Uma antologia sob a curadoria de
microworkers
HARVESTED de
Ilan Manouach é baseado em conteúdos encontrados, uma selecção arbitrária de filmes adultos. Foi inteiramente criado por um conjunto orquestrado e bem afinado de rotinas planeadas, scripts da web e tarefas baseadas na inteligência de enxame. O material deste livro foi reunido por um grupo descentralizado de parceiros e foi filtrado por uma população anónima de “microworkers”.
O livro naturalmente tornou-se numa co-produção com vários editores, a saber:
MMMNNNRRRG (Portugal), Forlaens (Dinamarca), Hálice Hálas (Suiça),
La Cinquième Couche (Bélgica), Topovoros (Grécia),
Fortepressa (Itália),
Ediciones Valientes (Espanha), Pachiclon (México) e
Bitterkomix (África do Sul).
Mais de dois mil filmes adultos foram colhidos em grandes quantidades de sítios em linha p2p directamente para um servidor. Seguindo dois
scripts diferentes, os primeiros 10 minutos dos vídeos foram despedaçados em milhares de imagens de baixa resolução no formato JPG à espera de serem filtradas. Este lote de imagens foi submetido a serviços de
crowdsourcing que permitem coordenar inteligência humana aplicada a tarefas que os computadores ainda não conseguem fazer. Um grupo seleccionado de “microworkers” foram recrutados para filtrarem estas milhares de imagens de acordo com uma instrução conscientemente vaga: se nelas apresentavam ou não
arte contemporânea.
Esta “Colheita” mostra-nos à superfície quinhentas obras de arte encontradas em casas, estúdios, cenários de filme e outras heterotopias da indústria de filmes adultos. Se esta antologia dá importância a um contexto de história da arte de uma indústria específica, ela também se posiciona simbolicamente na necessidade em activar uma visão periférica no que toca às práticas escopofílicas.
Se as pinturas do IKEA são penetrantemente dominantes, podem-se encontrar trabalhos de mestres modernos como um rapinanço de Fernand Leger, um desconhecido Joan Miró,
Castelo e Sol de Paul Klee mas também obras contemporâneas como
Quote, 1964, uma impressão de Robert Rauschenberg, uma série de pinturas de Mark Rothko,
School of Fontainebleau de Cy Twombly e até algumas réplicas de Frank Stella e Lucio Fontana.
à venda na
"shop" da Chili Com Carne e nas lojas ZDB,
Linha de Sombra (Cinemateca),
XYZ Books, Livraria do Simão (Escadinhas de S. Cristóvão), Nova Livraria Francesa,
Tigre de Papel,
Utopia,
Stet,
Tasca Mastai, Snob,
Jazz Messengers,
Alquimia e FNAC.
Feedback:
A pornografia normalmente é uma coisa aborrecida e repetitiva - apoiada pelo Vaticano. Neste caso ao procurar a "arte contemporânea" nas fotografias tudo se transforma, cada fotografia acaba por se transformar em arte, que belas composições com mamas e pilas, mas onde as mamas e as pilas não são mais do que um dos elementos destas belas composições!
Goran Titol (via e-mail)
...
um interessante livro, cínico q/b no seu ponto de partida.
Espero que esgote para continuares a encheres as nossas prateleiras de livros.
Paulo Mendes (via e-mail)
...
Altamente!
Benjamin Brejon dos Mécanosphère (via e-mail)
...
Livre tout d’arrière-plan, livre d’art dissimulé dans un livre de cul. La fameuse idée qui devient livre. Pour la faire exister. Et une fois chose faite, du livre, que vit-on? toujours la même perplexité. Ni vraiment bon ni vraiment nul, une expérience éditoriale de plus pour Ilan dont je me prends quand même à rêver qu’il revienne à la bande dessinée, discipline dans laquelle il est infiniment plus singulier que dans celui dit de l’art contemporain (typologies évidemment purement sociales : la bande dessinée EST un art contemporain). En gros: je suis perplexe.
DU9
Acabei há poucos dias de ver o Harvested
- é muito fixe, acho que peca apenas por algumas (muitas talvez) páginas não terem "arte contemporânea" mas antes porcarias emolduradas tipo Ikea. Mas talvez fosse mesmo essa a ideia do autor - pôr tudo no mesmo saco. De qualquer forma é muito fixe, porque é um passatempo andar em cada página à procura da "arte" ao mesmo tempo que levas com tudo o resto que é bastante diversificado e por isso bastante rico também.
Sara e André - Claim to fame
Sobre o autor:
Artista complexo e activista
underground, o grego
Ilan Manouach (1980) licenciou-se em Bruxelas em Belas Artes tendo feito até hoje uma carreira diversificada em conteúdos e conceitos, a começar pela sua extensa bibliografia e discografia - para além disso é músico caso a imagem ainda deixe dúvidas...
É o autor responsável pelo livro
Harvested, editado em Portugal pela
MMMNNNRRRG, que lançou para o mundo o conceito de "pornografia para intelectuais". A maioria dos livros tem sido publicados pela editora belga
5e Couche, desde 2003 com
Les lieux et les choses qui entouraient les gens désormais que não passou despercebido logo pela crítica. A lógica dos seus livros é uma simbiose entre a BD e a Arte Contemporânea, não faltando
le scandale e as polémicas sendo que a mais conhecida será a impressão "pirata" de
Katz - livro que substitui as cabeças de todas as personagens de
Maus de Art Spiegelman por gatos, tendo como desenlace a destruição física do livro por ordem judicial.
No último Festival de BD de Angoulême apresentou o
Shapereader, uma BD baseada em impressão tridimensional para leitores cegos.
Participou em exposições colectivas na Bedeteca de Lisboa e no Festival de BD da Amadora, para além de ter sido publicado os livros
A vara do açucar da meia noite e nos bordos dos peixes (Opuntia books; 2008) e
Variações sobre o anjo da história : ensaio de Walter Benjamin inspirado por Angelus Novus (um desenho de Paul Klee) (Montesinos; 2012), este último com texto de
Pedro Moura. Também participou na antologia de desenho
MASSIVE (Chili Com Carne; 2010).
Em Portugal Manouach já nos visitou várias vezes como músico e artista - da última vez no Festival de BD de Beja mas em Maio de 2016 veio como músico para concertos em parceria com
Jonas Kocher, com o projecto
Exhaustion, desenvolvido com o objectivo de explorar as possibilidades de permutações seguindo a estratégia da exaustão como necessidade de validação. O seu jogo instrumental é construído numa arquitectura mental onde são exploradas as relações horizontais / verticais, densidades / drones, tensão / aborrecimento, numa relação bi-polar elástica que expande a linguagem da livre improvisação até ao limite.