Laicidade é necessária...
Na Feira Laica, pude ficar totalmente actualizado das edições da FlorCaveira, editora de Roque com religião à mistura. Do lote o que destaco logo é o CD-R de Guel, Guillul & o Comboio Fantasma, Variações & Lutero (2009) que recupera gravações de 2001 quando a FlorCaveira queria dizer panque roque do senhor (com o cunho Protestante bem marcado) e não todo o "cantautorismo" que (infelizmente) tem impestado a editora nos últimos anos. Sim, o que fez a FlorCaveira um símbolo de exotismo Pop num país que não se quer exótico culturalmente foi esta mistura de Panque e pós-Grunge que criaram faixas clássicas como Tens um 666 escrito na testa ao mesmo tempo que assumiam a versão do grande António Variações. Um disco para relembrar bons velhos tempos - sem ironias.
Até os Pontos Negros que são uma nhonhice entre os Strokes e os Nirvana (mas em versão "radio friendly") soam bem com o EP (2007), para quem as outras edições da FlorCaveira tornaram-se insuportáveis. Neste CD-R os Pontos Negros estão bem afinados para uma Pop saudável e orelhuda que provam que merecem o sucesso comercial que tem no mediocre jogo da música Pop português. É estranho que tenham carisma mas resulta. Até a capa claramente inspirada em Pettibon (Goo dos Sonic Youth) tem piada e autonomia apesar de ter um modelo óbvio.
Este ano sairam novos discos de B Fachada - Um fim-de-semana no Ponei Dourado - e de João Coração - Muda que Muda -, o pagão e católico da editora respectivamente. Disco mais límpido do primeiro caso e no segundo caso não tenho ponto de referência porque é a primeira vez que oiço o Coração (que piadinha). São bons discos - assumo que estou a ficar velho MESMO! - com arranjos musicais Pop/ Folk bem feitos e com bom gosto como pouco se via em Portugal, as letras servem par os propósitos de cada um, a pseudo-ironia de B Fachada e o romantismo pintarolas de Coração. Alguns tiques e sons lembram muita coisa internacional neste último músico mas nada de grave, embora ache que os universos pessoais precisem de ser mais acentuados. As edições luxuosas q.b., longe da estética panque CD-R das outras edições da Flor Caveira, mostram uma editora empenhada em apostar no cantautorismo em português, para o qual respeito quando tem esta qualidade mas que não procuro ao ponto de não saber o que pensar / sentir sobre o disco de estreia homónimo do Lipe, excepto que parece que andamos nos Escuteiros..
Do lote todo o mais interessante é o split de Tiago Lacrau/ Te Voy a Matar - o primeiro é o Tiago Guillul disfarçado - que é o primeiro disco electrónico da editora. Quatro faixas dedicadas ao O Verão nostálgico do Tiago Lacrau, em que Tiago sampla o máximo possível em deliciosa preguiça veranil: Gorrilaz, Tom Zé, Mutantes, Vampire Weekend,... As letras em retrato social minimalista transformam as músicas em agradável hinos Pop como só o Tiago é capaz - ele terá uma costela africana? As outras quatro músicas são do Silas dos Pontos Negros, um Techno Chill Out básico e lúdico quase tão tonto como os cartons do autor - quando o gajo actualiza o blogue!? Ainda assim uma lufada de ar fresco esta "electrónica cristã" depois de tanto trintão deprimido de barba e viola em punho. Curiosamente em Variações & Lutero existe uma faixa chamada Exclusivismo Punk que mete uma electrónica toda fodida... Tiago e comparsas já escreveram o seu futuro?
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