceiro volume da série Ufoja Lahdessa já era publicado por outra editora. Passado um ano, a Daada volta e regressa aos trabalhos de Turunen com dois volumes de Der Round e o quarto volume de Ufoja (no prelo). Der Round são livrinhos A6 que dão a entender duas continuações do trabalho de Turunen, por um lado a exploração autobiográfica e iconoclasta que nos habituou com as desaventuras de "Alien" (seu alter-ego), só que desta vez Turunen usa "Der Round", o polícia do futuro que parece saído das bd's de Kevin O'Neill; por outro, explora bd's parvitas com animais ou seres antropomorfizados em situações mundanas, ou seja, temas que também já explorou no passado e que poderão ser vistos na antologia Supernormal. Nada de novo excepto pelo facto que o trabalho continua a ser único e atraente.
Entretanto o regresso da Daada também significa a publicação de trabalhos de alunos de Turunen. São livrinhos de putos com pouco mais de 20 anos cheios de vícios da idade: Manga, humor, animalitos e afins... Tudo muito verde e com pouco sumo, excepto Slaagi de Mikko Luostarinen, verdadeira ofensa visual e mental que parece um mau-híbrido entre o Mike Diana (o naíf, a violência) e Tommi Musturi (o virtuosimo, o psicadelismo). É uma antologia de trabalhos em que a melhor estória passa-se quando um grupo de skinheads ao cair num vórtice espacio-temporal vão parar algures a África subsariana...




Apesar do interesse muito relativo destes livros, são sobretudo uma forma simpática de publicar novos autores e de os lançar à praça pública. Seria bom ver o mesmo a acontecer com os alunos dos cursos de bd em Portugal, ao menos saberiamos que existem autores a sairem desses sítios... mas se calhar não existem autores novos nesses cursos. A sensação que tenho, especialmente depois de sair o Destruição é que na bd portuguesa não serve de nada haver cursos de bd, os autores continuam a construir-se nas margens do(s) sistema(s). Se a bd é marginal em relação às outras artes, é curioso reparar que é nessa mesma marginalidade que reside a sua maior força criativa. O que aliás, não é novidade nenhuma, são sempre nas margens que se encontram as obras interessantes e originais - seja na música, seja no cinema, etc... porque razão haveria de ser diferente na bd?

estes títulos podem ser adquiridos através do e-mail ccc@chilicomcarne.com - desconto de 20% para sócios da CCC.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Brasil X

Gefangene / Sem Saída
Koostella
(Zarabatana; 2010)

Este álbum a cores compila 31 bd's - algumas são de uma página só, as maiores de 4 páginas - em que o tema comum é a prisão, ou as prisões metafóricas da vida. Feitas num estilo alegre, sem palavras, num desenho simples e claro, estas bd's mantêm a tradição brasileira do Humor, com mais cinismo e crueldade que o habitual, ou pelo menos com uma crítica social e poliítica mais evidente em que podemos colocar numa linha que vem de Willem chegando a Ivan Brun. As cores e o movimento lembram Nik Neves, também ele brasileiro e actualmente a morar na Europa, tal como Kostella.

Este álbum custa 15 eur (20% desconto para sócios CCC), encomenda via ccc@chilicomcarne.com. Aproveitamos para anunciar que temos mais exemplares do excelente Vida Boa do grande Zimbres!