sexta-feira, 23 de abril de 2010

GRRRRR


Ingo Giezendanner ou GRRRR é um desenhador suiço que participou no Mutate & Survive (e recentemente numa exposição em Lisboa) enviou dois das suas últimas produções, nomeadamente www.binzbleibtbinz.com (GRR40 / Rollo Press; 2009) que é sobre uma casa okupada na Suiça e Baku & Back (GRR41 / Nieves; 2009) que é um caderno de viagens de Zurique a Baku (Azerbaijão).
Ingo é um monstro a desenhar, detalhado, texturado, não há mais caos de paisagem urbana ou natural que ele não ponha no papel. Usará fotografia e depois desenha no conforto do lar? Ainda que seja verdade (sinceramente não sei e prefiro não saber) continuará a ser um monstro a desenhar!
Cada trabalho que sai em livro / zine / mini / livro de autor, e mais recentemente em vídeo pelo que percebi, (auto) edita ou é editado por outras casas, coloca um número à produção - como se um número de catálogo fosse: GRR##. Mas uma publicação pode estar dentro de outra como aconteceu com Fucked (GRR10), um "mini-comix", que foi adaptado para o formato do Mutate & Survive. E isso leva-me a outro ponto interessante do seu trabalho, para além do virtuosismo e técnica enquanto desenhador, Ingo tal como adaptou para outro formato um trabalho para o Mutate, também o faz regularmente com todos as suas publicações quando transpõe para a 'net - no sítio grrr.net. E invés de apenas despejar matéria para um monitor estático, potencializa e dá novas leituras ao seu trabalho usando a linguagem digital (passagens/ navegação de páginas, uso de técnicas de animação, exploração dos limites das páginas virtuais). As versões digitais ganham um autonomia - como se fossem "outro trabalho" - em que NÃO são um mero documento digital, um parente pobre, do trabalho "analógico". Já o faz há imensos anos e já tinha chamado atenção para isso há alguns anos também... bof!
Mas já agora, é interessante que também no "mundo material" há vontade de dar outras leituras (por exemplo o GRR14: Karachi) ou este Baku & Back, em que os desenhos da viagem sucedem-se por ordem tal como a própria viagem tem uma direcção - pensando no livro, é o normal, o folheamento das páginas é feito da esquerda prá direita, claro. Ora para indicar o caminho inverso - de Baku para Zurique - é nos sugerido que se pode ver essa viagem de volta (daí o & Back...) vendo o mesmo livro na direcção contrária, folheando da direita para a esquerda - como os livros japoneses, por exemplo. Engenhoso e simples...

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