Lado B? Mas que lado b?
A Tree of Signs : Salt
Capitão Fantasma : Canção do Carrasco
(Chaosphere + Raging Planet; 2012)
Jíbóia (Lovers & Lollypops; 2012)
Eis três discos cuja única coisa que partilham é o facto de serem editados em vinil e ocuparem apenas uma das faces do disco... sim, é isso mesmo, só há um "lado A" ou se preferirem, uma vez que deixa de fazer sentido escrever "lado a e b", o que há é um "lado gravado" e outro não.
Na Era do Bandcamp para que raios quer uma banda ser lançado por uma editora fonográfica? Uma editora para gravar quando qualquer música consegue gravar em casa? Para lançar discos que não se vendem? Para lançar discos de poucos exemplares para meia-dúzia de fetichistas de discos físicos? O Bandcamp permite as bandas colocarem música para se ouvir gratuitamente, para descarregar gratuitamente ou não, e já agora ainda se pode vender objectos físicos (discos em vinil ou CD). Teoricamente ter uma editora pouco interessa às bandas nos dias de hoje no entanto! No entanto muitas das bandas underground pagam aos editores para as lançar - não sei se é aqui algum dos casos, acho que não acontece com nenhuma delas - isto porque uma editora ajuda naquilo que os artistas não sabem ou são incapazes de fazer, que é promover e distribuir o seu próprio disco.
O que significa que nos dias de hoje, o trabalho de um "editor" esteja em risco de desaparecer porque não pode fazer lá grande coisa quando é a própria banda que lhe está a financiar a empresa (quem vai mandar numa situação destas? quem paga a conta afinal?) e porque os artistas não parecem saber "editar" o seu trabalho. Esta última questão é mais ou menos grave, significa que os músicos ou artistas não conseguem ter uma visão do que deve "sair" ou "entrar" no seu trabalho quando exposto publicamente, ou não tem confiança em si próprios para arriscar no formato certo ao qual a sua música deveria se materializar.
Se incluirmos as restrições orçamentais - convenhamos que nem a banda nem a editora sejam ricas - vamos assistir a estas deformidades que temos aqui presentes. Gravar um disco em vinil porque é "cool", é uma espécie de vaidade - "o vinil voltou" é o chavão que se aplica. O que é lamentável é que estas bandas não tiverem nem coragem nem vontade de fazer a coisa como deve ser, como por exemplo editar os discos de 10" (que é mais caro que fazer um maxi de 12" mas muito mais sexy! Vide Çuta Kebab & Party) ou fazer mais músicas para ter dois lados, ou convidar outra banda para fazer um split. Na produção musical portuguesa vive-se um estranho e renovado solipsismo e confusão mesmo que se vivam estes tempos da crise eterna do "fim dos discos" e da crise económica. Adiante!
A Tree of Signs tem elementos ligados ao Black Metal português (Corpus Christii, Mother of Hydra) mas deixaram isso na prateleira para fazer um disco de Doom assim "soft", em formato de power trio com voz feminina que também toca orgão - soa mal escrever isto assim, bem sei. A gravação é limpinha como um cu de gatinho depois de lambido pelo próprio. Somos levados para um Heavy clássico que prefere ser ritualista do que demoníaco, talvez por isso que temos um meio-LP de cerca de 24m justamente para não interropermos a cerimónia para mudar de lado, né?
No segundo caso há ainda mais mitrice, além de só termos um lado gravado de um single 7", ainda para mais temos apenas um tema seguido pela sua versão instrumental - teoricamante para quem quiser fazer Rock'n'Karaoke. A capa é preto e branco sem atrair muito mas o vinil é vermelho sanguinário q.b. Tema Rock'n'Roll com laivos de Surf como sempre muito bem feito por estes veteranos que é impossível apontar defeitos. O disco serve para alimentar o culto envolta da banda... Acho que vou comprar um leitor mp3 depois disto!
Jibóia é a revelação de 2012! E será de 2013 agora que há finalmente disco! Depois de ter tocado em toda a sala de espectáculos, bares, teatrinhos e espaços exóticos (hoje toca num restaurante Kebab no Porto!!! vão vê-lo CARAGU!!!), finalmente saiu o maldito disco - verdadeira saga exaustiva para o encantador de serpentes Óscar da Silva. Jibóia é um "one-man-band" que usa guitarras digna do Rock turco e beats sujos de um Omar Souleyman (embora num dos temas vêm à cabeça o House manhoso do Cães de Crómio, tema Techno dos Mão Morta do álbum Vénus em Chamas). É portanto um verdadeiro apetitoso caldeirão da Aldeia Global que merecia uma capa decente e um Lado A. Vale pela música, o objecto temos tantas dúvidas como os outros acima referidos, shame on the nigga...
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