Correu bem melhor do que se estava à espera... ou então, não! O público do Milhões de Festa não é o mesmo público-escumalha da Zambujeira ou o público-pseudo-alternativo dos outros festivais grandes de Rock. E compraram montes de livros, zines e discos,... A aposta foi ganha, se calhar nem havia uma aposta para fazer!
Chegamos na Sexta-Feira e ainda vimos esse monstro dançante Otto Von Schirach que compensou tudo antes e depois do festival. Quem não o conhece e dança a música deste tipo é parvo e merece morrer!!! Ainda houve nessa noite bandas revivalistas para todos os gostos sendo o melhor momento no meio disso o encontro em palco das duas bandas míticas lá da terra de Barcelos, os La La La Resonance (ex-membros dos The Astonishing Urbana Fall, uma das poucas boas coisas que aconteceram em Portugal nos anos 90) e os Black Bombaim. Foi uma espécie de "jam ensaiado" intergeracional porreiro que ao menos não soava a mofo ou a retro. Otto arrasou e não haverá mais nada de memorável dessa noite.
No Sábado à tarde, montamos as mesas perto do palco Taina, gerido pela Dedos Biónicos, e obtivemos um excelente contacto com o público. Um público que era pendular entre o Taina e o palco da Piscina - que não visitamos porque não podiamos deixar o posto, perdendo assim o grande "ex-libris" do Milhões e pior ainda, os Surya Exp Duo. A música no Taina pareceu a mais coerente do Festival porque focava em Rock e em Rock apenas, algum mais prá esquerda do cérebro outro mais convencional. Por exemplo, foi fixe ver que os Quartet of Woath são bons ao vivo apesar de serem insuportavelmente limpinhos em disco.
Barcelos pareceu ser uma cidade simpático e realmente o Milhões merece o estatuto do festival mais "cool" do país. O nível de stress é zero mesmo quando nos recintos estamos cercados por seguranças com pinta de militares frustrados - eles queriam era estar a defender-nos de Espanha ou de Marrocos (ou da Alemanha Nazi-Kapital) mas não... têm de ficar ali a aturar malta e a ouvir a batucada voodoo dos HHY & The Macumbas! Pobres diabos!
Por falar nisso, esta banda do Porto foi o melhor que aconteceu na programação mal enjorcada de Sábado, em que o pior de tudo foi a quebra total que um tal Dam Mantle trouxe. Man! Ibiza às 22h? Enganei-me no festival? Onde estão as gajas de saltos-altos bêbadas prontas para serem violadas por gajos de camisas brancas de alças? Vai haver "racing" daqui um bocado? Fuck!!! Que enorme monte de esterco! Felizmente houve EyeHateGod nessa noite, os seminais Sludgers! Embora, novamente essa noite tenha sido um suplício para passá-la, incluíndo a banda do camarada João Maio Pinto, baixista nos Loosers - banda que mais uma vez mudou de estilo e forma e tudo mais. Além do nosso querido ilustrador, parece que fazem parte da banda uma figurinha negra mítica qualquer (falaram-me que esteve metido com os Funkadelic?) e o Fernando Cunha dos Relfins e Desistência (?). Tudo chato nessa noite, sabe-se lá porquê... Acho que foi mesmo falta de tomates para colocar os nacionais Macumbas a tocarem à noite e não às 20h com quase ninguém no recinto. Os Macumbas estavam bem oleados, com pica para bater em congas e afins e teriam dado boas alucinações a quem já estivesse nos estados narco-qualquer-coisa habituais nesta vida de festivais de verão. Teriamos tido fantásticos pesadelos com os tipos se tivesse acabado a noite com as batucadas e Dub deste colectivo de simpáticos "weirdos".
Por causa de nulidades como Octa Push tivemos de beber imenso para ir prá tenda para encontrar um Domingo cinzento, chuvoso, que insistia no mau-tempo e que não nos deixou montar a banca porque, como bem sabem, livros e água não combinam em nada. E com isto nem livros nem Jibóia Experience que prometia ser algo nessa noite. Voltamos para casa, a pensar que Deus ficou chateado com os EyeHateGod...
O mercado de edições independentes que organizamos até teve novidades editoriais. O primeiro e simultaneamente era lançado na inauguração da excelente exposição Lixo Futuro, é o Musclechoo, vol. 1 (Ruru Comix; 2013) do Rudolfo. Quem se lembra do primeiro número desta coisa? E porque não é o número dois? Deve ser cena de putos... E é mesmo, a personagem é um misto teenage-wet-dream de Rambo e Picatchu - quem adulto gostaria de ver os dois num só? Diversão pura de javardar com a cultura Pop, Muschechoo é feito em cima do joelho embora a lambideza de Rudolfo comece a aparecer a meio deste novo volume. Excelente produção esta edição! E adivinhem porque chamei este "post" de "milhões de pilas"? Só lendo! Encomendem antes que esgote!
E se o Rudolfo estava no Porto, apareceu-nos o Artur Escarlate com dois mini-zines seus, o Portátil / Volátil (cheio de vaginas) e o Segredo (cheio de... pilas!)... Porquê? Não faço mínima ideia, e tenho "mix fellings" sobre isto... Por um lado desenhos de orgãos genitais parece nos dias de hoje um tema tão chocante ou importante como desenhar elefantes ou ganchos de cabelos mas sobretudo é que sabe a pouco, duas ou três páginas A4 dobradas a fazerem A6, presas com elásticos fazem os zines. Truque engenhoso que nos obriga a abrir cada folha para descobrir cartazes pouco interessantes. Aliás, graficamente, os zines são podres (sujos) a dar uma ar amador de virgem embora Escarlate (é o verdadeiro nome do autor?) dê a entender que é um garanhão da tinta, a julgar pelos seus sítios em linha. O resultado é xoninhas com ou sem xoxotas. Porquê? (porquê? tudo)
Por fim é de referir a K7 - desculpem, split-k7!!! - de Cangarra e dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS. Edição deste ano pela A Giant Fern, apesar de estar anunciado a um ano prá Feira Laica, só agora saiu em Julho. São 15 minutos para cada lado, para cada uma destas duas bandas mais activas do Noise Rock português. É curioso que são duas bandas bastante diferentes, em parte por causa do seu número de elementos. Os 2sci são mutantes, acho que só há dois elementos que estão "sempre lá" (nos milhares de concertos e nos registos áudio) mas nesta k7 aparecem com mais cinco músicos. A banda toda ela é nervosinha e volátil, quase nipónica e perto da demência, ao contrário de Cangarra que é um duo estável e racional, guitarra e bateria (a cargo do nosso Ricardo Martins) que preferem um psicadélico paisagistico cheio de detalhes para descobrir. Duas bandas, uma prá orgia, outra prá nicotina pós-coito, pelos vistos. Ah! o "artwork" da K7 foi feito pelo Ricardo e pela Margarida Borges, e impresso em risografia, a impressão que molha os designers dos dias de hoje com menos de 30 anos...