segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pute survive!!!!


O Mutate & Survive continua a servir de referência... O autor de bd francês Gilles Rochier participou nesta seminal antologia internacional de bd e ilustração, e este ano o seu novo álbum ganhou um dos prémios da selecção do Festival de Angoulême dos melhores livros de bd editados em 2011 - 10 anos depois do Mutate portanto.
Muitas vezes para a antologia como algo datado mas quando aparecem estas situações volto a olhar pró velho Mutate com outros olhos!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Buraco #2

Buraco; Dez'11
v/a

Saído inesperadamente na última Feira Laica, eis o segundo número do Buraco, projecto de autores de Lisboa e do Porto - embora seja na última cidade que se encontre a maioria das participações desta publicação.
Há quem diga que fui injusto com a resenha do primeiro número mas para um projecto com características políticas é estranho que não tenha "mais sal". A promessa que "o céu é o limite" terá de ficar para o próximo número porque não se vê avanços entre os dois primeiros - como poderia com esta crise!? Falta um discurso editorial e uma arrumação das páginas de forma que não pareça que dois ou três grupos de artistas, desconfortavelmente, se juntaram para fazer uma revista. Não deixa de ser importante o acto em si (uma nova publicação), só parece forçado, sem a energia e foco que as edições dos Gajos da Mula ou Senhorio tinham no passado (estes dois colectivos fazem maioria no Buraco).
Caso estranho do do José Feitor, um ilustrador sempre conotado com desenhos de cariz político, apresentar uma sequência pseudo-bd-surrealista-xamánica. Uma coisa boa, a bd do Bruno Borges serve como guia para um gajo apanhar pifos no Cais do Sodré - sabemos de um caso real. De resto, será que este projecto é capaz de acertar no terceiro buraco?

CCC not Tex not Mex Shows (4) Bráulio Amado


Forth Chili Com Carne show in Denton (Texas), organized by Nevada Hill, again in Meme Gallery, this time with works of Bráulio Amado
...

Houdini is an exhibition by Braulio Amado. Inspired by the greatest magician that ever lived, the series alludes to abstract universes and fantasies, exploring mind tricks and the possibilities of the impossible. The pieces invoke the unexpected and draw from raging sounds, like those of the Melvin's Houdini record. Expect weird stuff.
Houdini is a traveling exhibition. It will show around the US and the world in 2012, beginning in Denton, TX as part of Chili Com Carne's Not Tex, Not Mex series. 
Braulio Amado is a portuguese kid born in '87 who recently moved to NYC. He works as a graphic designer for Pentagram Design and is the director of Pedal, a free monthly newspaper about bikes  in Portugal. He plays music and tours the world with his band Adorno.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Los Clones


Los Protones : Hijas del Diablo (A Tutiplén; 2011)

Pelo menos os elementos da banda peruana Protones não se vestem todos com o mesmo uniforme, antes pelo contrário, vestem-se como gente normal badalha sul-americana e isso é bom. É mais uma banda de Surf-Rock / Garage... esta é do Peru e vão no segundo disco que consegue o mínimo pedido neste tipo de bandas, ou seja têm bons instrumentais e sente-se a pica - tal como os nossos Dr. Frankenstein.
Para subir a média, duas situações apenas: 1) uma faixa que mescla Surf com Chicha (uma espécie de Cumbia peruana) e que se intitula canibalisticamente Chichasurf! 2) o tema A la deriva que começa como mais um vulgar "garagismo", ao longo de 8 minutos (nada normal, os Surf-Rockers andarem por estas durações) mergulha num esquema Progressivo que vai bater numa onda gigantesca de Free com direito a saxofone eufórico e tudo! Sem dúvida algo inesperado e salvador no disco Surf nº 45.236 da Aldeia Global.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Galante e a Mulher Mistério

Bruna Carvalho (a), Carol Carvalho (foto + montagem), et al.
Põe-te Fino Edições Caseiras; 2011

Não é muito vulgar aparecerem "fotonovelas" em Portugal. Assim de repente só me lembro do Puro Capricho (2003) do colectivo In Útil (com colaboração de Miguel Rocha) ou as da Ondina Pires com João Pedro Gralha mostradas algumas vezes em exposições e uma vez ou outra na revista Umbigo. Ainda assim, sobre estes dois exemplos, o Puro Capricho era um objecto artístico (uma brochura que acompanhava uma exposição numa galeria) e que fugia aos temas pueris da Fotonovelas (tratava-se quase de um "gore" sobre as questões da Beleza) e as "bds" de Ondina e João eram realizadas com bonecos / brinquedos.
Foi com alegria curiosa que adquiri o exemplar desta "Fotonovela nº1" na mesa da Põe-Te Fino na última Laica. Realmente havia uma segunda fotonovela editada mas era a cores, e "fotonovela que é fotonovela é a preto e branco"... e esta é apenas uma comédia de costumes, com uma mulher misteriosa (claro), um galante gajo de palito na boca (claro), uma busca pela verdade e engate (claro), acabando num fim inesperado tonto que não poderia contar (claro!).
Falta uma paginação mais "clean" e mais bem organizada - nesse aspecto o Puro Capricho era de referência dada aos conhecimentos de Miguel Rocha em bd - para que não se pareça apenas uma brincadeirinha de amigos.

Pedidos para poetfino@gmail.com

PS - Ia-me esquecendo de O Eterno Passageiro de Luíz Félix (BaleiAzul + Bedeteca de Lisboa; 1997) e de outro policial que saía no Público nos anos 90 (não me lembro nem título nem autores! Alguém sabe?), ambos tinham tratamento de desenho por cima das fotografias, por isso passou-me a ideia que também eram fotonovela...

Lista Laica-Brasileira



Boy, não dá para escrever tudo! Aqui vai uma lista de zines que o Alex Prego deixou ainda:

- Amarelo, Laranja, Vermelho (Samba; 2008-10), 3 atraentes zines de LTG (participou no Seitan Seitan Scum) juntos numa manga. BDs e desenhos em registo de esboço - incluindo a bd do SSS a preto e branco. Apresentação exemplar!
- Bananas! (2011), um falso “splitzine” de duas autoras brasileiras com poder vaginal da finlandesa Kati Kovács. É bilingue porque repetem as mesmas bds em português de um lado e em inglês do outro. Chiquinha e Cynthia B. são as miúdas do zine, a última também edita o zine Goldenshower (#1, 2011), antologia que mostra que as mulheres são mais podres do que os homens no que diz a humor sobre sexo!
- Resenha Monstra #01 (2011) de Pedro D'Apremont é um zine A5 de um gajo que tenho sonhos bem estranhos... Ainda bem que ele lembra-se deles! Depois é mais um de bd "besteirol"...
- A Zica #0, 1 (2010-11) zine antológico de desenhos, é um graphzine de sexo e morte... fraquito!

Não se esqueçam que ainda há várias edições da Prego, Kowalski, etc... que pode ser adquirido pelo e-mail ccc@chilicomcarne.com. Como fazemos sempre promoções e ofertas loucas mais vale perguntar o que querem!

domingo, 15 de janeiro de 2012

rafael dionisio a pensar


Relatório sobre Fanzines e Edição Independente em Portugal 2011 (actualização)

por Marcos Farrajota

Saiu este ano um importante livro de referência sobre banda desenhada, intitulado 1001 comics you must read before you die! e coordenado pelo comissário e conferencista inglês Paul Gravett. Trata-se de uma listagem de livros ou bds que tenta resumir as melhores bds do mundo, com a ajuda de vários especialistas espalhados pelo mundo – incluindo dois portugueses: Domingos Isabelinho e Pedro Moura. É sem dúvida um trabalho hercúleo e discutível quanto à sua utilidade de criar cânones. Curiosamente ao analisar o livro deparei-me com as seguintes situações:

1) A única entrada portuguesa é o livro Diário de K. de Filipe Abranches, editado nos tempos áureos da Polvo, com o apoio do IPLB e Bedeteca de Lisboa.

2) Livros / obras como Caminhando Com Samuel de Tommi Musturi, Uma semana de Bondade de Max Ernst, Ele foi mau para ela de Milt Gross, Os meninos Kin-Der de Lyonel Feininger, Mundo Fantasma de Daniel Clowes, Palestina de Joe Sacco, Persepolis de Marjane Satrapi foram editados em Portugal por editores independentes como a MMMNNNRRRG, &etc.., Libri Impressi, Mundo Fantasma / MaisBD e Polvo.

3) Também foram editores independentes que publicaram outras obras de autores referidos 1001 Comics como Cliff Sterrett, Aleksandar Zograf, Anke Feuchtenberger, Max, Baudoin, Joakim Pirinen,... Novamente pela MMMNNNRRRG, Chili Com Carne, Libri Impressi, ou publicações como a Azul BD3 e Quadrado

Creio que fica provado a importância que estas pequenas editoras tem no mercado nacional face às “grandes” que editam produtos fáceis de investir pelos créditos já firmados e fama a rodos como Astérix, Tintin, Corto Maltese, Akira, X-Men, Batman, etc…


Definições

A edição independente é um termo que se tem utilizado para definir edições de livros ou de discos que fogem aos parâmetros, conteúdos e formatos das grandes editoras que geralmente dominam o mercado em vendas, distribuição, espaço de venda nas lojas e promoção dos seus produtos e artistas.
Há várias formas de identificar um editor independente: estrutura organizacional e laboral reduzida (uma pessoa, um casal, um colectivo), comunicação activa com os autores e o público, distribuição e promoção defeituosa, exploração de nichos de mercado, poucos apoios públicos ou institucionais, financiamento reduzido, inovação tecnológica, etc… Existe neste meio um cuidado extremoso para que as suas edições tenham o melhor aspecto, tradução ou tratamento gráfico do que as edições de grande tiragem – geralmente feitas de forma apressada e cheias de gralhas e erros de vários tipos.
São editoras que crescem conforme a longevidade e persistência dos editores, tornando-se mais tarde profissionais da área e editores de referência como é o caso da &etc…, Via Óptima, Black Sun, Edições Mortas, Mariposa Azual, Planeta Tangerina, Libri Impressi,...
Nesta definição alargada ainda assim cabem várias formas de publicação que passam por sistemas de impressão caseiros (impressora do computador), artísticos (serigrafia, gravura, xilogravura, linóleo), tecnológicos baratos (fotocópias) e relativamente mais caros (impressão digital e offset). Podemos identificar estes tipos de publicação:

Fanzine – publicação amadora feita por fãs ou militantes de alguma causa (bd, poesia, música, cinema, política) geralmente fotocopiada e agrafada com uma distribuição reduzida (em Portugal entre 50 a 500 exemplares, no Brasil dos 200 aos 2000).
Zine – evolução natural do fanzine abandonando a militância ou a idolatria pela cultura Pop, são publicações que não sendo “fãs” de algo, publicam trabalhos pessoais ou artísticos de um autor ou de um colectivo de autores.
Edição de Autor – , ou auto-edição. Edição realizada pelo autor, pode ter um aspecto profissional mas geralmente não tem um “selo de editor” como forma de garantia comercial.
Livro de Autor - edição realizada pelo autor de poucos exemplares com evidentes realizações manuais (capa, agrafamento, colagens, ex-libris, etc…) e coleccionistas (assinatura e numeração pelo autor).
Livro de Artista – edição de um livro geralmente de uma ou poucas cópias em que as páginas da edição muitas vezes são os próprios originais do livro - é o tipo de edição elitista cuja circulação passa mais pela galeria de arte do que pela livraria...
Impressão digital / P.O.D. – Impressão em fotocópia lazer que permite produzir poucos exemplares com um tratamento profissional (cozido, colado, encadernado) ou exemplares conforme a procura (print on demand). Esta tecnologia tem servido para Edição de Autor mas também para pequenas editoras ou para livros de pouca circulação de grandes editoras.
E ainda: split’zine (zine feito por dois títulos, a capa de um é a contra-capa do outro lado), prozine (termo anacrónico norte-americano para fanzines feitos por autores profissionais, mais vale usar o termo “auto-edição” ou “edição de autor”), micro-edição (edição bastante limitada, abaixo de 50 exemplares),… De fora deste “relatório” ficam as produções electrónicas: e-zines, pdfs para visualização e/ou descarga, etc…
É um mundo onde cabe de tudo: autores que vêm uma forma de promoção pessoal como uma espécie de escalada para chegar às “grandes”, autores que tem uma visão única como o seu trabalho deve ser tratado, um programa ou um plano de um editor, um registo de um movimento local/geracional/artístico, uma diversão de um autor ou de vários, uma provocação, uma necessidade de exposição pública, etc…


Onde observar este movimento?
Tirando o caso das editoras que publicam livros com Depósito Legal e ISBN, existe todo um grande movimento de publicações marginais que quase não existe em lojas nem em acervos públicos (arquivos, bibliotecas).
No primeiro caso, em parte porque os objectos não são compreendidos pelos lojistas – serão as poucas que se comportam estes objectos como algumas lojas de bd (Mundo Fantasma), galerias de arte (Dama Aflita, Galeria Ó, Estúdio JS, Re-Search,…) ou algumas de música (Matéria Prima) e de design (Fábrica Features). O facto das edições também não terem uma faceta legal (facturas, recibos, etc…) não ajuda a sua comercialização.
No segundo caso, os autores / editores não pensam na sua obra como algo válido para preservar para o futuro / memória cultural. Muitas das vezes dada à urgência de produção e edição das obras, falta esse sentido de imortalidade ou arquivo. Também pode haver uma recusa em oficializar a sua obra. Seja como for, como iremos ver mais à frente, muitas vezes estas obras serão descobertas pela “cultura oficial”.
Para encontrar a maioria destas edições é preciso frequentar alguns eventos especializados como a tradicional Feira Laica com as suas habituais duas edições por ano - uma na Bedeteca de Lisboa outra nos Maus Hábitos, Porto -, MAGA (regressou este ano!) nas Caldas da Rainha, F.E.I.A. (Montijo) e no Porto: Mercado Negro, Feira do Jeco e Feira de Publicação Independente (com duas 2 edições na Faculdade de Belas Artes do Porto). Alguns eventos de artes e de música também costumam ter mesas com este tipo de edições como o Comunicar:Design (Caldas da Rainha), Festivais Rescaldo e Matanças em Lisboa e Porto, respectivamente.
Alguns casos, as próprias entidades criam eventos próprios abertos ao público como foi o caso da Oficina do Cego que realizou uma série de workshops de livros de autor (na Faculdade de Belas Artes de Lisboa) e uma residência artística (programa Ghost nos Ateliers Real) ou da Chili Com Carne com o espaço CHILI ao QUADRADO na Work In Progress (Chiado).


Uma quantificação possível
Este ano, demos conta dos seguintes projectos de continuidade: O filme da minha vida (3 volumes – Luís Henriques, Pedro Nora, Isabel Baraona) pela Associação Ao Norte; Zona BD (2 volumes); Venham +5 (1 volume); É fartar Vilanagem! (um volume); Tertúlia BD’zine (12 volumes); BDJornal (um volume); Boletim CPBD (1 volume).

As editoras que continuaram em actividade
- Chili Com Carne com duas antologias: Boring Europa e Futuro Primitivo;
- Firma: Dark Shine, de Aleksandar Opacic;
- Kinpin Books: O pequeno deus Cego, de David Soares e Pedro Serpa;
- MMMNNNNRRRRG: Mundos em segunda mão, de Aleksandar Zograf, AcontorcionistA: Manifesto, de Grupo Empíreo, Neuro-Trip, de Neuro, Aspiração horrífica, de Aaron Shunga e Subsídios para MMMNNNRRRG #1;
- Oficina do Cego: Fábricas, Baldios, Fé e Pedras atiradas à Lama de Tiago Baptista, e a antologia Aforismo do Estádio;
- Pedrancharco: Li Moonface, de Relvas;
- Quarto de Jade: Animais Domésticos, de Maria João Worm;
- Polvo: dois livros de Lacas e Geral & Derradé (anunciados mas não os vimos ainda)
- Libri Impressi: Ele foi mau para ela, Milt Gross – e o terceiro volume da série Lance (também não o vimos).

Dos zines apareceram novos títulos, quase todos eles monográficos: O morto saiu à rua e The invisible hand de Bruno Borges; Headbanger de David Campos; Pixels Parts de Afonso Ferreira; Famous Tumours de Jaime Raposo; Metamofosis de Tiago Araújo; Stop Mundo dos U.A.T., 666 Hardware e Musclechoo, ambos de Rudolfo. e ainda duas fotonovelas da Pôe-te Fino e Mr. Krunk e o Senhor Klaxon dos Livros Espontâneos. Apercebemo-nos de vários zines e graphzines nas Caldas da Rainha (Zé Burnay, Aliböbö, Gennebra) e Porto (Panda Gordo, Hidromassagem,…) mas parece impossível de os contabilizar uma vez que não foi possível adquirir tantos títulos.
Destaque especial para dois novos projectos que pretendem continuidade: Lodaçal Comix dirigido por Rudolfo que lançou 4 números trimestralmente e o especial Hors Serie; e, Buraco feitos por autores de Lisboa e Porto que lançaram 2 números em dois meses…


No plano internacional
a) Publicações
Houve um abrandamento nas participações portuguesas em publicações estrangeiras, sendo que tivemos contas de colaborações nos seguintes países:
- Alemanha: Given (André Lemos) pela Bon Gout.
- Brasil: Pindura 2012 (André Lemos, Lucas Barbosa, Marcos Farrajota e Pepedelrey) e Prego (Marcos Farrajota e Manuel Pereira);
- Eslovénia: Stripburger (Teresa Câmara Pestana)
- Espanha: El Temerário #7 (André Lemos), Kovra #3 (Ricardo Martins), ambas pelas Ediciones Valientes;
- EUA: Hapiness (Rudolfo)
- Sérvia: Novo Doba (André Lemos e Bruno Borges), Silent Wall Army (Bruno Borges);

b) Eventos
Já em relação a participação de portugueses em eventos estrangeiros manteve-se estável como noutros anos, tendo sido registada de participação de autores, exposições ou publicações nos seguintes eventos: Festival de BD de Angoulême (França), Not Mex Not Tex com Bruno Borges e Lucas Almeida (EUA), Edita 2011 e La Noche de los libros mutantes (Espanha), Even my mum can make a book (Turquia), London Zine Symposium, Crack (Itália), Festival de BD de Helsínquia, ISV e Trauma em Mälmo (Suécia).

c) Autores
A visita de autores estrangeiros, que estão ligados à edição independente é uma prática saudável que se mantêm registada sobretudo no Festival de BD de Beja e a Feira Laica, permitindo os autores estrangeiros conhecerem autores nacionais e vice-versa. Na prática ajuda a divulgar e criar intercâmbio entre autores e editores de vários países.
A registar este ano: Andrea Bruno do colectivo Canicola (Itália), Aleksandar Zograf (Sérvia) ambos no Festival de Beja, Toff (França) na Feira do Jeco, colectivo Hetacombe (Suíça), Neuro (Roménia / Dinamarca), Alex Vieira (Brasil) e elementos dos colectivos Grut (França), Stripburger (Eslovénia) e Amalgama (Galiza) nas Feiras Laicas.


Institucionalizando
Este tipo de publicações acabam por ter um reconhecimento tardio em maior parte dos casos, veja-se por exemplo, o caso da exposição que esteve patente na Galeria ZDB entre Março e Setembro, All Power to the People. Então e Agora. A arte revolucionária de Emory Douglas e os Panteras Negras. Tratava-se da exposição da arte revolucionária de Emory Douglas e os Panteras Negras de material gráfico, ilustrações e até bds de Emory Douglas, Ministro da Cultura do Black Panther Party (desde 1967 até à dissolução do partido, em 1982). Muitos dos materiais gráficos da exposição foram resgatados graças aos arquivos pessoais do autor.
Antes, entre Janeiro e Março esteve patente uma importante exposição de banda desenhada no Centro Cultural de Belém / Colecção Museu Berardo intitulada Tinta nos nervos, e que não só mostrava 41 autores portugueses como muitos deles eram exclusivamente publicados em edições independentes. Também na exposição encontravam-se muitas destas publicações em plintos. A colecção das publicações era quase exclusivamente do seu comissário, Pedro Moura.
Estes são dois exemplos mostra como seria importante criar um organismo de procura e angariação deste tipo de edições - na verdade até há um mas só virado prá bd e ilustração!!! É a maltratada Bedeteca de Lisboa, única instituição pública portuguesa que inclui um acervo de fanzines, zines, livros de autor, micro-edição, split’zines - ainda quase todos por catalogar, acessíveis para consulta apenas. Também é verdade que a Bedeteca sendo um serviço especializado em banda desenhada detêm a maior colecção de livros de bd em Portugal. Inclui-se nesta última afirmação os livros auto-editados e de pequenas editoras – quase todos disponíveis para empréstimo. Só resta saber até quando é que esta colecção irá evoluir com os rumores que a Feira Laica não deverá continuar a sua edição de Verão neste espaço...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Rude


Lodaçal Comix #4
Lodaçal Comix Hors-serie #1
Musclechoo #1
(Ruru Comix; Dez'11)

O Rudolfo além de ter um concerto do tipo "Mike Patton sem orçamento" nos Maus Hábitos (porque raios os concertos dele só correm bem lá?) ainda lançou 3 zines novos! Uma máquina este puto! O Lodaçal Comix é uma antologia internacional de portugueses, americanos e japoneses que fazem um retarto bastante fiel à produção de bd mundial, havendo espaço para uma geração pós-Fort Thunder e pós-autobiografia - como o Aaron $hunga, recentemente publicado em Portugal pela MMMNNNNRRRG. Como o zine sai trimestralmente perde-se o norte ao que está a contecer aqui - isto para quem se desabituou a ler publicações regulares e/ou de continuação. O futuro passa por aqui. A energia transborda de forma que até se fez um número especial!
Musclechoo é uma bosta desenhada pelo Rudolfo nos transportes públicos e horas vagas (como ele pode dizer que as têm?) mas é uma bosta fresquinha que cheira mesmo mal. Pela espontaneidade e liberdade do traço resulta melhor que outras parvoíces do Rudolfo, como o 666 Hardware, bd esta que coincide ideias e conteúdo como em Musclechoo. Esta bd trás o Rudeboy aos grafismos dos seus velhos zines... Entra o Marco Paulo: «eu tenho dois Rudolfos / não sei do qual gosto mais / um é atinadinho / o outro é javardoco (...)»

A CCC ainda tem alguns números antigos do Lodaçal Comix. Se foi parvinho em não ter seguido o Lodaçal do início, eis uma oportunidade única. Pedidos para ccc@chilicomcarne.com

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ccc@TENDERETE 3, VALENCIA (ES)


A Chili Com Carne deslocou-se a Valência, nos passados dias 4, 5 e 6 de Janeiro, sob a responsabilidade de Ghuna X, para a terceira edição do Tenderete (uma espécie de Laica lá do burgo). Apresentou-se como o único editor internacional da feira, que contava com cerca de trinta bancas, na sua maioria valencianas e com grande enfoque nas edições fonográficas, ou não fossem os espanhóis admiradores da cultura do "ruído" e da k7.
A feira iria decorrer num espaço recente da cidade chamado "Mutante", por sinal bastante bem localizado, sítio de workshops e exposições com arte contemporânea daquela freak.
Tudo decorria bem, feira a começar ao final a tarde e, a aproveitar o trânsito comercial decorrente da altura festiva (Reyes). Por volta das 22h, já rolava o segundo concerto quando aparece a moina. Feira embargada e, até às 11, foi empacotar tudo de novo, sob o controle atento de dois polícias que iam comendo batatas fritas no bar.
Após alguma discussão entre a organização, lá se mudou a feira para outro espaço: "La Residencia", onde se poderia estar mais a vontade, tocar mais alto bla bla bla. O problema é que era afastado comá merda e não havia outra hipótese que ir de carro/taxi. Ou seja, perdeu-se a véspera de reis, dia mais consumista em terras de Espanha, para as pequenas compras e trocas entre editores.



Resta saudar o grande Martin (Kovra, El Temerario, etc...) pela capacidade de organizar tanta gente tão dispersa e louca, num evento singular.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Abria-te o público todo!



O P3 lá fiz a praxe de sempre dos periódicos que é aquela cromice do "melhor de 2011"... só que fizeram com um pouco de originalidade e pegaram nos (fan)zines. E a Associação Chili Com Carne deu uma ajuda na selecção. Eis aqui a escolha: p3.publico.pt/cultura/livros/1757/os-melhores-zines-de-2011
...
Esta bizarra parceria começou mal, com o P3 a pedir textos inéditos gratuitamente como se tivessemos alguma espécie de prazer, obrigação ou glória em participar no famoso jornal Público. No entanto, conhecendo a redação do P3 percebemos que há aqui uma vontade de renovar as fórmulas gastas do Público e especialmente o seu suplemento cultural, o "Imbecílon". O P3 é uma espécie de "jornal da escola" inserido numa estrutura profissional enorme que é o Público e que este muito provavelmente não deve apoiar muito o projecto. Deve o tolerar como tolerou outras coisas no passado, como as famosas edições ilustradas, sem pensar que estas "excentricidades" são mais-valias comunicativas, especialmente numa era de desmaterialização do impresso. É curioso, que numa altura que é uma loucura lançar mais um jornal, o I, sendo mais fraco a nível jornalístico, soube atrair um público que não comprava jornais, parte do sucesso foi a aposta em Design atractivo, infografia, ilustração e bd. É curioso!
O P3 está restrito ao Porto - a redacção e os recuros são de lá - e por isso fecha-se nesse círculo geográfico mas apresenta uma frescura por divulgar aquilo que o "Púdico" & "Imbecílon" recusam-se a ver / divulgar. A Chili Com Carne simpatizando com o projecto - mas sem oferecer conteúdos e conhecimento à borla, ou pelo menos de forma descarada - alinhou na lista "best of". Dêmos a nossa opinião sobre os melhores zines de 2011 mas o P3 que sacasse a informação no nosso blogue, escrever uma linha original de propósito é que não! A verdade é esta, são as grandes companhias de mass-media que precisam de conteúdo dos "pequenos editores" (produtores, artistas, etc...) para preencher as suas 24h de emissão, não são os pequenos editores que precisam das grandes companhias para enriquecer as suas edições. Os "pequenos" têm a vontade e a visão que originam conteúdos originais e necessários para enriquecer a Humanidade, características os "grandes" perdem na sua rotina, ganância e vaidade.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

apertado 2012


Se 2012 vai ser ano dos cortes então começamos por dar o bom exemplo! Depois de 12 anos de apartado 215 (em Cascais), criado para abrigar o Mesinha de Cabeceira e mais tarde a Chili Com Carne e MMMNNNRRRG, decidimos acabar com ele, poupando uns 30 e tal euros por ano. Há mais razões, por acaso escrevi mais sobre isso em inglês para os nossos contactos internacionais e não me apetece repetir o texto... quem quiser que leia em inglês aqui mais abaixo!

Quem quiser enviar alguma coisa por correio por favor contacte-nos primeiro por este e-mail: ccc@chilicomcarne.com

...
Chili Com Carne and MMMNNNRRRG are not using this address (actually it's a P.O. Box) anymore:

apartado 215
2751-903 Cascais
Portugal

The superficial excuse: Portugal economy and social services are or will be ruined this year so no money to spend in "snail mail" anymore... besides with internet almost there's no news in the P.O. Box except bills to pay and stupid propaganda from Public institutions. I'm a bit sad since I'm using this P.O. Box for 12 years but since I don't live in Cascais anymore since 2002 it doesn't make sense to have the box far away of my routine life and all that... and actually maybe this is the true reason for giving up the box.
SO if you want to send an hand-written letter, zines, books, records... write us first by the following e-mail ccc@chilicomcarne.com so that we can send an address.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Laica Som Sistema

Coisa boa a Feira Laica! Um gajo enche-se de coisas novas para ver e ouvir! E esta última trouxe muitas que já começamos a divulgar aqui no blogue. Vamos prás antologias musicais neste "post".

Começamos pelo evil metal! Que pelos vistos em Portugal está em grande a julgar pela Infected (Infektion; 2011), uma colectânea da revista em linha Infektion Magazine. Excluindo uma treta meio-power-metal todo o CD é quase exclusivo de bandas Death e Black, um momento ou outro entra algum Metalcore e Nu-Trash, sendo ainda que das 18 bandas, só três são estrangeiras - por acaso até são as que tem o pior som. Longe de haver algo de original ao que se faz pelo mundo, destaco umas quatro bandas: Darkside of Innocence (Death progressivo, cheio de breaks, na linha de Ephel Duath), Peste (Black'n'Roll vomitado em português), Into the Abyss (Death à séria!) e No Bless (Electro-Babaji-Metal).

The Futureplaces Impromptu All-Stars Orchestra com Poststop (Crónica Electrónica; 2011) fazem-me lembrar algo que o Napoleão disse: "Se queres algo que se concretize faz tu mesmo, senão cria uma comissão." Durante dois dias do festival Future Places e usando a mão-de-obra dos músicos do C.C. Stop (um centro comercial decadente do Porto onde bandas passaram a usar as "lojas" como locais de ensaio e estúdios) foi produzido este CD num workshop. Dizem os apontamentos do CD que quem trabalhou nisto analisou, dissecou e discutiu ideias mas ouvindo a coisa, parece tudo mal enjorcado. Um pós-modernismo em pó misturado em águas de Electrónica, Jazz, Dub, Industrial,... Não sabe mal mas sabe a artificial. Alguém (sem relação com o projecto ou editora) deu-me este CD... não deveria ter aceite!

Porra, este é já o terceiro CD-R que tenho do Presidente Drógado por isso já devo ter a música dedicada ao Beefheart em três versões diferentes ou então em 3 CD-Rs diferentes, não sei, tenho de ver a "colecção" lá em casa! O Presidente Drógado lançou um novo disco na Feira Laica (onde tocou com toda a agarradice) e a julgar pelo crescente grupo de pessoas que colaboram no disco como Rita Braga, Karlheinz Andrade, João Gama (dos Traumático Desmame, banda que Leote também faz parte), Bernardo Devlin (produção),... este deverá ser a versão mais finalizada para uma "edição oficial" - as edições tem sido CD-Rs manhosos do "capataz da pirataria", Leote Records!
Tal como o Futureplaces também se sente alguma artificialidade nestas novas versões e novas canções, talvez porque geralmente o Drógado toca sozinho ao vivo (e nos registos) e como tal acompanhado soa apenas a estranho. No entanto há elementos que vão aparecendo ao longo da audição que soam demasiado a estúdio estragando a aura "lo-fi" que lhe têm sido característica. Espero que o Presidente não se esteja a estragar porque de resto, não há nada mais a declarar, ele continuar a fazer os retratos perfeitos da vida podre que se vive nas cidades e arrebaldes.


Meto no mesmo saco o disco de estreia e auto-editado dos galegos Cró! (que tocaram na Laica) e Godofredo (Fora do Eixo + Big Bross; 2011) dos brasileiros Vendo 147 não apenas porque são ambas instrumentais - embora Cró! tenha alguma voz ocasionalmente ao vivo ou samplada - mas porque ambas dão vontade de pensar porque raios gajos novos acham que podem soar a velhos? Uma banda instrumental não é coisa de meninos, ou sabem tocar como doidos varridos ou então devem ter ideias geniais. Ficar a meio caminho dos Trans Am, Magma, King Crimson, Mahavishnu Orchestra e Battles é pior do que ficar a meio caminho de Ramones ou dos Cannibal Corpse - ainda assim...
Até podem vir com uma bateria gémea (parece que está na moda) mas isso não esconde a falta de tesão - no caso dos Vendo 147. Podem ir buscar samples de Bill Hicks (parece que está na moda) mas isso não impede a rigidez das formas - Cró! O que são boas são as embalagens dos seus CDs, especialmente no caso dos Vendo 147, que é um díptico no formato de um single 7" dá mesmo vontade de atirar o CD pró ecoponto e substituir por algum vinil que não tenha capa protectora... Para fechar e sob uma pespectiva nacionalista: já não nos bastava ter de aturar a xungaria dos Paus e dos Torto...

Chegamos por fim às edições da Marvellous Tone. O CD de Aceloria é Dubstep puro e duro... Se nas áreas do Rock anda tudo no "post-rock" à Battles (como já vimos), na electrónica (e não só, na Pop em geral) não há gato e sapato que não seja /use Dubstep. Teria de ser um "expert" em Dubstep para perceber a qualidade deste disco - ainda por cima, nem assisti ao concerto que deu na Laica, embora tenham dito bem do concerto... A produção é forte, os beats tem andamento e os MCs que participam tem letras com relevância. Para começar é o mínimo que se pede... Posso afirmar que é uma boa edição mesmo não sendo "expert" em "Dublogia".

E uma k7 para acabar. Algorythms é de Mo Junkie é uma mixórdia de sons que nem sei bem o que pensar. Não é IDM nem Power Electronics, "experimental" é vago até porque há "beats" a correrem aqui e acolá. "Turntablism" também não. Dub é uma das coisas que percorrem por aqui, tal como glitches, loops, samples e toda a espécie de lixo sonoro. Não é Noise porque apenas não há. Isto é Cut'n'paste de bêbado?
Só sei que deixam muita fita na k7 para gravar, por isso, devo gravar alguma treta electrónica a seguir às "faixas" do Mo Junkie... 
Por fim é importante referir que estas duas últimas edições tem capas produzidas pelo Dr. Urânio, o artista plástico mais bem escondido do Porto, perito em colagens "futuro-primitivas". Só me parecem trocadas as capas a de Aceloria ficava bem era no Mo Junkie, e vice-versa... não?

Fábricas, Baldios, Fé e Pedras Atiradas à Lama

Tiago Baptista
a9)))) + Oficina do Cego; 2011

Num formato próximo do "comic-book" norte-americano, este é o primeiro livro de Tiago Baptista, autor mais conhecido publicamente pelo seu trabalho de pintura do que pelos inúmeros zines de bd e ilustração que tem editado nos últimos anos como Besta Quadrada, Bolso, Facada, Cleópatra,...
Infelizmente este título é apenas uma compilação, uma espécie de "best of" do material que o autor fez nesses títulos ou noutras publicações como o jornal da Oficina do Cego. Há uma banda desenhada inédita e antes que me perca, e isto é importante: 90% das páginas deste livro são bd! O que é uma boa notícia para contrariar a tendência secante dos "livros de autor" e "graphzines" publicados nos últimos tempos. Chamem-me de cromo mas nada melhor que ler um texto com desenhos!
Outra boa nova é que são publicadas as bds da "série" intitulada "Oh meu Deus! É o fim do cinema!" que sairam no inicio de 2001 no Cleópatra #5.
As boas notícas acabam aqui, agora as más: falta uma selecção mais aústera por parte do autor (e dos editores?) pois algumas das bds são parvinhas e pueris que destoam com o material mais sério e maduro do Tiago. Aliás, invés disso o que a edição precisava mesmo era mais material novo, uma capa atractiva e um preço simpático.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

que doença é esta?




Aparecida Blues

Biu (a) e Stêvz (d)
Beleléu + Facada Leite-Moça; 2011

Algures neste livro de bd há um diálogo qualquer entre duas personagens acabados de sair de um concerto "freak":
"- não percebi porra nenhuma
- nem eu, mas gostei assim mesmo"
E creio que isto resume este livro escrito por Biu (sempre fascinado com a palavra "Blues") e desenhado por Stêvz (que participou no MASSIVE e Seitan Seitan Scum), parceiros do Bongolê Bongoró e que estiveram em Portugal no Brucutumia.
O livro é uma bebedeira em que esperamos pelo pacto na encruzilhada com o Capeta e uma prometida história de amor com uma surda. O livro avança ao contário, tipo como um vinil em contra-rotação por um DJ charrado, criando várias dislexias narrativas e perturbações intelectuais. É uma espécie de materialismo dialético em que por um lado temos um estilo gráfico simples na tradição caricatural e humorístico (típico dos trópicos brasileiros) e de outro uma série de experiências com a linguagem da bd e poesia visual - onde acaba uma e começa a outra?
Um objecto-conteúdo curioso e um objecto-material com excelente apresentação, quem quiser saber mais que ande por aqui.