quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Infecção Urinária de Natal

Assistimos actualmente na música portuguesa a uma praga de gafanhotos, perdão, “cantautores”! Se a primeira vaga de “cantautores” da FlorCaveira tinham piada por causa da militância (o seu cristianismo protestante Baptista), um aparelho DIY e conceitos exóticos (“panque roque do Senhor”, “panque medieval”, etc…), pouco a pouco, como aliás é habitual quando uma “cena” aumenta de importância e de exposição pública foi-se amansando como um cachorrinho caseiro.

Percebe-se que a FlorCaveira tenham recuperado figuras perdidas como Jorge Cruz ou apostado no novato B Fachada e no “cantaurorismo” como forma de trazer a língua portuguesa de volta ao consumo Pop depois do vazio pseudo-Aldeia Global dos anos 90 – é irónico que quem enche Coliseus à fartazana sejam os Ornatos Violeta, a única banda Pop que cantava em português nos anos 90 e não os que se quiserem internacionalizar-se à força como Silence 4 ou Blind Zero, que isto sirva de lição a quem quiser!

Passada a moda e mediatismo desta editora / colectivo, os seus restos mortais são um legado cristalizado de arrestas limpas para consumo fácil como é o caso de José Camilo na sua Viagem ao subúrbio (auto-edição; 2012) onde encontramos uma moleza, fácil de comparar a casos históricos como UHF ou Lobo Meigo, Pop / Rock armado em chico-esperto que tenta parecer inteligente por causa de alguns “breaks”. Também é o caso de As Oportunidades Perdidas de Bruno Morgado (FlorCaveira; 2012) que soa logo no início ao Vitor Espadinha, só lhe falta a tesão sem ser para procriar. Ou queria ser o Leonard Cohen? Seja como for a coisa avança para outros cenários como os de Lee Hazelwood, B Fachada e o Festival da Eurovisão...

A excepção a este rame-rame é Tiago Guillul que instiga, grava e edita como um louco, sendo capaz de ir ao fundo da questão, sem se deixar cair nas fórmulas comerciais fáceis, roubando samplers ao Punk, ao Metal e à World Music para criar os seus discursos com fundo original e independente – coisa que rareia na música portuguesa em particular e na criação em geral. Guillul é um pregador, ora um pregador prega! Tem de estar atento ao mundo e não se fechar em copas, não pode parar com figuras de estilo e discursos vazios. Não é preciso cursos de semi-óptica para se perceber que Guillul fala dos (nossos) tempos nos seus relatos, independentemente da mensagem cristã, é dos poucos músicos que faz um retracto da sociedade portuguesa no século XXI. Outro ponto a favor…

Para além da sua produção que já lá iremos, também é capaz de chatear malta para fazer compilações como Ruptura Explosiva (Amor Fúria + FlorCaveira + Um Disco Pronto e Sincero; 2011) que é mais barata e bem melhor que qualquer colectânea dos Novos Talentos da FNAC (1). Há várias razões para afirmar isto apesar de nenhuma destas malhas merecer estrelato, uma delas e a principal é que se trata de um trabalho de “comissário”, ou seja, Guillul escolheu bandas para dedicarem o seu trabalho a um tema – um tema xunga, é certo, que é a comemoração dos 20 anos do filme de acção (e surf) Ruptura Explosiva com Keanu Reaves e Patrick Swayze. Graças a gesto simples de “curadoria” dá coerência e tom ao disco, sem este deixe de ser ecléctico q.b. Fala-se num texto do CD em Rock mas disto há pouco – o único momento digno de tal é o primitivismo dos Borboletas Borbulhas – porque de resto há sobretudo muito “cantaurorismo” e Electrónica manhosa – entre elas um tema de Te Voy A Matar que apareceu na banda sonora do Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011). O disco sabe a mar e verão (inevitavelmente) sendo que hajam várias abordagens de trabalho neste “tributo do filme”, desde de se cantar do genérico do filme (Pega-Monstro com Rabu Mastah – não devia estar este tema no fim do disco?) a “samplar” pedaços do filme para incluir na música (Aquaparque com Nudista Prateado) ou usar o material sonoro do filme para fazer a música toda – como fez Ben Lacrau que sampla os socos, tiros e afins para fazer deles os bombos, tarolas e tudo o mais da música. Pena ter recebido o disco no Outono de 2012 e não ter curtido isto na “silly season” de 2011, teria sido bem mais fixe…

Entretanto, a tempo e a horas aparece o sexto disco de Guillul, intitulado Amamos Duval (FlorCaveira + Um Disco Pronto e Sincero; 2012), um álbum duplo, anacronismo marado uma vez que os CDs conseguem ter 80m de música e estes dois CDs não chegam a tal. Mas Guillul é um “artista bruto” com educação e programa filosófico próprio que apesar de não ser um caso clínico (como Daniel Johnson e afins), não deixa de ser interessante fazer um paralelo com estes “doidos visionários”. Guillul, como esses outros autores, não se desvia da sua senda, daí que mantem as características que nos habitou no passado, como as canções com contos autobiográficos, alguns com intervenções directas das suas crias; aparece sempre uma crítica social alinhada à sua postura retrógrada que tanto soa a brilhante como o tema Estás casado com o Estado em que a letra é uma explícita caricatura do artista rebelde - Espera aí que estás casado com o Estado / mas queres fazer figura de solteirão -, ou pode ser completamente irresponsável como Faz Filhos, em que Guillul com orgulho de Velho Testamento exibe os seus 4 filhos na contra-capa do disco e neste tema em especial apela à reprodução da nossa horrível raça. Claro que há um humor em toda esta criação mesmo que seja um humor Baptista que não se possa perceber na totalidade. Parece um misto de Fungagá da bicharada, teeny-boopy deslocado, folktrónica e vanguarda indesejada. Tal como os “artistas brutos”, Guillul é genial, nas suas produções onde tanto entra Ratos de Porão como Stealing Orchestra, Justin Bieber ou Chuva na Areia… O álbum duplo só se justifica por um excesso de produção como é típico dos “brutos”, espíritos inquietos e criativos que Guillul cada vez mais se revela como tal.

A vantagem de trabalhar sozinho é que tudo o que sai é puro! E topa-se que um ano antes, Tiago ao encarnar com uma banda, Os Lacraus que Encaram o Lobo (FlorCaveira + EMI; 2011) acaba por ter um compromisso que implica monotonia musical. Síntese das ideias desenvolvidas entre ele e acólitos, feita das orações gravadas em dezenas de CD-Rs de edição limitada, aparece com manias de grandeza - por gravarem para uma editora profissional? Sei que acabei de escrever um cliché – quando se grava para uma multinacional és um vendido - mas é quase impossível não fugir ao cliché quando se ouve o tom épico de catedral à Arcade Fire e se rouba à descarada a face limpa dos Clash. Já não é a primeira vez que aviso desta perigosa iconoclastia (ou “cultural jamming”) destes cristãos, que estão a subverter a cultura popular não para nos iluminar mas para nos cegar com as promessas divinas do pós-morte e do pós-Apocalipse. Resta-nos relembrar um grego que disse que “os mortos valem menos que merda” (2) para não nos preocuparmos com as ambições dos produtos da FlorCaveira. Não deixa de ser delicioso a sua crítica social reaccionária – infelizmente não há muitas bandas a destilarem algum ódio aos maricas do Bairro, por exemplo. Ainda assim é um disco limpo e arranjado que se torna “flat” como a capa ilustrada de André Andrade.

Pelo menos todas as capas destes discos são ilustradas! E é assim que deve ser!

(1) não admira que esta cadeia de lojas esteja para fechar…
(2) citado algures em “Contra os Cristãos” (Estampa, 1991) de Celso

sábado, 22 de dezembro de 2012

Boa Laica, boa Laica, boa Laica, boa Laica, boa Laica, boa Laica, boa Laica, boa Laica...

Que a última Feira Laica tenha corrido muito bem já não é novidade para ninguém... Mais visitantes do que nunca - e visitantes compradores, diga-se! -, maior presença de autores / editores nacionais e estrangeiros, etc, etc... mas o mais importante que quantidade é a qualidade. E nunca antes se viu tantos objectos que desafiam as prateleiras das lojas com tão bom aspecto e conteúdo. Quero aqui fazer com este "post" um realce a algumas das edições que mais me impressionaram:

1) Platypus Collective - são ilustradores para a infância que decidiram unir-se e rentabilizar trabalho criando um zine para crianças (até aos 10 anos). Apesar da minha vasectomia irreversível e a frieza que tenho em relação à ilustração para crianças que geralmente aparece fiquei deveras impressionado de haver um zine para putos (já com 6 números) com um tom gráfico divertido e curtido! De negativo algumas BDs que tem erros técnicos de leitura (balões de resposta antes da pergunta, por exemplo) e alguma legendagem de díficil leitura. Têm melhorado de número para número... muito fixe e algo oposto ao que se normalmente se vê por aí...

2) Transgressions (Wormgod; 2012) é o novo livro do Mattias Elftorp em colaboração com Sussane Johansson (elementos visuais) e Feberdröm (música) que conta uma parábola de transformismo meta-radical, que longe das magias divertidas de Alan Moore ou Grant Morrison, é tão eficiente que nos enche de esperança sobre esta coisa horrível chamada Humanidade. é um conto anarquista brutal numa Era que precisa de alguma Poesia... De realçar o novo estilo gráfico de Elftorp que largou a tinta para deixar o lápis fluir mais. O livro é acompanhado por um CD de música Noise, verdadeira banda sonora da BD. Muito bom!

3) O novo número do El Temerário! É o 8, editado como sempre pelo Martin López Lam via Ediciones Valientes que repete as fórmulas do seu "graphzine" excepto que neste número fez um "dossier" dedicado à ilustração portuguesa em que vamos encontrar os nossos associados André Lemos, Margarida Borges e Bruno Borges, entre outros... Inclusive Lemos fez a capa que se transforma num fantasmagórico poster (imagem ao lado). Que bueno!

4) Doom Mountain #1 de Zé Burnay é um "comic-book" deste novo autor de BD - e criador da imagem desta última Laica. Burnay faz parte de uma nova geração de autores de BD portugueses - onde se inclui Uganda Lebre, Rudolfo, Afonso Ferreira e André Pereira - que desenham como coelhos se reproduzem, em estilo que pisca olhos a estilos gráficos comerciais e de autor, e que contam histórias igualmente em terra de ninguém. Talvez o mundo tenha mudado e as pessoas estejam mais inteligentes e mutantes, não sei... Nesta BD, que é de continuação, temos uns ganzados que tentam sobreviver aos ataques de Zombies feitos de Cannabis! Não é só para quem curte ouvir os Weedeater ou até os Black Bombaim... Fuuuuuuck!

5) E por falar em André Pereira, este com João Machado fizeram um split'zine de BD bem fixe! Se os nomes em cima revelam uma lufada de ar fresco na estafada BD portuguesa, este Inner Math / Megafauna (Clube do Inferno) têm pinta de furacão Sandy! Machado escreveu, Pereira desenhou em dois estilos diferentes que aumenta a confusão de referências anteriormente citadas. Agora sinto que estamos entre os números do comic-book Epoxy, Rick Veitch, José Feitor e Kevin O'Neill... Não é fatela comparar a estes nomes todos porque há aqui um estilo a formar-se que em breve poderá chamar-se de André Pereira. De resto, o "split'zine" é antes um "flip'zine"  porque lemos duas BDs que se complementam ao termos de virar o zine para poder ler um dos "lados". Boas ideias e bons desenhos, o que se pode querer mais?

6) Não curto a onda dos graphzines ou de fotografia mas achei piada ao CVTHVUS, zine que prova que o mundo digital foi feito para admirarmos o gatos e os dois primeiros livros de Spurenelemente novo projecto dos alemães Dice Industries e Andrea Schneider, que produzem brochuras com fotografias encontradas - como as férias de um casal na Jugoslávia em 1986 - Jugoslawien'86 - ou de outro casal sempre acompanhados por um cão - About a dog. Funny stuff...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Pequeno Deus Cego

David Soares (a) e Pedro Serpa (d)
Kinpin Books; 2011/12

Apesar das tropelias comerciais deste livro, este publica uma BD que vale bem apena ler não tivesse a garantia do "Selo de Qualidade Soares" que ultrapassa as opções "guethisadas" da editora. Ora vamos a elas: é anunciada como uma segunda edição mas só é detectável como diferença com a primeira é uma inversão das cores da capa, e sendo a edição impressa digitalmente é desleal chamar a uma reimpressão de pouca tiragem (que é o que é na realidade toda a edição em impressão digital) de segunda edição. Mas se os grandes editores fazem este tipo de publicidade porque não podem fazer as pequenas? Só acho que as pequenas podiam ser menos demagogas, é tudo... Depois há a inclusão de um prefácio de Nelson Dona (Director da BD Amadora) a qual eu pergunto quem quererá uma coisas destas dada a falta de nexo deste festival? Estes factos são uma poça pantanosa que assustaria qualquer um em pegar no livro mas (e com o David Soares há sempre um "mas"!) a obra em si não tem culpa das cromices do seu meio editorial. Não é à toa que o livro tem merecido destaque dos (poucos) críticos de BD em Portugal e mereça também esta pragmática "segunda edição" de mais exemplares a sairem à conquista de mais leitores.
O livro lê-se rápidamente como aliás já tinha acontecido com outras recentes produções de Soares, a lógica aqui é a de "conto em BD" onde como escritor literário o David Soares tem já uma longa e rica carreira - desde 2001 que é oficialmente um excelente contista. Este livro, tal como o anterior Mucha (Kingpin Books; 2009) marca um regresso de Soares à "BD conto", que é um "back to basics" no início da sua carreira de autor de BD quando editava fanzines pela sua editora Círculo de Abuso - ainda esta antes de ser oficializada como editora de livros em 2000.
O problema dos contos é que quando são bons sabem a pouco - é o caso - deixando salivar por mais e mais. Nesta BD, seguimos uma criança eunuca e cega numa China "anacrónica" (?) à procura de conhecimento... Bem... nem é bem sobre Conhecimento (ver crítica de Moura in Ler BD) mas como a BD é curta seria xunga revelar mais. Lê-se como se fosse haver um segundo volume - tal como gostariamos que tivesse acontecido com Mucha. Espera-se uma continuação no final do livro... Será isto bom? Eu creio que sim...

sábado, 15 de dezembro de 2012

ccc@última.feira.laica


ÚLTIMO acontecimento do maior evento de edição independente em Portugal!!!

Editores presentes: Associação Chili Com Carne, Bazar do Diabo, Cafetra Records, Canto do Baú, Carapau Amarelo, CVTHVUS, Conversas, Dedo Mau, Dice Industries + Spurenelemente (Alemanha), Dildo Doodles, Ediciones Valientes (Espanha), zine É Fartar Vilanagem, Façam fanzines e Cuspam martelos, Filipe Abranches, Geraldes Lino + Dona Zarzanga, Grupo Entropia, Hepta, Imprensa Canalha, Inês Almeida, INOMINÁVEL fanzine, João Machado, Jorge Oliveira, Leote Records, Lucas Almeida, Marvellous Tone, Mike Goes West, Mr. Spoqui, MMMNNNRRRG, Nelson Jesus, Nicotina Zine, Oficina do Cego, Opuntia Books, Panda Gordo, Pangrama, Papeleiro Doido, Platypus Collective, Ricardo Castro, Rui Rafael, Senhora do Lago, Serrote, Thisco, Stepping Stone, Tonto (Aústria), Wormgod (Suécia), revista Zone 5300 (Holanda), Zulo Azul (Espanha)...

Algumas novidades editoriais
- ***, novo baralho de Ricardo Castro
- Antibothis, vol. 4 (Chili Com Carne + Thisco), livro + CD de Ocultura
- Cleópatra #8 (Façam fanzines e Cuspam martelos), zine de BD e ilustração de Tiago Baptista
- Deathgrind #2, zine de Zé Burnay
- Inferno (MMMNNNRRRG), livro de BD de Marcel Ruijters (adaptação de Dante)
- O Hábito Faz O Monstro (Chili Com Carne), livro de BD de Lucas Almeida
- Silje (Marvellous Tone), k7 de Manta

E ainda há a exposição 20 anos de Mesinha de Cabeceira, convidados estrangeiros, concertos (Presidente Drógado, Bandeira Branca, ...), exibições de filmes, livros e discos em 2ª mão a preços laicos! É a loucura!!

É ir ver o blogue oficial: feiralaica.wordpress.com

domingo, 9 de dezembro de 2012

E porque todos falam disso...





Todos falam dos "e-books" e o fim dos livros impressos... Entre as mentiras que se vão pregando sobre a ecologia dos e-books em contraponto às óbvias vantagens de portabilidade do digital acreditamos que é possível trabalhar os dois formatos sem histerias e dramas, tanto que várias das nossas edições já tem versões digitais. Começámos já em 2007 por colocar zines esgotados para descarga gratuita em formato PDF: Mesinha de Cabeceira #13 (de Nunsky), Allen (de Isabel Carvalho) e o Chili Bean - é só seguir as respectivas ligações.
Scorpio Rising (...) de Ondina Pires, A Segunda Vida de Djon (...) de Nuno Rebocho e Cadernos de Fausto e Algumas pessoas depois, ambos de Rafael Dionísio não estão ainda esgotados mas existem como "e-books" na plataforma todoebook - a metade do preço que a versão papel. Os títulos mais velhos estão disponíveis desde Agosto de 2010.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O quotidiano desenhado...



Lodaçal Comix #7 (Ruru Comix; Set'12) mantêm o nível de produção e conteúdo a que nos tem habituado (alto nível, boy!) da capa à última página! Mas há algo a minar alguma energia do início deste zine, sobretudo porque no que diz respeito à produção nacional que neste número resume-se apenas à conclusão da BD Lovehole de Afonso Ferreira - a ser reeditado em breve em livro monográfico pela Chili Com Carne em colaboração com a Ruru. Falta agitar os autores portugueses mas se calhar isso nem o Lodaçal nem ninguém alguma vez conseguirá fazer - curiosmanete ainda há pouco tempo reli um texto na Quadrado #1 (3ª série, ASIBDP + Bedeteca de Lisboa; 2000) que se queixava da lassidão e introversão dos nossos autores. Será por isso que o Lodaçal está cheio de estrangeiros cheios de garra e com vontade de mostrar trabalho?
É bem capaz, e este Minizine #1 (B.Campos; Nov'12) é exemplo disso ou de nada... Começa logo por ser o título menos imaginativo da Terra, o que irá reflectir também nas BDs que são publicadas todas elas escritas por Sanktio e desenhadas por outros autores, dos quais destaco o José Lopes. São exercícios de escrita simples mas que cheiram a redundância e a pensamento reaccionário apesar da vontade do autor em querer transcender o véu de Maya. Falha porque não se expõe para além de uma melancolia mundana - e esse sentimento, por mais válido que seja para qualquer ser humano não é suficiente para provocar mudança a seja quem for.
E voltando atrás... O Meu Namorado Cavalo são dois volumes de BDs em versão portuguesa, feitos por uma espanhola que reside actualmente no Porto - em Programa Erasmus? - em que antropomorfizou o seu namorado num cavalo para contar histórias do dia-a-dia com uma grande dose de humor que não se esgota apenas na situação insólita de ir prá cama com um quadrupede! O desenho é naíf, ao estilo de desenho de crianças, o que lhe rende uma dinâmica e espontaneidade que mata qualquer monotonia rotineira. Um dos volumes tem o texto feito a computador que é uma valente merda, em compensação o que foi escrito à mão é muito melhor!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

América perdida



Love You and Witchcraft Me (Fantasma; 2012) de Juan Echeverry é um livro / zine impresso a azul com BDs minimalista deste autor colombiano residente em Berlim. Pequenas poesias urbanas com algumas mudanças de estilo e narração que provam que ainda se irá ouvir falar deste autor - mesmo que não se possa saber dele em lado nenhum na 'net: o blog editorialfantasma.blogspot.de não funciona, ninguém consegue atinar com o título da publicação, etc... Vai ser mesmo de estar atento neste tipo!


Raio que te parta! (Trip; 2011) é de Carlos Santos (canadiano nascido em Portugal) é um livro de desenhos cheio de caveiras em decomposição ácida que faz ponte entre Posada, Giger e Moebius. Também lembra outro suiço, o Alex Baladi... Interessante mas não surpreendente como o prefácio do livro nos tenta vender. Pelo menos faz cadáveres esquisitos e não álbuns sobre Portugal como o menino-da-moda do momento, também ele luso-qualquer-coisa, Cyril Pedrosa... A Trip é mais um selo editorial que mostra movimentações na BD do Quebec.




Se a vida fosse como a Internet (Belebéu; 2012) de Pablo Carranza é uma compilação de tiras humorísticas e BDs cujo título já explica tudo... O melhor do livro são as piadas gráficas do próprio livro enquanto objecto - as fichas técnicas que imitam o ambiente de trabalho Windows ou quando uma personagem vai parar a um fax, o papel do livro torna-se nesse tipo de papel (lustroso e de impressão manhosa). O livro acaba em beleza com uma BD em que a escritora Clarice Inspector volta à vida para matar o Mark Zuckerberg... De resto, é aquele humor brasileiro que não aquece nem arrefece.
Ofensa Gratuíta #1 é um minizine feita a meias entre Allan Sieber (um veterano cheio de pica) e Cynthia B (uma rapariga dos zines) com 16 páginas A6 impressas em papel amarelo em que cada autor mostra o seu melhor vocabulário... O zine é grátis, né?

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Futuro Primitivo no Fórum Fantástico 2012



Vamos estar com uma mostra dos originais do Futuro Primitivo  no Fórum Fantástico 2012. E claro, também com uma mesa das nossas edições e de alguns nossos associados!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Variações Sobre o Anjo da História/ Ensaio de Walter Benjamin/ Inspirado por “Angelus Novus” (um Desenho de Paul Klee)



Projecto do artista grego Ilan Manouach e do escritor português Pedro Moura, VSAdH/ EdWB/ IpAN (uDdPL), ou Variações Sobre o Anjo da História/ Ensaio de Walter Benjamin/ Inspirado por “Angelus Novus” (um Desenho de Paul Klee), é uma colecção de quarenta e oito poemas em prosa baseados - mas em permanente fuga - na possivelmente mais famosa imagem de Walter Benjamin, acompanhados por desenhos que exploram tensões quase insuportáveis entre texto e imagem.

Co-publicado por La Cinquième Couche, uma editora de banda desenhada experimental belga, e a Montesinos, a chancela editorial de Moura, com textos em francês e português, VSAdH/ EdWB/ IpAN (uDdPL) é também um objecto que desenha habitar a zona desmilitarizada e densa que existe entre os domínios da ilustração, da banda desenhada, dos livros de artista, das colaborações, das artes do livro, da reprodutibilidade e de um misticismo impoluto pós-tecnológico.

à venda na Mundo FantasmaXYZ BooksA Vida Portuguesa, STET e Livraria do Simão (Escadinhas de S. Cristóvão, Lx).

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Um movimento contraditório de dissolução e acreção de um processo de mitificação do mundo. As ruínas da História, tais como descritas por Walter Benjamin, assumem muitas formas, e muitos são os gestos que procuram restaurá-las, deslocá-las ou então abandoná-las de vez.

As configurações são por isso inúmeras, e as metamorfoses incessantes. VSAdH/ EdWB/ IpAN (uDdPL) não é mais do que uma sucessão de capturas das formas que se molda nessa tempestade caleidoscópica. As palavras de Pedro Moura apresentam uma paisagem a um só tempo desolada e vibrante populada por personagens dantescas, descritas ora vaga ora meticulosamente, emprestando vozes diferentes a ensejos diferentes, todas detectáveis na mesma localização. Os desenhos de Ilan Manouach, através de várias estruturas e fontes, moldam as proporções exactas destes fragmentos em ruína.

Manouach e Moura já haviam colaborado, mas como comissário e artista. Todavia, as afinidades de ambos foram imediatamente instigadas, encontrando um campo comum electrificado nos seus interesses pelas ruínas da tessitura da realidade, pela natureza efémera da beleza (e a beleza do efémero), pela falibilidade do monumental e a monumentalidade dos dejectos, pelos umbrais entre a vida e a morte, e por execuções precisas e automáticas dos gestos de desenhar e escrever com fim à evasão das costumeiras mistificações da arte, procurando antes concretas fantasmagorias que acabam de despontar.

O filósofo alemão Walter Benjamin - com a sua imagem potente do crítico como aquele que mortifica a obra de arte, que a despoja e desnuda, para transformar o objecto prístino em ruínas e, no seio delas, procurar libertar o seu fogo interior - tornar-se-ia o condutor desta colaboração. O fragmento do “Anjo da História” é um enigma. Tratar-se-á de um desenho de Paul Klee que espoletou um conceito em Walter Benjamin? Ou um ensaio descritivo-criativo sobre uma figura previamente existente? Existirá noutras paragens? Faz sentido falar de exisrência, seja ela actual ou virtual, neste caso?

VSAdH/ EdWB/ IpAN (uDdPL) tenta revisitar esse lugar de encontros para instigar outros tantos.


Ilan Manouach é o criador de uma mão-cheia de livros que redefiniram a forma da banda desenhada, tais como Le lieu et les choses e Frag, tal como a relação entre texto e imagens com Limbo. Muitos dos seus projectos artísticos exploram “encontros fortuitos” lautreamontianos entre arte site-specific, a instalação, a apropriação, artes gráficas e música, área na qual ele é igualmente um virtuoso saxofonista e manipulador de electrónica.

Este é o primeiro livro de Pedro Moura enquanto escritor, embora tenha publicado contos, poemas e literários objectos não-identificados noutros locais (inclusive uma opereta). Ele é sobretudo um crítico de banda desenhada, escrevendo para o blog lerbd. No domínio da banda desenhada, ilustração e animação, já trabalhou como professor, tradutor, comissário, escritor, documentarista e editor.


Sem Fronteiras




Sem Fronteiras, no Festival Alt.Com, Mälmo, Suécia.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

É vergonhoso!

E o fanzine Cru voltou com o número 34 para comemorar 20 anos de existência mesmo que tenha estado parado cerca de 13 anos - sendo o último número editado em 1999, e antes disso nem saiu o número 12! Que vergonha! Que ousadia!
É verdade que o mundo dos zines é feito desta alegre anarquia, de real gozo e descompromisso com as regras comerciais mas podia-se ser um bocado mais coerente e respeitável com este modo de vida que é a edição independente! Enfim... Podia-se suspeitar de um número verdadeiro "melting pot" de colaborações de velhadas como eu - Marcos Farrajota - e o Mr. Esgar (o patrão da coisa) com putos novos como o Rudolfo ou a Wasted Rita, gajos famosos como o Nuno Saraiva, valter hugo mãe ou Jorge Silva (ainda por cima com um texto sacado ao seu blogue) entre outros convidados especiais e/ou estrangeiros. No entanto, com um design exemplar e humor, o Cru consegue ser contemporâeno e modernaço sem ser reaccionário - o texto a gozar com os bostas dos She Wants Revenge é mesmo muito bom! - com tópicos pertinentes (por exemplo, o da pirataria) e outros menos mas sem dúvida divertidos como horóscopos, reviews e cartas de leitores falsificados. É mesmo uma publicação para se passar um bom tempo... coisa rara nos dias de hoje.

Temos dois exemplares para vender através do e-mail ccc@chilicomcarne.com - prioridade para sócios CCC

Outro regresso vergonhoso às lides dos fanzines é do artista João Fonte Santa! Porra ele fez zines nos finais dos anos 80 com o colectivo A Vaca Que Veio do Espaço e o último título que fez foi em 1993 a Besta Quadrada, de número único... Ainda por cima vem com aquela onda de "chapbook" (ou graphzine, tão em voga) com o seguinte título Crianças Grandes brincam com brinquedos grandes (Bombarda; 2012). Quem conhece o estilo gráfico e os conteúdos iconoclastas deste artista sabe o que irá apanhar nestas folhas A5. Santa ao "brincar" com a conjugação clássica de frases feitas com imagens da megalomania portuguesa (neo-liberal e corrupta) faz uma crítica à irracionalidade do capitalismo, sem no entanto deixar algumas palavras de esperança: «uma coisa boa nos edifícíos horríveis é que podem ser demolidos tão facilmente como os outros. melhor ainda quando os vemos a dobrar!».
A coisa custa 10 euros (com mais um poster e assinatura do autor) na tendência artística destas publicações de artistas. Com um preço assim não é realmente um fanzine...

pedidos para bombarda29@gmail.com

domingo, 18 de novembro de 2012

Entrevista Cega

"e agora, que planos?" foi a original pergunta que o jornal da Oficina do Cego fez... eis a resposta:

desenho de David Campos
A Chili Com Carne é uma associação sem fins lucrativos que promove o pathos e ethos da edição independente desde 2000 – antes era uma confusão de intenções e acções. Para 2013 nada sabemos porque sendo o trabalho voluntariado por parte de todos os associados as coisas funcionam geralmente de forma orgânica e como tal imprevisível. Mas calma! Somos uns rapazes e raparigas minimamente organizados e até temos colecções no nosso catálogo para onde vamos colocando os livros que nos surgem.

Sem conseguir prever o que irá surgir, o mais certo é encontrar mais algumas BDs perdidas no mundo dos zines para reeditar em formato livro na colecção Mercantologia – como irá acontecer até ao final do ano, em que iremos pegar no Afonso Ferreira (a BD Love Hole publicada no Lodaçal Comix), Lucas Almeida (um “best of” d’O Hábito Faz o Monstro), e reeditar o “clássico” Mr. Burroughs de David Soares e Pedro Nora.

Um novo volume da antologia Ocultural Antibothis irá surgir, em parceria com a Thisco, com que editamos a colecção THISCOvery CCChannel. Também se fala de um segundo volume do Bestiário Ilustríssimo, que recolhe textos do crítico de música Rui Eduardo Paes.

A colecção de viagens, LowCCCost deverá ter um volume dedicado a toda esta geração de criativos portugueses obrigados a emigrar. Já se falou entre alguns autores de BD desta hipótese, sendo que o cenário perfeito a atingir seria ter participações de todos os nossos sócios que se encontram ou que já estiveram fora: João Rubim, Bráulio Amado, João Fazenda, Jucifer, Ricardo Martins, Lucas Almeida, Margarida Borges, Marcos Farrajota, André Ruivo, Christina Casnellie, Ana Biscaia, André Coelho,… Até lá sai o Kassumai que relata a estadia de David Campos na Guiné- Bissau e Senegal.

Para a Colecção CCC sairá um novo (anti)romance de Rafael Dionísio sobre o Ultramar (imagem), talvez o regresso do meteórico Nunsky, e outra promessa é o primeiro livro de BD a solo de Jucifer! Logo se vê!

Quanto a festivais não sabemos o que vamos continuar a participar, os convites são muitos, o tempo limitado e há sempre eventos a nascer e a morrer… Este ano ainda iremos ao Alt Com (Malmö, Suécia) e (infelizmente) à última Feira Laica.

sábado, 17 de novembro de 2012

ccc@feira.de.edição.independente

ccc@xjazz


A Associação Chili Com Carne, quer como colectivo de autores quer como editora, tem feito incursões à “auto-biografia” e à “reportagem” em formato de BD, daí que tenha proposto seguir de (muito) perto as vivências nos eventos do XJAZZ até ao final do ano. Sem alergias às novas tecnologias, ainda assim prefere-se que estas “BDs reportagem” possam ser disseminadas em papel impresso, até hoje o mais fiel suporte físico de informação que a Humanidade conheceu. A cada evento um novo autor de BD observa os acontecimentos para os relatar nas folhas da revista Jazz.pt, entretanto extinta, e (espera-se ainda) em jornais regionais correspondentes dos concelhos onde decorreram os eventos. Alguns esboços e rascunhos poderão aparecer no site da XJAZZ - como se fossem “extras” de um DVD. Para 2013 prevê-se compilar tudo num livro acrescido de novas BDs de histórias mais pessoais que os autores se lembrem durante as suas estadias nas belas Aldeias do Xisto.

Eis, um mapa dos nossos autores a seguirem os eventos do XJAZZ:
- Marcos Farrajota e Joana Pires - 27 Maio - concerto Ingebrigt Håker Flaten, Vila Cova do Alva
- Jucifer - 1 Junho - workshop O Jazz é fixe, Góis e Lousã
- Ana Ribeiro - 14 Julho - concerto de Vânia Fernandes e Júlio Resende, Cerdeira
- David Campos - 28 Julho - concerto Tora Tora Big Band, Miranda do Corvo
- Ana Menezes - 3 e 4 Agosto - concertos João Camões com Kátia Sá e José Peixoto com António Quintino, Gondramaz
- André Coelho - 14-18 Agosto - Residência Artística com Evan Parker, Pedrógão Pequeno
- Daniel Lopes - 20 Outubro - concerto Luís Vicente Trio "Outeiro", Aldeia das Dez
- Filipe Abranches  - 17 Novembro - concerto Daniel Levin (violoncelo) e o Rob Brown (saxofone), Aldeia da Figueira

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"É preciso é não ter medo da vida"


Fernando Relvas nasceu em Lisboa no mês de Setembro de 1954. Começou a publicar bandas desenhadas no ano 1974, e em 1976 surge na Gazeta da Semana a BD "Chico". Mais tarde publicaria na revista Fungagá algumas BDs, "Uki o pequeno esquimó", "Espaço 99 1/2", "Chin Lung" e "O justiceiro do rio amarelo". Colaborou também em fanzines como o Gorgulho e O estripador. Relvas colaborou em revistas diversas revistas de BD: Mundo de aventuras, Mosquito, LX comics, e em diversos jornais: O fiel inimigo, Pão com manteiga, Notícias da Amadora. Mas Relvas só começaria a ser célebre a partir da publicação (para uns a mais significativa de todas as suas obras) da BD "Espião Acácio" na edição portuguesa da famosa revista Tintin, tendo colaborado nesta revista, entre os anos de 1978 e 1982. Na revista Tintin publicou também as BDs "Rosa delta sem saída", "Cevadilha speed" e, um dos melhores contos negros vividos na periferia da grande cidade, "L123". Com o fim da revista Tintin, Relvas inicia uma colaboração no extinto semanário SE7E que durou entre 1982 e 1988. É no SE7E que publica algumas das melhores experiências visuais em BD dos anos 80 e de escrita, em Portugal. No SE7E, publica BDs a preto e branco e a cores: "Sangue violeta", "Concerto para oito infantes e um bastardo", "Niuiork", "Sabina", "Tax driver", "Herbie de best", "O diabo à beira da piscina", "Nunca beijes a sombra do teu destino" e um dos mais caricatos personagens lusitanos: "Karlos Starkiller". Em 1993, editaria pela ASA o álbum "Em desgraça", em 1995 editaria pela Livros do horizonte o álbum "As aventuras do Pirilau - O nosso primo em Bruxelas", e "Çufo" para o Grupo de Trabalho do ME para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Em 1997, o álbum "Karlos Starkiller" inauguraria a coleção Bedeteca, da responsabilidade da Bedeteca de Lisboa. Em 1997 dita pela Mundo Fantasma o álbum "L123 (seguido de Cevadilha Speed). Em 1999 colaborou na exposição "Uma revolução desenhada: o 25 de Abril e a BD", da responsabilidade da Bedeteca de Lisboa, Centro de documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e do Centro de Estudos Socias da Universidade de Coimbra. Relvas publica actualmente em webcomics no seu blog: urso-relvas.blogspot.pt.

O livro Sangue violeta e outros contos, editado pela El Pep, reune as BDs "Sangue violeta", "Tax driver" e "Sabina" que tinham sidos publicadas no extinto semanário SE7E, entre os anos de 1982 a 1988. São as BDs que mais marcaram a memória dos leitores do semanário. Um traço elegante e ágil, contrastado nas manchas negras num preto e branco nervoso e com um registo dinâmico do grafismo punk dos cartazes de concertos de música dos anos 80.

à venda na loja em linha da Chili Com Carne com 20% desconto para os associados

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ccc@alt.com.2012

Os nossos autores André Lemos e Marcos Farrajota (imagem) irão participar na antologia do próximo Alt Com, festival de BD (fortemente politizada) em Malmö (Suécia) em que este ano é dedicado ao tema "No Borders". Nas suas páginas vamos encontrar outros autores que já publicamos no passado como Valerio Bindi, Vladimir PalibrkAleksandar Opačić e Anna Ehrlemark, além de alguns autores já nossos conhecidos como a finlandesa Terhi Ekebom (Quadrado, Salão Lisboa 2005), os suecos Susanne Johansson e Mattias Elftorp (ambos da Wormgod), o sérvio Radovan Popović e a croata, residente nos EUA, Dunja Janković que nos visitou na última Feira Laica.

Como o cartaz dá a entender também haverá uma exposição com trabalhos de Ana BiscaiaAndré Coelho, André Lemos e Jucifer - estando estes dois últimos presentes no evento!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A sul, a centro e a norte...

Recolha de resenhas rápidas de zines e livros adquiridos nos últimos tempos...


- Espanha: Entroñable (2012) - zine de BD de El Rucio que faz juz à estética satânica do selo da Petit Comité del Terror. Em 36 páginas A5 há espaço para serial-killers, mass-murderers, onanismo inter-dimensional, artsy-fartsies, metaleiros, zombies, barcelona bashing... O que é preciso mais? Nada! É mesmo isto!


- Itália: Mais duas experiências de "remix narrativo": Bio Edificio 421 (Lök; 2012) e o número 3 de Giuda : Geographical Institute of unconvencional Drawings Arts (Mirada; 2011). A primeira é um jogo narrativo composto por três tiras por página que podem ser folheadas cada uma à sua vez, criando várias hipóteses de ler histórias. Interessante. A segunda é uma revista de psico-geografia por onde passa o futuro da BD, em que Milwaukee é nova paisagem escolhida para recolher material gráfico e narrativo para criar um só texto. Quem está por detrás disto são alguns conhecidos nossos: Gianluca Costantini (Mutate & Survive), Elettra Stamboulis e cia. A seguir com muita atenção!!!
Ruggero passou por Lisboa e dedicou-lhe uma serigrafia impressa no Atelier Mike Goes West... Além de ilustrador também edita uns mini-zines, na essência uma colecção de A3 dobrados de forma a criar graphzines ou pequenas narrativas com imagens. Participa gente que cola, desenha e pinta. Giro! Nada de novo até o Geral & Derradé fizeram isso nos anos 90! Ah! o projecto chama-se Muservola Edizioni é de contactar ou fazer igual!

Passamos agora para a Europa Central:



Bélgica: Da parte flamenga, com uma actividade singular nos últimos anos, surge um jornal de desenho dirigido por Ward Zwart (que participou no esgotadíssimo MASSIVE). A preto e branco talvez porque se intitula Sans Soleil, este primeiro número é dedicado a desenhadores belgas / flamengos por causa do convite da Bélgica para o Festival de BD de Helsínquia... Era bom que os jornais fossem assim! OFERTA de exemplar a quem adquirir algo "belga" da nossa loja virtual - dicas: Mesinha de Cabeceira Popular #200!, Lointain, Rotkop,...




- Holanda: Já não é segredo nenhum que a MMMNNNRRRG irá editar um livro de Marcel Ruijters... Mas não será o Sine Qua Non (Forlaens; 2011) nem Colare Humanum Est (Le Garage L; 2011) será melhor... claro! O primeiro livro é uma edição dinamarquesa do livro que mudou o estilo de BD a Ruijters - alguns devem-se lembrar de alguns livros editados em Portugal pela Polvo, não? - originalmente editada pela prestigiada francesa L'An 2, apresenta-nos Marcel fascinado pelo imaginário medieval cheio d emonstros mitológicos e freiras borregas - como aliás, são todas as freiras... O segundo livro é um livro de colorir desse novo estilo gráfico de Marcel. Quem tiver preguiça para riscar livros que espere pelas serigrafias que serão impressas no atelier Mike Goes West (para sairem em Dezembro na próxima Laica e exposição do autor na Mundo Fantasma) que estas terão muita cor!


- Alemanha: A Bon Gout (para quem não se apercebeu mas era uma atelier de serigrafia, editora e galeria bastante reconhecida) mudou de nome e agora é chama-se Re:Surgo! e já começou a mostrar o que vale com o novo livro de Atak intitulado de Targets for the modern home. Trata-se de uma catálogo das centenas de desenhos de placas de alvos que Atak fez. Primeiro Atak fez uma pesquisa à iconografia destes objectos (algo que pode ser absurdo mas só o atak para descobrir uma grande história sobre estes objectos mundanos) e depois começou a produzir os seus próprios alvos que são certeiros à decadência do mundo moderno. Simples. Danke Lars Henkel

Por fim, o norte da Europa:



- Dinamarca ainda, Regression (Cult Pump; 2012) é um livro em serigrafia de Zven Balslev - autor já publicado em Portugal via Opuntia Books. Inclue BDs cuja ausência de figuras humanas lembra Kai Pfeiffer ou uma experiência oubapiana de Ilan Manouach - uma BD do Petzi-sem-o-Petzi... Um graphzine cheio de ectoplasma!



- Noruega: Embora Martin Ernstsen seja norueguês vive em Berlim mas acho que não há problemas em colocá-lo aqui, até porque o rapaz não pára quieto e viaja para montes de sítios. Este zine, You're talking with the wrong person #3 (2012), é uma compilação de BDs autobiográficas de Martin, nelas podemos encontrar episódios fabulosos como uma tipa que lhe compra uma t-shirt durante a SPX de Estocolmo, despe a velha (não tem soutien!) e veste a nova t-shirt em frente dele e no meio do evento... Só por isso vale o zine! HRMF! (2010) e Pfft! (2012) ambos pela Dongery com BDs de Sindre Goksøyr são mini-zines que o universo Disney é abusado para contar histórias mal-humoradas de caminho à andropausa, como se o Tio Patinhas invés de ser um porco capitalista fosse apenas um mitra de classe média. A miséria humana antropomorfizada em patos é linda!



- Suécia : Novo volume de Piracy Is Liberation : Book 011 : Demockracy (Wormgod; 2012) de Mattias Elftorp - que deve voltar à Feira Laica este ano! - começa um novo ciclo desta série anarco-cyberpunk, desta vez fazendo um raíde à Democracia numa altura que em Portugal as chamas já chegaram à Assembleia... Oportuna leitura! Dois novos zines impressos em risografia do novo e activo colectivo Peow!: Nava de Mikael Lopez (a) e Olle Forsslöf (d) é o ínício de uma série com laivos místicos, parece mais um preview que outra coisa... e Sex Frog de Patrick Crotty apresenta duas histórias de terror - o título da publicação ajuda a lubrificar a líbido, não? - que consegue ter uns contornos de Ero Guro não tão selvagens como os do Suehiro Maruo ou do Aaron $hunga mas com uma abordagem própria - como se a treta da escola sueca autobiográfica went wrong! 



- Finlândia: Finalmente um livro de Jyrki Heikkinen com legendas em inglês para percebermos alguma coisa! Leijonan Veri Velvoittaa (Asema; 2012) é um pequeno livro que Jyrki sempre em forma. Escultor e Poeta por formação, faz BD por desvio mas os três "mediuns" fundem-se sem problemas para contar percursos de arrependidos, anjos e milagres. Essêncial para quem perdeu esperança na poesia e na BD! Outro ponto alto das novidades finlandesas é Offices & Humans : Road to Customex (Huuda Huuda; 2012) de Roope Eronen, que inverte os papeis no jogo de personagem (RPG) Dungeons & Dragons... Invés de de "nerds" a jogarem em mundo de fantasia, são os dragões que encarnam as personagens dos humanos em escritórios com toda a decadência mundana que tal implica: fotocopiar CVs às escondidas na empresa, ver pornografia na 'net, etc... Mais do que hilariante é mesmo preocupante! Thingie (Daada Books; 2012) de Marko Turunen (entretanto com originais patentes na exposição da "autobiografia" na BD Amadora) e Tea Tauriainen (entretanto publicada no recém lançado Mesinha de Cabeceira #23) é a continuação estética das "Tijuanas Bibles" ou dos Air Pirates que gozam com as personagens da Disney pondo-os a foder como uns animais - espera, as personagens Disney já são animais... -  a cagarem-se todos e toda a escalologia que os porcos capitalistas da empresa nunca nos deixarão ver oficialmente. Por isso, é aqui que se pode concretizar muitos sonhos de criança e de "nerd"...